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5.3 Estudo 3: Estratégias de intervenção com prompts podem reduzir a freqüência de descarte

5.3.5 Discussão 38

De forma consistente com os estudos experimentais de Cialdini et al. (1990) e Reno et al. (1993), o estudo demonstra que a saliência da norma injuntiva efetivamente assume força para modificar o comportamento e guiar condutas mais desejáveis mesmo em um típico ambiente semi-público. Da mesma forma, indica a efetividade da saliência da norma pessoal, conforme já demonstrado por Kort et al. (2008).

Além disso, assim como no estudo de Kort et al. (2008), o estudo indica ausência de diferenças significativas, em termos de efeito, entre os dois tipos de mensagem, salientando norma pessoal e injuntiva, possivelmente pela semelhança em termos conceituais dos dois construtos, baseados no julgamento moral de certo e errado, ou do que socialmente é esperado e mais desejável que se faça. Mesmo que a norma pessoal esteja restrita ao indivíduo, como internalização da norma social, e a norma injuntiva referenciada no grupo, como expectativa do que se deve fazer, ambas se sustentam na antecipação de ganhos relativos à imagem social.

De maneira similar aos estudos desenvolvidos por Goldstein et al. (2009),

Drake (2009), Durdan et al. (1985), Geller et al. (1976), prompts mostraram-se eficazes para orientar comportamento de descarte de resíduos no ambiente. Mesmo que os prompts utilizados sejam classificados como neutros por não explicitarem diretamente as consequência para o comportamento, depreende-se pelos pressupostos conceituais relativos à norma pessoal e social injuntiva que, implicitamente, a recompensa pelo comportamento de conformidade é interno ao indivíduo, motivado para agir de forma consistente com os proprios valores e, dessa forma, preservar a auto-estima. Esse mesmo princípio reforça a idéia de que o controle social, ou a expectativa de consequências negativas sobre o comportamento podem ter influenciado a mudança de conduta observada.

Assim como nos estudos desenvolvidos por Meeker (1997), Durdan et al. (1983) e Lima (2009), as variáveis sexo e idade e a condição do indivíduo, se em grupo ou não, além propriamente do tamanho do grupo social, aparecem como mediadores para o comportamento de descarte. Nesse estudo, entretanto, o sexo e idade estimada podem, além de ter influenciado a percepção da saliência da norma e o comportamento de descarte, refletir dimensões relacionadas a traços da cultura, forma de socialização e papel social dos indivíduos.

A funcionalidade do ambiente investigado, essencialmente, servir e fazer refeições, possivelmente reproduz relações hierárquicas do tipo “alguém tem que servir e alguém é servido”, conforme descritos por Almeida (2007) e DaMatta (1991). Esse aspecto cultural, somado à socialização ainda em curso nos mais jovens, naturaliza o comportamento de recolher utensílios e limpar a mesa como uma atividade dos mais velhos e mulheres.

Por fim, de forma semelhante aos relatos de Durdan et al (1985), Meeker (1997) e Lima (2009), a condição do indivíduo, se em grupo ou não, confirma-se como uma variável preditora, relacionada à maior incidência de descarte inadequado de lixo.

Estudos empíricos 39

Entretanto, para além de fenômenos sociais já descritos pelos autores, como desindividuação e difusão da responsabilidade, algumas peculiaridades do ambiente investigado parecem potencializar o comportamento de abandonar resíduos à mesa.

No caso específico, as praças de alimentação tem como uma de suas finalidades a socialização de grupos. Assim, fazer uma refeição implica em sentar e permanecer um determinado período de tempo no lugar. Essas características aumentam as chances de descarte passivo de lixo, ou seja, “esquecer” de recolher os

resíduos ao deixar o ambiente, algo mais provável de ocorrer quando as pessoas estão organizadas em grupos, conforme já descrito por Sibley e Liu (2003).

Em síntese, e de forma geral, os dados indicam que as intervenções foram eficazes para promover a mudança do padrão de comportamento observado. Características culturais, além de dados demográficos, no entanto, aparecem como moderadores da relação saliência da norma e comportamento, possivelmente ainda influenciada por outras variáveis situacionais na forma de barreiras e inibidores.

6D

ISCUSSÃO GERAL Inicialmente e, de forma geral, os estudos

realizados apontam dois aspectos a se considerar sobre descarte de resíduos no ambiente investigado: a) descarte de lixo é reconhecido como uma conduta normativa (injuntiva) e a norma pessoal parece ser uma condição antecedente relevante para agir de acordo com ela (Estudo 1 e Estudo 2).

Adicionalmente, mesmo que barreiras e inibidores naturalizem o ato de abandonar bandeja e resíduos na mesa como a conduta mais comum na situação, a saliência da norma por meio de prompts foi eficaz para mudar esse padrão de comportamento, reafirmando que alterações no ambiente podem resultar em condutas mais desejáveis socialmente, mesmo em um território caracterizado pela apropriação do público pelo privado (Estudo 3).

Assim, se o lixo for um problema nesses ambientes e a responsabilidade por ele for entendida como compartilhada entre administração e usuários, uma saída prática pode ser a ênfase na dimensão moral da conduta relacionada à forma de descarte de resíduos. Para tanto, mensagens antecedentes ao comportamento, explicitando o que se espera que o indivíduo faça, podem se constituir em uma saída de baixo custo, de fácil operacionalização e manutenção para efetivamente orientar condutas mais desejáveis socialmente.

Por outro lado, do ponto de vista teórico, uma reflexão sobre as teorias utilizadas, sobretudo, nos aspectos identificados como limites para a compreensão do fenômeno investigado, indicam a necessidade de uma discussão mais ampla sobre aspectos conceituais e metodológicos, fortalecendo a compreensão de que enfoques multimétodos e multiteóricos são necessários para o estudo das várias dimensões do comportamento pró- ambiental.

6.1 Enfoque normativo: limitações

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