• Nenhum resultado encontrado

Estimando a Elasticidade do Efeito da Assiduidade às Aulas no Mérito Académico consoante a Classe

5. Discussão dos Resultados

Os resultados do estudo identificam apenas uma ligação estatisticamente signifi cativa entre as variáveis emparelhadas em cada dicotomia estudada: a direta que se estabelece entre a assiduidade às aulas e o mérito académico. De facto, no que se refere às restantes dicotomias, estabelece-se uma relação direta, mas estatisticamente não signifi cativa, entre as variáveis que as compõem o que, desde logo, invalida a primeira hipótese que formulámos.

A correlação estatisticamente signifi cativa da relação entre assiduidade e classifi cação deve, contudo, ponderar-se à luz da irregularidade expressiva das observações que fornecem a base para a relação encontrada (e a consequente limitação do seu interesse para fi ns de modelização), o que é deixado claro pela regressão estatística que expõe a considerável incapacidade da relação dessas variáveis explicar a variância das observações (a regressão apenas explica 1 em 10 observações).

Quanto à segunda hipótese usada para explorar o problema, ela é também invalidada, dado que se encontraram diferenças signifi cativas entre as classes sociais no que respeita aos modos de associação da variável assiduidade com a variável resultado académico. De facto, é notório que o impacto da variação da assiduidade no mérito académico cresce em amplitude à medida que caminhamos para classes mais baixas, mostrando-o, desde logo, a variação da signifi cância estatística das correlações à medida que nos deslocamos de classes mais altas para classes mais baixas, mas também a considerável variação da capacidade explicativa da variância na regressão calculada para cada classe social.

Fonseca, Maria de Lurdes – Estimando a Elasticidade do Efeito da Assiduidade às Aulas no Mérito Académico.…

Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Vol. XXII, 2011, pág. 155-176

Algumas limitações do estudo podem contribuir para a reduzida expressividade dos resultados e para a limitada capacidade explicativa dos modelos aqui discutidos. Entre elas está a baixa amplitude das observações relativas à assiduidade (a que já se aludiu) e que não pôde deixar de acarretar limitações idênticas para a amplitude das observações relativas à classificação final. Ora, quando tratamos de medidas de associação, esse aspeto não é despiciendo. Depois, há que apontar o reduzido número de observações categorizadas como pertencendo à classe alta (o que dependeu do nível social médio dos cursos selecionados para integração na amostra), que naturalmente implica um maior erro estatístico associado ao grupo, em comparação com os restantes. Tudo isto agiu num sentido de camuflar e estatisticamente desconsiderar relações que noutras circunstâncias poderiam (ou não) apresentar-se como mais robustas, relações essas que, não obstante, apresentam ainda expressividade considerável.

Julgamos ter estabelecido, ainda que no limite dos nossos propósitos (e capacidades) indicativos, exploratórios, que haverá alguma base para se julgar que a amplitude do efeito positivo da assiduidade às aulas varia consoante a classe social e que essa variação se faz em sentido inverso, beneficiando comparativamente mais as classes socioeconomicamente desfavorecidas. A elasticidade média do efeito do incremento da assiduidade no mérito académico, como se mostrou, é indicador especialmente significativo na demonstração desta relação, pois não só a elasticidade varia em sentido contrário à distinção da classe de proveniência dos alunos, como se denota que o efeito desse benefício é triplo, quando comparamos a classe baixa com a alta – os alunos de classe baixa ganham em média três vezes mais que os da alta em classificação, ao incrementar a sua assiduidade em 10%.

Deve notar-se que isso pode indiciar (a comprovarem-se estes sentidos em estudos posteriores, mais robustos) que a extensão do uso do estímulo à assiduidade dos estudantes, dado pela eventual introdução sistemática do elemento no sistema de avaliação, pode redundar num benefício diferencial de classes sociais distintas, contrário ao sentido conhecido do favorecimento académico dos indivíduos mais bem posicionados socialmente.

Assim, diferentemente de outros, no caso deste elemento de avaliação, a situação de classe mais elevada inibiria ganhos muito expressivos da avaliação conseguidos através da assiduidade, sucedendo o inverso em classes mais baixas, ainda que não deixe de ser verdade (mostram-nos os dados recolhidos) que os alunos de classe mais baixa se encontram ligeiramente menos bem posicionados para disso beneficiar que os de classe média e alta, dada a maior taxa de ocupação (trabalhadores-estudantes) e de agregado familiar próprio estabelecido, ambos fatores que prejudicam, quer a assiduidade, quer a capacidade de a converter em melhores resultados académicos.

Quanto ao ensaio da explicação dos desvios encontrados, julgamos que se adequa bastante bem à observação realizada e à sugestão encontrada a partir deste estudo exploratório, a ideia de que provavelmente todo o racional que tem sido usado para explicar a relação direta entre classe social e mérito académico pode ser utilizado aqui para esclarecer as associações detetadas. Assim, desde logo, o maior capital cultural e cognitivo dos estudantes de classes mais altas, bem como o acesso mais provável a

Fonseca, Maria de Lurdes – Estimando a Elasticidade do Efeito da Assiduidade às Aulas no Mérito Académico.…

Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Vol. XXII, 2011, pág. 155-176

Estimando a Elasticidade do Efeito da Assiduidade às Aulas no Mérito Académico consoante a Classe Social no Ensino Superior Português

uma grande diversidade de suportes para o estudo alternativos aos disponibilizados em aula, poderão, eventualmente, habilitá-los com maior proveito para modos de autoaprendizagem e autoestruturação da atividade académica que os dispensem (mais que os seus pares de classe social inferior estarão dispensados), de basearem o seu sucesso no acompanhamento regular das aulas. Isso explicaria porque é que, apenas entre esta classe, não se encontraram correlações significativas entre a assiduidade às aulas e o mérito académico.

Testes mais robustos e investigação mais específica exigem-se, voltamos a sublinhá-lo, para progredir na análise desta problemática. Note-se, contudo, que, a ser como aqui se indicia, a política de estímulo à assiduidade pode ser uma via eficaz de contribuir para a igualização das oportunidades à partida distintas a que as diferentes classes sociais estão expostas no sistema de Ensino Superior português, potência que dificilmente é partilhada por outros elementos avaliativos.

Referências Bibliográficas

ANIKEEFF, M. (1954), “The Relationship Between Class Absences and College Grades”, inJournal of Educational Psychology, vol. 45, 244-249.

ARULAMPALAM, Wiji; NAYLOR, Robin A.; SMITH, Jeremy (2008), “Am I missing something? The effects of absence from class on student performance”, inIZA Papers, nº 3749. [Consult. a 15 de maio de 2011]. Disponível em: http://ftp.iza.org/ dp3749.pdf.

BAUDELOT, Christian; ESTABELET, Roger (1971), L’école capitaliste en France, Paris, Maspero.

BERNSTEIN, Basil (1971), “Education cannot compensate for society”, in B. Cosin (org.), School and Society, London, Open University, pp. 473-486.

BOUDON, Raymond (1973), L’inégalité des chances: la mobilité sociale dans les sociétés industrielles, Paris, Collin.

BOURDIEU, Pierre (1977), “Sur le pouvoir symbolique”, in Annales: Economies-Sociétés-Civilisations, année 32º, nº 3, 405-411.

BOURDIEU, Pierre; PASSERON, Jean-Claude (1970), La reproduction: elements pour une téorie du système d’enseignement, Paris, Minuit.

BOWLES, Samuel; GINTIS, Herbert (1976), Scholing in Capitalist America: Educational Reform and contradictions of economic life, New York, Basic Books.

BROCATO, Joe (1989), “How Much Does Coming to Class Matter? Some Evidence of Class Attendance and Grade Performance”, inEducational Research Quarterly, vol. 13, nº 3, 2-6.

CHEN, Jennjou; LIN, Tsui-Fang (2006), Class Attendance and Exam Performance: a Randomized Experience, Presented at 11th Annual Meetings of SOLE. [Consult. a 16 de abril de 2011] Disponível em: http://nccur.lib.nccu.edu.tw/bitstream/ 140.119/23213/1/ Chen06%5B1%5D.pdf.

COLLINS, Randall (1971), “Functional and conflict theories of educational stratification”, in American Sociological Review, vol. 36, nº 6, 1002-1019.

– (1979), The credential society: an historical sociology of education, New York, Academic Press.

Fonseca, Maria de Lurdes – Estimando a Elasticidade do Efeito da Assiduidade às Aulas no Mérito Académico.…

Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Vol. XXII, 2011, pág. 155-176

DEVADOSS, Stephen; FOLTZ, John (1996), “Evaluation of Factors Influencing Student Class Attendance and Performance”, in American Journal of Agriculture Economics, vol. 78, nº 3, 499-507.

DOLADO, Juan J.; MORALES, Eduardo (2008), Which Factors Determine Academic Perform-ance of Freshers in Economics?: Some Spanish Evidence. [Consult. a 16 de abril de 2011]. Disponível em: http://www.cepr.org/MEETS/wkcn/3/3536/papers/ dolado-morales.pdf.

DOLTON, Peter; MARCENARO, Oscar D.; NAVARRO, Lucia (2003), “The Effective Use of Student Time: a Stochastic Frontier Production Function Case Study”, in Economics of Educa-tion Review, vol. 22, nº 6, 547-560.

DURDEN, Garey C.; ELLIS, Larry V. (1995), “The Effects of Attendance on Student Learning in Principles of Economics”, in American Economic Review, vol. 85, nº 2, 343-346.

FRAISE, Paul (1957), Psychologie du temps, Paris, PUF.

GUNN, Kenneth P. (1993), “A Correlation between Attendance and Grades in a First-year Psychology Course”, in Canadian Psychology, vol. 34, nº 2, 201-202.

JONES, Craig H. (1984), “Interaction of Absences and Grades in a College Course”, in The Journal of Psychology, vol. 116, s. n., 133-136.

KELLERHALS, Jean; MONTANDON, Cléopâtre (1991), Les strategies éducatives des familles, Genève, Delachaux et Niestlé.

KIRBY, Ann; MCELROY, Brendan (2003), “The Effect of Attendance on Grade for First Year Economics Students in the University College Cork”, in The Economic and Social Review, vol. 34, nº 3, 311-326.

MARBURGER, Daniel R. (2001), “Absenteeism and Undergraduate Exam Performance”, in Journal of Economic Education, vol. 32, nº 2, 99-110.

– (2006), “Does Mandatory Attendance Improve Student Performance?”, in Journal of Economic Education, vol. 37, nº 2, 148-155.

MARTINS, Pedro; WALKER, Ian (2005), Student Achievement and Education Production: A Case-Study of the Effect of Class Attendance, [Consult. a 15 de abril de 2011]. Disponível em: http://www.studentsmart.in/case%20studies/Production/ Student%20Achievement% 20and%20Education%20Production.pdf.

– (2006), “Student Achievement and University Classes: Effects of Attendance, Size, Peers, and Teachers”, in IZA Papers, nº 2490. [Consult. a 15 de abril de 2011]. Disponível em: http://www.econstor.eu/dspace/bitstream/10419/33972/1/53873061 7.pdf.

MINGAT, Alain (1991), “Les activités de rééducation GAPP à l´école primaire”, in Revue Française de Sociologie, vol. XXXII, 515-549.

PARK, Kang H.; KERR, Peter M. (1990), “Determinants of Academic Performance: a Multinomial Logit Approach”, in Journal of Economic Education, vol. 21, nº 2, 101-111.

PLAISANCE, Eric (1993), “Remarques sur l’evaluation des actions de réeducation à l’ école primaire”, in Revue Française de Sociologie, vol. XXXIV, 61-64.

POURTOIS, Jean-Pierre; DESMET, Huguette (1989), “L’éducation familiale”, in Revue Fran-çaise de Pédagogie, nº 86, 69-101.

ROCCA, Kelly A. (2003), “Student Attendance: A Comprehensive Literature Review”, in Journal on Excellence in College Teaching, vol. 14, 85-107.

RODGERS, J. R. (2001), A Panel-data Study of the Effect of Student Attendance on Academic Performance. [Consult. a 18 de março de 2011]. Disponível em: http://ro.uow.edu. au/commpapers/171/.

Fonseca, Maria de Lurdes – Estimando a Elasticidade do Efeito da Assiduidade às Aulas no Mérito Académico.…

Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Vol. XXII, 2011, pág. 155-176

Estimando a Elasticidade do Efeito da Assiduidade às Aulas no Mérito Académico consoante a Classe Social no Ensino Superior Português

ROMER, David (1993), “Do Students Go to Class? Should they?”, in Journal of Economic Perspectives, vol. 7, nº 3, 167-174.

SACKETT, Paul R. [et al.] (2009), “Does Socioeconomic Status Explain the Relationship Between Admissions Tests and Post-Secondary Academic Performance?”, inPsychological Bulletin, vol. 139, nº 1, 1-22.

SCHMIDT, Robert M. (1983), “Who Maximizes What? A Study in Student Time Allocation”, in American Economic Review Papers and Proceedings, vol. 73, 23-28.

SIRIN, Selcuk R. (2005), “Socioeconomic Status and Academic Achievement: A Meta-Analytic Review of Research”, in Review of Educational Research, vol. 75, nº 3, 417-453.

STANCA, Luca (2004), “The Effects of Attendance on Academic Performance: Panel Data Evidence for Introductory Microeconomics”, in Working Paper Series, nº 78.

VAN BLERKOM, Malcolm L. (1992), “Class Attendance in an Undergraduate Course”, in Journal of Psychology, vol. 126, 487-494.

WHITE, Karl R. (1982), “The relation between socioeconomic status and academic achieve-ment”, in Psychological Bulletin, vol. 91, nº 3, 461-481.

WHITE, Sammis B.; REYNOLDS, Peter D.; THOMAS, M. Marc; GITZLAFF, Nance J. (1993), “Socioeconomic Status and Achievement Revisited”, in Urban Education, vol. 28, nº 3, 328-343.

ABSTRACT/RÉSUMÉ Abstract

The rules for student assessment introduced in recent years by the Bologna Process in Portugal led to the gradual reintroduction of attendance evaluation, which increased the interest of its sociological study and raised the question of its classist nature. If both the relationships that social class, and the relationships that regular attendance to lectures establish with acade-mic merit, are well known to sociologists, there is still poor understanding on the relationship between attendance and social class, as well as of the magnitude of the elasticity that the effects of attendance on academic merit have in specific social situations. This study suggests that the amplitude of positive effects brought about by stimulating attendance in Portuguese Higher Education and the social distinction of students are negatively correlated, contrarily to what one might anticipate.

Keywords: Higher Education; Social Classes; Education; Attendance.

Résumé

Les règles d’évaluation des étudiants, mises en place par le Processus de Bologne au Portugal, ces dernières années, ont conduit à la réintroduction progressive de l’évaluation de la fréquentation des cours. Ceci a augmenté l’intérêt de son étude sociologique et a soulevé la question de sa relation avec la situation de classe. Si les rapports de classe sociale et les relations de la fréquentation régulière des classes, qui s’établissent avec le mérite scolaire, sont bien connus des sociologues, la relation entre la fréquentation et la classe sociale demeure bien moins connue. Il en est de même pour la mesure de l’élasticité de l’effet de la fréquentation sur le mérite scolaire dans les situations de classes spécifiques. Cette étude suggère que l’amplitude de l’effet positif de stimuler la fréquentation des conférences dans l’enseignement supérieur portugais et de la distinction sociale des élèves sont corrélés négativement, contrairement à ce qu’on pourrait anticiper.

Fonseca, Pedro Moreno da – From educational ideals to local realities:qualitative unpacking of stereotypes.… Sociologia, Revista da Faculdade de Letras da Universidade do Porto, Vol. XXII, 2011, pág. 177-198

From educational ideals to local realities: