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4 SIMULAÇÃO

4.4 Discussões

De acordo com os resultados, os Cenários Base apresentaram o maior número de reentregas e o pior Lucro Líquido em todas as configurações simuladas. De acordo com o PCAPREDICT (2018), em pesquisa realizada com 300 varejistas do e-commerce do Reino Unido, EUA, e Alemanha, o custo de uma entrega não realizada foi estimado em US$17,78. No entanto, os varejistas apontam que esse valor é subestimado, uma vez que não leva em conta o dano que uma entrega não realizada pode causar à reputação da marca, da possível perda de clientes existentes e da dificuldade de adquirir novos clientes. Dessa forma, o uso dos DLs, além de reduzir o custo das reentregas, podem ajudar a melhorar a reputação das lojas de comércio eletrônico.

Além de contribuir para a redução do número de reentregas, a implantação dos DLs pode gerar uma renda extra para os supermercados que os hospedam. Como pode ser visto, os supermercados ganhariam um valor médio de até R$1.438,00/mês nos cenários com 80 pedidos/dia e R$ 8.575/ mês nos cenários com 480 pedidos/dia. Ainda, o fluxo extra de pessoas que visitam a loja para usar o DL pode aumentar o número de vendas nos supermercados. Segundo Iwan, Kijewska e Lemke (2016), a cada quatro usuários de DL, um realizará compras quando for coletar seus pedidos. Segundo Oliveira

et al. (2017a), os clientes do comércio eletrônico na cidade de Belo Horizonte

demonstraram a disposição de pagar um adicional de R$ 0,50 por entrega para usar os DLs, valor este que poderia contribuir para o pagamento da instalação de DLs nos supermercados.

Os custos que tem maior representatividade no total de custos são os custos com tempo e os custos externos, e para os cenários que possuem reentrega o Custo de Reentrega. Os custos externos totais (CET+ CEC) tendem a ser maiores com a implantação dos DLs. Isto ocorre porque no Grupo de Cenários 3 os clientes percorrem grandes distâncias para buscar suas encomendas no CD, que geralmente estão localizados em regiões distantes de zonas residenciais, incentivando assim o uso de modos

motorizados. Pode-se observar que a distância percorrida pelos clientes AD contribui muito com custos externos equiparando em termos de custos externos em alguns cenários aos dos caminhões e até ultrapassando os custos de combustível dos caminhões. Estes resultados se assemelham com o encontrado em Edwards et al. (2010), onde os autores ainda ressaltam que é pouco provável que nestas condições ocorra uma mudança modal devido à localização do DC.

No Grupo de Cenários 4, onde há o maior uso dos DLs, os custos externos totais ainda são maiores que os dos Cenários de Base. No entanto, verifica-se uma redução destes custos quando comparados com o Grupo de Cenários 3, reduções nas externalidades também são observadas por Edwards et al. (2010) ao analisar os CDPs como locais de entrega para os pedidos com falhas. Segundo os autores, isso ocorre pois o consumidor percorre em média menores distâncias para coletar as primeiras entregas falhas nos DL, em vez de viajar para o CD. Cardenas et al. (2017) também encontraram que a consolidação promovida pelo maior uso dos DLs é benéfica para custos externos. No entanto, Iwan, Kijewska e Lemke (2016), afirmam que a maior utilização dos lockers deve ser conciliada com uma localização adequada, pois distâncias maiores renderão uma porcentagem maior de clientes que utilizaram seus carros para retirar os pedidos.

Morganti et al. (2014) atestam em seu estudo que estratégias para reduzir as falhas nas entregas como, por exemplo, ligar para o cliente ausente, entregar na portaria ou em um vizinho, tem sido cada vez mais utilizadas para reduzir os custos das operações da última milha. Os resultados deste estudo indicam que, os cenários com maior Lucro Líquido são os que possuem menor taxa de insucesso na primeira tentativa combinado com o maior uso dos DLs. Desse modo, utilizar os Delivery Lockers associados as estratégias de redução de falhas nas entregas, podem representar um aumento significativo nos lucros

Esses resultados destacam que a auto-coleta do cliente é altamente eficiente em termos de custo para os transportadores. No entanto, a promoção da auto-coleta pode ser difícil, já que a maioria dos clientes está acostumada à comodidade das entregas em casa. Uma ideia para promover a auto-coleta é a oferecer de reduções no valor do frete cobrado. Os resultados sugerem que com a economia alcançada pela consolidação da carga nos cenários onde temos a implantação nos Lockers comparados com o Grupo de Cenários Base as empresas poderiam oferecer descontos de até R$19 por pedido para os clientes que escolherem retirar a própria encomenda, sem alterar o lucro das transportadoras, resultado similar ao encontrado por Arnold et al. (2018).

Um dos efeitos negativos do uso dos Delivery Lockers é a geração de viagens exclusivas de clientes buscando seus pedidos de carro (MORGANTI et al., 2014). No entanto, de acordo com Arnold et al. (2018) e Cardenas et al. (2016), se o DL estiver a uma distância pequena, menos pessoas utilizarão seus carros para buscar as encomendas, fazendo com que os clientes se sintam mais dispostos a aceitar a opção de auto-coleta.

Como observado nos resultados da simulação, as viagens dos clientes até os DLs apresentam uma distância média de ida e volta de 2,1 quilômetros. Deste modo, Morganti, Dablanc e Fortin (2014) e Kedia, Kusumastuti e Nicholson (2017) ressaltam a importância de se conhecer qual a distância que o consumidor julga aceitável para percorrer a pé ou de bicicleta, pois essa informação ajudará a determinar qual o tamanho da rede de DLs a ser instalada.

Neste sentido, Oliveira et al. (2017b) ressaltam a importância de estudos que evidenciem o comportamento dos consumidores. Dados factíveis permitirão avaliar qual distância incentivaria os clientes a utilizarem meios não motorizados para buscar suas encomendas e, até mesmo, qual a localização seria mais propicia ao encadeamento de viagens. Masteguim et al. (2018) atestam que a distância entre clientes e DL pode ser reduzida com a abertura de mais DL na cidade, o que requer um investimento significativo e pode desestimular a implantação desta iniciativa. O envolvimento e patrocínio das autoridades públicas poderiam favorecer este processo. No entanto, olhando os custos externos desta opção, que são os que as autoridades públicas principalmente buscam reduzir, não seria interessante a promoção do conceito de entrega baseada na auto-coleta, uma vez que as externalidades aumentam. Arnold et al. (2018) sugerem que as autoridades auxiliem a promover o uso de DL, sob a condição de que os transportadores reduzam os custos externos. Isso pode ser feito utilizando bicicletas, veículos com combustíveis alternativos e veículos elétricos, para a realização das entregas (ALJOHANI e THOMPSON, 2018; TEOH et al., 2018).

Segundo Cardenas (2019), a maior densidade de entregas é essencial para alcançar a eficiência nas entregas da última milha. Assim como evidenciado neste estudo, as entregas em regiões com menor demanda diária podem ser até o dobro mais caras que aquelas com maior demanda diária, o que corrobora com o encontrado por Gevaers, Van de Voorde e Vanelslander (2014). Nas áreas urbanas, onde existe uma densidade maior de entregas, as transportadoras podem se beneficiar de custos mais baixos. Contudo, de acordo com Holguín-Veras et al. (2015), as externalidades enfrentadas pelos moradores dessas regiões são maiores, com impactos em congestionamento, ruído e emissões. No

final, as várias partes interessadas precisam gerenciar diferentes externalidades em diferentes regiões, o que sublinha as dificuldades associadas à última milha.

A consolidação observada nos cenários com maior demanda diária permitiu a realização de um maior número de entregas por viagem, reduzindo assim os custos por pedidos nestes cenários. Arnold et al. (2018) explicam em seu estudo que, com uma densidade maior de entregas é gasto um tempo menor para dirigir de cliente em cliente, portanto, mais clientes podem ser visitados em uma rota. Assim como, sugerem os resultados apresentados neste estudo, os autores encontraram que a eficiência alcançada é maior em cenários com maior densidade de pedidos. Vallino, Maggi e Beretta (2019) acrescentam que transportadoras que operam com uma alta participação no mercado são considerados mais ecológicos, devido à alta densidade de entregas alcançada. No entanto, esses cenários trazem melhores resultados quando se tem o maior uso de lockers, sendo assim, tanto os centros urbanos com maior densidade populacional quanto aqueles com pequena densidade populacional podem obter ganhos com a implantação destas medidas. No Brasil não se observa ainda os ganhos com consolidação, devido a pequena e recente utilização dos DL, que estão ainda em teste na cidade de São Paulo, com poucos pontos. O responsável pelas operações destaca que, alguns ganhos já podem ser observados. Clientes que residem em zonas periféricas, por exemplo, onde as transportadoras não realizam o serviço de entrega, agora podem utilizar estes locais para receber suas mercadorias, aumentando assim a capilaridade das entregas e as vendas online.

Embora o estudo tenha sido desenvolvido para uma região específica de Belo Horizonte, os resultados aqui apresentados refletem a realidade de quase todas as grandes cidades brasileiras e latino-americanas: as entregas não são deixadas sem supervisão na rua devido ao risco de roubo. Por se tratar de um e-commerce em desenvolvimento, as lojas não podem oferecer diversas opções de entrega aos seus clientes, como, por exemplo, um serviço de janela de horários compatível com um horário conveniente para os clientes. Isto implica, na maioria dos casos, uma maior chance de reentrega, porque o tempo de entrega das empresas de transporte geralmente coincide com o tempo que os clientes estão no trabalho. Assim, o uso de DLs é uma opção de entrega para os clientes, trazendo-lhes mais flexibilidade e reduzindo o número de reentregas para as transportadoras.