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• Grupo Carapé

O Grupo Carapé esta formado por três unidades, das quais a Formação Marco de Los Reyes e a Formação Mataojo contém carbonatos. A diferença da Formação Edén é que a mesma é integrada por rochas metamórficas de médio e alto grau, sem carbonatos reconhecidos.

A Formação Marco de los Reyes está constituída principalmente por calcários finamente laminados, de colorações cinza obscuras a negras, com importante presença de matéria orgânica. Apresenta uma composição de CaCO3 entre 57 e 98% e 0.77-

7.77% de MgCO3, com alto teor de Sr, que alcança até 2500 ppm, o que estaria

indicando uma possível mineralogia original de composição aragonitica. Associado a esses carbonatos, encontram-se níveis de arenitos boudinados , micaxistos, formações dferríferas bandeadas (BIF) e margas. Determina-se um ambiente depositacional de plataforma marina profunda, possivelmente anoxico pela quantidade de matéria orgânica. A unidade encontra-se deformada com presença de microdobramentos em alguns lugares. A mesma também é afetada por intensa atividade magmática , com registros de corpos graníticos intrudindo os níveis carbonáticos .Segundo as relações de campo, indicam que a intrusão dos corpos graníticos é posterior ao metamorfismo e deformação da sequência. Os valores de δ13C caracterizam-se por ser positivos, com valores máximos de 5‰ e duas excurções negativas -3.20‰ PDB e -2.3‰ PDB. Segundo as curvas globais de δ13C, essa sequência poderia estar representada em alguma parte do Paleoproterozóico ou do Neoproterozóico. Agora bem, com os valores obtidos para a relação 86Sr/87 Sr entre 0.707 e 0.710 e analisando as curvas globais de Sr , estes valores são representados em seções que as relacionam ao Neoproterozóico entre 600 e 680 Ma. (Jacobsen & Kaufman, 1999) e novamente entre 580 e 560 Ma. (Figura 39)

A Formação Mataojo esta integrada principalmente por dolomitos marmóreos, brancos e massivos, com porcentagem de CaCO3 entre 55 e 59.9% e de MgCO3 entre 50 e

43%. Ocorrem níveis de arenitos na base e fácies heteroliticas para o topo da mesma, ambiente marinho de plataforma com dois ciclos grano- e estratodecrescentes

registradas, não se observam granitos boudinados concordantes, como na Formação Marco de Los Reyes. Os dados de δ13C são consistentemente próximos a 0‰ PDB, segundo as curvas globais de isótopos de carbono (Figura 40). Esses valores são representados em seções do Paleoproterozóico superior ao Mesoproterozóico médio (< 1300Ma; Kah et al., 1999). Esse limite de 1300 Ma, é porque nesse período, as curvas globais de C se fazem moderadamente positivas com oscilações entre -1 e +4 ‰ (Bartley et al., 2001), o qual até o momento não se registra nessa sequência. Considerando também a existência de datações de U-Pb em circões detríticos de arenitos dessa unidade (Basei et al., 2008), com idades Arquenas entre 3.4 e 2.7 Ga , Paleoproterozóicas de 2.6Ga e com idade do circão mais jovem de 1780 Ma , o que determina a idade máxima de sedimentação . As idades determinadas por Basei et al. (2008) para os circões detríticos, são encontradas no embasamento do Terreno Nico Pérez (Hartmann et al., 2001; Bossi & Ferrando, 2001) que estariam marcando a proveniência dos sedimentos do próprio terreno. Com este conjunto de dados se sugere uma idade Mesoproterozóica – Media para a sedimentação da Formação Mataojo, entre 1780 e 1300 Ma.

Ambas sequências calcárias do Grupo Carapé apresentam características litoestratigráficas, geoquímicas e quimioestratigráficas diferentes. As mesmas estão em contato tectônico, com a Formação Mataojo cavalgando sobre as litologías de Formação Marco de los Reyes, que junto com a Formação Edén e o Complexo Carapé formam a Escama Tectônica de Carapé (ETC). Eesse arranjo é produto do evento tectônico, associado à Zona de Cizalla de Sierra Ballena com ca. 535 Ma. Cabe destacar que a definição de Formação Zanja del Tigre proposta por Sanchez-Bettucci (1999,2001) e Oyhantçabal et al., (2005) não é satisfatória para definir essa seqüencia, já que os mesmos agrupam em uma sequência, todas as litologías metasedimetares de médio e alto grau de metamorfismo, sem considerar o arranjo tectônico entre elas e as características litoestratigráficas. Como foi apresentado anteriormente, é possível definir três unidades bem diferenciadas em contacto tectônico entre sím. Finalmente, é claro que não se trata de um “Grupo” no sentido estrito da palavra, por isso é mais adequado utilizar como nome unificante para as formações integrantes, o término informal, “Escama Tectônica Carapé”.

• Grupo Parque UTE

O Grupo Parque UTE (GPU) se define como uma sequência metavulcano-sedimentar, integrada por três formações: (a)A Formação Cañada del Espinillo, que localiza-se na base e está integrada por rochas vulcânicas básicas, a sequência continua com a (b) Formação Mina Valencia caracterizada por dolomito brancos, puros e massivos que representam o nível explorado. As mesmas se intercalam na base com dolomitos cinza, finamente laminadas e níveis de calcoarenitos e calciruditos tempestíticas e (c) Formação Cerro del Mástil ao topo , caracterizada por pelitos negros carbonosos, intercalados com calcários cinza, culminando com um nível de rochas piroclásticas ácidas. Sugere-se um ambiente depositacional marinho, por baixo do nível das ondas de bom tempo, em sua maior parte, afetado por períodos de tormenta e episódios de vulcanismo.

Os valores de δ13C obtidos, apresentam um plateau positivo entre 1 e 1.5‰ PDB e duas excurções negativas em -1 e -3‰ PDB. Em função das curvas globais de isótopos de C, esses valores são representados em seções entre, o Mesoproterozóico inferior e o Neoproterozóico –inferior entre 1400 - 800Ma (Figura 41). Os dados geocronológicos de U-Pb em circões, nas vulcanitas ácidas do topo, determinam idades de 1422 ±21Ma e 1492±4 Ma para os gabbros da base. A seqüencia estaria deformada e metamorfizada em fase xistos verdes aos 1250, Ma segundo datações K-Ar1208±10 Ma: Gómez Rifas, 1995), Ar-Ar. Pelos dados anteriores, poderia-se definir uma idade Mesoproterozóico- Médio para a unidade, o qual poderia indicar que o enriquecimento de 13C em carbonatos marinhos começou previamente a 1300 Ma, como se achava até hoje (Kah et al., 1999; Bartley et al., 2001).

A definição do GPU elimina da coluna estratigráfica do Uruguai os términos Grupo ou Complexo Metamórfico Lavalleja e Grupo ou Formação Fuente del Puma, já que nenhuma dessas unidades definem corretamente a sequência anteriormente descrita. O Complexo Metamórfico Lavalleja, definido por Mallmann et al. (2006,2007), inclui unidades com uma variedade de idades, desde o Neoarqueano até o Cambriano, e o Grupo Lavalleja sensu Sánchez- Bettucci et al., (1999, 2001) e Oyhantçabal et al (2005). O nome Formação ou Grupo Fuente del Puma no conceito de Bossi et al (1998) ou Sánchez- Bettucci et al., (1999) deve-se também ser abandonado, porque a área tipo

localiza-se sobre os calcários Ediacarenses (Formação Polanco), do Grupo Arroyo del Soldado, como já foi proposto por Gaucher.

Figura 41. Localização quimioestratigráfica do Grupo Parque UTE na curva de variação de carbono de Khan et al.,1999.

• Correlação

O Terreno Nico Pérez destaca-se por apresentar outras sequências carbonáticas Meso e Neoproterozoicas, como foi definido no capítulo III. Considera-se o Grupo Mina Verdún (Poiré et al., 2005), o mesmo representa uma sequência vulcano-sedimentar Mesoproterozóica Tardia-Toniano ( 1300-850 Ma) (Gaucher et al, 2007).Os calcários desse grupo se diferenciam do Grupo Parque UTE por: falta de metavulcânicas básicas e metagabbros, presença de estromatólitos, que define a natureza biogênica para os carbonatos, a diferença do GPU que são clásticos. As duas sequências, não obstante, apresentam curvas de δ13 C, similares com um plateau positivo, entorno a + 2‰ PDB, e começa com uma excursão negativa (-3‰ PDB). O anterior dá a possibilidade de certa correlação temporal, que deve ser analisada com mais detalhe.

A Formação Cerros de Villalba, definida como uma sequência sedimentar Neoarquena, apresenta similaridades com a Formação Mataojo como: valores de δ13 C ~0‰ PDB, arenitos na base, que se passam a dolomitos para o topo, as quais caracterízam-se pela presença de estromatolitos. Apesar de que não ser reportado até agora, estromatolitos na Formação Mataojo, as características litoestratigráficas e quimioestratigráficas em comum dá possibilidade de propor a hipótese de que ambas fazem parte de uma mesma sequência. A idade Neoarqueana da Formação Cerros de Villalba deve ser confirmada, por exemplo, pela datação U-Pb de granitos que intrujem, os quais têm idades Rb-Sr de 2000 Ma (Gaucher et al., 2006).

A Formação Cerros de Villalba, definida como uma sequência sedimentar Neoarquena, apresenta similitudes com Formação Mataojo como: valores de δ13 C ~0‰, arenitos na base que continuam-se com dolomitos, que para o topo se caracterizam pela presença de estromatolios, esses não reportados até agora na Formação Mataojo. Essas características litoestratigráficas e quimioestratigráficas em comum da possibilidade de apresentar a hipótese de que ambas são da mesma sequência.

Os carbonatos Neoproterozóicos, definidos para o Grupo Arroyo del Soldado (GAS), diferenciam-se dos calcários da Formação Marco de los Reyes por: apresentar ritmitos dolomitos-calcários(Gaucher, 2000), condições de muito menor metamorfismo (Gaucher, 2000), e por uma curva de isótopos de carbono com valores positivos na base e logo uma importante excursão negativa (Gaucher et al., 2004), ao revés que a Formação Marco de los Reyes. As razões de δ13 C e 87Sr/86 Sr, não obstante, são muito similares, assim como a associação de calcários ricos em matéria orgânica, BIF e pelitos. Deverá então estudar-se os perfíes da Formação Marco de los Reyes, em detalhe ainda maior, com o objetivo de comparar os mesmos com o Grupo Arroyo del Soldado. De todo modo, é claro que a idade dos carbonatos da Formação Marco de los Reyes e da Formação Polanco é muito similar (Neoproterozóico superior).

• Contexto Regional

Dentro do contexto regional, é importante a determinação das idades destas três sequências. No que se refere a registros Mesoproterozóicos relacionados com a evolução do Supercontinente Rodinia, são reconhecidos em três domínios (1) Cinturões Mesoproterozóicos entre 1.5-1.1 Ga, correspondentes a seçiões de tras-arco e intruções expostas ao sudoeste do Cratón Amazonas, que é o registro mais completo e interpretado até o momento na America do Sul, (2) Pequenos fragmentos ao este de América do Sul retrabalhados por eventos associados à Orogênia Brasiliana, (3) Fragmentos reconhecidos dentro da Cordilheira Andina na Venezuela e Colômbia, e ao norte e noroeste da Argentina (Fuck, A.R., et al., 2008). Em geral, existe dificuldade para reconhecer estes fragmentos, devido a que se apresentam muito deformados e pouco expostos. A presença dessas duas unidades, Formação Mataojo e Grupo Parque UTE com idade Mesoproterozóica, fazem ao Terreno Nico Pérez uma área chave para a reconstrução paleogeográfica do Craton do Río de la Plata para esse momento da história da Terra.

Para registros de sequências sedimentares Neoproterozóicas, existe um maior número de dados. Misi et al. (2008) classificam as sucesiones segundo o ambiente geotectônico, (1) Sequências calcárias e siliciclásticas, depositadas em áreas cratônicas: Grupos Bambuí, Una e Rio Pardo no Cratón de São Francisco; Grupo Alto Paraguai, Corumbá ,Murciélago, Itapucumí , Tucavaca, Jacadigo, Boqui e Formação Araras e Puga no cinturão Paraguay; (2) Sequências siliciclásticas e calcárias intensamente deformadas, em bacias de margens passivas (bordes de áreas cratónicas): Grupo Cuiabá no Cinturão Paraguay; Grupo Ibiá e Vazante no Cinturão Brasilia; Grupo Miaba, Canudos e Vasa Barris no Cinturão Sergipe; Grupo Açungui no Cinturão Ribeira; Grupo Macaúbas no Cinturão Araçuaí e o Grupo Porongos no Cinturão Dom Feliciano.(3) Sequências siliciclásticas e vulcanoclásticas em bacias de margens ativas: Grupo Bom Jardim, Camaquã e Fuente del Puma(definido para o Neoproterozóico em sua totalidade) . A Formação Marco de Los Reyes,é a unidade Neoproterozóica definida para área de estudo, poderia incluír-se no grupo 2, de Sequências siliciclásticas e calcárias, intensamente deformadas em bacias de margens passivas (borde do Cratón del Río de la Plata).

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