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É indiscutivel que a interoperabilidade assume enorme importância. Contudo, ela não pode ser vista como uma simples tarefa de interligar distintos SI e equipamentos, mas antes de mais deve ser vista como um objectivo último, de uma forma ampla, onde questões relacionadas, como o planeamento, a definição das arquitecturas, conformidade com standards, entre outras, são questões primordiais neste desígnio.

A tecnologia para possibilitar a interoperabilidade tem evoluído muito nos últimos anos, estando actualmente disponíveis diversas soluções tecnológicas que o possibilitam, onde as arquitecturas SOA, são olhadas como as mais promissoras estratégias para o conseguir. Os standards assumem no contexto da interoperabilidade um papel fulcral. Sem eles dificilmente conseguiremos atingir os intuitos da interoperabilidade, pelo que a sua implementação e evolução serão fundamentais no futuro.

Temos assistido a fortes investimentos de diversas organizações e nações na implementação ou melhoria da interoperabilidade, seja ela local, regional ou nacional, dadas as inúmersas vantagens envolvidas. A criação de processos regionais e nacionais, não será conseguida de uma forma ampla e sustentada, sem que o problema da interoperabilidade interna seja resolvido, sendo, por isso, este um primeiro e importante passo para que os objectivos finais sejam alcançados. Não obstante, as mudanças dos SI locais e a sua interoperabilidade podem e devem ser efectuados, olhando constantemente para estes objectivos finais de criação de processos regionais e nacionais, procurando as melhores soluções para os distintos problemas.

Verificamos que a larga maioria dos CIO envolvidos no estudo atribui enorme importância à interoperabilidade, acreditando que não é possível construir um EHR recorrendo a um único fornecedor, sendo por isso, imprescindível que exista regulação e certificação do mercado por parte dos organismos governamentais. Segundo os mesmos deve ser dada prioridade à interoperabilidade interna (ao nível de cada organização) e entre os hospitais e cuidados de saúde primários.

Existe um vasto e heterógeneo conjunto de SI em produção nos hospitais estudados, com uma deficiente interoperabilidade, que acarretam enormes obstáculos às organizações, para além de impossibilitarem a criação de qualquer projecto regional ou nacional de uma forma ampla e sustentada.

Para além do atrás enunciado, em Portugal, dos levantamentos efectuados e dos nossos estudos, observamos um panorama difícil, sendo de realçar, ainda, os seguintes problemas:

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• Existe uma constante indefinição do futuro das aplicações da ACSS que se encontram obsoletas. Apesar de algumas intenções ao longo dos anos continuam, até ao momento, por evoluir quer tecnologicamente quer funcionalmente. Estas soluções são muito importantes pela alta disseminação que possuem, tendo, por isso, um forte impacto nas organizações;

• Nas soluções da ACSS, para um mesmo processo pode existir mais de uma aplicação, por vezes, com sobreposição funcional. O mesmo facto é possível constatar na generalidade das soluções em produção nos hospitais;

• A área menos coberta com SI por parte da ACCS é a dos cuidados primários, contrariando o perfil das transações no sector da saúde;

• As aplicações da ACSS evidenciam graves problemas de segurança;

• As arquitecturas estão mal definidas, com demasiados SI, criando diversas dificuldades; • A interoperabilidade não é vista e valorizada como uma actividade global pelas

organizações;

Nenhum SI implementado segue qualquer standard de arquitectura, nem sequer é referida até ao momento qualquer iniciativa sobre o assunto;

• Existe uma deficiente interoperabilidade entre as aplicações existentes, quer em termos tecnológicos, quer semânticos;

• Há bastante preocupação com a segurança nas integrações dos hospitais estudados, principalmente com a disponibilidade. Parte do problema pode ser atribuída ao elevado número de SI em produção;

Não existe interoperabilidade entre os EHR e os utentes, sendo os sites das organizações de saúde meramente informativos;

• Existem problemas na formação dos recursos humanos em normas e padrões internacionais ligados aos sistemas e tecnologias de informação e à saúde;

Não existe, ou é quase inexistente o trabalho e investigação em standards em Portugal. Apesar do atrás enunciado é de ressalvar alguns bons exemplos que existem no país, como é o caso do SIGLIC. Estes projectos resultam fundamentalmente da enorme vantagem do SONHO/SAM/SAPE funcionarem como um “standard de facto”.

Deixamos de seguida várias recomendações que não pretendendo que sejam exaustivas nos assuntos e questões que lhe estão subjacentes, mas que sirvam antes de mais como linhas orientadoras, para a evolução dos SI, assentes num novo paradigma, centrando as atenções no doente, melhorando a documentação dos processos de saúde, adicionando funcionalidades de valor acrescentado para os profissionais e utentes e servindo de ferramenta primordial na definição de politicas de saúde, de promoção da saúde pública e investigação.

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Assim, entendemos que as prioridades, a assumir deverão ser:

I. Promover ao nível nacional a adopção de um standard de arquitectura. Devemos em nossa opinião estar alinhados com os organismos europeus, pelo que a escolha deve recair no CEN EN 13606;

II. Redefinição das arquitecturas dos SI locais, por forma não só a melhorar a interoperabilidade existente, mas também proporcionar novas funcionalidades que deverão ser implementadas;

III. Deverá existir uma definição clara de evolução tecnológica e funcional (curto, médio e longo prazo) do SONHO/SAM/SAPE, da consolidação de todas as soluções clínicas existentes e da sua adaptação ao standard de arquitectura CEN EN 13606;

IV. Criar normas e regulamentação para que todas as soluções que venham a ser implementadas no futuro, em qualquer organização, estejam de acordo com o standard CEN EN 13606;

V. Operar as mudanças tecnológicas que permitam uma melhor agilização do desenvolvimento, manutenção e interoperabilidade, assentes numa melhoria da sustentabilidade dos SI, onde as arquitecturas SOA devem ser utilizadas, entre outros; VI. Apostar prioritariamente na melhoria da interoperabilidade entre os cuidados

diferenciados (hospitais) e cuidados de saúde primários, permitindo não só a partilha de informação, mas fundamentalmente uma melhor articulação;

VII. Criar um processo clínico de âmbito nacional que possua as características necessárias que permitam alcançar os benefícios exaustivamente enunciados ao longo desta tese. A criação deve ser começada dando prioridade aos cuidados primários, por dois motivos fundamentais: menor complexidade dos SI e maior número de transações quando comparado com os hospitais;

VIII. Melhorar a formação dos recursos humanos nas áreas da interoperabilidade e afins; IX. Melhorar a segurança das soluções.

As recomendações atrás enunciadas são suficientemente genéricas, existindo naturalmente muitas outras decisões que deverão ser tomadas. Embora a sua ordenação, esteja de acordo com aquilo que entendemos mais prioritário, podem e devem ser olhados como um todo.

Cientes do longo e árduo caminho que existe pela frente, entendemos que as decisões que venham a ser tomadas nestes próximos anos vão ter um impacto profundo a longo prazo, pelo que em cada dia que passa, não só nos atrasamos mais, como a inexistência de regras claras no presente dificultará muito mais o trabalho no futuro.

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