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CARACTERÍSTICAS GERAIS DOS PACIENTES

5. DISCUSSÃO GERAL

O conhecimento das reações adversas é fundamental para implementação de ações preventivas tanto a nível local, regional quanto internacional (WHO, 2002). Tais informações são importantes para favorecer o uso racional de medicamentos e desta forma minimizar danos aos pacientes (PFAFFENBACH; CARVALHO; BERGSTEN- MENDES, 2002). O presente estudo evidenciou a ocorrência de 110 admissões hospitalares por RAM ao longo de dezesseis anos do Centro de Farmacovigilância. As características da população foram influenciadas pelo perfil de atendimento da instituição estudada e, com isso, a faixa etária adulta foi a mais frequente nos casos, bem como portadores de doenças crônicas e polimedicados. O Programa Nacional de Segurança do Paciente (PNSP) sugere a realização sistemática de vigilância e monitoramento de incidentes na assistência à saúde, com garantia de retorno às unidades notificantes (PORTARIA 539, de 1º de abril de 2013) promovendo, desta maneira, o protagonismo dos profissionais e serviços de saúde na qualidade do cuidado prestado (BRASIL, 2014). A identificação das classes terapêuticas mais frequentemente implicadas nos casos sinalizam para a necessidade de desenvolvimento de estratégias a nível ambulatorial para a identificação e manejo precoce dos PRMs na vigência do tratamento (WILLIAMS, 2011). Revisão realizada nos Estados Unidos avaliou os resultados de 7 anos de acompanhamento farmacoterapêutico em farmácias comunitárias e verificou que a atuação do farmacêutico favoreceu a prevenção de danos decorrentes do uso de medicamentos, contribuiu para a adesão, além de reduzir custos (BARNETT; FRANK; WEHRING, 2009). Outro ponto importante evidenciado no estudo foi o prolongado tempo de hospitalização o qual é explicado pelo perfil das reações que motivaram o internamento e complexidade dos pacientes (MACHADO; MARTINS A; MARTINS M, 2013). Além disso, foi encontrada relação positiva entre maior tempo de hospitalização e óbito por outras causas.

De acordo com estudos publicados, o óbito por RAM ocorre em torno de 5% (WESTER et al, 2008). Conforme observado no primeiro artigo, a frequencia de óbito foi maior, principalmente devido a reações de hipersensibilidade tardia. A morbidade e mortalidade relacionada a medicamentos podem ser reduzidas a partir de mudanças no gerenciamento do uso de medicamentos nos serviços de saúde (SOUZA et al, 2014).

O primeiro estudo que discutiu o potencial de prevenção das RAMs foi publicado na década de 70 e a discussão foi realizada sob a perspectiva do mecanismo das reações (MELMON, 1971). Nesse contexto, as reações imprevisíveis, não dose dependentes ou bizarras, apenas poderiam ser prevenidas nas situações em que o paciente possuísse história de RAM prévia. É importante destacar que a detecção precoce de RAMs imprevisíveis irá interferir no desfecho do paciente (DEQUITO et al, 2011). Por outro lado, as de mecanismo dose dependente foram classificadas como potencialmente preveníveis por serem reações previsíveis.

Uma revisão sistemática da literatura descreveu os métodos utilizados para a classificação das RAMs evitáveis, sendo eles: análise sem critério explícito, por consenso de especialistas, vinculada a erros de medicação, a padrões de cuidado, fatores relacionados aos medicamentos, a informação e por métodos explícitos (FERNER; ARONSON, 2010). A inclusão da avaliação de dados farmacodinâmicos e farmacocinéticos são aspectos importantes que devem ser utilizados no processo de investigação (ARONSON; FERNER, 2010).

No segundo artigo, foi realizada a avaliação da evitabilidade das reações adversas a medicamentos e 32,8% das RAMs foram classificadas como evitáveis. As reações do tipo A foram predominantes nesses casos. Monitoramento insuficiente e medicamento não apropriado estão entre os erros encontrados com maior frequência, assim como evidenciado no presente estudo (BUURMA et al, 2001). A implantação de sistemas informatizados ativos, capacitação dos profissionais, estabelecimento de protocolos e a inserção do farmacêutico nas equipes de saúde são algumas estratégias utilizadas para redução de erros no processo de cuidado ao paciente (MENDES et al, 2014).

As limitações do estudo foram relacionadas ao desenho retrospectivo, especialmente pela perda de dados, os quais foram minimizados pela utilização dos relatórios de validação disponibilizados pelo centro de farmacovigilância da instituição. Outro ponto importante, foi a metodologia utilizada para avaliação da evitabilidade de RAMs que não foi capaz de abranger todas as possibilidades de falhas no processo de cuidado que poderiam influenciar no desfecho.

Como perspectivas futuras, ficou evidente a necessidade de realização de um estudo prospectivo a fim de avaliar a utilização de protocolos de acompanhamento de pacientes a nível ambulatorial como estratégia para prevenção de admissão hospitalar por RAM.

6. CONCLUSÃO

As admissões hospitalares por RAM foram influenciadas pelo perfil de atendimento da Instituição. Houve uma frequência elevada de admissões hospitalares devido a medicamentos em mulheres, adultas, portadoras de doenças crônicas em grande parte provenientes dos ambulatórios especializados da instituição.

A utilização dos critérios de Schumock e Thornton para classificação da evitabilidade das reações foi uma estratégia que favoreceu a identificação dos casos e pode ser útil para o delineamento de ações futuras para prevenção de danos aos pacientes, objeto principal da farmacovigilância.

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