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2.2 PRONTUÁRIO ELETRÔNICO: UMA NOVA VISÃO

2.2.5 Discussões sobre Prontuário Eletrônico do Paciente (PEP)

O prontuário eletrônico ou Electronic Patient Records (EPR) tornou-se um ponto de discussão e estudos em várias partes do mundo, o que ocasionou pontos de vista diferentes sobre o seu desenvolvimento e implantação nas entidades de saúde.

Laerum, Ellingsen e Faxvaag (2001) destacam que o uso de sistemas eletrônicos de registros médicos era limitado pela funcionalidade, pois suas tarefas

eram de gravar dados de pacientes e posteriormente ler esses dados, além de possuírem diferenças consideráveis entre os próprios sistemas de uso específico, impossibilitando a comunicação precisa e troca de informações sobre determinado assunto. Com isso, os autores destacaram que a satisfação percebida pelos usuários e médicos desses sistemas era moderada, por não haver uma utilização completa das funções existentes.

Não diferente dos estudos de Laerum, Ellingsen e Faxvaag (2001) nos hospitais noruegueses, conforme os autores afirmam, esse tipo de resultado de sua pesquisa poderia ocorrer ainda em outros hospitais espalhados pelo mundo.

Portanto, nessas discussões, encontram-se sistemas de informações que falharam, quando implementados nas entidades de saúde. De acordo com Pratt et al. (2004), acredita-se que a causa desses fracassos é a dificuldade de natureza colaborativa ou comunicativa que os sistemas possuem, por não possuírem uma dinâmica de comunicação entre si e com os médicos.

Pratt et al. (2004) destaca que a revisão dos aspectos de estudo de campo deveria ser aplicada para a melhoria no desenvolvimento de sistemas de informação na área de saúde, pois a implementação desses tipos de sistemas é freqüentemente tratada como uma tarefa complexa e cara, mas que se torna essencial para o sucesso de uma organização. Dentro da área médica, problemas associados com o desdobrar dos sistemas de informação são uma preocupação crescente.

Os estudos existentes também procuram questionar a utilização dos prontuários eletrônicos existentes, ao mesmo tempo em que buscam formas de ajudar a preencher lacunas no desenvolvimento dos sistemas estudados, pois as pesquisas deveriam guiar para a colaboração e melhoria dos sistemas de informação médicos.

Segundo Pratt et al. (2004, p. 129), “a história de fracasso de sistemas de informação médico é bastante extensa”. Essas falhas acabam ocorrendo por uma variedade de razões, desde a sua real efetividade, até o custo de desenvolvimento e implantação.

Sabe-se simplesmente que algumas falhas existentes são ocasionadas pela não interação com o usuário, pois em geral os usuários têm um papel determinante para estabelecer se um sistema falhará ou terá sucesso. De acordo com Coiera (2000, p. 278), “neste paradigma computacional, são moldados processos de informação humana em uma forma ditada por estrutura tecnológica”. Logo, quando não há a participação humana no desenvolvimento e há uma imposição, ocorrem as falhas em comunicação e na própria estrutura organizacional.

Conseqüentemente, Coiera (2000) comenta que devem existir expectativas sociais em interação com as tecnológicas, reformulando-se as tarefas para o aprimoramento das informações clínicas, evitando-se os problemas ocasionados pelo paradigma computacional.

Claramente existem ênfases nos estudos relatados, por considerarem a importância das diferenças de indivíduos e das perspectivas organizacionais, durante a implementação e desdobramento dos sistemas, que permitam uma análise técnica dos sistemas mais a colaboração organizacional (PRATT et al., 2004).

A consciência desses novos pesquisadores é expandir o tratamento da nova maneira de entender os assuntos organizacionais e como eles influenciam no desenvolvimento, aprimoramento e implantação dos prontuários eletrônicos nas entidades de saúde, além de contribuir para a inter-relação entre os sistemas sociais e os sistemas técnicos.

Coiera (2000) destaca que, em contraste com a visão computacional de apoio à decisão, existe a visão sociável que enfatiza a interação social em cuidado médico e vê o compartilhamento e interpretação de informações como um processo interativo que emerge nas instituições de saúde. Porém, afirma que essa relação muito freqüentemente é negligenciada pelos profissionais médicos, descaracterizando os aspectos socio-tecnológicos que são estudados (PRATT et al., 2004).

Em um outro ponto, Pratt et al. (2004) informa que existem outras disciplinas de pesquisa que reconhecem a importância da reunião social e a análise cognitiva, destacando a interação homem-computador e explorando como as pessoas interagem com a tecnologia em uma variedade de modos.

Esclarecendo a visão de Pratt et al. (2004), Nikula (2005) chama a atenção para a divergência existente entre as visões de gerentes e médicos na utilização e entendimento dos prontuários nas entidades de saúde.

Nikula (2005) destaca que os gerentes vêem o prontuário como sendo um facilitador para mudanças estruturais e organizacionais e que essa é a principal razão pela qual os hospitais investem em PEP; enquanto que os médicos vêem o prontuário como sendo um facilitador do processo de documentação e um substituto para o papel.

Tanto Nikula (2005) quanto Laerum e Faxvaag (2004) concordam e fundamentam em suas pesquisas que há uma discrepância na visão dos gerentes e dos médicos em relação à utilização do prontuário eletrônico nos hospitais. Em relação às discrepâncias, podem-se destacar os seguintes pontos:

• Os médicos e gerentes possuem uma confiança geralmente alta no sistema; • Possibilidade remota de perder dados;

• Os gerentes utilizam o sistema para olhar o futuro do hospital;

• Os médicos praticamente não expressam qualquer visão para o futuro do hospital;

• Os médicos não fazem nenhuma associação ou referência à união da TI com a PEP.

• A maioria dos médicos e os gerentes sentiam que não havia nenhuma participação sua no processo de decidir sobre a implementação de PEP.

Nikula (2005) destaca que esses relatos são fáceis de explicar, pois os gerentes e clínicos pertencem a armações tecnológicos diferentes. Os médicos ou clínicos interpretam e entendem os prontuários como uma tecnologia de apoio e facilitadora à documentação de processos no cuidado médico, enquanto os gerentes interpretam por outro lado e reconhecem o prontuário como um facilitador para a mudança estrutural e a armação da estrutura organizacional.

Já Laerum e Faxvaag (2004) destacam que o prontuário não é necessariamente por si só um indicador de qualidade, mas um indicador de impacto potencial do sistema, em que os gerentes e médicos serão parte integrante das mudanças ocasionadas na organização.

Diferentemente do que os gerentes e médicos acreditam, eles são parte integrantes das mudanças e os sistemas e prontuários precisam do inter- relacionamento para que as mudanças ocorram, ao contrário do que é divulgado: o sistema vem para mudar a estrutura organizacional e gerar facilidade e um melhor gerenciamento da empresa.

De acordo com Nikula (2005), a maioria das mudanças e inovações ocorridas para o uso das tecnologias acontece dentro da armação tecnológica existente, em

que a nova tecnologia absorve a antiga estrutura através das inovações ou mudanças; ou seja, as tecnologias e sistemas implantados acabam ocupando os sistemas e estrutura já existentes, não promovendo nenhuma observância em relação ao meio ambiente e o lado humano da organização, tornando-se uma estrutura idêntica, sem diferencial interpretativo e com as mesmas bases conceituais anteriores.

Com isso Nikula (2005) conclui fazendo uma observação que demonstra que os clínicos são desavisados da mensagem dos gerentes de como a organização deveria melhorar e o mais importante, neste caso, por que e como o PEP deveria ser integrado no processo, havendo, portanto, uma interpretação diferenciada pelas duas partes.

As discussões estabelecidas nesse estudo buscam enfatizar uma nova visão. Estudiosos e pesquisados, em várias partes do mundo, estão mencionando e criando um senso crítico para futuras pesquisas, além de gerar questionamento entre a informática médica e outros stakeholders, para promover um melhor entendimento das variáveis que influenciam o desenvolvimento e implantação dos prontuários médicos eletrônicos e suas potencialidades para o sucesso ou fracasso de outros sistemas.

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