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De acordo com Costanza et al (1997); Daily (1997b); MEA (2005) a conservação dos serviços ecossistêmicos depende essencialmente da conservação das estruturas físicas que formam os ecossistemas que provêm estes serviços. Desta forma, a conservação dos serviços ecossistêmicos relacionados à provisão de recursos hídricos depende diretamente da forma como o solo é ocupado, tipo de cobertura vegetal sobre o solo, e do manejo conservacionista de sua cobertura vegetal.

Arend (1942) verificou que a taxa média de infiltração de água no solo é 40% maior em áreas ocupadas com cobertura florestal em comparação às áreas ocupadas por pastagens. McCalla et al (1984) observa que existe uma significativa diferença para a infiltração de água no solo a depender da qualidade da cobertura vegetal da pastagem, ou seja, as áreas ocupadas com pastagens melhores são capazes de infiltrar até 50% mais água que as áreas de pastagens degradadas e com solo exposto.

Para a conservação dos serviços ecossistêmicos na região Cantareira, de uma forma geral, a cobertura florestal do solo é a melhor opção. Grandes áreas cobertas por florestas são capazes de prover uma grande variedade de serviços ecossistêmicos relacionados à conservação da biodiversidade, provisão de água, regulação do microclima e armazenamento de carbono. Entretanto, é preciso considerar a realidade socioeconômica em cada região para se encontrar estratégias mais custo-efetivas para a conservação dos serviços ecossistêmicos haja visto que, em muitos casos e, particularmente nas áreas ocupadas por Mata Atlântica, as terras são privadas e a decisão do uso e ocupação destas terras é de cada agente econômico.

No caso analisado por esta investigação, o serviço ecossistêmico prioritário para a conservação na área do Sistema Cantareira é a provisão de água. A investigação encontrou evidências de que a ocupação e o manejo atual do solo na área de drenagem do Sistema Produtor de Água Cantareira não contribui de forma adequada para a conservação dos serviços ecossistêmicos relacionados à provisão de recursos hídricos e que há espaço para melhorias ecológicas que possibilitam melhorar a capacidade do Sistema em prover água.

Para este serviço ecossistêmico, o manejo mais adequado da cobertura vegetal sobre o solo já possibilita ganhos significativos relacionados à redução na taxa anual de erosão e os

efeitos negativos associados a este processo, como o depósito de sedimentos nos rios, córregos e reservatórios, melhorando assim a resiliência ecológica de toda a região para conseguir atravessar os períodos mais secos do ano.

Ao se considerar as características socioeconômicas de cada região torna-se possível o planejamento e o incentivo à melhoria da cobertura vegetal do solo sem, necessariamente, haver a necessidade de recuperação da cobertura florestal, possibilitando a combinação entre produção agropecuária e a conservação dos serviços ecossistêmicos, ambos igualmente necessários para promover o bem estar de toda a sociedade.

As áreas ocupadas por pastagens representam 38,7% do total da ocupação atual do solo na Cantareira, o que já justifica uma abordagem conservacionista específica para estas áreas. Além disso, foi possível estimar que, apenas com a melhoria da cobertura vegetal nas áreas de pastagens, é possível haver uma redução de até 30% na taxa anual de perda anual de solos e uma redução de até 26,5% na taxa anual de sedimentos depositados nos rios, córregos, nascentes e reservatórios que formam o Sistema Cantareira.

Autores como Power 2010; Swinton 2007; Swinton 2008 concordam que as estratégias mais eficientes destinadas à conservação dos serviços ecossistêmicos devem, necessariamente, envolver as áreas destinadas à exploração agropecuária. O envolvimento das áreas atualmente destinadas a pastagens pode ser conseguido através de incentivos econômicos à melhoria das pastagens nesta região.

Os resultados da investigação demonstram que, para se alcançar estes resultados ecológicos, são necessários investimentos de aproximadamente 272 milhões de reais na construção da infraestrutura necessária para o parcelamento das áreas de pastagens na região. Para se ter uma ideia, o valor de R$ 272 milhões de reais em cinco anos representa aproximadamente R$ 55 milhões de reais por ano. Se cada um dos 13 milhões de consumidores de água que dependem direta ou indiretamente das águas providas pelo Sistema Produtor de Água Cantareira tiver a disposição a pagar de R$ 5 cinco reais por ano a mais em sua conta de água, a infraestrutura necessária para um amplo programa de melhoria das pastagens em toda a

região poderia sair do papel e tornar-se uma realidade trazendo todos os benefícios econômicos e ecológicos a ele associados14.

Incentivos econômicos como, por exemplo, o Pagamento por Serviços Ambientais aos proprietários de terras na região, pode ser utilizado com a finalidade de se promover esta mudança na forma de manejo das áreas de pastagem encontradas na região. O programa produtor de Águas, idealizado e executado pela Agencia Nacional de Águas, prevê incentivos econômicos à conservação do solo em áreas destinadas à exploração agropecuária, mas está essencialmente direcionado à práticas mecânicas de conservação do solo. Este programa poderia facilmente incorporar medidas conservacionistas de carácter vegetativo como, por exemplo, o plantio direto, as técnicas agroecológicas e os sistemas de rotação de pastagens de baixo custo, quando estas atividades agropecuárias forem desenvolvidas em áreas prioritárias para a conservação dos recursos hídricos, como é o caso da região Cantareira.

Nesta região, é possível esperar melhorias ecológicas e socioeconômicas em toda a região a partir de um programa de incentivos ao manejo conservacionista das pastagens. As melhorias ecológicas, que já foram apontadas por esta investigação, devem contribuir para ampliar a resiliência ecológica em toda a região e, consequentemente, a capacidade de provisão de recursos hídricos.

Por outro lado, benefícios socioeconômicos relacionados ao aumento da produtividade da pecuária nas áreas de pastagens manejadas, que não foram objeto desta investigação, também podem ser esperados para a região uma vez que, de acordo com Voisin 1974; Voisin 1975, esta técnica de manejo das pastagens permite uma maior ocupação dos pastos e o ganho de peso dos animais em um menor tempo.

14 Neste caso não está sendo considerado o custo de transação relacionado a um programa de incentivos econômicos

com a amplitude aqui proposta, somente estão sendo considerados os custos de infraestrutura necessários para a instalação dos sistemas de rotação de pastagens.

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