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4. Resultados e discussão

4.1 RESULTADOS DA AVALIAÇÃO DA ESTANQUEIDADE

4.1.4 Discussão dos resultados

Com base nos resultados apresentados nos itens 4.1.1 a 4.1.3, pode-se observar que os painéis de traço 1:2:9 apresentaram melhor desempenho, tanto para a pressão pneumática de 144 Pa, quanto para a de 400 Pa. Nesses painéis não surgiram manchas úmidas mesmo para 12 horas consecutivas de ensaio nos quatro modelos de paredes ensaiados.

A princípio, as conclusões obtidas por outros autores gerou a expectativa de que painéis com traço mais forte (1:1:6) apresentariam melhor desempenho quanto à estanqueidade à água. Segundo Yang et al. (2008) os traços que apresentam maior proporção de cimento, consequentemente com mais finos, possui menos vazios e bloqueiam a comunicação entre os poros, diminuindo a permeabilidade. Segundo Silva (2006), a maioria dos traços que possuem a mesma relação aglomerante/agregado, o coeficiente de capilaridade aumenta com o aumento da relação cal/cimento.

As afirmações feitas pelos autores citados anteriormente são coerentes com os resultados de dois ensaios realizados nesse trabalho. Nos ensaios de absorção de água por capilaridade, os resultados foram menores para argamassas mais fortes. Nos ensaios de densidade de massa aparente (estado endurecido) os resultados foram maiores para traços mais fortes. Porém, não se pode tirar conclusões quanto à permeabilidade da água sobre paredes, levando em consideração apenas o coeficiente de capilaridade das argamassas (parte da parede), já que existem outros mecanismos de transporte da umidade, como os citados no item 2.3.

Nos estudos realizados por Silva (2006) com traços de argamassas de 1:1:6 com areia natural, foi observada uma maior quantidade de fissuras visíveis aos 84 dias de idade, quando comparados com traços 1:3:12 e 1:2:9, que não apresentaram qualquer fissuração. Esse autor constatou também que a maior incidência de fissuras ocorreu nos revestimentos de argamassa com maior módulo de elasticidade. Quanto maior o módulo de elasticidade, menor será a capacidade do revestimento de absorver deformações.

Traços mais fortes tendem a apresentar maiores quantidade de fissuras, devido ao maior módulo de elasticidade da argamassa. Apesar do traço 1:1:6 apresentar menor volume de vazios, em relação aos outros dois traços considerados no presente trabalho, o mesmo tende a apresentar uma maior ocorrência de fissuras distribuídas, facilitando a passagem da água. Isso pode justificar a maior permeabilidade à água do traço 1:1:6 com relação ao traço 1:2:9.

Outro aspecto que permite compreender o melhor desempenho quanto à estanqueidade da água do traço 1:2:9 sobre o traço 1:1:6 é a proporção de cal hidratada na argamassa. Uma das razões de utilizar a cal nas argamassas é a capacidade de reter água, favorecendo a impermeabilidade e diminuindo a fissuração. Boynton e Gutschick apud Guimarães (2002) relacionou a composição de cimento e cal das argamassa entre a retenção de água e verificou que ao diminuir a relação cimento/cal aumenta-se a retenção de água.

Guimarães (2002) também afirma que as partículas de cal hidratada, por possuírem diâmetro menor, penetram nos espaços vazios obstruindo as fendas mais estreitas. Além disso, as partículas de cal hidratada absorvem um filme de água ao seu redor quer pela alta tensão superficial (entre Ca (OH)2) e a solução saturada no local, quer por exibir um certo grau de

cataforese, estreitando mais as passagens e detendo as águas circundantes, alinhados a um maior consumo de cimento.

Ao analisar os resultados dos ensaios de estanqueidade dos quatro modelos de parede de traço 1:3:12 submetidos à pressão pneumática de 144 Pa, observou-se que apenas para a Parede 2 (Figura 91-b), a percentagem de área úmida foi excedida cerca de 3 vezes o valor limite máximo (10%) estipulado pela ABNT NBR 15.575-4:2013. De maneira similar, considerando os resultados relativos à pressão pneumática de 400 Pa (Figura 91-b) a Parede 2 também apresentou uma grande percentagem de área úmida, correspondendo cerca de 4,5 vezes o valor limite máximo (10%). Para a mesma pressão pneumática de 400 Pa, a Parede 3 apresentou uma percentagem de área úmida superior à Parede 2 (Figura 91-c).

O comportamento observado do traço considerado (1:3:12) pode ser explicado pelo fato das zonas de ensaios das Paredes 2 e 3 terem sido construídas com juntas de argamassas mais espessas do que nos demais modelos de paredes (Figura 93), o que facilita a passagem da água. Segundo Hattge (2004), Mustelier (2004) e Piaia et al. (2013), a água se infiltra primeiramente pelos meios mais porosos, que correspondem às juntas de argamassas e posteriormente se espalha pelos blocos, conforme esquema apresentado na Figura 94.

Figura 93 - Painéis de traço 1:3:12 antes de serem revestido com argamassas: (a) Parede 2 (b) da Parede 3

(a) (b) Fonte: A autora, 2018.

Figura 94 - Esquema da evolução da mancha úmida de uma parede ao longo do tempo, iniciando-se pelas juntas argamassadas e espalhando-se pelos blocos.

a) b)

c) d)

Os ensaios dos painéis de traço 1:3:12 submetidos à 400 Pa, tanto da Parede 2 quanto da Parede 3, duraram apenas 7 horas (tempo estabelecido pela ABNT NBR 15.575-4:2013), com o surgimento de mancha antes das duas primeiras horas de ensaio. Isso pode ser relacionado ao uso de um traço mais fraco. No entanto, o fato desse modelo experimental apresentar juntas argamassadas mais espessas, confirma a tendência da água escoar mais rapidamente em meios mais porosos.

Como já descrito, o espalhamento de área úmida continua a ocorrer após o término do ensaio. Como o ensaio de estanqueidade à água de svve da ABNT NBR 15.575- 4:2013 não prevê uma metodologia para a demarcação e contabilização dessa área de umidade, nota-seuma possível inconsistência no método, já que ao decorrer de poucos minutos, o cômputo da porcentagem varia crescentemente. Como exemplo, pode-se destacar a Parede 2 de traço 1:3:12 submetida à 400 Pa de pressão pneumática, que após decorridos 17 min do término do ensaio até a demarcação, foi medido um aumento de área úmida de 2,51% (45,95% para 48,56%) o que representa 5,7% de acréscimo de área sobre a área inicial.

Para a execução dos ensaios, a câmara de estanqueidade foi fixada com auxílio de parafusos presos em furos executados na parede. Alguns desses furos apresentaram infiltrações no momento do ensaio, conforme pode ser visto na Figura 95-a. Para esses casos, as áreas úmidas ao redor desses furos foram desprezadas no cômputo do percentual de área. Na tentativa de recuperar aquelas superfícies mais danificadas próximas ao furo, foi utilizado silicone para o preenchimento das imperfeições (Figura 95–b).

Figura 95 - Painéis com defeitos - (a) Painel de traço 1:1:6 da Parede 1 de 400 Pa apresentou infiltração desde os primeiros minutos de ensaio (b) Painel de traço 1:2:9 da Parede 4 apresentou a superfície fragmentadas e selada

com silicone.

(a) (b) Fonte: A autora, 2018.

Para as duas diferentes verificações no cômputo das manchas úmidas adotadas, observou-se que para o método digital há a necessidade de equipamentos eletrônicos e softwares, como o programa de tratamento de imagem sugerido, que podem elevar o valor de custo da análise, porém consomem menor tempo para cada avaliação (aprox. 5 min), enquanto que para o método manual é necessário apenas um gabarito transparente com medidas em cm², ou seja, custos reduzidos, mas consomem um tempo maior (aproximadamente 30 min).

Observou-se também que é necessário atentar para o controle das condições para a realização dos métodos manuais e digitais como citado na metodologia.

4.2 RELAÇÕES ENTRE AS CARACTERÍSTICAS FÍSICAS DAS

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