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Neste capítulo, serão apresentadas as principais conclusões do presente estudo, cujo principal objetivo consiste em caracterizar o perfil desenvolvimental de um grupo de crianças nascidas prematuramente (RNMBP e RNEBP), de forma a perceber a relação existente entre prematuridade e fatores de risco biológico e ambiental.

Começaremos por considerar os fatores de risco biológico, os quais foram analisados tendo em conta uma amostra de 50 crianças. Verificamos que a idade gestacional, o peso à nascença e a duração do internamento estão relacionadas entre si, o que nos permite inferir dada a associação entre estes fatores, de resto expectável, que quanto maior o peso à nascença e maior a idade gestacional menor será o tempo de internamento. Sendo que o maior peso à nascença e a idade gestacional estão geralmente associados a uma melhor condição clínica, com implicações na necessidade de um menor tempo de internamento. Estes dados são consistentes com os constatados por Nowicki (1994), tendo em conta que a prematuridade (baixa idade gestacional e o baixo peso à nascença) está associada a níveis elevados de imaturidade dos órgãos, e consequentemente estão mais predispostos a infeções e outros problemas do foro orgânico, estando dependentes dos cuidados médicos para a manutenção do equilíbrio térmico e nutricional, sendo por vezes prolongado ao longo de vários meses.

Os problemas neurológicos, valorizados neste estudo foram a hemorragia intraventricular (HIV) e a leucomalácia, de acordo com a importância que outros autores referem (Beckwith & Rodning, 1991; Carvalho, Linhares & Martinez, 2001; Martinet, 2008). Estes problemas neurológicos apenas estavam presentes em três crianças da nossa amostra, não tendo sido possível obter relações significativas perante este número reduzido. No entanto, é possível constatar que estas três crianças apresentaram um tempo de internamento mais longo, nomeadamente entre os 31 e os 60 dias e acima dos 60 dias, assim como a sua idade gestacional estava compreendida entre as 23 e as 33 semanas.

As informações apresentadas de seguida, dizem respeito à amostra de 36 crianças, tendo em conta que apenas estas reuniam todas as condições necessárias para este estudo. Relativamente aos resultados da Escala de Desenvolvimento Mental de Griffiths encontram-se na média (entre 85 e 115), no entanto a cotação desta Escala é realizada segundo as normas da população britânica, sendo populações bastante distintas, o que poderá ter implicações nos seus resultados. O facto do resultado desta amostra encontrar-se na média, vai de encontro com o que a literatura refere, nomeadamente que as crianças que nascem prematuramente geralmente apresentam níveis de competências abaixo do esperado, geralmente durante os primeiros anos de vida, sendo que depois se verifica uma evolução positiva. Neste sentido, as principais dificuldades assinaladas dizem respeito ao nível cognitivo e comportamental, não estando apenas relacionadas diretamente com o risco biológico, mas também devido a fatores ambientais como o risco social, a pobre estimulação, a superproteção e ainda o

ambiente familiar desadequado (Brooks-Gunn, Klebanov, Liaw & Spiker, 1993; Meisels & Plunkett, 1988; Ungerer & Sigman, 1983, cit. in Liaw & Brooks-Gunn, 1993). No presente estudo, os resultados obtidos pela Escala de Desenvolvimento Mental de Griffiths revelam que as crianças do género feminino obtiveram resultados mais elevados do que as crianças do género masculino. Contudo, estas diferenças não são significativas do ponto de vista estatístico.

Ainda no âmbito dos resultados do perfil desenvolvimental da Escala de Desenvolvimento

Mental de Griffiths e os fatores de risco biológicos, foi analisada a relação entre ambas. Sendo que

entre a idade gestacional, o peso à nascença e a duração do internamento, apenas o tempo de internamento esteve associado ao resultado obtido, principalmente na subescala D (Coordenação Olho-Mão), trazendo assim implicações ao nível da motricidade fina, da destreza manual e das competências visuo-motoras. Também se verifica associação, marginalmente significativa entre o tempo de internamento e o Q.D, a subescala E (Realização) que engloba as competências visuo- espaciais incluindo a rapidez de execução e a precisão, e a subescala F (Raciocínio Prático) contemplando a capacidade na resolução de problemas práticos, ordenar sequências, compreensão de conceitos matemáticos básicos e questões morais (Griffiths, 2006). Esta relação entre o Q.D e as subescalas associadas à duração do internamento, corrobora com estudos neuropsicológicos que apontam défices ao nível da integração visuo-motora, atenção, memória, velocidade de processamento e função executiva associados à prematuridade (Anderson & Doyle, 2003). O tempo de internamento e o consequente impacto que a UCIN acarreta ao nível das intervenções invasivas às quais os recém- nascidos são constantemente submetidos, o comprometimento na interação entre pais e filhos parece condicionar ao nível do seu desenvolvimento. Estes resultados vão de encontro com a literatura, sendo que devido à imaturidade dos órgãos, a permanência e as condições da UCIN (e.g. respetivamente a elevada estimulação sensorial e a baixa estimulação táctil), tanto para o bebé, como para os pais podem constituírem-se como uma situação estranha e artificial. Assim, como as dificuldades relacionais entre a mãe e o bebé, poderá caracterizar-se como uma fonte de stress (Catlett e Holditch- Davis, 1990; VandenBerg, 1985, Wyly, 1995b; Robertson, 1993 cit. in Barros, 2001; Linhares, Carvalho, Bordin & Jorge, 1999). Posteriormente, as condições ambientais da UCIN podem influenciar as competências psicomotoras, emocionais e estar na origem das dificuldades de aprendizagem das crianças (Martinet, 2008).

Na exploração dos fatores de risco ambiental, verificamos que as características sociodemográficas dos pais e das mães, nomeadamente a profissão e o nível de habilitação, e ainda os fatores associados ao nascimento prematuro, ou seja, e a idade gestacional, peso à nascença e a duração do internamento, não estão diretamente relacionados. De acordo com os dados obtidos neste estudo pode-se inferir que a prematuridade na nossa amostra não está associada a contextos sociais mais precários, sendo que esta está distribuída de igual modo tanto nos estatutos mais elevados como nos mais desfavorecidos. Ao contrário do que a literatura refere, nomeadamente no estudo de

Anderson & Doyle (2003), em que os fatores sociodemográficos influenciam no nascimento prematuro. No entanto, os fatores que podem estar na causa do nascimento prematuro nos estatutos socioeconómicos mais baixos, poderá estar relacionado concretamente com as dificuldades no acesso aos cuidados de saúde, baixos rendimentos e consequentemente a baixa vigilância ao longo da gravidez (Anderson & Doyle, 2003). Por outro lado, o nível socioeconómico mais elevado poderá estar relacionado com as exigências que os cargos mais elevados acarretam profissionalmente, acabando por desencadear níveis de stress mais elevados e consequentemente provocar o nascimento prematuro. Como refere Martinet (2008), a ansiedade e o stress constituem-se como dois principais fatores de causa de um nascimento prematuro, sendo os acontecimentos quotidianos em que a mulher está inserida geradores de stress.

Outra consideração neste estudo remete para os resultados do perfil desenvolvimental obtido através da Escala de Desenvolvimento Mental de Griffiths, no seu quinto ano de vida, explorando o perfil desenvolvimental e os fatores sociodemográficos, concretamente a profissão e o nível de habilitação dos pais e das mães e a frequência de Jardim-de Infância. De facto, tanto a profissão do pai como a da mãe, como a habilitação do pai e a da mãe revelam-se fortemente relacionados com os resultados na Escala de Desenvolvimento Mental de Griffiths, de acordo com a literatura que a importância da relação entre as características individuais, ambientais ao nível do desenvolvimento, sendo que os estímulos ambientais exercem influência ao nível das competências em determinada faixa etária (Wachs, 1984; Wohlwill, 1973; Yarrow, Rubenstein, Pedersen, & Jankowski, 1972, cit. in Bendersky & Lewis, 1994). Assim no nosso estudo, constatamos que tanto a profissão do pai como a da mãe, constituem-se igualmente significativas no Q.D, na subescala A (Locomoção) ou seja, ao nível da motricidade global incluindo o equilíbrio, a coordenação motora e o controlo dos movimentos, na subescala B (Pessoal-Social) com referência às competências ao nível da autonomia em atividades quotidianas, assim como o seu nível de independência e a capacidade de interagir com os pares, e ainda na subescala F (Raciocínio-Prático) nomeadamente na capacidade de resolução de problemas práticos, ordenar sequências, compreensão de conceitos matemáticos básicos e questões morais (Griffiths, 2006). Estes resultados corroboram com a literatura, sendo que referem que as crianças nascidas prematuramente revelam dificuldades linguísticas em particular no processamento da linguagem e da fala e na capacidade de formular frases (Lamônica & Picolini, 2009; Briscoe, Gathercole & Marlow, 1998). Assim como apresentam dificuldades ao nível da integração visuo- motora, atenção, memória, velocidade de processamento e função cognitiva (Anderson & Doyle, 2003).

De acordo com a literatura, considera-se pertinente a interação entre as características individuais, biológicas e o ambiente social na qual a criança está inserida (Bronfenbrenner, 1979; Sameroff, 1986; Sameroff & Chandler, 1975, cit. in Liaw, Brooks-Gunn, 1993). Assim, neste estudo constata-se a importância da habilitação da mãe, sendo que verifica-se que a mesma está relacionada

com o Q.D, e com todas as subescalas, nomeadamente a subescala A (Locomoção) que remete para a motricidade global incluindo o equilíbrio, a coordenação motora e o controlo dos movimentos, a subescala B (Pessoal-Social) nas competências ao nível da autonomia em atividades quotidianas, assim como o seu nível de independência e a capacidade de interagir com os pares, a subescala C (Linguagem) ou seja, ao nível da linguagem recetiva e expressiva, a subescala D (Coordenação Olho- Mão), nas competências relacionadas com a motricidade fina, a destreza manual e as competências visuo-motoras, a subescala E (Realização) quanto às competências visuo-espaciais incluindo a rapidez de execução e a precisão e a subescala F (Raciocínio-Prático) nomeadamente na capacidade de resolução de problemas práticos, ordenar sequências, compreensão de conceitos matemáticos básicos e questões morais (Griffiths, 2006). Quanto à habilitação do pai, também se verificaram de forma semelhante as relações como na habilitação da mãe, ou seja, subescala A, B, C, D e F, à exceção da subescala E (Realização) que não se encontra relacionada, e que diz respeito às competências visuo- espaciais incluindo a rapidez de execução e a precisão (Griffiths, 2006). Ainda no que diz respeito às habilitações dos pais e das mães e quanto à prevalência de crianças com Q.D <85 e >86, nomeadamente à prevalência de Q.D <85 constatamos que as mães com níveis de habilitação mais elevados (e.g. grau de licenciatura, mestrado, doutoramento, bacharelato, 12º ano e nove ou mais anos de escolaridade) têm menos crianças a obter Q.D <85 quando comparadas com os pais. Relativamente ao predomínio do Q.D >86, verificamos que as mães com níveis de habilitação mais elevados (e.g. grau de licenciatura, mestrado, doutoramento, bacharelato, 12º ano e nove ou mais anos de escolaridade) têm um maior numero de crianças a obter um Q.D >86 comparativamente com os pais. Estes resultados, vêm corroborar com o que foi dito anteriormente, nomeadamente a importância do meio educacional e social para resolver as dificuldades, de modo a que a condição biológica não seja, necessariamente equivalente ao aparecimento de perturbações ao nível do desenvolvimento (Wilson, 1985).

Verifica-se que as habilitações da mãe têm impacto mais significativo no perfil desenvolvimental das crianças, no sentido em que esta tem um poder importantíssimo na educação dos filhos, sendo o seu estilo educacional mais significativo. A mãe constitui-se como mediadora do desenvolvimento, perante a possibilidade de maior tempo de interação com o filho, assim como pode decidir quanto à aquisição e disponibilização de material educativo estimulante, assim como o seu grau de habilitação mais elevado, parece favorecer a estimulação cognitiva, e ainda ao nível da linguagem. Esta relação é consistente com a literatura em que salientam o papel crucial do ambiente social e educacional de cada família, nomeadamente a estimulação e interação com os pais e cuidadores, que constituem-se como condutores significativos do desenvolvimento mais do que a condição orgânica e neurológica precoce (Gorski, 1983, cit. in Barros, 2001), ou seja, “O educador é inevitavelmente um modelador do cérebro” (Spinelli, 1990, p.81). De salientar o estudo de Bendersky & Lewis (1994), o qual considera o nível educacional e ocupacional dos pais e das mães, o contexto familiar, as oportunidades de estimulação socioemocional e os recursos físicos existentes, como os

principais responsáveis para determinar o risco ambiental, tendo em conta que o impacto do risco familiar em conjunto com as características individuais das crianças, contribuem negativamente para o seu desenvolvimento.

Neste sentido, ainda foi analisada a importância da frequência de Jardim-de-Infância no perfil desenvolvimental, sendo que não constatamos diferenças significativas. Uma possível explicação para o mesmo poderá estar relacionado com o que foi referido anteriormente, isto é, a estimulação que as crianças recebem em função do nível de habilitação mais elevado dos pais e mães, reforçará a estimulação adequada ao nível do desenvolvimento.

Acerca da caracterização dos dados sociodemográficos dos pais constatamos, a existência de relação entre a habilitação e a profissão do pai e da mãe, isto é, pais e mães com habilitações elevadas (e.g. grau de licenciatura, mestrado, doutoramento, bacharelato) estão implicados em profissões de grau mais elevado (e.g. grandes empresários, dirigentes de empresas, professores). Enquanto pais e mães cujas habilitações são mais baixas (e.g. escolaridade superior a quatro anos e inferior a nove anos), possuem profissões de nível mais baixo (e.g. técnicos administrativos, operários-semi- qualificados). No presente estudo, a generalidade dos pais envolvidos, apresentam-se nos níveis mais baixos quanto à habilitação e consequentemente na profissão. Constatamos que o grupo dos pais das crianças presentes neste estudo, caracteriza-se pela homogeneidade em relação à profissão do pai e da mãe, e ainda da habilitação do pai e da mãe. Esta caracterização sociodemográfica vem corroborar com a zona geográfica do presente estudo, sendo que para além do mesmo ser realizado na região norte do país, a mesma é assinalada pelo predomínio da atividade fabril e à consequente baixa qualificação dos operários, verificando-se a prevalência de níveis mais baixos de profissão e de habilitação.

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