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Embora fosse esperado que a qualidade do sono ruim estivesse associada à ocorrência de complicações cardiovasculares durante a hospitalização de pacientes com SCA, isso não foi observado neste estudo. Nossos dados sugerem que a ocorrência de desfecho intra- hospitalar esteve associada ao diagnóstico de IAM com supra de ST e à HAS. A qualidade do sono ruim esteve presente em 63,3% da amostra e 20,4% apresentaram ECV durante a hospitalização.

Uma boa qualidade do sono está diretamente associada a um período de vigília adequado, sem sonolência diurna, ausência de DRS e com maior disposição para a realização das atividades de vida diária (57). Andrechuk e colaboradores (2016) demonstraram a importância de se avaliar a qualidade e os distúrbios do sono, tais como SAOS e sonolência diurna, visando à prevenção e redução de desfechos desfavoráveis de doenças cardiovasculares, em especial o IAM (58).

Nossos achados indicam que pacientes diagnosticados com IAM com SST apresentam risco 4,97 vezes maior de apresentar ECV intra-hospitalar quando comparado a pacientes com angina instável. Similarmente, um estudo prévio mostrou que existe associação de SAOS com pior prognóstico na SCA. Porém, os autores descobriram que tal associação existe, inclusive para todos os tipos de SCA (59).

O presente estudo demonstrou que os pacientes com SCA que são hipertensos apresentam 3,43 vezes maior chance de complicar durante o internamento. Esses resultados reforçam achados anteriores de que o risco de evento cardiovascular aumenta com o número de fatores de risco cardiovasculares associados, como hipertensão, diabetes, obesidade, dislipidemia ou distúrbios respiratórios do sono (14).

Em concordância com os achados do presente estudo, Andrechuk (2014) sugere que a má qualidade do sono, a SDE e o alto risco para SAOS têm elevada prevalência nos pacientes com IAM. Em seu estudo, o qual objetiva avaliar a evolução clínica de pacientes com IAM, verificou que 12,4% dos pacientes evoluíram com piora clínica durante a hospitalização, e que o sono de má qualidade esteve associado de forma independente à ocorrência desse desfecho (8).

A sonolência diurna excessiva é uma das queixas do sono mais comuns e tem sido acompanhada por múltiplos efeitos adversos, incluindo distúrbios psiquiátricos, anormalidades metabólicas, DCV e mortalidade (60). A SDE tem sido associada à maior

duração da lesão em pacientes que apresentam DAC sintomática e, consequentemente, maior risco de complicações cardiovasculares. Os possíveis mecanismos fisiopatológicos para essa associação incluem: aumento do impulso simpático e elevados níveis de catecolaminas circulantes, estresse oxidativo, disfunção endotelial e inflamação sistêmica (61).

Da mesma forma, a prevalência de SAOS é muito alta entre os pacientes com DAC, afetando de 57 a 79% dos pacientes hospitalizados por SCA (37). Especialistas sugerem que múltiplos fatores podem estar envolvidos: os processos inflamatórios são críticos na patogênese da aterosclerose, a hipóxia intermitente sustenta a inflamação sistêmica modificando os níveis de mediadores de inflamação. Além disso, através da redução dos níveis séricos de oxigênio, a SAOS parece promover a progressão do ateroma e a recorrência de eventos cardíacos e cerebrovasculares, tais como re-infarto, AVC, morte súbita e revascularizações (62).

Na presente investigação, a duração média do sono foi de 6,8 horas no grupo com qualidade do sono ruim e de 7,82h entre os pacientes que dormem bem, com diferença significativa entre os grupos. Uma pesquisa prévia evidenciou que o sono com duração igual ou superior a sete horas, em conjunto com outros fatores (atividade física, dieta saudável, consumo moderado de álcool e ausência de tabagismo), está associado a um risco 65% menor de desenvolver DCV, o que confirma o caráter protetor do sono de duração adequada (63).

Similarmente, Aggarwal et al. (2013), em seu estudo transversal retrospectivo que objetiva analisar a associação entre duração do sono e eventos cardiovasculares em 6538 sujeitos, sugerem que exista associação entre a duração do sono e a prevalência de IAM, ICC, AVC, DAC e angina (64). Neste sentido, tanto os pacientes com excesso de sono quanto aqueles com deficiência do mesmo apresentam risco aumentado para DCV (14).

Experimentar uma doença que envolve risco de vida, como a SCA, é um evento altamente estressante que pode resultar em sérias consequências para a qualidade de vida de um paciente. Kroemeke (2016), em seu estudo que explora as mudanças no componente emocional do bem-estar subjetivo dos pacientes após o primeiro IAM, evidenciou que esses pacientes geralmente apresentam efeitos negativos que coincidem com funcionamento físico limitado, complicações cardíacas e deterioração da qualidade de vida (65). Similarmente, os dados referentes à presente pesquisa apontam que os pacientes portadores de SCA e qualidade do sono ruim apresentaram menor percepção da qualidade de vida comparada ao último ano e menores índices em todos os oito domínios de qualidade de vida do SF-36.

Do mesmo modo, os estudos de Chasens et al. (2014) e Linz et al. (2015) sugerem que múltiplos aspectos das atividades funcionais sejam afetados negativamente pelo distúrbio do sono. A má qualidade do sono foi associada à diminuição da qualidade de vida física, da qualidade de vida mental e da capacidade de se envolver nas atividades diárias (66). Enfim, a presença de DRS nesses pacientes está independentemente associada à diminuição da qualidade de vida (67).

Existem algumas limitações que devem ser consideradas na interpretação de nossos resultados. A avaliação dos distúrbios do sono e da qualidade de vida, mediante a utilização de questionários de autorrelato, embora constitua instrumentos práticos e reprodutíveis, representa metodologia indireta e, portanto, sujeita a falhas. Apesar de a amostra representar a população de pacientes portadores de SCA, a coleta de dados foi realizada em um único hospital privado. Esse fato pode ter gerado um viés de seleção em favor de pacientes que evoluem melhor por disponibilizar da mais alta tecnologia para assistência à saúde. Outra limitação do presente estudo refere-se ao não acompanhamento dos pacientes após a alta hospitalar, o que poderia mostrar os efeitos, a longo prazo, da má qualidade do sono nos desfechos cardiovasculares de pacientes com SCA.

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