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DISCUSSÃO E CONCLUSÃO

No documento A empatia em crianças e jovens portugueses (páginas 32-41)

O objetivo principal do estudo era compreender o nível de capacidade de sentir empatia, assim como analisar as diferenças relativamente ao sexo, idade e escolaridade.

Tendo em conta as hipóteses formuladas de acordo com os objetivos pretendidos, a nossa primeira hipótese pretendeu perceber se a idade tem influência na capacidade de sentir empatia através do reconhecimento de expressões faciais de emoções, prevíamos que os adolescentes apresentassem maiores competências a este nível. Os resultados foram de acordo ao que se esperava, que as crianças com idades compreendidas entre os 10 e os 12 anos têm um menor nível de compreensão da empatia do que os adolescentes com idades compreendidas entre os 13 e os 16 anos. Estes resultados podem ser justificados com base noutros estudos que provaram que a empatia se desenvolve ao longo da adolescência e que há diferenças em relação a idade (Strayer & Roberts, 1997; Gend, Xia & Qin, 2012). Esta hipótese, segundo a literatura, baseia-se no facto de que as alterações na capacidade de tomada de perspetiva e de nos pormos no lugar do outro acontecem ao longo da adolescência (Hoffman, 2000) e porque é com o inicio da puberdade que o adolescente consegue entender os pensamentos e sentimentos que estão à sua volta, respondendo emocionalmente aos mesmos de forma adequada. Os resultados obtidos permitem-nos verificar que, realmente os adolescentes tem maior competência para reconhecer emoções do que crianças, podendo assim afirmar que têm maiores capacidades de empatia.

A nossa segunda hipótese pretendeu perceber se o sexo tem influência na capacidade de sentir empatia através do reconhecimento de expressões faciais de emoções, prevíamos que as raparigas apresentassem maiores competências a este nível. Esta hipótese, segundo a literatura, está efetivamente de acordo com grande parte dos estudos realizados acerca da empatia, que referem que existem diferenças em relação ao sexo (Hall et al., 2000, Carroll e Chiew, 2006, Hoffman et al., 2010). Estes resultados podem ser justificados tendo em conta a base biológica que nos diz que a capacidade empática é ativada de modo diferente no cérebro masculino e feminino, especialmente na amígdala (Baron-Cohen et al., 2003). Outra justificação é o facto de estes resultados estarem relacionados a um certo estereótipo cultural, que indica que o sexo feminino, de acordo com as suas características, é mais empático (Rueckert, 2011). Os resultados obtidos permitem-nos verificar que, realmente as raparigas tem maior competência para reconhecer emoções do que rapazes, podendo assim afirmar que tem maiores capacidades de empatia.

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Quanto à nossa terceira e última hipótese, pretendeu perceber se a escolaridade tem influencia na capacidade de sentir empatia através do reconhecimento de expressões faciais de emoções, prevíamos que o 3ºciclo e secundário apresentassem maiores competências a este nível. Esta hipótese, segundo a literatura, pode-se justificar pelo facto de a escolaridade ter influência na experiencia empática, pois está relacionada com o desenvolvimento cognitivo, que proporciona o desenvolvimento de pensamentos complexos. A literatura sugere também que estas ajudam na flexibilidade cognitiva, que é essencial na flexibilidade interpessoal e da tomada da perspetiva do outro (Decety & Jackson, 2004; Preston & De Waal, 2002).

À semelhança de outros estudos realizados que utilizaram o RMET, onde houve adaptação para a língua que não a original, nem todos os itens atingiam os critérios mínimos necessários para a validação interna sendo necessário eliminar estes. Esta versão ficou reduzida assim a 17 itens.

Revendo todas as análises efetuadas, quer em função do sexo, quer da idade e quer da escolaridade estas foram de acordo com as hipóteses colocadas e mostram-nos que há diferenças entre sexo, idade e escolaridade. Ou seja, os jovens têm maior capacidade de compreender emoções e com isso sentem mais empatia. Os rapazes têm uma menor capacidade de compreensão das emoções com isso sentem menos empatia e alunos com mais escolaridade possuem também melhores capacidades de reconhecimento de emoções do que os de 2ºciclo.

Como foi apresentado no enquadramento teórico, a empatia é um conceito multidimensional, onde realizámos uma distinção entre o lado afetivo e cognitiva, sendo que estas, não tomam os mesmos papéis e proporções na predição do comportamento do individuo (Strayer, 1987; Zoll & Enz, 2010). A empatia é vista pela capacidade que temos de nos pôr numa perspetiva diferente da nossa, podendo analisar esse sentimento ou até mesmo sentir como se fosse connosco. Muitas vezes acabamos por julgar e/ou subestimarmos os outros consoante os nossos pensamentos do que está certo ou errado, bonito ou feio, fácil ou difícil, e acabamos por não nos colocarmos no lugar do outro. Ao pormos-mos no lugar daquilo que nos rodeia, facilita os comportamentos de ajuda, a boa convivência social e até o estabelecimento de relações socais positivas.

Posto isso, o que caracteriza essencialmente uma pessoa social é a sua capacidade de descentração, ou seja, a capacidade que a pessoa tem de sair do seu ponto de vista e se colocar no ponto de vista da outra pessoa com objetivo de ajudar e orientar a situação em função daquilo

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que foi a sua perceção (Fachada, 2003) contribuindo assim, para que haja uma aceitação do outro como um ser que tem sentimentos, valores e objetivos diferentes (Rogers, 2009).

Quanto às limitações deste estudo, a primeira limitação encontrada está no instrumento

escolhido, porque as versões portuguesas validadas são para idades acimas das que estão a ser analisadas neste estudo (populações entre os 18 e 55 anos). Ainda quanto ao instrumento, outra desvantagem é o facto de este ser extenso para a faixa etária escolhida (ao fim de algumas imagens a criança começa a responder com menos atenção e sem vontade) e de alguma das imagens escolhidas pelo autor da versão o original suscitarem dúvida. A segunda limitação que identifiquei foi o local e a altura da aplicação dos questionários – Centro de férias. Isto pode ter implicações porque o ambiente à sua volta era descanso escolar, podendo assim ter sentido menos vontade em responder com atenção. E quando confrontados com o questionário, alguns participantes associaram aos testes escolares, sentindo-se avaliados. E a terceira e última limitação é a dimensão da amostra, porque apesar de termos uma amostra considerável (N=127), temos diferenças no número de rapazes (N=69) e raparigas (N=58). A terceira limitação passa pelo tamanho da amostra que apesar de ser grande (N=127) há mais rapazes que raparigas, há mais crianças (10-12 anos; N=84) do que adolescentes (13-16anos; N=43) e no grupo da escolaridade também há mais alunos do 2º ciclo (N=74) do que o 3º ciclo e secundário (N= 53). Assim devemos ter em atenção a dimensão da amostra e contrabalançar o número de participantes quanto à idade e escolaridade.

Tendo em conta os resultados obtidos podemos considerar que os objetivos foram alcançados. Ainda assim, este estudo, levantou algumas dúvidas que podem ser úteis para futuras investigações. Posto isso, sugiro para futura investigação, a realização de um pré-teste com uma amostra considerável de crianças e jovens, de forma a adaptar a versão de adultos para crianças. E quando a sua aplicação arranjarem grupos homogéneos de forma a não haver dúvidas quanto aos resultados finais.

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