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6. Resultados e discussão

6.7. Discussão dos resultados

Dos materiais processados existem dois grandes grupos que apresentam comportamentos idênticos, intrinsecamente ligados à granulometria dos materiais. Um grupo com a granulometria superior, como o grânulo inteiro com 10 e 30% de lamas e um segundo grupo, cuja granulometria é inferior como é o caso do grânulo desfeito de 10 e 30% de lamas e as pré-misturas de 10 e 30% de lamas.

Estes últimos materiais e o corretivo alcalinizante, evidenciaram resultados imediatos no solo, após a sua aplicação. Estes tratamentos, elevaram o pH do solo para valores entre 6 e 8 após 24 h, conseguindo efetivamente neutralizar o pH ácido do solo. Apresentam ainda uma tendência de subida ao longo do decorrer do tempo, embora seja uma tendência mais gradual. A diferença entre os grânulos desfeitos e as pré-misturas em relação ao aumento do pH do solo, prende-se com o teor de lamas, ou seja, destes tratamentos cujo teor de lamas é superior, nomeadamente os de 30% de lamas conseguiram elevar o pH do solo a valores superiores (entre 7 e 8) relativamente aos tratamentos com 10% lamas (entre 6 e 7). Isto, porque os tratamentos citados que tem mais lamas na sua composição, têm um teor de CaO superior, que após a carbonatação/estabilização tem um valor neutralizante e um pH final (ensaios de lixiviação) superior de 7,9 para o grânulo com 10% de lamas e 9,8 para os grânulos 30% de lamas.

Ainda, os grânulos desfeitos e as pré-misturas têm uma performance similar ao corretivo alcalinizante, no que diz respeito à neutralização da acidez.

No entanto estes materiais, comparativamente ao corretivo alcalinizante apresentam vantagens tais como o aumento da disponibilidade de elementos na solução do solo como Ca, Mg, P e K, enquanto que o corretivo alcalinizante apenas mobiliza para a solução do solo Ca e Mg, mas em quantidades inferiores. Além disso os grânulos desfeitos e as pré-misturas com um teor de lamas superior promovem um incremento da matéria orgânica no solo e na solução do solo, enquanto que o corretivo alcalinizante tem apenas a função de corrigir o pH ácido do solo.

Como estes materiais corrigem o pH de forma quase imediata, a disponibilidade de elementos potencialmente tóxicos, tais como Al, Cd, Co, Cr, Cu, Fe, Mn, Ni, Pb e Zn é reduzida logo após a aplicação, isto verifica-se tanto nos grânulos desfeitos de 10 e 30% de lamas, como nas pré-misturas

123 de 10 e 30% de lamas, bem como no corretivo alcalinizante, apesar de os quatro primeiros conterem na sua constituição elementos potencialmente tóxicos.

A grande desvantagem da aplicação destes materiais prende-se com o impacte imediato ao nível da salinidade no solo bem como o aumento considerável da concentração de cloretos na solução do solo.

Os grânulos desfeitos com 10 e 30% de lamas provocaram um aumento da condutividade elétrica do solo nas primeiras 72h para valores próximos de 10 mS/cm e as pré-misturas, apesar de nos estratos inferiores apresentarem valores próximos dos 6 mS/cm no mesmo período, os lixiviados recolhidos nas pré-misturas com 30% de lamas chegam a atingir valores próximos dos 16 mS/cm, enquanto que os restantes atingiram valores máximos de 12 mS/cm. No entanto apesar destes valores serem elevados, com o decorrer do tempo e gradualmente à medida que os elementos que mais contribuem para a condutividade elétrica do solo são lixiviados, sejam o Ca, K, Mg, Na e eventualmente os cloretos, a condutividade elétrica do solo, pelo menos nos estratos superiores (correspondentes a aproximadamente 10 cm) baixa para a gama dos valores recomendados 2 a 4 mS/cm.

Relativamente aos cloretos, estes materiais também promovem um aumento considerável nas primeiras 72h, surgindo sempre um pico máximo da concentração durante esse período com valores variáveis entre réplicas do mesmo tratamento, mas com valores que rondam os 500 e 1000 mg/L nos estratos superiores e os 3000 a 5000 mg/L nos estratos inferiores. No entanto, e tal como na condutividade elétrica, a tendência natural é que os iões de cloro sejam lixiviados do solo, então passados cerca de 30 dias nos estratos superiores apresentam valores de 250 mg/L.

Relativamente aos grânulos inteiros de 10 e 30% de lamas, como estes tem uma granulometria superior, a sua incorporação e distribuição no solo não é tão uniforme como os restantes tratamentos, levando a que a difusão e o efeito positivo pretendido no solo seja retardado. Os grânulos inteiros demostraram uma grande variabilidade de resultados entre réplicas e entre estratos de solo relativamente ao pH, no entanto ao fim de 30 dias decorridos nos ensaios de incubação, quer em vaso quer em coluna, estes mostraram-se capazes de elevar o pH do solo para valores entre 5 e 6 no caso do grânulo inteiro com 10% de lamas e valores de pH entre 6 e 8 no caso do grânulo inteiro com 30% de lamas, ambos na dosagem de 5%. Aqui, a eficácia do tratamento está relacionada com a dosagem destes materiais, isto é, caso a dosagem seja superior, neste caso a de 10%, ao incorporar mais material no solo, a distribuição será mais uniforme, reduzindo o tempo a que demora a elevar o pH do solo para cerca de 15 dias e com resultados mais definidos, com o pH a variar entre 7 e 8, no grânulo de 30% de lamas. A diferença entre o grânulo inteiro de 10% e

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30% de lamas, remete mais uma vez para o conteúdo em lamas e ao poder neutralizante, em que os grânulos inteiros com 30% de lamas têm um poder neutralizante superior e consequentemente elevam o pH do solo para valores superiores. De ressalvar que o grânulo com 10% de lamas, durante a experiencia não provocou alterações significativas no pH, no entanto é expetável que num período mais alargado este possa vir a elevar o pH do solo para valores entre 6 e 7, tal como acontece com o homólogo, o grânulo desfeito de 10% de lamas.

Estes grânulos também aumentam a disponibilidade de macronutrientes na solução do solo e o conteúdo de matéria orgânica no solo e na solução do solo, colocando-os em vantagem relativamente ao corretivo alcalinizante comercial.

Relativamente à matéria orgânica, os grânulos inteiros têm uma vantagem perante os restantes tratamentos, pois apesar do aumento de matéria orgânica no solo ser benéfico, um aumento excessivo e de forma imediata e impactante como os grânulos desfeitos e pré-misturas, poderá levar a mobilização dos elementos potencialmente tóxicos que estão complexados com a matéria orgânica a pH neutro logo nos momentos iniciais, como por exemplo Cu, Mn, Ni e Na. Aqui a adição de matéria orgânica, também deveria ser incorporada no grânulo de forma estabilizada, ou já com algum grau de estabilização para evitar o desenvolvimento de microrganismos nas condições de operação da série 2 (anaerobiose), dos ensaios de incubação em coluna.

Um dos efeitos negativos com o retardamento do efeito no pH do solo e de todos os materiais processados é conterem na sua composição elementos potencialmente tóxicos, a diferença resume-se na capacidade destes elevarem o pH do solo nos instantes iniciais, ou seja, o grupo de materiais que eleva o pH do solo para valores neutros consegue reduzir a disponibilidade de elementos potencialmente tóxicos na solução do solo e comparativamente ao branco imobilizar estes elementos. Os restantes materiais que demoram mais tempo a elevar o pH do solo como o grânulo inteiro com 30% de lamas nas duas dosagens, nos instantes iniciais agrava a mobilidade de elementos potencialmente tóxicos no solo, mas à media que elevam o pH do solo para valores neutros, existe uma redução abruta na mobilidade dos elementos na solução do solo, à exceção do grânulo inteiro que no decorrer da experiência ainda apresentava um pH no solo ligeiramente ácido.

As dosagens testadas deveriam ter sido adaptadas ao tipo de tratamento que é aplicado no solo, isto é, os materiais cuja granulometria é inferior deveriam ser utilizadas dosagens mais baixas como por exemplo a de 5%, e nos grânulos inteiros de 10 e 30% de lamas usar dosagens mais elevadas como por exemplo a 10%.

125 Em termos de eficiência de aplicação de materiais com a dose de 5% mostrou-se adequada a todos os tratamentos, à exceção do grânulo inteiro com 10% de lamas, mas é possível incorporar mais material no solo, especialmente se este está sob a forma granulada, pois existe um retardamento do efeito no solo (seja pH e matéria orgânica), não existindo um choque imediato, sendo apenas necessário resolver questões como a salinidade e a quantidade de cloretos. A aplicação desta dose no local da mina é possível, mas será necessário esperar pelo menos um mês para que a concentração de cloretos e a salinidade do solo baixem, pelo menos para o desenvolvimento de gramíneas devido a profundidade da raiz da planta.

Esta lixiviação ao longo do perfil, relativamente a elementos que contribuem para a condutividade elétrica, cloretos e eventualmente elementos potencialmente tóxicos, apenas foi possível verificar através dos ensaios de incubação em coluna. Este tipo de ensaios apesar de serem mais morosos e difíceis de executar, permitem simular condições mais próximas da realidade que os ensaios de incubação em vasos, tendo em conta o perfil de solo estudado. No entanto existiram alguns problemas que surgiram nomeadamente a criação de camadas impermeáveis alagadas. As colunas deveriam ter um diâmetro superior de forma a aumentar a área superficial de solo em contacto com o ar e eventualmente com a água de forma a ser mais fácil a infiltração e evitar o desenvolvimento de microrganismos anaeróbios, como ocorreu na série 2 de ensaios de incubação em coluna, visto que se afasta daquilo que poderá vir a ocorrer no terreno, pois é uma zona com algum declive e em situações de precipitação extrema, não existindo condições para a infiltração de água esta irá escorrer.

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