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V. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Neste capítulo apresentaremos a discussão dos resultados, tendo em conta os objetivos definidos, comparar as atividades de ocupação dos tempos livres e a imagem corporal de jovens em função do género da prevalência de obesidade e do nível de escolaridade e por fim relacionar a ocupação dos tempos livres e a imagem corporal com o Índice de Massa Corporal (IMC).

A organização deste capítulo segue a mesma lógica de todo o trabalho que o precedeu, assim inicialmente será realizada a discussão da análise descritiva e, seguidamente, será feita a discussão da análise inferencial, tendo em conta as comparações e correlações das variáveis estudadas.

5.1. Análise Descritiva

5.1.1. Prevalência de Obesidade

Relativamente à prevalência de Obesidade, os dados deste estudo demonstram que as raparigas apresentam valores mais elevados para o excesso de peso e normoponderal, enquanto que os rapazes apresentam valores mais elevados para obesidade. Estes resultados vão de encontro com um estudo realizado por Ferreira (2010), sobre a prevalência de obesidade infantojuvenil em Portugal Continental onde se obtiveram-se indicadores de excesso de peso superiores nos rapazes em relação às raparigas, 31,7% e 29,3%, respetivamente. Tal facto é concordante com estudos europeus onde os rapazes apresentam indicadores mais elevados de prevalência de obesidade do que as raparigas na maioria dos países (WHO., 2004). Também no estudo de Matos et al. (2006), os rapazes apresentam valores ligeiramente superiores em relação às raparigas.

Analisando um estudo realizado com crianças e adolescentes do distrito de Viseu (Amaral, Pereira e Escoval, 2007) obtiveram resultados idênticos ao do nosso estudo, assim estes autores afirmam que nesta zona do país regista-se uma elevada prevalência de excesso de peso e obesidade, sendo superior nos género masculino, com diferenças geográficas.

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Este facto poderá ser justificado pela preocupação com o peso e a imagem corporal das raparigas já demonstrada em vários estudos sobre o comportamento alimentar nas adolescentes, que se traduz num menor consumo de alimentos em geral comparativamente com os rapazes (Weaver, 2000; Lappe, 2004) citado por Ferreira (2010).

5.1.2. Imagem Corporal

Analisando os resultados obtidos, podemos verificar a nível geral, que as crianças percecionam-se com a imagem corporal 4 e também desejam a mesma imagem, embora as respostas dadas pelas crianças variam no valor mínimo de 1, até um valor máximo de 7, tanto na imagem corporal percecionada como na desejada. Dito desta forma, remete-nos para uma grande satisfação da imagem corporal das crianças, mas analisando os dados verificamos que apenas estão satisfeitas (45,3%). A grande maioria destas crianças está insatisfeita por ser gorda, e deseja emagrecer (37,1%).

De acordo com Dohnt e Tiggermann (2006),citado por Coelho, Mourão-Carvalhal, Santos e Fonseca (2010), realizaram um estudo com crianças dos 5 aos 8 anos de idade, verificaram que um grande número de meninas deseja um ideal de imagem corporal de magreza.

Este facto pode dever-se aos costumes vividos pela sociedade de hoje em dia, o que pode refletir-se nas crianças, pois a maioria das crianças deste estudo apresenta peso normal.

5.1.3. Ocupação dos Tempos Livres

De todas as atividades de tempos livres estudadas, podemos verificar que quase todas apresentam valores mais elevados ao fim de semana, com exceção de Estudar e estar com os Amigos. Desta forma podemos concluir que as crianças estudam mais durante a semana bem como passam mais tempos com os amigos nos intervalos, enquanto que no fim de semana procuram outras atividades, principalmente atividades como ver televisão, jogar jogos eletrónicos e estar na internet. As atividades com mais adesão, são a televisão, pois nem todas as crianças possuem internet e jogos eletrónicos, o que também pode depender do seu estatuto social. Atendendo a este facto, analisando os nossos dados, verificamos que os jogos eletrónicos apresentam os valores mais baixos, tanto durante a semana como também ao fim de semana.

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Num estudo realizado por Marivoet (2001) citado por Loureiro (2004), ver televisão constitui a prática de lazer preferida para a maioria da população portuguesa. Um terço dos jovens afirma ver televisão 4 horas ou mais por semana. Os jovens portugueses estão entre os maiores consumidores de televisão da União Europeia (King, Would, Tudor-Smith & Harel, 1996) citado por Loureiro (2004).

Segundo Matos et al. (2006), os comportamentos adotados nos períodos de lazer são dependentes das influências dos pares e dos familiares com quem os indivíduos interagem. Estas diferenças poderão estar justificadas pela influência da publicidade transmitida na TV, sendo maioritariamente dirigida para os mais jovens levando a uma massificação de consumo (W.H.O., 2004).

5.1.4. Hábitos de Pratica de Desporto

Relativamente aos hábitos de prática desportiva de salientar que a grande maioria da amostra apresenta níveis de prática bastante satisfatórios, no entanto existe ainda uma grande percentagem (19,0%) que nunca pratica ou raramente pratica desporto. Assim os dados do nosso estudo vão de encontro aos argumentos apresentados por Mourão-Carvalhal (2000), que refere que a baixa prática de atividade física regulamentada se deve ao facto da amostra pertencer a um nível socioeconómico baixo mas também, ao facto de viverem em zonas rurais, onde a oferta de

programas de atividades físicas desportivas é muito reduzida.

Costa (1997) verificou que a atividade física pode exercer alguma influência nos níveis de saúde, condição física e nos hábitos de vida dos alunos, afirmando contudo, que esta influência ainda não é muito significativa devido à fraca regularidade da prática desportiva, ao tempo de atividade por treino/aula ou à formação dos treinadores

Relativamente ao tipo de atividade praticada, a modalidade mais praticada é o futebol, natação e a ginástica. Estas opções têm a ver com as ofertas locais de modalidades desportivas e também às questões culturais.

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5.2. Análise Comparativa

5.2.1. Comparação da Insatisfação Corporal

5.2.1.1. Segundo a Prevalência de Obesidade

Analisando os resultados obtidos podemos afirmar que existem diferenças estatisticamente significativas entre os alunos dos dois grupos (normoponderal e sob+obesos), quanto à insatisfação com a imagem corporal. Assim do grupo sob+obesos, 75,3% não se encontram satisfeitos coma imagem que apresentam, desejando emagrecer. Segundo os autores Fonseca e Matos (2005), citado por Leal (2009) no estudo que realizaram verificaram que os adolescentes com excesso de peso afirmam ter uma perceção do próprio corpo negativa, da saúde e da sua aparência física revelando o desejo de quererem modificar a silhueta corporal, isto é o desejo de se tornarem mais magras.

Também Batista (1995) afirma que mulheres obesas tendem a estar mais insatisfeitas com as características físicas do corpo, o que corrobora com resultados do presente estudo realizado, em que os elementos com peso a mais desejam alterar a sua fisionomia querendo emagrecer.

O resultado de alguns estudos efetuados demonstra que à medida que aumentava o IMC, diminuía o nível de satisfação com a imagem corporal, sendo os homens os que apresentavam maior satisfação comparativamente com as mulheres (Markey & Markey, 2005; Killion, Rodriguez, Rawlins, Miguez & Soledad, 2003) citado por Oliveira (2008).

Pode-se aferir que as crianças mais magras têm uma melhor perceção face à sua imagem corporal, conseguindo adaptar-se melhor a uma sociedade cada vez mais obstinada pelo corpo magro.

5.2.1.2. Segundo o Género

De salientar que as diferenças entre os géneros (masculino e feminino) quanto à insatisfação com a imagem corporal, não são estatisticamente significativas, no entanto ao analisarmos os resultados denotamos que existem mais elementos do género feminino desejar emagrecer (40,9%) do que os indivíduos do género masculino (33,7%). Desta forma os

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resultados obtidos apesar de não serem estatisticamente significativos vão de encontro com os mais variados estudos realizados neste âmbito, uma vez que também neste estudo são os elementos do género feminino os que mais se encontram insatisfeitos com a imagem corporal e pretendem emagrecer. Assim e de acordo com Estudo Nacional da Rede Europeia HBSC /OMS (1998os resultados são semelhantes ao do nosso estudo assim de salientar que os rapazes apresentam graus de satisfação da imagem corporal mais elevados do que as raparigas, considerando-se estas sempre mais gordas e com intenção de alterar a sua imagem corporal.

Também Batista (1995) obteve resultados semelhantes ao realizar um estudo com 629 adolescentes caucasóides, com idade decimal de média 14,54 anos conclui que conforme o peso corporal das raparigas aumentava diminuía a satisfação com a sua imagem corporal, o mesmo autor afirma que mulheres obesas tendem a estra mais insatisfeitas com as características físicas do corpo.

O resultado de alguns estudos efetuados demonstra que à medida que aumentava o IMC, diminuía o nível de satisfação com a imagem corporal, sendo os homens os que apresentavam maior satisfação comparativamente com as mulheres (Markey & Markey, 2005; Killion, Rodriguez, Rawlins, Miguez & Soledad, 2003) citado por Oliveira (2008).

De acordo também com o estudo realizado pela HBSC (Matos et al 2006) os resultados são semelhantes ao presente estudo, assim também se encontraram diferenças entre os rapazes e as raparigas quanto à insatisfação corporal, assim são as raparigas que mais frequentemente respondem que alterariam alguma coisa no corpo.

A maioria dos artigos demonstram que as meninas relatam mais insatisfação com o corpo que os meninos, porém, alguns artigos mostram que a prevalência de insatisfação corporal é semelhante entre os dois sexos, mas na sua totalidade elas preferem ser mais magras, enquanto os meninos preferem um corpo maior, provavelmente não significando o desejo de ter mais gordura corporal, e sim ter um porte atlético (Pinheiro, 2003).

5.2.1.3. Segundo o Nível de Escolaridade

Relativamente aos níveis de insatisfação corporal segundo o nível de escolaridade de salientar que não se verificam diferenças estatisticamente significativas, no entanto podemos salientar que através da análise dos resultados podemos inferir que são os alunos do 3ºciclo os que se encontram mais satisfeitos com a sua imagem corporal do que os alunos do 2º ciclo, 48,8% e 41,6% respetivamente.

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Os resultados do nosso estudo no entanto não vão de encontro com os mesmos resultados de outros estudos realizados, assim segundo o Estudo Nacional da Rede Europeia HBSC /OMS (1998) quando comparados indivíduos mais velhos com os mais novos verificamos que os mais novos dão menos importância à imagem corporal e por consequente sentem-se mais satisfeitos Segundo o estudo da HBSC (Matos et al 2006) Também neste estudo foi possível aferir que de 2002 para 2006 aumenta o desejo de alterar algo no corpo para todos os grupos etários, sendo os jovens de 15 anos os que expressam mais frequentemente esse desejo.

5.2.2. Comparação da Ocupação do Tempos Livres

5.2.2.1. Segundo a Prevalência de Obesidade

É do consenso geral que existe uma forte relação inversa entre os níveis de atividade física praticada por um individuo e o grau de obesidade destes, assim quanto mais ativo for o indivíduo menos propensão para ser obeso, sendo o contrário também verdadeiro (Damasio et. al., 2003).

Relativamente às atividades de ocupação dos tempos livres segundo a prevalência de obesidade mostram que as diferenças entre os dois grupos são estatisticamente significativas apenas na prática desportiva e no número de horas por dia com os amigos durante o fim de semana. Isto significa que o grupo normoponderal pratica mais desporto que o grupo sob+obesos, assim como passa mais horas com os amigos ao fim de semana. Assim como os resultados do nosso estudo também Gomes, A. (2009), obteve resultados idênticos concluindo que o grupo dos sob+obesos possuem um maior número de horas em comportamentos sedentários tais como: veem mais TV, utilizam mais o computador, passam mais tempo a jogar jogos eletrónicos, quer à semana quer ao fim de semana, do que o grupo dos normoponderal. Acredita-se que as pessoas com IMC elevado, têm mais barreiras na realização de exercício físico como consequência da obesidade (Martinez- Gonzalez et al., 2001) citado por Oliveira (2008), estando mais pessoas obesas envolvidas em baixos níveis de atividade física habitual, comparativamente às pessoas não obesas (Bouchard, Shephard & Stephens, 1993) citado por Oliveira (2008).

Reduzir o tempo a jogar jogos eletrónicos e ver televisão é uma das formas de reduzir e prevenir a obesidade (Mourão-Carvalhal et al., 2006).

A relação entre a prática de atividade física e obesidade pode-se entender em dois sentidos, ou seja a falta de atividade física pode induzir a um aumento de gordura corporal, mas

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por outro lado jovens obesos são menos ativos (Delgado & Tercedor, 2002), citado por Loureiro (2004)

5.2.2.2. Segundo o Género

Quando comparamos as atividades de ocupação de tempos livres segundo o género verificamos que existem diferenças estatisticamente significativas, assim para a prática desportiva verificamos que é o género masculino que pratica mais deporto que o género feminino, relativamente ao número de horas passadas a jogar jogos eletrónicos e a navegar na internet tanto durante a semana como ao fim de semana de salientar que o género masculino passa mais horas nestas atividades que o género feminino. Por outro lado é o género feminino que passa mais horas com os amigos durante a semana enquanto que o género masculino é ao fim de semana que esta mais com os amigos.

Estes resultados devem-se aos diferentes papéis que a família e a sociedade espera de cada género, que veem confirmar as diferenças de educação para os rapazes e para as raparigas. A sociedade onde vivemos permite ao homem ter mais tempo livre e a mulher ficar em casa para desempenhar as tarefas domésticas. Logo os rapazes tem mais tempo disponível jogar, enquanto que as raparigas ajudam nas tarefas domésticas (Mourão-Carvalhal, 2000).

A literatura consultada indica que os indivíduos do género masculino praticam mais atividade física que os do género feminino (World Health Organization, 2000). Perante os dados disponíveis parecem indicar que as raparigas são uma população de elevado risco na adoção de estilos de vida sedentários (Mota & Sallis, 2002) citado por Loureiro (2004).

Com base num estudo conduzido por Ferreira e Ribeiro (2000)citado por Neto (2006), as raparigas referem mais frequentemente não jogar jogos eletrónicos do que os rapazes. Os rapazes, por sua vez afirmam jogar mais horas, por semana, do que as raparigas.

Um estudo realizado em Portugal Continental em 1996 financiado pelo Ministério da Educação com jovens com idades compreendidas entre os 11 e os 15 anos de idade, verificou-se que nos tempos livres os rapazes vêm mais televisão, vídeos e jogam mais jogos de computador (Matos et al., 2002).

Os comportamentos de lazer são dependentes das influências dos pares e dos familiares com quem os indivíduos interagem (Matos et al., 2006). Desta forma, e mais uma vez, podemos comprovar os diferentes papéis que culturalmente são atribuídos a cada género, induzidos na sociedade em geral, e a família em particular (Mourão-Carvalhal, 2000).

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5.2.3. Segundo o nível de Escolaridade

De acordo com os resultados obtidos de salientar que as diferenças estatisticamente significativas que distinguem o 2º ciclo do 3ºciclo quanto às atividades de ocupação dos tempos livres de realçar que é o 2º ciclo que pratica mais desporto bem como passa mais tempo a estudar, enquanto que o 3º ciclo despende mais horas a navegar na internet tanto durante a semana como ao fim de semana.

Os resultados do nosso estudo vão de encontro aos resultados de um estudo realizado em Portugal Continental em 1996 financiado pelo Ministério da Educação com jovens com idades compreendidas entre os 11 e os 15 anos de idade, verificou-se que nos tempos livres assim como os jovens mais velhos praticam menos frequentemente uma atividade física, vêm mais televisão e vídeo por outro lado são mais os novos que praticam uma atividade física com maior frequência e nos seus tempos livres jogam mais jogos de computador. (Matos et al., 2002).

Vários estudos revelam que o aumento da idade é inversamente proporcional à prática de atividade física (Aarnio, 2003; Caius & Benifice, 2002; Sallis, et al, 2000) citado por Loureiro (2004). Esta ideia é corroborada pelos estudos de Montes (1997), que afirma que os adolescentes entre os 10 e os 14 anos são os mais ativos, observando-se a partir dessa idade uma diminuição na prática.

Também segundo Matos (2006) Os jovens mais velhos praticam menos frequentemente uma atividade física, vêm mais televisão e vídeo, enquanto que os mais novos praticam uma atividade física com maior frequência e nos seus tempos livres jogam mais jogos de computador.

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5.3. Análise Correlacional

5.3.1. Correlação entre as variáveis Imagem Corporal e Atividades de Ocupação dos Tempos Livres com o IMC

No que se refere aos estudos realizados sobre a imagem corporal e o IMC em crianças é escassa.

Verificou-se que o nível de obesidade se encontra significativamente correlacionado, no sentido positivo, com a “imagem corporal percecionada” e com a “insatisfação corporal”. Isto é quanto maior o nível de incidência de obesidade maior é o grau da imagem corporal percecionada. Aumentando também por isso a insatisfação corporal com o aumento do nível de incidência da obesidade.

De acordo com um estudo realizado por Coelho, Mourão-Carvalhal, Santos e Fonseca (2010),com adolescentes obtiveram que existiu uma associação entre o IMC e a imagem corporal percecionada foi positiva e moderada (r=0,651) este estudo veio corroborar os resultado do nosso estudo.

O resultado de alguns estudos efetuados demonstra que à medida que aumentava o IMC, diminuía o nível de satisfação com a imagem corporal, sendo os homens os que apresentavam maior satisfação comparativamente com as mulheres (Markey & Markey, 2005; Killion, Rodriguez, Rawlins, Miguez & Soledad, 2003) citado por Oliveira (2008).

Verificou-se que apenas as variáveis “prática desportiva” e “horas com os amigos por dia durante o fim de semana” se encontram significativamente correlacionadas com a variável “prevalência de obesidade”. Essa correlação é negativa e de fraca intensidade. Isto significa que quanto menor a pratica desportiva dos alunos maior é o nível de prevalência de obesidade, assim como quanto menor o numero de horas passadas com os amigos durante o fim de semana maior será o grau de prevalência de obesidade.

A prática de exercício físico contribui para melhoria na perceção da imagem corporal, embora nos adolescentes esta tendência não se verifique resultado de um estudo realizado por Coelho, Mourão-Carvalhal, Santos e Fonseca (2011).

Existe uma forte relação inversa entre os níveis de atividade física praticada por um individuo e o grau de obesidade destes, assim quanto mais ativo for o indivíduo menos propensão para ser obeso, sendo o contrário também verdadeiro (Damasio et. al., 2003).

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