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3. OS EFEITOS DOS EXERCÍCIOS DO PAVIMENTO PÉLVICO NA PREVENÇÃO

3.7. Discussão

Em termos da qualidade dos estudos existentes sobre esta temática, tendo como base os artigos de revisão e estudos clínicos analisados, é possível reter a ideia comum de que os métodos de randomização foram descritos de forma insuficiente, quer pelo facto de haver poucos ensaios clínicos em ocultação [i.e., em que a informação sobre a experiência que possa conduzir a viés nos resultados, intencional ou inconsciente, é ocultada do paciente até ao resultado final], quer pelo facto de a maioria dos estudos não referir se foram realizados em

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possam ser, neste caso, difíceis de conseguir, deveria pelo menos ter sido estudada a hipótese de existência de um referencial biológico para os exercícios dos MPP, de forma a despistar qualquer treino intencional dos mesmos. Os estudos que reportaram os maiores efeitos a nível de tratamento da IU são precisamente aqueles em que não foram realizados ensaios em ocultação e, portanto, aqueles que apresentam maior risco de viés.

Por outro lado, parece existir muita heterogeneidade clínica e grande variação de caraterísticas base (e.g. paridade, tipo de parto, tipo e duração da IU, presença ou ausência de sintomas de IU).

Uma outra crítica apontada aos estudos existentes é a de que, nos casos em que foi utilizado um grupo de controlo que usufruía dos cuidados pré e pós-natais usuais em oposição ao grupo que realizava os exercícios dos MPP, não foi referido em que consistiam os cuidados usuais.

Outro dos fatores que permanece heterogéneo está relacionado com a instrução e supervisão da realização dos exercícios dos MPP. Tanto se verifica a presença como a ausência de instruções sobre a correta realização dos exercícios, variando o tipo de instrução e supervisão, assim como o tipo e duração do treino.

A motivação e a observância/adesão também constituem importantes considerações na prescrição e realização de um protocolo de exercícios para a IU feminina, sendo que a prevenção e/ou o tratamento da mesma poderão falhar devido ao facto de as pacientes acharem difícil a realização e integração dos exercícios na sua rotina diária e também pelo facto de sentirem que existem falta de instruções e conhecimento detalhado do protocolo de exercícios.

Para garantir que os exercícios são realizados da forma correta, deverão ser incluídas, além de instruções escritas, pelo menos duas sessões individuais supervisionadas de exercícios na gravidez e pós-parto. No caso do programa de exercícios pós-parto, seria desejável que fosse instruído antes de a puérpera deixar o hospital (nas primeiras 48 horas após o parto), devendo idealmente ser incluídas ainda pelo menos mais duas sessões depois disso. Além disto, deverá ser estipulado um programa de exercícios que possa ser facilmente incorporado na rotina diária da grávida e/ou nova mãe (Boyle [et al], 2012).

Apesar de existirem poucas análises custo/benefício e as que existem serem de qualidade metodológica muito heterogénea (à uma grande variação nas populações estudadas, tipo de intervenção e medição de resultados), o que torna as comparações difíceis, o treino dos MPP é considerado um processo rentável, que utiliza menos recursos que um procedimento cirúrgico e tem poucos efeitos secundários, quando comparado com tratamentos farmacológicos. De facto, relativamente a este último assunto, é unânime a constatação de que não existem efeitos adversos duradouros e/ou debilitantes associados à realização de exercícios dos MPP.

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resultados a longo prazo, pois a hipótese de que a adesão continuada ao treino esteja associada à manutenção e/ou aumento dos efeitos do tratamento precisa de ser testada.

Na verdade, nos artigos revistos em que foi feito o acompanhamento dos resultados a longo prazo (e o conceito de longo prazo também permanece dúbio, pois varia desde seis meses a cinco anos), as evidências apontam para uma pequena eficácia da realização dos exercícios dos MPP na prevenção da IU.

Salvaguardando os aspetos destacados anteriormente, em termos gerais, há evidências que sustentam a recomendação da utilização abrangente dos exercícios dos MPP como um programa conservador e de primeira-linha para as mulheres que sofram de IU, sendo que deve ser proporcionado a mulheres com IUE e IUM, um programa supervisionado com a duração mínima de três meses que deverá compreender, pelo menos, oito contrações, três vezes por dia e, caso os resultados sejam satisfatórios, deverá ser mantido.

No caso específico da IUE na puérpera, há evidências que sustentam uma recomendação generalizada do treino dos MPP, ressalvando-se que os efeitos podem ser maiores se as abordagens tiverem populações-alvo, tais como mulheres primíparas ou que apresentem hipermobilidade do colo da bexiga no período inicial da gravidez ou multíparas que tenham já tido partos vaginais de bebés grandes e/ou com fórceps.

Existindo referências de que a episiotomia e as lacerações perineais sofridas durante o parto também podem estar na base do desenvolvimento da IUE na puérpera, é importante desenvolver atividades que possibilitem a menor incidência daquele procedimento e tornem o períneo menos suscetível a lacerações (Rodriguez; Peláez; Barakat, 2012). Assim, os mesmos autores afirmam que a realização de exercícios dos MPP durante o período pré-natal poderá diminuir a incidência de episiotomias e das lacerações do períneo, uma vez que um músculo treinado é menos propenso a lesões e mais facilmente regenerado após o parto.

Em termos de prevenção, os exercícios dos MPP sugerem a taxa de prevalência da IU até 6 meses pós-parto em mulheres grávidas do primeiro filho. A eficácia revela-se maior, quanto maior for a intensidade dos exercícios e a supervisão dos mesmos. A partir dos 6 meses, não é claro se o efeito prevalece, faltando informação sobre a adesão ao treino. Por outro lado, estes resultados só se aplicam a mulheres grávidas do primeiro filho, pois outras não foram estudadas.

Em termos de tratamento da IU, a realização dos exercícios dos MPP revelou-se eficaz até um ano pós-parto, sendo que o efeito não parece persistir a longo prazo. Isto poderá ser devido à não adesão ao treino ou ao facto de as mulheres terem tido, entretanto, mais filhos.

Quanto à abordagem mista (prevenção e tratamento), os exercícios dos MPP revelaram-se eficazes na redução da prevalência da IU na gravidez tardia, no entanto, este efeito não parece persistir depois do parto.

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descritos que avaliem separadamente a eficácia da realização dos exercícios dos MPP na prevenção e tratamento da IU de mulheres em período pré e pós-natal, independentemente da paridade, investigando os efeitos a longo prazo (cinco ou mais anos).

No documento Relatório Estágio Joana Pinto (páginas 92-95)

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