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A salinidade é um dos principais parâmetros que influencia as respostas funcionais de amarões peneídeos (TSUZUKI, 1995). No caso específico de F. paulensis, CORLETO et al.

993) determinaram que pós-larvas com 5 dias (PL5) alcançaram as maiores taxas de sobrevivência e crescimento na salinidade 25, sendo que na salinidade 10 observou-se baixa sobrevivência. Por outro lado, WASIELESKY (2000) não encontrou diferenças significativas na sobrevivência de juvenis desta mesma espécie nas salinidades 5, 23 e 35, sendo que o peso final dos animais na salinidade 5 não foi diferente dos demais. Este mesmo autor determinou que a salinidade letal de 50% de camarões com 2g para um período de 96 horas seria 1,48.

TSUZUKI et al. (2003) observaram que PL20 cultivadas na salinidade 5 tiveram crescimento inferior aos animais mantidos em salinidades mais elevadas, embora não tenham sido observadas diferenças em relação à sobrevivência. Com base nestes estudos, pode-se inferir que o crescimento dos camarões nos experimentos 1 e 2 tenha sido inibido pela baixa salinidade (média de 5,9) durante o estudo, embora este fato provavelmente não tenha influenciado de forma significativa a sobrevivência dos animais. WASIELESKY (2000) afirma que juvenis de F. paulensis podem ser cultivados entre as salinidades 5 e 40, sendo que um maior peso final é obtido na salinidade 22,9, podendo esta variar em função do sexo, idade, ciclo de muda e temperatura. Dessa forma, no experimento 3, a salinidade possivelmente não foi barreira para o crescimento dos camarões, uma vez que esteve em torno de 19.

WASIELESKY (2000) estimou que a faixa de temperatura ideal para o crescimento de F. paulensis com peso médio de 2,8g seria de 16 a 30°C, sendo que estes ainda toleram temperaturas mínimas entre 11 e 15°C e máximas de 31 a 34°C. SOARES (1996) determinou a temperatura letal mínima e máxima para PL20 de F. paulensis como sendo 9,3 e 35,1°C, respectivamente. HENNIG & ANDREATTA (1998) estudaram o efeito de diferentes temperaturas na sobrevivência e crescimento de PL10 de F. paulensis em berçário e obtiveram maior sobrevivência e peso final na temperatura de 28°C, sendo que os camarões expostos a 18°C tiveram desempenho inferior. Portanto, pode-se presumir que a temperatura sempre esteve dentro da faixa aceitável para a espécie em todos os experimentos aqui realizados.

Embora exista uma rica literatura que trate de muitos parâmetros de qualidade da água relacionados ao cultivo de F. paulensis, não foram encontrados estudos que definam um pH ideal para o cultivo deste camarão. Apesar disso, BOYD (1990) afirma que a faixa ideal de pH para o cultivo de camarões é entre 6 e 9. Ao analisarem o efeito de diferentes níveis de pH c

(1

na sobrevivência e no crescimento de juvenis de L. vannamei, WASIELESKY et al. (2005) observaram que animais expostos a valores de pH inferiores a 6 apresentaram os menores crescim

ento 3, não foram observados baixos níveis de oxigênio dissolvido no interior das gaiolas

ção média

entos, o que confirma a faixa de pH proposta por BOYD (1990).

Concentrações de oxigênio dissolvido inferiores a 2 mg/l são classificadas como letais a camarões, principalmente se a exposição durar mais que algumas horas (BOYD, 1990).

POERSCH & MARCHIORI (1992) determinaram que concentrações de oxigênio dissolvido de 1,38 e 0,35 mg/l seriam letais para pós-larvas e juvenis de F. paulensis, respectivamente.

Desta forma, a exposição dos camarões a concentrações de oxigênio dissolvido abaixo de 1 mg/l nos experimentos 1 e 2 pode ter influenciado negativamente a sobrevivência destes animais, principalmente nas densidades de estocagem mais altas, uma vez que o consumo de oxigênio era maior. A concentração de oxigênio dissolvido alcançou níveis relativamente baixos nas unidades experimentais provavelmente devido a baixa circulação/renovação de água no interior destas. Isto possivelmente ocorreu em decorrência da pequena abertura da malha das panagens que compunham as gaiolas, associada a formação de biofilme e conseqüente colmatação destas panagens, e a baixa velocidade do vento durante os experimentos. Esse efeito se torna evidente ao se comparar a concentração de oxigênio dissolvido nas gaiolas e no ponto controle, onde as concentrações sempre foram mais altas. A baixa intensidade de vento nos dias críticos de falta de oxigênio na água também reforça a possibilidade de que a ação do vento exerce grande influência na concentração de oxigênio dissolvido dentro das gaiolas, pois influencia diretamente na circulação da água. No experim

, provavelmente devido ao uso de gaiolas com maior abertura da malha e, consequentemente, maior circulação de água.

Em bioensaios com duração de 96 horas, OSTRENSKY & WASIELESKY (1995) determinaram os níveis de segurança de amônia total para pós-larvas e juvenis de F. paulensis como sendo 0,55 e 3,9 mg/l, respectivamente. Posteriormente, WASIELESKY (2000) expôs juvenis de F. paulensis com 0,17 g a concentrações crescentes de amônia total (0,08, 0,9, 3,65 e 7,3 mg/l) durante 30 dias e verificou que a sobrevivência somente foi afetada na maior concentração de amônia, embora o crescimento dos camarões tenha sido afetado negativamente nas concentrações acima de 0,9 mg/l. Nos experimentos 1 e 2, a concentra

de amônia total foi 0,06 mg/l, sendo portanto pouco provável que tenham causado algum efeito negativo sobre a sobrevivência e o crescimento dos camarões. Da mesma forma, no experimento 3 a concentração de amônia total também foi muito baixa (0,01 mg/l em

2

observada uma concentração de 1,2 mg/l. Esta concentração comparativamente elevada de amônia provavelmente se deveu ao fato de que esta gaiola estava localizada na parte mais rasa da lagoa, o que pode ter resultado numa menor circulação de água naquele local. Devido ao fato do

alimento pelos camarões. Dessa forma, uma maior

monitoramento da concentração de amônia total não ter sido diário, existe a possibilidade desta concentração ter se elevado a níveis letais aos camarões, o que pode ter resultado na alta mortalidade observada nesta gaiola.

O uso de substratos artificiais não afetou a sobrevivência e nem o crescimento dos camarões no experimento 2. Num estudo desenvolvido sob condições climáticas similares, no mesmo local, com animais de mesma idade e mesmo peso inicial, com as mesmas gaiolas e densidade de estocagem, BALLESTER (2003) obteve maiores taxas de sobrevivência e crescimento de F. paulensis com a adição de substratos artificiais. Muito embora a maioria dos parâmetros físico-químicos (salinidade, temperatura, concentração de amônia e pH) tenham sido semelhantes entre estes estudos, a concentração média de oxigênio dissolvido foi 7,3 mg/l no estudo anterior e 4,22 mg/l no presente. É importante ressaltar também que embora o desempenho dos camarões no estudo anterior tenha sido superior em gaiolas com a presença de substratos artificiais, as médias de sobrevivência e peso final dos camarões foram muito parecidas nos dois estudos (93% e 0,69g para o estudo anterior e 84,5% e 0,68g no presente). As diferenças encontradas entre estes estudos podem estar relacionadas ao diferente manejo alimentar empregado, especialmente no que se refere à freqüência de fornecimento de ração (arraçoamento). No estudo anterior, a ração era fornecida uma vez ao dia, e no presente estudo a ração foi fornecida 4 vezes ao dia. O maior número de refeições pode minimizar a perda de nutrientes da ração pela ação da água, bem como diminuir sua degradação física, o que facilita a manipulação das partículas de

freqüência de arraçoamento pode tornar disponível aos camarões um alimento de melhor qualidade, inibindo os efeitos do biofilme sobre a sobrevivência e o crescimento dos camarões, uma vez que estes não dependeriam mais do biofilme para sua alimentação.

LEHNEN (2003) observou maior crescimento pós-larvas de F. paulensis quando a freqüência alimentar foi maior, o que sustenta a idéia de que uma maior freqüência alimentar pode ter sido responsável pela não existência de diferenças na sobrevivência e crescimento observada neste estudo. Pode-se então deduzir que o biofilme teria uma maior importância na alimentação dos camarões quando o manejo da alimentação não for adequado, uma vez que o biofilme é uma fonte potencial de alimento disponível aos camarões 24 horas por dia.

Ao contrário dos resultados do presente estudo, vários outros autores observaram incrementos nas taxas de sobrevivência (DOMINGOS, 2003), crescimento (TIDWELL et al.,

1998; THOMPSON et al., 2002) ou em ambas (BRATVOLD & BROWDY, 2001) com a adição de substratos artificiais. Por outro lado, SHRESTA & KNUD-HANSEN (1994) não obtiveram melhorias na sobrevivência e na produtividade da tilápia Oreochromis niloticus ao usar substratos. Já KUMLU et al. (2001) obtiveram menor sobrevivência e crescimento do camarão Metapenaeus monoceros ao fazer uso de substratos artificiais, o que fez estes autores afirmarem que o uso de substratos artificiais em berçários de camarões peneídeos não seria viável.

ticas na sobrevi

As concentrações médias de clorofila α nos substratos artificiais aumentaram de 1,89 µg/cm2 no início do cultivo para 8,18 µg/cm2, superando os 5,5 µg/cm2 observados por BALLESTER (2003). Entretanto, as densidades finais de diatomáceas cêntricas e penadas, bem como a densidade de cianobactérias obtidas naquele trabalho, foram muito superiores às encontradas no presente, sendo respectivamente, em torno de 6x103 células/cm2, 90x103 células/cm2 e 1x103 células/cm2 no estudo anterior e 4x103 células/cm2, 80x103 células/cm2 e 2x103 células/cm2 no presente estudo.

Em relação ao consumo do biofilme pelos camarões, aparentemente houve uma preferência pelo consumo de diatomáceas cêntricas neste estudo, visto que não houve um aumento populacional destas no decorrer do cultivo, ao contrário do que se observou em diatomáceas penadas grandes, diatomáceas penadas pequenas e cianobactérias. De qualquer modo, nada pode ser afirmado em relação a esta hipótese, visto que não foi feita a análise do conteúdo do trato digestório dos animais aqui estudados. BORGES et al. (2004) afirmam que F. paulensis teria preferência pela ingestão de diatomáceas penadas maiores que 25 µm de comprimento, muito embora não se pôde concluir nada em relação a diatomáceas cêntricas, uma vez que as condições ambientais durante aquele estudo não foram favoráveis ao crescimento de diatomáceas cêntricas. É possível que a preferência por diatomáceas cêntricas sugerida neste estudo se justifique pela maior relação volume/área destas células, o que significa um maior conteúdo intracelular, uma vez que diatomáceas cêntricas são mais arredondadas que as penadas. Além disso, células maiores facilitariam a manipulação por parte dos camarões e, conseqüentemente, a sua ingestão.

No experimento 1, a sobrevivência e o crescimento dos camarões diminuíram na medida que a densidade de estocagem aumentou, o que confirma a existência de uma relação inversamente proporcional entre densidade de estocagem e as taxas de sobrevivência e crescimento. No experimento 3, embora não tenham sido observadas diferenças estatís

vência e na conversão alimentar aparente (CA) nas diferentes densidades de

relação inversa já havia sido demonstrada em outros trabalhos com cultivo de camarões peneídeos em gaiolas (NATARAJAN et al., 1986; WALFORD & LAM, 1987;

WASIELESKY et al., 1995; PAQUOTTE et al., 1998; OSTRENSKY & PILCHOWSKY, 2002; LOMBARDI et al., 2003).

A análise estatística não apontou diferenças significativas na conversão alimentar aparente (CA) do experimento 3, sendo que nas três densidades testadas a conversão alimentar aparente sempre esteve abaixo de 1,1, o que, do ponto de vista prático, pode ser conside

ARDI et al. (2003) obteve resultados inferiores após 37 dias

sidade de 80 ind./m2 e obtiveram sobrevi

rada excelente.

De forma geral, as taxas de sobrevivência e o crescimento dos camarões no experimento 1 (61-93% e 0,61-1,12g) podem ser considerados muito bons quando comparados com os resultados dos estudos de BALLESTER (2003) e LOMBARDI et al.

(2003), os quais também utilizaram gaiolas para cultivar PL25 de F. paulensis. Após 30 dias de cultivo, a sobrevivência e o peso final obtidos por BALLESTER (2003) foram 91-95% e 0,65-0,72g, respectivamente. Já LOMB

, com peso final entre 0,16 e 0,41g e sobrevivências variando de 79 a 83%. Vale ressaltar que as densidades de estocagem no estudo de BALLESTER (2003) foi de 300 ind./m2, entre 500 e 2000 ind./m2 no estudo de LOMBARDI et al. (2003) e entre 100 e 500 ind./m2 no experimento 1. Da mesma forma, os resultados do presente estudo são comparáveis aos obtidos com outras espécies de camarões cultivados em gaiolas na fase de berçário. NATARAJAN et al. (1986) cultivaram Fenneropenaeus indicus na densidade de 100 ind./m2, obtendo sobrevivência de 83% e peso médio final de 2,5 g. WALFORD & LAM (1987) testaram diferentes densidades no cultivo de F. indicus em gaiolas em berçário e obtiveram sobrevivência de 83% e peso médio final de 0,48g para densidades de até 1700 ind./m2.

A taxa de sobrevivência e o peso final dos camarões no experimento 3 também podem ser considerados satisfatórios quando comparados aos resultados de outros estudos de cultivo de camarões em gaiolas ou cultivo de camarões para obtenção de iscas vivas. WALFORD &

LAM (1987) cultivaram F. indicus em gaiolas na den

vência de 32% e peso médio final de 9,8 g ao final de 76 dias de cultivo. MARTINEZ-CÓRDOVA (1988), ao cultivar Litopenaeus stylirostris em gaiolas nesta mesma fase de cultivo na densidade de 100 ind./m2, obteve sobrevivência de 45% e peso médio final de 8 g após 105 dias de cultivo. PAQUOTTE et al. (1998), cultivando L. vannamei em gaiolas em densidades que variaram de 41 a 227 ind./m2, obtiveram sobrevivência de 76% e peso médio final entre 15 e 18 g em períodos de cultivo variando de 76 a 153 dias. OSTRENSKY &

PILCHOWSKY (2002) cultivaram esta mesma espécie nas densidades de 300, 600 e 800 ind./m² em gaiolas e após 120 dias, observaram uma sobrevivência de 53% e peso médio final de 12 g na densidade mais alta. WASIELESKY et al. (1995), em um cultivo de F. paulensis em gaiolas na densidade de 80 ind./m2, obtiveram animais com 10g ao final de 56 dias.

SAMO

s de F. paulensis, CAVALLI & WASIELESKY (2003) cultivaram juvenis

biente natural, o que provavelmente se deve pela maior disponibilidade de alimento e prote

CHA et al. (1998) em um cultivo de L. setiferus em viveiros, utilizando densidades de 350 e 700 ind./m2 em um período experimental de 90 a 120 dias, obtiveram sobrevivências de 54 a 76% e pesos finais entre 5,1 e 7,4g. No único estudo feito até o momento visando a produção de iscas viva

com peso inicial de 0,44 g nas densidades de 15, 30, 60 e 90 camarões/m2 e, após 56 dias, obtiveram sobrevivência de 78% e peso final de 3,4 g na maior densidade testada.

IWAI (1978) classifica F. paulensis como uma espécie sedentária, caracterizada por não formar cardumes, viver em fundos de areia, areia lodosa ou cascalho, apresentar atividade predominantemente noturna, e, principalmente, por se enterrar no sedimento. Apesar disso, os resultados do presente trabalho demonstram que F. paulensis, embora não estivesse em contato com o sedimento, apresentou ótimas taxas de sobrevivência e crescimento. D’INCAO (1984) determinou as curvas de crescimento de F. paulensis no ambiente natural. De acordo com as equações apresentadas por este autor, machos e fêmeas desta espécie demorariam, respectivamente, 173 e 149 dias para atingirem 5g. Nas condições deste estudo, considerando que os camarões demorariam 51 dias para atingirem 1,04 g na fase de berçário utilizando-se as densidades de estocagem de 400 ind./m2, e 43 dias para atingirem 5 g utilizando-se 200 ind./m2 na fase final do cultivo, os camarões levariam aproximadamente 129 dias para atingirem o peso de 5g, considerando também um período de 35 dias de larvicultura e berçário primário. Isto, portanto, confirma o melhor crescimento dos camarões nas gaiolas do que no am

ção contra predadores.

Os resultados do presente estudo demonstraram que a sobrevivência e o crescimento de F. paulensis não foram afetados significativamente até a densidade de estocagem de 400 ind./m2, sendo portanto esta a densidade máxima recomendada para o cultivo em berçários em gaiolas. Já com relação à produção de iscas vivas de F. paulensis, os resultados indicam a possibilidade de utilização das densidades de 50, 100 e 200 ind/m2. Ao utilizar simultaneamente diferentes densidades de estocagem, o produtor poderá planejar uma produção de forma escalonada, utilizando densidades mais baixas para obtenção de iscas vivas em um menor espaço de tempo, e densidades mais altas para obtenção de iscas vivas

de um maior período. Embora exista viabilidade técnica para este escalonamento, a sua viabilidade econômica só pode ser confirmada após uma análise financeira. No presente estudo, foi observado um bom desempenho dos camarões, embora possa ter sido limitado pelas condições ambientais observadas durante os períodos experimentais, principalmente baixa salinidade, baixa concentração de oxigênio dissolvido ou até mesmo a ocorrência de altas concentrações de amônia, o que demonstra a viabilidade técnica desta atividade mesmo em condições adversas.

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