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CAPÍTULO V- APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

5. Apresentação e Discussão dos Resultados

5.19. Discussão dos resultados da investigação em função dos objetivos da mesma

Procederemos agora à discussão dos resultados obtidos, em articulação com os objetivos definidos para este estudo, de forma a concluir sobre o seu grau de consecução.

Segundo Esteves (2006, p. 120), ―a interpretação dos resultados da análise de conteúdo subordina-se necessariamente, em primeiro lugar, à procura de respostas para as questões de investigação que tiverem sido colocadas.‖

Daí que essa interpretação deva ter em conta o enquadramento que serviu de referência à investigação, colocando-o em ―primeiro plano para se tentar compreender, de modo mais abrangente, o que os resultados alcançados significam, seja por se conformarem com teorias e conceitos existentes, seja por de umas e/ou de outras se afastarem‖ (Esteves, 2006, p. 120).

Quanto ao primeiro dos objetivos formulados, auscultar as opiniões dos professores

avaliadores sobre o atual modelo de avaliação de desempenho.

Tal como referimos ao longo da revisão da literatura, o Decreto-Lei n.º 41/2012, de 21 de fevereiro refere, no seu preâmbulo, que o modelo de avaliação de desempenho docente visa:

―a melhoria dos resultados escolares e da aprendizagem dos alunos e para a diminuição do abandono escolar, valorizando a atividade letiva e criando condições para que as escolas e os docentes se centrem no essencial da sua atividade: o ensino. Pretende -se, igualmente, incentivar o desenvolvimento profissional, reconhecer e premiar o mérito e as boas práticas, como condições essenciais da dignificação da profissão docente e da promoção da motivação dos professores.‖.

Ideia que não é partilhada pela generalidade dos participantes neste estudo, pois, na opinião dos mesmos, a avaliação de desempenho do docente não contribui para a melhoria da qualidade do ensino.

É fortemente maioritária a utilização do termo ―não‖ na resposta ao que respeita ao contributo da ADD na melhoria da qualidade do ensino.

Quanto ao atual modelo de avaliação, existem referências aos factos de este não contribuir para a melhoria das práticas docentes, de o mérito ser regulado administrativamente e de a avaliação por pares pôr em causa a legitimidade do avaliador.

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Quanto a este assunto, apenas um único entrevistado defende que a ADD é essencial na melhoria da qualidade do ensino, justificando, claramente, ―que sem avaliação, sem uma cultura de avaliação constante que confronte todas as suas obrigações e responsabilidades, nenhuma estrutura pode melhorar, nem nenhum país pode evoluir‖(E4).

Também para os docentes participantes no nosso estudo, este são da opinião que a avaliação de desempenho importa avaliar a articulação de todas as atividades desenvolvidas pelo docente. Ou seja, não importa apenas avaliar o trabalho do docente baseado nos resultados dos alunos, ou o desempenho numa ou noutra atividade pontual. Os docentes devem ser avaliados por um todo, tendo em conta todas as funções que lhe compete.

Pelas respostas dadas, também verificámos a importância do atual modelo de avaliação e averiguamos que nenhum modelo é o ideal, que vá de encontro às perspetivas de todos os professores avaliadores e avaliados. Por um lado, este novo modelo ADD ainda apresenta muitas características do antigo modelo, já que para os entrevistados continua a ser ainda discriminatório/seletivo, burocrático, complexo e punitivo, o que consideraram semelhante ao anterior modelo.

Claramente um entrevistado justificou a sua opinião dizendo que ―a avaliação dos professores já sofreu várias modificações, começou agressiva, mas com o atual modelo, tem vindo a ser aperfeiçoada, os recuos e os avanços irão servir para melhorar o sistema da avaliação‖ (E6).

Já quanto à exequibilidade do novo modelo de avaliação desempenho docente, é evidente nas opiniões dos professores avaliadores do 1º ciclo do ensino básico que este novo modelo é mais exequível, comparando com o anterior, pois as dimensões a avaliar estão mais simplificadas.

Outra opinião unânime foi a introdução de um avaliador externo com características definidas na lei com formação em ADD e da área de recrutamento do avaliado- que vem tornar a avaliação mais exequível, mais justa e rigorosa, tornando-o, segundo os entrevistado, num profissional com competências para avaliar e classificar.

Ao nível das alterações mais significativas do atual modelo de avaliação desempenho docente comparativamente ao anterior, os professores avaliadores são da opinião que o atual modelo de avaliação veio trazer à escola:

mais tranquilidade; mais rigor.

mais justiça na avaliação.

Pois, a introdução do avaliador externo, os ciclos avaliativos dos docentes do quadro, em que o processo de avaliação deve estar concluído no final do ano escolar anterior ao do fim do ciclo avaliativo, sendo para os professores contratados o máximo de 1 ano letivo, ou

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180 dias, mesmo que resulte da soma de mais do que um contrato ou outro ano letivo, foram alterações consideradas muito significativas para os entrevistados. Outra alteração considerada muito significativa foi a avaliação deixar de ter implicações nos concursos de colocação para os professores de carreira e para os professores contratados.

O ato de avaliar deve, segundo os entrevistados, permitir a reflexão sobre a prática pedagógica, criando as condições para a sua melhoria. Tal pressupõe ter em conta que a avaliação corresponde não a um fim, mas a um processo que é contínuo, devidamente planeado, contextualizado e sistemático e que a própria avaliação deve ser melhorada dentro de um conjunto de práticas educativas da qual faz parte.

Não há como ignorar a questão da avaliação no processo educativo, porque esta é considerada parte integrante (Ferreira, 2007), possibilitando diagnosticar questões relevantes, aferir os resultados alcançados, considerar os objetivos propostos e identificar mudanças de percurso eventualmente necessárias.

Com o segundo objetivo definido pretendemos verificar as opiniões dos professores

avaliadores sobre os aspetos positivos e menos positivos do novo modelo de avaliação de desempenho docente, comparativamente ao anterior.

Verificamos que os professores manifestaram diferentes opiniões quanto aos seus aspetos positivos e negativos. No que respeita aos positivos, a maioria dos entrevistados foi da opinião que este novo modelo de ADD veio reduzir o número de processos de professores a avaliar anualmente, não ser necessária a observação de aulas dos docentes em regime de contrato a termo e para a obtenção da menção de muito bom.

Um outro aspeto positivo no atual modelo ADD apontado pelos professores entrevistados está relacionado com os instrumentos necessários para realizar a avaliação. Segundo eles os instrumentos estão definidos em diário da república, pelo que há mais igualdade de critérios a nível nacional e dos parâmetros definidos e terão que ser cumpridos escrupulosamente por todos.

Quanto às informações sobre as várias dimensões da atividade docente, na opinião dos nossos entrevistados são suficientes para avaliar os professores, sendo este um aspeto positivo, uma vez que no antigo modelo eram mais itens a ter em consideração.

O decreto regulamentar n.º 26/2012, de 21 de fevereiro descreve no seu preâmbulo que ―a avaliação externa é centrada na observação de aulas e no acompanhamento da prática pedagógica e científica do docente‖.

A existência de um avaliador externo foi outro aspeto positivo mencionado consensualmente pelos professores, pois consideram que assim há mais justiça na classificação a atribuir, evitando alguns conflitos entre colegas do mesmo agrupamento de escolas.

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A quantidade de informação recolhida no âmbito da ADD foi visto como um aspeto positivo por parte dos entrevistados, uma vez que os instrumentos a utilizar estão bem definidos e são suficientes para avaliar os docentes.

Outro aspeto positivo do atual modelo de ADD referido pelos docentes foi o facto de os docentes da carreira só necessitarem de serem avaliados no ano anterior à transição de escalão, evitando o amontoado de professores a avaliar, ter a observação das aulas num período de cento e oitenta minutos e pelo menos em dois momentos e não contar a nota da avaliação para os concursos, independentemente de ser muito alta ou muito baixa.

É transversal a ideia de que este modelo de avaliação desempenho docente tem ainda alguns aspetos menos positivos, comparativamente com o anterior, sendo diversos e pertinentes.

Um dos aspetos negativos está relacionado com o pedido de aulas assistidas, porque se não forem pedidas, continua a ser difícil ao avaliador verificar o que é afirmado no relatório de auto- avaliação. Também o peso que é atribuído às várias dimensões a avaliar é excessivo nalgumas dimensões, segundo alguns entrevistados.

No que diz respeito aos instrumentos utilizados na avaliação um dos aspetos menos positivo que foi apontado foi o facto de os instrumentos elaborados poderem, ou não, retratar a realidade do processo de ensino dos docentes, dependendo do conceito que cada docente tem da sua prática educativa. Outro aspeto menos positivo que foi referido foi que os instrumentos deveriam ser previamente definidos com o avaliador e o avaliado, de modo a possibilitarem avaliar a realidade em causa.

A observação de aulas foi considerada um aspeto pouco positivo pelos professores, uma vez que, para eles, em nada contribui para o desenvolvimento profissional do professor, porque pode não permitir conhecer a realidade quotidiana do ensino do professor avaliado. Segundo a opinião dos entrevistados, as aulas são dadas para o avaliador atribuir uma nota. É apenas uma fase do processo ADD que deve decorrer da recolha de elementos orientadores a par de outros, como, por exemplo, aqueles decorrentes da auto avaliação.

Outro aspeto negativo apontado está relacionado com o facto de o avaliador externo não conhecer a realidade que está a observar.

Em relação à quantidade de informação recolhida, comparativamente com o anterior modelo, o atual ainda reflete fatores a ter em consideração. Sendo mais difícil de aplicar pelos avaliadores devido a conter muitos parâmetros, há, segundo os professores, muitas mais informações que podem ser úteis para a avaliação do desempenho dos avaliados.

Conclui-se, por isso, que os professores avaliadores do 1º ciclo do ensino básico participantes no estudo consideram que ainda existem aspetos menos positivos no novo modelo de avaliação desempenho docente, mas a intenção do Ministério da Educação era

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de tornar este novo modelo mais completo e que permitisse uma avaliação menos complexa mas de qualidade.

Outro objetivo definido foi identificar os aspetos críticos do processo de avaliação

de desempenho docente apontados pelos professores avaliadores.

Um aspeto crítico do processo ADD mencionado pelos professores avaliadores relaciona-se com o ambiente social e com as relações desenvolvidas em todo o processo avaliativo, pois terá que haver uma postura de aproximação por parte dos avaliadores e avaliados. No entanto, a nossa perceção é que há um ambiente no meio escolar de alguma desmotivação e de indiferença perante o processo de avaliação do desempenho docente resultante de ―o congelamento de salários, de progressões e promoções nas carreiras, a aplicar no decurso deste ciclo avaliativo e anunciado para anos seguintes‖. (CCAP, 2011, p. 28).

Pelos dados obtidos a partir das entrevistas realizadas, pudemos constatar que avaliadores e avaliados são muito importantes e estão associados entre si, sendo os desafios variados, desde que haja profissionalismo, transparência e justiça em todo o processo avaliativo.

O desafio que a ADD coloca à escola é apontado por alguns entrevistados como um aspeto crítico devido à necessidade de atribuição de uma nota ao professor avaliado. Também é crítico porque para os professores avaliadores significa mais trabalho, burocracia e mais preocupações, que em nada contribui para a melhoria da prática educativa e ficam privados de se dedicarem mais à sua verdadeira missão, que é ensinar.

O Conselho Científico para a Avaliação de Professores (2011, p. 22) refere que os maiores constrangimentos para realizar a ADD são ―a falta de formação dos avaliadores na área da avaliação do desempenho.‖ Esta dificuldade foi consensual nos entrevistados, uma vez que estes se deparam com dificuldades em delegar as funções de avaliadores a outros professores, porque estes não têm formação especializada e os requisitos exigidos pela lei, o que sobrecarrega os coordenadores de departamentos curriculares. Outro aspeto crítico do processo de avaliação desempenho docente apontado pelos professores avaliadores do 1º ciclo está relacionado com a satisfação dos docentes avaliados, pois, segundo alguns entrevistados, o atual sistema de avaliação em nada mudou no que diz respeito ao professor avaliado, comparativamente ao modelo anterior de avaliação.

Contudo também há entrevistados, que tem opinião diferente, quanto à satisfação dos docentes, referem que estes têm aspetos positivos, pois há critérios mais exigentes, os avaliadores irão ser colegas do mesmo grupo de recrutamento, mais experientes e com formação especializada.

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Deste modo, não é de estranhar que a generalidade dos entrevistados referissem que alteravam o atual modelo de avaliação. Segundo eles, era preciso um modelo que incidisse sobre a formação docente, que permitisse a reflexão sobre a prática pedagógica e que não fosse punitivo. A avaliação deveria auxiliar a reflexão e a introspeção da atividade profissional desenvolvida, tendo sempre como objetivo primordial a sua melhoria.

No que respeita às dimensões a avaliar, também os professores as mudavam, atribuindo maior percentagem à dimensão científica e pedagógica e reduzindo todo o processo burocrático da avaliação.

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