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Os resultados de ambos os artigos evidenciam o interesse das mães, professoras e cuidadoras no sentido de promover a participação dos alunos do estudo no contexto familiar e escolar, embora essa participação ainda esteja sobremodo reduzida. Sobretudo no contexto familiar, os resultados evidenciam pouca diversificação das atividades, para além de longos períodos de exposição à televisão e alguns poucos passeios externos a shoppings e sorveterias, como em dois dos cinco casos estudados. No contexto escolar, os resultados evidenciam maior diversificação da participação dos alunos em diferentes atividades. A própria rotina escolar em si possibilita uma maior variedade de atividades no cotidiano escolar, como atividades de roda, letramento, visitas à biblioteca, refeitório, educação física, dentre outras, mas é importante ressaltar que isso não representa, necessariamente, maior nível de participação dos alunos nas atividades, apenas uma maior diversificação das atividades em si. Os resultados evidenciam poucos episódios em que as crianças participam ativamente das atividades relatadas e evidenciam pouco envolvimento nas atividades acadêmicas. Há maior ênfase em como os alunos participam das atividades culturais e extracurriculares. Em todos os casos, os alunos dependem de seus cuidadores para participarem de alguma forma, mas participam de forma passiva, na maior parte dos casos.

A participação limitada das crianças e do adolescente do estudo corroboram os dados de pesquisa que apontam para o risco de participação reduzida entre crianças e adolescentes com PC (28)​, risco este ainda maior entre crianças e adolescentes com PC do que entre crianças e adolescentes com outras deficiências, como mostraram estudos na área da participação de crianças com PC e outras deficiências ​(5​,​29​,​30)​.

Os resultados reforçam a complexidade da participação das crianças em diferentes idades. Muito além de mensurar a capacidade ou performance das crianças em atividades específicas, autores ​(31) elucidam que faz-se necessário compreender o que as crianças escolhem fazer, com que frequência e em quais contextos. No caso do adolescente do estudo, os resultados mostram como sua participação na rotina familiar é sobremodo restrita e se reduz a longos períodos de exposição à programas infantis, como desenhos animados. O conhecimento da complexidade da participação das crianças com PC se torna ainda mais importante na medida em que passam pela transição da infância à adolescência, como apontam estudos ​(28,31)​. Um entendimento mais

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abrangente do conceito de participação pode auxiliar intervenções que promovam a participação entre crianças e adolescentes com PC.

Os resultados evidenciam que a comunicação desenvolvida pelos parceiros de comunicação de todos os grupos (GM, GP, GC) com as crianças e com o adolescente está intrinsecamente ligada à maneira como promovem a participação dos mesmos, reforçando o aspecto fundamental da comunicação na promoção da participação de pessoas com deficiências, como aponta a Classificação Internacional de Funcionalidade - CIF ​(1)​. Por um lado, observa-se nos resultados o empenho das participantes em promover vias de participação possíveis aos alunos. Por outro lado, os resultados evidenciam dificuldades enfrentadas pelas participantes de viabilizarem maior participação ao esbarrar nas dificuldades de comunicação das próprias crianças e do adolescente.

Ambos os artigos apresentam resultados que evidenciam como os parceiros de comunicação dos alunos, tanto mães, como professoras e cuidadoras, conhecem suas formas próprias de comunicação e se empenham continuamente no sentido de se adequar a tais formas de comunicação. Estes achados corroboram a literatura que tem apontado para a importância da observação minuciosa e significação das formas próprias de comunicação de crianças com PC não oralizadas, importantes precursores ao desenvolvimento da comunicação simbólica (​32​-​33)​.

Por um lado, há um empenho da parte das participantes de se adequarem às formas próprias de comunicação das crianças e do adolescente. Por outro lado, os resultados de ambos artigos demonstram barreiras à ampliação da comunicação das crianças, tanto no contexto escolar como no contexto familiar, corroborando dados de pesquisa que reforçam o importante aspecto

suplementar ou de ​ampliação da CSA, para além do aspecto ​alternativo. ​Embora a CSA tenha sido introduzida em todos os casos, os resultados evidenciam dificuldades à continuidade e ao alcance funcional no uso da mesma, tanto no contexto familiar, como no contexto escolar, reforçando a importância da introdução e expansão do uso da CSA no sentido de ampliar a comunicação da criança, como apontam autores ​(17) que defendem que as crianças sejam expostas a diversos recursos de CSA em tempo oportuno, a fim de que a CSA favoreça a organização das estruturas de linguagem e amplie as possibilidade de comunicação da criança.

Os resultados relativos aos fatores de abandono dos sistemas de CSA, tanto no contexto familiar quanto na escola, reforçam dados de pesquisas que ressaltam a importância da persistência

na utilização dos sistemas de CSA, a fim de se beneficiar da acessibilidade na área da comunicação que a CSA promove a longo prazo ​(34​-​35)​.

Os achados evidenciam diversos níveis de expectativas da parte das mães, professoras e cuidadoras em relação ao desenvolvimento da comunicação das crianças e do adolescente. A maior parte das expectativas se apoiam na consciência de que as crianças e o adolescente têm potencial para ir além de suas formas próprias de comunicação, ou além da utilização da CSA somente no nível das escolhas. Em alguns casos, ainda há a expectativa de que a criança desenvolva a fala, embora todas já tivessem, no período da pesquisa, sete anos de idade ou mais e não tenham desenvolvido uma fala funcional até o momento.

Tanto no contexto familiar como no contexto escolar, os resultados apontam para a necessidade de que mais adaptações sejam feitas para que as crianças e o adolescente do estudo avancem em suas possibilidades de participação, bem como nas maneiras como se comunicam. Os resultados apontam para uma participação reduzida em ambos os contextos, sobretudo no contexto familiar, e reitera-se a necessidade da intervenção de profissionais no sentido de promover e orientar a família em como promover a participação de seus filhos. Quanto à comunicação, reitera-se a importância de crianças e adolescentes avançarem para além de suas formas próprias de comunicação e do uso da CSA para escolhas. Sobretudo os alunos entre os níveis I e II na classificação da função da comunicação (CFCS) têm potencial para avançarem na expressão e complexidade de suas necessidades, anseios, pensamentos e sentimentos, para que assim se tornem sujeitos mais ativos em sua própria construção como sujeitos sociais, ativos em seu próprio processo de aprendizagem e participação social ​(36)​.

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