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O modelo FKB e a tipologia de classificação da estrutura financeira, originalmente idealizados por Fleuriet, Kehdy e Blanc (1978), representaram à época um avanço no estudo do capital de giro e da liquidez. No entanto, a partir de análises críticas encontradas na literatura algumas melhorias são percebidas conforme segue as discussões.

No trabalho original, Fleuriet, Kehdy e Blanc (1978) identificaram seis estruturas financeiras, no entanto, apresentaram apenas as quatro de maior frequência, as da posição financeira excelente, sólida, insatisfatória e péssima. O trabalho de Braga (1991), denominado de „análise avançada do capital de giro‟, é considerado um avanço ao modelo FKB por desenvolver as outras duas estruturas financeiras: a tipologia V e VI.

Na tipologia V, descrita como „muito ruim‟, a empresa usa recursos onerosos de curto prazo, T negativa, e recursos operacionais, NIG negativa, para financiar investimentos permanentes, CDG negativo. Na tipologia VI, a posição financeira da empresa é denominada de „alto risco‟ por financiar investimentos permanentes, CDG negativo, e também de natureza financeira de curto prazo, T positiva, com recursos operacionais, NIG negativa (conforme quadro 1 a página 56).

A tipologia de estrutura financeira proposta por Fleuriet, Kehdy e Blanc (1978) e Braga (1991) segue uma ordem decrescente de preferência e importância em relação à posição financeira da empresa. Essa tipologia foi analisada por Guimarães e Nossa (2010) em 621 operadoras de planos de saúde com dados contábeis referentes ao ano de 2006 com o intuito de verificar a associação de diferentes níveis de lucratividade, liquidez e solvência através da análise da variância (ANOVA). Com base nos resultados empíricos, os autores, sugerem uma preferência alternativa de classificação.

As empresas classificadas na tipologia II apresentaram níveis de lucratividade, liquidez e solvência superiores, e foi definida de situação financeira „melhor‟, em detrimento da tipologia I considerada com excesso de liquidez e, assim, deficiente em relação à lucratividade e explicada por uma tipologia mais detalhada.

Mesmo sem apurar uma diferença estatisticamente significativa, as empresas classificadas na tipologia V foram consideradas na „pior‟ situação financeira pelo fato dos investimentos permanentes serem financiados com recursos financeiros de curto prazo, T

negativa, e com recursos operacionais, NIG negativa. Essa situação é considerada não sustentável no longo prazo.

Matos et al. (2001) ao questionar o modelo FKB quanto à classificação dos elementos financeiros propõem a criação de mais um grupo no ativo e passivo circulantes, denominado de errático. O objetivo é reclassificar e desmembrar as contas do ACF e do PCF criando o ativo circulante errático (ACE) e o passivo circulante errático (PCE). Segundo Marques, Carneiro Júnior e Kühl (2008, p. 166)11“nem todo elemento errático representa genuinamente um item financeiro, como acontece com as contas, imposto de renda e dividendos, dentre outras”.

Assim, o ACF seria composto pelas disponibilidades e título e aplicações que rendem juros enquanto que o ACE seria composto por contas não cíclicas que não produzam receitas financeiras e não relacionadas às operações como: imposto de renda e contribuições restituíveis, dividendos e juros sobre capital próprio a receber, depósitos judiciais, contas a receber de vendas de ativos permanentes.

Por outro lado, o PCF seria composto por obrigações que produzam despesas financeiras e o PCE seria composto por contas não classificadas como operacionais e que não gerem encargos financeiros como: imposto de renda e contribuição social, dividendos e juros sobre o capital próprio a pagar, parcelamentos de impostos diversos, dívidas em juízo, dívidas por compras de ativos de longo prazo e provisões contingentes.

Desta forma, uma nova variável é criada, o saldo residual das contas erráticas, diferenciado do saldo de T original. Essa proposta, melhora a análise do endividamento oneroso ou a folga financeira de curto prazo e possibilita desenvolver mais classificações, tipologias, de estrutura financeira.

Matos et al. (2001) aplicaram a proposta em três companhias do setor de material de transporte, no período de 1998 a 2000. O resultado indica que a análise financeira pelo novo critério de classificação mostrou-se diferente em determinados casos, mais transparente e consistente com a realidade da empresa.

No entanto, para Carneiro Junior e Marques (2005) vários fatores dificultam a utilização do modelo FKB, entre os quais, mudanças de práticas contábeis com efeitos

relevantes e divergências na percepção dos elementos operacionais e financeiros quanto a sua classificação. Quanto a preocupação em classificar contas circulantes em operacionais e erráticas (financeiras) também é corroborada por Medeiros e Rodrigues (2004).

Outro avanço do estudo da liquidez percebido na literatura é o trabalho realizado por Silva e Cavalcanti (2004). A proposta pauta-se em utilizar a margem de lucratividade dos estoques para corrigir o valor dos estoques visando proporcionar uma visão dinâmica na mensuração e análise de liquidez.

A forma de calcular os índices tradicionais de CCL, liquidez geral, liquidez corrente e liquidez de Kanitz foi modificada para contemplar a lucratividade inerente e implícita nos estoques. O resultado da simulação empírica indica a análise de liquidez superior à tradicional e mais confiável por se aproximar da realidade da empresa.

Ainda, Silva (1996) ao pesquisar e definir o retorno sobre o ciclo financeiro proporciona uma importante contribuição teórica sobre a gestão do capital de giro e a mensuração de liquidez. As variáveis utilizadas no modelo incorporam em seu conceito tanto a lucratividade como a liquidez e, assim, sua relevância para a gestão da empresa é enfatizada. O cálculo do retorno sobre o ciclo financeiro é representado pela equação:

(26) onde: r é o retorno sobre o ciclo financeiro; c é o ciclo financeiro e m é a margem de lucro.

A margem sobre as vendas retrata o retorno auferido para cada montante investido no ciclo financeiro. A liquidez é resultado do comportamento da margem, do montante investido e da dimensão do ciclo financeiro. Desta forma, “o retorno sobre o ciclo financeiro é uma informação relevante para a gestão do ciclo financeiro” (SILVA, 1996, p. 128).

O ciclo financeiro depende da gestão do valor dos estoques, dos créditos com os clientes e do valor a pagar aos fornecedores tanto em relação aos prazos de realização e exigência desses elementos como da relação entre eles. Na pesquisa, o autor, disserta e analisa sobre cada elemento de composição do ciclo financeiro. Ainda, destaca que ao se conhecer o retorno sobre o ciclo financeiro e sua composição, regras ou políticas podem ser estabelecidas para o gestor tomar decisões e administrar o capital de giro com eficiência.

Pelo exposto, percebe-se que a mensuração de liquidez é um tema que é objeto de constantes pesquisas e melhorias, no entanto, ainda carece de discussões com erudição

suficiente para aproximar os modelos de mensuração ao conceito genuíno de liquidez descrito e analisado no item 2.1.

3 ESTRATÉGIAS DE PESQUISA, VARIÁVEIS, HIPÓTESES E REGRESSÕES