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4.2 Comparação entre tarefas

4.2.1 Análise das matrizes de conetividade

4.2.1.5 Discussão dos resultados da Fase

Depois de observados todos os resultados com a medida de fase verifica-se um fenó- meno bastante relevante que ocorre principalmente na banda de frequência de 0.07 a 0.13 Hz: o padrão de alternância (inibição e excitação) entre hemisfério esquerdo e direito para a mesma região. Apesar de menos evidente, também é possível encontrar este padrão nos resultados de magnitude e phase-locking.

A envolvência de várias regiões do hemisfério direito quando o SELF apresenta maior conectividade que nas restantes tarefas é confirmada por diversos estudos. Por exemplo, Garavan et al., utilizaram a fMRI com o intuito de estudar a resposta cognitiva de inibição [132]. Estes observaram que uma grande predominância de regiões associadas a esta função se localizavam no hemisfério direito, como a insula e as partes inferiores dos lobos frontal e parietal. Herrington et al. demonstraram que num grupo de pacientes com

Figura 4.11: Resultados das matrizes da fase referentes à banda de frequência de 0.07 a 0.13 Hz. As imagens dos lados esquerdo e direito dizem respeito aos ensaios A e B, respetivamente, sendo que por baixo de cada uma encontra-se a fórmula da diferença d correspondente à tarefa em estudo.

depressão estes apresentaram uma maior dominância do hemisfério direito no córtex pré- frontal (em particular no córtex pré-frontal dorsolateral), salientando ainda a existência de assimetrias em processos associados à emoção [133]. O estudo de uma rede com regiões frontoparietais do hemisfério direito tem sugerido uma forte envolvência na geração de

4.2. COMPARAÇÃO ENTRE TAREFAS

consciência própria [134].

Num estudo realizado por Soon et al. em 2008, estes verificaram que a decisão de realizar um movimento voluntário poderia ser codificada nos córtices pré-frontal (córtex frontopolar) e parietal (do precuneus para o cíngulo posterior) até 10 s antes desta entrar em consciência, e também noutras áreas apesar de com menos intensidade (como o cín- gulo anterior), enquanto que nas áreas SMA e pre-SMA, só se conseguia prever 5 s antes [23]. Estas evidências confirmam assim as diferenças de fase encontradas entre estas 2 áreas e todas as outras listadas.

A sequência dos dois circuitos propostos por Haggard, que como foi referido no ca- pítulo 2, o primeiro começa na gânglia basal e córtex pré-frontal, terminando no M1 , via pre-SMA e SMA, e o segundo, parte do S1 para o córtex parietal, deste para o córtex pré-motor, terminando mais uma vez no M1 [2], confirmam os resultados obtidos onde podemos observar um grande número de conexões associadas à gânglia basal (núcleo cau- dado, putâmen, globo pálido) e córtex parietal (partes inferior e superior do lobo parietal e precuneus).

Em 2014, Pfurtscheller et al. concluíram a existência de uma ligação entre a SMA e insula, onde a ativação da insula antecedia a da SMA em 0.5-1s, no entanto, esta ligação não obteve muita significância nos resultados apresentados [4]. Cunnington et al. cons- tataram ainda que a ativação da SMA ocorria mais cedo em movimentos voluntários do que no VISUAL, enquanto que o cíngulo anterior não obteve diferenças significativas, o que também vai ao encontro dos resultados associados à tarefa do VISUAL, já que não houve conexões significativas associadas a ambas [26]. No entanto, tendo em conta que a diferença temporal entre a SMA e o cíngulo anterior encontrada neste estudo não é muito significativa, poderá justificar a ausência de diferenças de fase entre ambas as regiões no resultados obtidos.

Sun et al. utilizaram a fase da coerência para estudar a dinâmica temporal de redes funcionais, através de fMRI, durante uma tarefa de repouso e outra de movimento, onde os participantes teriam de realizar uma sequência de pressões de um botão na presença de um estímulo visual, alternando entre a mão direita e esquerda [58]. Sendo que o ob- jetivo principal consistia em analisar as latências entre a SMA e outras regiões nas duas tarefas. Os seus resultados demonstraram que no repouso, a ativação da SMA antecedia a do precuneus, parietal inferior, M1 e S1 ipsilaterais, e na tarefa de movimento, as regiões motoras e pré-motoras. Foi também verificado que houve uma maior latência entre a SMA e as regiões como o M1 esquerdo e córtex pré-motor dorsal na tarefa motora em compa- ração com o repouso, enquanto que na comparação oposta, a latência estava associada ao parietal superior esquerdo. Estes resultados vão ao encontro dos obtidos no presente estudo, principalmente nas tarefas de repouso e bandas de frequência de 0.027-0.073 Hz, e 0.07 - 0.13 Hz. Neste estudo de Sun et al., estes indicaram ainda que havia uma tendência para um aumento da latência entre as regiões do hemisfério esquerdo para o direito no repouso, e de regiões anteriores para posteriores durante a tarefa motora.

Apesar de no presente estudo não ser possível determinar o grau de latência entre pa- res de regiões, verifica-se que as diferenças de fase mais significativas no repouso estão localizadas no hemisfério direito para regiões consideradas como o ponto de partida da atividade cerebral nos circuitos registados na literatura, como os gânglios basais e tálamo, enquanto que as regiões finais destes circuitos, como o M1, apresentam resultados mais significativos no hemisfério esquerdo.

Em 2014, Mitra et al. também examinaram a latência das flutuações BOLD de fMRI no repouso, e em particular, encontraram diferenças entre ter os olhos abertos ou fechados; no estado de repouso entre ser antes ou depois de uma tarefa motora; e da altura do dia (manhã ou tarde) [135]. Os seus resultados verificaram que na DMN, a atividade partia do cíngulo posterior/precuneus e terminava no córtex pré-frontal ventromedial; na rede

salience começava no cíngulo anterior e terminava na insula anterior; e na rede fronto-

parietal, começava no parietal posterior e terminava no córtex pré-frontal dorsolateral. Os resultados associados à tarefa motora sugeriram ainda que as alterações na latência depois da perfomance de uma tarefa motora refletem processos fisiológicos relacionados com a aprendizagem, mesmo na realização de uma tarefa simples como pressionar um botão aquando um estímulo. Este processo de aprendizagem levou a uma aumento da atividade no putâmen esquerdo. No entanto, nos resultados do estudo presente não se verificou de forma significativa esse aumento.

Garg e os colegas verificaram que as partes inferior do parietal e posterior do cíngulo eram fontes de propagação da atividade [136]. Os resultados deste estudo vão ao encontro do que foi obtido por Deshpande et al., que verificaram que a DMN era o maior locus da atividade cerebral, e ainda, que o córtex pré-frontal anterior era um sorvedouro na atividade propagada [137]. Murphy e os colegas, provaram ainda que áreas primárias (como o córtex somatosensorial primário, por exemplo) tendem a ser fontes de atividade cerebral, enquanto que áreas de nível mais elevado como o lobo parietal, tendem a ser sorvedouro no repouso e na realização de tarefas. Os resultados obtidos nesta tese vão ao encontro deste estudo, onde podemos ver um grande número de ligações entre o M1, por exemplo, e regiões do lobo parietal das duas bandas de maior frequência.

No estudo realizado por Sridharan et al., em 2008, estes revelaram que o sinal de fMRI no córtex fronto-insular (inclui a insula anterior e o córtex pré-frontal ventrolateral direito) e no cíngulo anterior, antecediam a atividade das regiões das redes DMN e central executiva (inclui o córtex pré-frontal ventromedial e parietal posterior) [138]. Para além disto, estas duas áreas cerebrais aparecem co-ativas, não apresentando assim latências sig- nificativas, o que confirma os resultados obtidos. Ambas as regiões estão ainda envolvidas conjuntamente em processos cognitivos e de atenção.