3.1. C ARACTERÍSTICAS G ERAIS EM P LANTA
3.1.5. P RINCIPAIS C ARACTERÍSTICAS DA E STRADA P RINCIPAL
3.1.5.3. Disfarce de sobreelevação
Numa estrada normal, o disfarce da sobreelevação processa-se ao longo da clotóide, mas começando desde logo com um perfil sobreelevado com a inclinação da via de intradorso em alinhamento recto. Para o caso de estradas de faixas separadas, o disfarce da sobreelevação começa ainda em alinhamento recto chegando ao ponto de osculação recta/clotóide com uma inclinação transversal de 0%, aumentando sucessivamente até atingir a sobreelevação pretendida no início da curva circular. Poder- se-á fazer o disfarce da sobreelevação todo na clotóide, mas não é prática corrente em Portugal. As figuras seguintes ilustram a variação do perfil transversal da faixa de rodagem na zona de disfarce:
Fig.16 – Perfil transversal da estrada principal em alinhamento recto.
-i i.a
a.recto 0%
a a
Fig.17 - Perfil transversal da estrada principal no Ponto de osculação alinhamento recto / clotóide.
-i i.a
a -i
i.a -Se
Se.a
-Se
a a
Fig.18 - Perfil transversal da estrada principal no ponto de osculação clotóide/curva circular
a) Faixa Interior (Intradorso)
O disfarce em intradorso deve ser linear. Na figura em baixo está esquematizado a inclinação relativa dos bordos da faixa de rodagem interior.
i.a Se.a
d
Alinhamento recto (Ld) Clotóide (L) Curva Circular
Sx.a Bordo Interior Bordo Exterior i.a
Fig.19 -Inclinação relativa dos bordos da faixa de rodagem interior da estrada principal.
i [%] – Inclinação transversal da estrada; a [m] – Largura da faixa de rodagem;
d [%]– Inclinação do eixo em perfil longitudinal;
Sx [%]– Sobreelevação num ponto genérico x da clotóide;
Se [%]– Sobreelevação na curva circular;
Ld [m] – Extensão do alinhamento recto.
L [m] – Extensão da clotóide.
34
S. a Se i. a. xL i. a
Ou,
S Se i.xL i (35)
Sx [%]– Sobreelevação num ponto genérico x da clotóide;
Se [%]– Sobreelevação na curva circular;
i [%] – Inclinação transversal da estrada; L [m] – Extensão da clotóide.
Ao considerar i como a inclinação transversal mínima que previne a aquaplanagem e como Sx é sempre maior que i, esse risco não ocorre.
b) Faixa Exterior (Extradorso)
Quando as inclinações longitudinal e/ou transversal da estrada são baixas poderá ocorrer o risco de aquaplanagem nas zonas de inversão da sobreelevação. Em caso de chuva, formam-se linhas de corrente com uma altura de água elevada causadoras do risco de aquaplanagem. Esta situação requer uma especial atenção quando:
As velocidades de circulação são elevadas;
As inclinações longitudinais são pequenas;
As faixas são largas;
Há grandes extensões dos disfarces das sobreelevações.
Sendo assim, o ponto de inclinação transversal igual a zero (ponto de osculação recta/clotóide) é o ponto crítico para o risco de aquaplanagem. Como não existe inclinação transversal neste ponto, é importante maximizar a inclinação longitudinal para que esse risco não ocorra. Poder-se-ia adoptar um disfarce linear, mas se se adoptar um disfarce parabólico o declive da recta tangente no ponto crítico será maior do que o declive da recta caso se considerasse o disfarce linear.
De seguida, apresenta-se um esquema da inclinação relativa dos bordos da faixa de rodagem, comparando os dois tipos de disfarce.
i.a
Alinhamento recto (L ) Clotóide (L) Curva Circular a.Se y
x
a.Sx Bordo Exterior Bordo Interior 0 L' dFig.20 - Inclinação relativa dos bordos do extradorso da estrada principal.
i [%] – Inclinação transversal da estrada; a [m] – Largura da faixa de rodagem;
d – Declive da recta tangente ao ponto de inflexão do disfarce parabólico;
α – Declive da recta considerando o disfarce linear na mesma extensão; Sx [%]– Sobreelevação num ponto genérico x da clotóide;
Se [%]– Sobreelevação na curva circular;
Ld [m] – Extensão do alinhamento recto.
L [m] – Extensão da clotóide.
Segundo as notas da disciplina de Complementos de Estradas e Aeródromos, o disfarce parabólico pode ser calculado através da seguinte expressão:
S ,3 2xLg- . dLgex . Se i i (36) Verificação: X=0: Sx = -i ok! X=L’: Sx = Se ok!
36
Cálculo de Ld
Para o cálculo de Ld admite-se que a sobreelevação é zero; então:
Para x=Ld e Sx=0:
0 ,3 2. LLg - . ,Z LLg-Z . Se i i Simplificando a fórmula anterior:
LZ(32 . Lh. LZ i. L h(
2. Se i 0 , com Lh LZ L (37)
Cálculo do declive no ponto crítico
O declive num ponto genérico é dado por:
dSx
dx Se i. idx ,3 d 2xLg- dLgex
dx ,dd Lgex - ,3 2xLg-j K
KdSxdx Se i. k2Lgx(2x. 3Lg 2x. 2xLg. Lgl K
KdSxdx Se i. kLg6x6xLh(l (38)
Substituindo x Ld na fórmula anterior, determina-se a inclinação longitudinal do bordo exterior no ponto crítico (ponto de osculação recta/clotóide).
Verificação da visibilidade
A visibilidade mínima necessária é garantida através do cálculo do raio mínimo do disfarce parabólico. Para isso, e como o raio não é constante, calcula-se a curvatura da função Sx.
Seja a seguinte figura: y X s y M x 1 M
Fig. 21 - Cálculo da curvatura no ponto M.
Pela figura anterior, sabe-se que:
M. MA
nnnnnnnn ∆x ∆y
Dividindo e multiplicando o primeiro membro por (∆s)2 e de seguida dividindo todos os membros por ∆x:
4MMnnnnnnΔs 5A
. ,ΔsΔx- 1 ,ΔyΔx-, Como limMMAnnnnnnnra4MMnnnnnnΔs 5 1A
Então,
,Δx-Δs 1 ,ΔyΔx-Kdsdx "1 ,dydx-
Pela Fig. 21, sabe-se que:
38
Derivando a igualdade anterior em ordem a x, tem-se:
dφ dx
dy
dx
1 ,dydx-
Sabendo que a curvatura é dada por K =
Zt
Zu
, então:
K dφds dφ dx ds dx dy dx 1 ,dydx- "1 ,dydx- dy dx k1 ,dydx-l(/Sendo o raio o inverso da curvatura:
R k1 ,dydx-
l(/ dy
dx
Além disso, sabe-se que se a segunda derivada de uma função existir num intervalo aberto vw, xy tem- se:
Zz
Zz{ 0 , a função tem concavidade voltada para cima (côncava)
Zz
Zz| 0 , a função tem concavidade voltada para baixo (convexa)
Porém, a convenção rodoviária de sinais considera o raio das concordâncias côncavas negativo, pelo que se torna necessário multiplicar por -1 a fórmula do raio de curvatura:
R k1 ,dydx- l(/ dy dx (39)
Derivando a fórmula (38):
ddxSx Se i iLg612xLg(j (40)
Substituindo na fórmula (39), tem-se finalmente a fórmula geral do raio de curvatura:
R }1 4Se i ,6xLg 6x Lg(-5 ~ (/ Se i d 6Lg 12xLh(e (41) Sendo L’ = L+Ld L’ [m] – comprimento da clotóide;
Ld [m] – extensão do alinhamento recto abrangido pelo disfarce da sobreelevação;
i [%] – Inclinação transversal da estrada; Se [%]– Sobreelevação na curva circular.
Através da equação (41) conclui-se que o raio da função Sx começará com um valor mínimo crescendo até ao ponto de inflexão onde atinge o valor máximo (∞). Após este ponto, começará a decrescer até atingir novamente o valor mínimo no início da curva circular.