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CAPÍTULO 4 GEOQUÍMICA E GEOLOGIA ISOTÓPICA

4.4. DISCUSSÕES E CONCLUSÕES

Os dados de litogeoquímica dos granitos da região de Bom Jardim de Goiás permitem afirmar que se tratam de granitos metaluminosos a peraluminosos, cálcio- alcalinos, com moderada anomalia negativa de Eu, e anomalias negativas em Ba, Nb, Sr e Ti. Estas pronunciadas anomalias negativas de Ba, Nb, Sr e Ti também foram verificadas por Pimentel & Fuck (1987) para o granito Serra Negra na região sudoeste de Goiás. Segundo aqueles autores, elas podem estar relacionadas ao alto grau de fracionamento (separação cristal-líquido) de, respectivamente, K-feldspato, plagioclásio e magnetita do líquido parental de provável composição cálcio-alcalina a intermediária derivado do manto ou de litosfera oceânica subductada.

Nos diagramas de Pearce et al (1984) (Figura 4.7), as amostras se posicionaram entre os campos de arco vulcânico e intra-placa. Com base no diagrama de Pearce et al (1996) (Figura 4.8), os granitos podem ser classificados como pós-colisionais. Os granitos BJP4a, BJP11b1 e BJP16, interpretados como Granito Serra Negra, nos diagramas discriminantes de ambientes tectônicos (Pearce et al, 1984, Pearce et al, 1996), situaram-se em campos de granitos intra-placa. Os valores de εNd (t) (5,44 e

-2,06) mostram que a fonte do Granito Serra Negra rosa é mais antiga que a dos demais granitos analisados ou é produto de mistura de fonte antiga com fonte juvenil.

Nos diagramas de Thiéblemont & Cabanis (1990), o caráter pós-colisional dos granitos foi evidenciado. Em diagrama triangular elaborado por Harris et al (1986), na tentativa de individualizar granitos de arco vulcânico cálcio-alcalinos, granitos sin- orogênicos, pós-colisionais cálcio-alcalinos e de intra-placa, os granitos da região de Bom Jardim de Goiás mostram características de granitos de arco vulcânico e algumas amostras (BJP4A e BJP14) tendendo a pós-colisionais, entretanto quando plotados em diagrama Rb/Zr-SiO2, os granitos se mostram mais próximos de granitos de arco

vulcânico.

Análises realizadas em biotita desses granitos revelaram ser biotitas primárias, de composição intermediária entre annita e flogopita, Al < 2,5 e apresentam características de granitos pertencentes a suítes alcalinas anorogênicas.

O granito cinza atribuído ao Granito Serra Negra que ocorre nas proximidades da cidade de Piranhas-GO (BJP17), analisado para fins de comparação com as rochas da região de Bom Jardim de Goiás, apresenta caráter metaluminoso, elevada razão MgO/TiO2 e também é enriquecida em Ba (1748 ppm) e Sr (1001 ppm). É mais

enriquecida em TiO2, Al2O3, Fe2O3, MgO, CaO, Na2O e P2O5, porém empobrecida em

K2O,que as amostras de granitos da região de Bom Jardim de Goiás. O relativo

enriquecimento em Ba do Granito Serra Negra cinza (BJP17) em relação aos demais granitos sugere que é um granito menos evoluído que os outros. A amostra BJP17 não mostra anomalia negativa de Eu. Em diagramas de ambientes tectônicos de Pearce et al (1984) e Pearce et al (1996), mostrou ser típica de arco vulcânico, e nos diagramas de Thiéblemont & Cabanis (1990), pós-colisional. O granito rosa aflorante nas proximidades da cidade de Piranhas (BJP16), analisado para comparação com os granitos adjacentes ao depósito estudado, apresenta comportamento e características semelhantes aos do granito rosa que ocorre próximo ao Depósito Bom Jardim de Goiás, interpretado como Granito Serra Negra.

Os basaltos que ocorrem associados aos granitos, na forma de diques e os descritos no furo BJ34 como derrame possuem caráter toleítico. Quanto ao padrão de terras raras, são pouco fracionados. De acordo com a classificação de basaltos de Pearce et al. (1975), as amostras se dividem em dois tipos distintos de basalto: basalto continental (BJP13E e BJP11B2), associado aos granitos pós-colisionais, e basalto de arco vulcânico (BJ34-143,95m), que ocorre na área do depósito, intercalado com as rochas vulcânicas intermediárias. De acordo com a classificação de Pearce & Cann (1973) (Figura 4.17) quanto à fonte dos basaltos, os basaltos do furo BJ34 são cálcio- alcalinos e os diques são basaltos intra-placa. Em um diagrama Th-Hf/3-Ta de Wood (1980) (Figura 4.18), as amostras de basalto do furo BJ34 são características de arcos vulcânicos, enquanto os demais são basaltos toleíticos intra-placa. Dados de εNd (t) (3,97

e 3,30) mostram que estão menos contaminados que os granitos.

As rochas vulcânicas intermediárias de Bom Jardim de Goiás, subdivididas em tufos cineríticos e tufos cristalinos, apresentam caráter cálcio-alcalino, inclusive confirmado por análises químicas em biotita dessas rochas. As análises em biotita mostram que são primárias reequilibradas, Al ~ 2,5 e plotam no campo de biotitas naturais. Os tufos cineríticos classificam-se como dacito, enquanto os tufos cristalinos situam-se entre andesito e dacito, que pode ser devido alteração.. Nos diagramas de ambiente tectônico apresentados (Figuras 4.25 e 4.26), as rochas vulcânicas intermediárias analisadas são características de arcos vulcânicos. Os dados de geologia isotópica são coerentes com valores de rochas vulcânicas de arco de ilha, com alta razão Sm/Nd.

Para fins de comparação, em um diagrama multielementar normalizado ao manto primitivo, com valores de normalização publicados por Sun & McDonough (1989), foi confeccionado o diagrama da figura 4.40. Observam-se anomalias negativas de Ba, Nb, Sr e Ti para a maioria das amostras, as mesmas observadas nas rochas graníticas (Figura 4.6). A amostra BJP7B possui anomalia positiva de Sr, o que está coerente com seu enriquecimento em CaO, decorrente de epidotização.

Figura 4.40: Diagrama multielementar das amostras de rochas vulcânicas intermediárias da região de Bom Jardim de Goiás, normalizadas ao manto primordial, conforme fatores de normalização de Sun & McDonough (1989).

É provável que as rochas ígneas (granitos e basaltos) geoquimicamente semelhantes às vulcânicas típicas de arco sejam produto de magmatismo gerado em ambiente similar a arcos de ilha modernos e estejam relacionados à evolução do arco magmático de Goiás a partir de um sistema de arco de ilha primitivo para um ambiente de colisão pós-continental, marcado por intrusões graníticas pós-tectônicas ricas em álcalis. Pimentel e Fuck (1987) sugerem que o arco se torna mais maturo e a geração do magma aparentemente migra para leste, onde a influência de manto intra-placa e, possivelmente, crosta continental se torna maior na geração de rochas graníticas.

CAPÍTULO 5

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