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4 POTENCIALIDADES DIDÁTICAS DA DIVULGAÇÃO CIENTÍFICA: A

4.6 DISCUSSÕES RECONCILIADORAS

A TAS mostrou-se um ótimo recurso para basear a estruturação de um vídeo de Divulgação Científica, com vias à sua inserção em contexto de ensino (seja ele formal ou não formal). Além de tornar o material educacionalmente fundamentado, o que pode potencializar a aprendizagem, quando inserido em uma unidade didática coerente e alinhada com os fundamentos do vídeo, também auxilia no arranjo de conteúdos a partir da organização sequencial.

Assim, o vídeo “Mendeleev e o sonho da Tabela Periódica – um convite à reflexão”, apresenta múltiplas atribuições. Ressalta-se que uma delas é sua potencialidade tanto para a educação formal e não formal, como frisado anteriormente — e, inclusive, seu possível uso em contexto informal. Sendo considerado em determinada situação como um organizador expositivo e em outra comparativo, sua fundamentação educacional, juntamente ao seu alinhamento histórico-epistemológico, permite que ele seja um recurso instrucional potencialmente facilitador de uma aprendizagem significativa em torno de discussões de e sobre o desenvolvimento da Tabela Periódica. Como foi destacado no próprio vídeo, a Tabela Periódica é muito mais que a reunião de 118 elementos químicos; além de carregar outros

conceitos científicos em sua estrutura, a história por trás dela suscita discussões sobre aspectos de Natureza da Ciência, internos e/ou externos a ela, que não deveriam ficar de fora do seu processo de ensino-aprendizagem. Ao menos, não em um ensino que preze pela construção de uma concepção não dogmática, linear e a-histórica de ciência.

Uma vez que a literatura aponta para a utilização da HFC em sala de aula é esperado que os docentes busquem ferramentas dessa natureza, visto que ainda muitos materiais didáticos não abordam essas questões. Nesse processo de escolha, “a seleção das fontes e dos materiais, tanto da parte do historiador profissional quanto do professor com interesse na História da Ciência, envolvem decisões que não podem ser dissociadas da visão de mundo e das concepções de ciência do estudioso” (PEDUZZI, 2001, p. 154). Nesse sentido, destaca-se a importância de preparar o professor para que se faça a utilização crítica de materiais envolvendo História da Ciência e que esteja preparado para eventuais discussões que se necessite fazer.

Schmiedecke e Porto (2015), a exemplo disso, ressaltaram a importância de avaliar aspectos historiográficos, e consequentemente filosóficos de ciência, em programas televisivos de Divulgação Científica, que, com frequência, são considerados adequados para utilização em sala de aula. De acordo com esses autores, a inserção acrítica de tais materiais no contexto escolar pode reforçar estereótipos de ciência, que inevitavelmente já estão sendo disseminados para o público que assiste tais programas e que não possui experiências suficientes para julgar a história e a ciência apresentadas. Salienta-se aqui, então, a importância de não apenas os materiais que são inseridos em sala de aula atentarem-se para preocupações historiográficas, mas aqueles voltados ao público em geral também.

Por certo, “promover reflexões sobre a natureza da ciência em diferentes níveis de ensino é, e sempre será, um desafio, mas necessário, na medida em que pode contribuir para uma formação mais crítica do aluno” (PEDUZZI; RAICIK, 2020, p. 47). Por isso, a importância de inserir em diversos espaços de difusão de conhecimento reflexões sobre a ciência.

Exemplos de materiais estruturados educacionalmente em princípios ausubelianos, que são utilizados em contexto de ensino formal, mas que o transcendem, são encontrados na literatura. Peduzzi, Tenfen e Cordeiro (2012), nesse sentido, apresentam considerações educacionais sobre animações que abordam discussões explícitas de Natureza da Ciência que foram desenvolvidas para uma disciplina de história da física e que, quando utilizadas

articuladas aos textos utilizados da disciplina, apresentam-se como potencialmente significativas. Damasio e Tavares (2013) tecem considerações de como a TAS de Ausubel serviu como base para a escrita de um livro sobre radioatividade, envolvendo também aspectos históricos sobre o conteúdo.

Por fim, cabe destacar que este trabalho faz parte de um projeto mais amplo de estudos e simboliza o fechamento (paradoxalmente que se abre, com a perspectiva de novas pesquisas sobre a temática HFC, NdC e Tabela Periódica) de um ciclo de reflexões sobre as inter-relações entre os referenciais de Divulgação Científica, Natureza da Ciência e História da Ciência à luz da Educação Científica. A partir da produção desse material, ressaltou-se a possibilidade de integração de reflexões feitas, geralmente em diferentes campos de pesquisa (ensino de ciências, Divulgação Científica, ações de educação não formal etc), mas que se encontram sobre um mesmo eixo: a cultura científica. Assim sendo, buscou-se não restringir as discussões histórico-epistemológicas apenas à educação formal, mas produzir um vídeo de Divulgação Científica, amparado teoricamente em referenciais históricos e educacionais, que pudesse, inclusive, levar à educação não formal e informal reflexões fundamentadas sobre a ciência.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS: A ESPIRAL DA PESQUISA

Por meio de discussões relativas à Natureza da Ciência, à História e Filosofia da Ciência e de considerações sobre a Educação e Divulgação Científica, este TCC buscou, na intersecção desses referenciais, abordar a Tabela Periódica de forma a averiguar como eles podem auxiliar na construção de um entendimento mais amplo sobre esse importante constructo teórico tão pouco contextualizado. Para avaliar como a construção do TCC atrelou-se aos propósitos expostos na introdução e como respondeu à pergunta levantada, a atrelou-seguir serão retomados alguns pontos de discussão apresentados no início deste trabalho.

Nesse sentido, retoma-se primeiramente o objetivo geral — analisar e desenvolver materiais de DC que comportem considerações históricas acerca da Tabela Periódica e discussões relativas à NdC, mediante a articulação da História e Filosofia da Ciência contemporânea e de princípios da TAS de Ausubel, tanto para estudantes de ensino médio quanto para professores em formação (inicial e/ou continuada). É possível dizer que esse objetivo foi alcançado através das diferentes reflexões que foram realizadas e, principalmente, com os resultados obtidos a partir dos objetivos específicos concentrados nos capítulos deste TCC.

O primeiro objetivo específico — desenvolver um levantamento bibliográfico de trabalhos que tratem da DC em periódicos brasileiros específicos de Educação Científica no último decênio — concretizou-se no primeiro capítulo deste trabalho evidenciando lacunas e articulações presentes na área de Educação Científica atreladas à Divulgação Científica. Com esse levantamento, foi possível conhecer como a literatura em educação científica está interagindo com os referenciais relativos à DC. Dessa forma, conseguiu-se direcionar as discussões de HFC e NdC inter-relacionando os propósitos do TCC com as publicações da área, potencializando as contribuições que esta pesquisa pode oferecer.

A consolidação do segundo objetivo específico — elaborar um sucinto resgate histórico da TP — aconteceu no segundo capítulo. A partir dele, foi possível perceber o vasto campo de conhecimento que é a pesquisa historiográfica e consolidar o entendimento de que sempre, por trás de um estudo dessa natureza, há uma visão epistemológica intrínseca. Além disso, esse capítulo foi essencial para a construção de conhecimentos relacionados à história da TP. Contudo, é importante ressaltar que a pesquisa historiográfica é uma ação contínua, posto que sempre há mais uma informação a ser estudada sobre determinado episódio

histórico, dado o complexo contexto em que a História da Ciência se desenvolve. Portanto, considera-se relevante destacar que o estudo da história da TP não se findou após a construção desse capítulo, pelo contrário, a partir dele viu-se a necessidade, cada vez maior, de relacionar a história com aspectos relativos à sua natureza.

do terceiro objetivo específico — investigar aspectos relativos à NdC disseminados em segmentos do livro de DC “O sonho de Mendeleiev: a verdadeira história da química”

(STRATHERN, 2002) acerca da história da Tabela Periódica — pode ser observada no terceiro capítulo. A análise do livro foi desenvolvida com o objetivo de potencializar reflexões de NdC a partir de um material de DC para seu uso em contexto e ações de ensino.

Em síntese, o livro mostra-se bastante útil, visto que não se trata de uma história simplista que visa apenas os resultados da ciência, embora necessite de algumas vigilâncias epistemológicas. Dessa forma, reitera-se a relevância de materiais dessa natureza já comportarem em sua construção, além de uma história da ciência não linear, discussões sobre ela, já que eles podem circular em diferentes contextos de ensino e aprendizagem.

Já o quarto capítulo do trabalho abarcou os dois últimos objetivos específicos — i) apresentar a relevância de princípios da TAS de Ausubel para o desenvolvimento de materiais e ações potencialmente significativas de DC para o seu uso em contexto de ensino à luz de um entendimento vogtiano da relação entre as diferentes modalidades de ensino e ii) produzir um material de Divulgação Científica voltado a estudantes de ensino médio e professores em formação que comportem considerações históricas acerca da Tabela Periódica e discussões relativas à NdC. Este capítulo permitiu, de forma mais proeminente, a interlocução entre os quatro principais pilares deste trabalho: a NdC, a História da Ciência, a Educação Científica e a DC. Dessa forma, pensando em aspectos ausubelianos, esse capítulo diferenciou progressivamente os conceitos abordados ao longo do TCC em um nível maior de complexidade, ao mesmo tempo que os reconciliou integrativamente a partir de uma nova abordagem. Assim como, sendo um artigo independente, apresentou a estrutura e o desenvolvimento de um material de divulgação científica, fundamentado educacionalmente e com discussões históricas e epistemológicas acerca da TP, com potencialidade de seu uso em contexto de ensino formal e não formal, além de poder ser socializado em contextos informais de ensino.

Em face do exposto, torna-se possível dizer que não apenas o objetivo geral foi alcançado, como também o problema de pesquisa — como a HFC e aspectos relativos à

NdC podem contribuir para a análise e desenvolvimento de materiais e ações de DC sobre a TP no âmbito da Educação Científica? — foi respondido. No caso da análise de materiais, o aporte teórico de NdC e HFC foi indispensável para a problematização de segmentos do livro

“O Sonho de Mendeleev: a verdadeira história da química”. Isso porque, o objetivo dessa análise era justamente potencializar discussões de NdC que pudessem ser realizadas a partir do resgate histórico contido na obra.

No âmbito do desenvolvimento do material de DC a partir desses referenciais, pode-se citar duas potencialidades: o aprofundamento de questões sobre ciência, envolvendo a NdC, e a evidenciação da pluralidade de discussões que podem ser realizadas acerca da Tabela Periódica. Ademais, foi possível refletir sobre a utilização desse material nas três modalidades de ensino: formal, não formal e informal, buscando, assim, uma articulação entre questões envolvendo a DC e a Educação Científica.

Frente às diversas pesquisas que foram mobilizadas para a construção deste trabalho conclui-se que

A ciência é uma atividade social complexa. Refletir e discorrer sobre a sua natureza, mesmo em campos mais específicos do conhecimento, é uma tarefa árdua, sempre acompanhada de um sentimento de incompletude face à dimensão do tema. Ainda assim, ela se faz necessária, para subverter o empirismo das primeiras impressões que, no desejo de compreender, mas sem conhecimento, simplifica e distorce (PEDUZZI; RAICIK, 2020, p. 47).

Por isso, reitera-se que a TP é muito mais que a reunião de 118 elementos químicos, tanto científica como epistemologicamente. Quanto a sua história, o sonho de Mendeleev pode ter sido uma de suas páginas, mas está longe de ser o livro todo. É importante valorizar e resgatar os outros estudiosos que participaram de sua construção. Talvez o próprio Mendeleev não gostaria de ser visto como o único a desenvolver a TP, já que ele mesmo creditou a outros cientistas a sua Lei Periódica. Segundo ele,

Acho bom observar que nenhuma lei da natureza, por mais geral que seja, foi estabelecida de uma vez; seu estabelecimento é sempre precedido de muitos pressentimentos, mas o reconhecimento de uma lei não ocorre quando ela é entendida em todo o seu significado, mas somente quando é confirmada por experimento, o qual homem científico deve olhar como a única prova de correção de suas conjecturas e opiniões. Portanto, de minha parte, considero Roscoe, De Boisbaudran, Nillson, Winkler, Brauner, Carnelley, Thorpe e outros que verificaram a adaptabilidade da lei periódica à realidade química, como os verdadeiros fundadores da lei periódica, o desenvolvimento posterior de que ainda espera por novos trabalhadores” (MENDELÉEFF, 1891, p. x).

Por fim, é importante destacar que este trabalho não é apenas um TCC, mas um projeto maior que esse. A Natureza da Ciência, a História e Filosofia da Ciência, a Educação Científica e a própria Tabela Periódica fazem parte de uma jornada que se iniciou em 2019 com o Ano Internacional da Tabela Periódica, a partir de ações de DC através do projeto IFScience. A investigação feita em 2019 era menor em termos de referenciais e objetivos, se comparada ao TCC, que também será menor se comparado ao que se pretende fazer em uma pesquisa de mestrado futuramente. Tal qual a espiral da cultura científica de Carlos Vogt, cada etapa da pesquisa realizada alarga os conhecimentos envolvidos, sem deixar de ter vínculos com o passado, mas propicia uma abertura para novas pesquisas.

Tomando-se o “sentimento de incompletude face à dimensão do tema”, como dito em na citação supracitada de Peduzzi e Raicik (2020), a presente pesquisa aponta, ainda, para novos estudos em que mais aspectos relacionados à história da Tabela Periódica, e da ciência

Tomando-se o “sentimento de incompletude face à dimensão do tema”, como dito em na citação supracitada de Peduzzi e Raicik (2020), a presente pesquisa aponta, ainda, para novos estudos em que mais aspectos relacionados à história da Tabela Periódica, e da ciência

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