5.7 Farmacoeconomia aplicada à Mamite Clínica – uma análise parcial
5.7.3 Análise parcial aplicada à mamite clínica
5.7.3.1 Discussão de resultados e conclusão
Os resultados deste estudo demonstram que a maior parcela de custos é o leite descartado, sendo que o custo de tratamento (custo com medicamentos) se vai “diluindo” nos custos totais directos à medida que aumenta o nível de produção de leite, conforme demonstrado em Anexo III. Os resultados estão de acordo com o descrito em vários artigos do âmbito da economia das mamites (Huijps et al., 2008; Halasa et al., 2007; Ruegg, 2005).
Verifica-se que uma fracção considerável do orçamento disponível das explorações leiteiras destina-se ao tratamento da mamite clínica. Para um nível de produção diária de 40 litros de leite, o custo directo de um caso de mamite pode atingir 145,95 € (conforme demonstrado na tabela 17).
Os resultados apresentados demonstram a importância económica da utilização de antibióticos com um curto intervalo de segurança e a importância do número de dias de tratamento, pois da soma de ambos resulta o número total de dias de leite descartado no tratamento da mamite clínica durante a lactação, factor que constitui a maior parcela de custos. Verificou-se que quanto maior o nível de produção, maiores as perdas. Acresce ainda o facto de que são os animais com maior nível de produção os mais frequentemente acometidos por esta afecção (Wilson et al., 2004), o que aumenta em muito o prejuízo para a exploração.
Como referido anteriormente, a propósito das boas práticas veterinárias na utilização de antimicrobianos, a utilização off-label é da responsabilidade do Médico Veterinário assistente da exploração e só poderá ser realizada sob sua indicação e supervisão, devendo ser uma decisão racional para uma determinada situação específica (Biggs, 2002). Chama-se a atenção para o facto de que nesta análise o intervalo de segurança (IS) considerado nos protocolos das várias práticas no terreno (extensão da duração do tratamento) foi o indicado no RCM. Desta forma, os custos determinados para as práticas no terreno poderão estar sub-avaliados, visto que o IS real poderá ser maior, de acordo com os resultados dos testes de resíduos ou caso se adoptem os sete dias de IS para o leite.
Outra conclusão a retirar é que estes custos estão dependentes da efectividade da terapêutica escolhida, para evitar o prolongamento de dias de tratamento, que como se verificou, têm um peso importante nos custos totais.
É por isso fundamental conhecer o microbismo da exploração, realizar testes de sensibilidade aos antibióticos (TSA) com regularidade, conhecer as propriedades farmacodinâmicas, sensibilidade (CIM) e farmacocinética do arsenal terapêutico disponível, para que seja instituída uma terapêutica racional e fundamentada. Em caso de cronicidade, ponderar refugo dos animais.
É também importante que se efectuem registos da efectividade obtida (por exemplo, percentagem de cura bacteriológica) após utilização de um determinado antimicrobiano, para que, considerando custos e benefícios da terapêutica, se possa efectuar uma escolha racional (baseada na eficiência) da terapêutica a instituir. Idealmente dever-se-á comparar custos e benefícios de várias alternativas. Neste caso uma análise farmacoeconómica completa estaria em curso, pois custos e consequências de alternativas terapêuticas estariam a ser considerados.
Neste estudo foi efectuada uma análise parcial dos custos directos da mamite, considerando vários protocolos de tratamento e diferentes níveis de produção. Da análise dos resultados, poder-se-á concluir que além dos custos totais de tratamento (número de injectores necessários bem como o seu custo), é fundamental que se atente no intervalo de segurança, no total dos dias de tratamento, bem como na efectividade dos medicamentos, pois deles dependerá a maior parcela de custos: os custos com o leite descartado.
Citando Erskine, “uma abordagem terapêutica da mamite tem de ter em consideração os três “e”s fundamentais: eficácia, economia e evitar os resíduos dos fármacos” (Erskine et al., 2003).
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