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2 MATERIAL E MÉTODOS 2.1 Área de Estudo

3.3 Dispersão de sementes

Do total de guano seco produzido, em média, por um único morcego (3,41 g) foi retirado o correspondente a 5% (em função do índice de correção referente à taxa de acréscimo de deposição em cativeiro) o que resultou em 3,24 g de guano seco produzido em média por cada morcego. A partir desta informação, estima-se que, em média, cada morcego deposita diariamente 2,95 g de guano seco fora da Toca do Morrinho, contendo o equivalente a 274,5 sementes. Dessa forma, estima-se que A. planirostris contribua com 91,05% do guano que produz para a dispersão de sementes e apenas 8,95% como aporte energético para a caverna (Tabela 3).

Tabela 3. Estimativa do guano seco produzido (g) por um indivíduo da Artibeus

planirostris e número médio de sementes, nos experimentos: cativeiro - representando o

total (dados tratados por meio de índice de correção - 5%); aporte energético - representando o depositado no interior da Toca do Morrinho (Campo Formoso-BA); e dispersão de sementes - representando a subtração do aporte energético em relação ao cativeiro (total), apresentando a contribuição (%) referente.

Guano (g) Sementes (N) Contribuição (%)

Cativeiro 3,24 301,5 100

Aporte Energético* 0,29 (± 0,18) 27 (± 31,56) 8,95

Dispersão Sementes 2,95 274,5 91,05

*Médias seguidas do desvio padrão, os demais valores foram obtidos a partir destes.

A passagem das sementes pelo trato digestivo dos morcegos não inviabilizou a germinabilidade das mesmas. No entanto, apenas para Ficus

gomelleira foi possível realizar a comparação da germinabilidade entre sementes

ingeridas pelos morcegos com o controle (sementes não ingeridas). O tratamento constituído pelas sementes oriundas do guano da colônia (81 ± 13,4 %) apresentou germinabilidade significativamente superior a todos os outros tratamentos analisados, inclusive ao tratamento controle (Fig. 7). A análise da

germinabilidade das sementes do guano dos morcegos em cativeiro e das retiradas diretamente dos frutos (tratamento controle) não apresentou diferença significativa, considerando que os frutos do controle foram os mesmos disponibilizados aos morcegos em cativeiro. Com relação ao índice de velocidade de germinação (IVG) não foram observadas diferenças significativas acima de 5% entre os tratamentos testados, no entanto, as sementes oriundas do guano da colônia apresentaram o maior IVG (3,41 ± 0,48 dias) (Fig. 7).

Para Solanum sp., considerando, como tratamentos, os dias de coleta das sementes no guano dos morcegos da colônia, e consequentemente seu armazenamento, houve diferença significativa para a coleta realizada no dia 5 de janeiro de 2012 (Fig. 8), indicando uma menor germinação 28,12% (± 4,74) e menor IVG 0,44 (± 0,07). Nota-se que a germinabilidade das sementes coletadas no dia 25 de janeiro de 2012 foi significativamente superior a todos os outros períodos de coleta (Fig. 8).

Figura 7. Germinabilidade (%) e Índice de Velocidade de Germinação (IVG) de sementes de Ficus gomelleira utilizada por Artibeus planirostris, distribuídas em cinco tratamentos: fezes de morcegos da colônia (aporte energético); fezes encontradas nas folhas; fezes dos morcegos no cativeiro; bagaço descartado pelos morcegos durante alimentação no cativeiro; e sementes oriundas do fruto maduro.

Figura 8. Germinabilidade (%) e Índice de Velocidade de Germinação (IVG) de sementes de Solanum sp. (Solanaceae) coletadas nas fezes de Artibeus planirostris e armazenadas por cinco períodos.

Mesmo com as limitações, é válido considerar que as demais espécies apresentaram de moderadas a altas frequências de germinação. Destaca-se

Aechmea sp., que apesar do pequeno número de sementes analisadas (26),

apresentou ótima viabilidade, com 100% de germinação após três dias do início do teste de germinação. Esta espécie apresentou o maior IVG (8,67) dentre as cinco espécies vegetais analisadas. Para Ficus sp., das 17 sementes analisadas, a germinação foi 88,33% e IVG 0,86; e a Lauraceae das 15 sementes a germinação foi 33,33% e o IVG 0,18.

4 DISCUSSÃO

Algumas espécies de morcegos têm preferência por cavernas como abrigo, porém outras as utilizam de forma estratégica, como parece ser o caso de

Artibeus planirostris, que apesar de poucos registros neste tipo de abrigo, vêm

configuração desta caverna favorece ótima proteção contra intempéries e predadores, servindo para descanso e reprodução desta e de outras oito espécies de Chiroptera (Carollia perspicillata; Desmodus rotundus; Diphylla ecaudata;

Lonchophylla mordax; Micronycteris megalotis; Phyllostomus hastatus; Furipterus horrens e Peropteryx macrotis).

Morcegos cavernícolas, como a quiropterofauna da Toca do Morrinho, além de realizarem serviços ecossistêmicos inerentes a sua guilda alimentar (como a polinização, a dispersão de sementes, o controle de insetos e de vertebrados), representam o principal agente de importação de matéria orgânica ao ecossistema desta caverna (Ferreira e Martins 1999; Ferreira et al. 2007).

4.1 Cativeiro

O cativeiro facilita a observação de diversos aspectos comportamentais de morcegos (Bernard 1995; Esbérard e Gomes 2001). No entanto, nem todas as espécies se adaptam ao cativeiro, e somente cerca de 2% dos experimentos têm sucesso (Esbérard e Gomes 2001). Morcegos frugívoros são mais propensos de serem mantidos em cativeiro devido à facilidade de obter itens alimentares (Esbérard e Gomes 2001), como Artibeus planirostris que se adaptou rapidamente ao cardápio.

Na America do Sul, poucos estudos utilizam essa técnica, resultando no ínfimo conhecimento sobre a maioria das espécies (Esbérard e Gomes 2001). Trabalhos importantes foram desenvolvidos na década de 50 pelo naturalista Augusto Ruschi (Mendes et al. 2010), incluindo o primeiro cativeiro de morcegos no Brasil (Ruschi 1952). E por meio de experimento em cativeiro (Uieda 1994) adicionou novas informações sobre as três espécies de morcegos hematófagos.

Um projeto iniciado em 1988, desenvolvido na RIOZOO (Jardim Zoológico do Rio de Janeiro) mantinha morcegos em exposição para o público (Esbérard 2003). Em 2002 o projeto contava com 16 espécies mantidas em cativeiro (10 reproduziram-se), mas nem todas ficavam expostas aos visitantes, o objetivo principal era gerar conhecimento (Esbérard 2003) e vários trabalhos foram publicados, principalmente sobre a biologia reprodutiva de espécies pouco conhecidas como Chrotopterus auritus (Esbérard et al. 2006), Noctilio leporinus (Silva et al. 2010) e Phylloderma stenops (Esberard 2012).

Estudos recentes no Brasil utilizaram experimentos em cativeiro para analisar a germinação de sementes ingeridas por morcegos (Bocchese et al. 2007; Carvalho 2010; Ricardo 2013) e optaram por gaiolas para alojá-los, o que impossibilitava a movimentação (voos) devido o pequeno espaço. A utilização de um recinto maior, como o utilizado neste estudo, proporcionou a movimentação dos morcegos, permitindo, ainda, o costumeiro ritual de pegar o fruto e carregar para um poleiro de alimentação, exceto quando o peso do fruto os parte deste ultrapassava 40 g. A instalação do cativeiro no interior da caverna, provavelmente, facilitou a adaptação dos morcegos porque a temperatura e UR permaneceram as mesmas às quais eles já estavam acostumados. Quanto mais próximas estiverem as variáveis ambientais do cativeiro das condições utilizadas pela espécie no habitat natural (principalmente temperatura e UR), menor é o estresse dos indivíduos (Bernard 1995).

As comparações entre animais cativos e livres devem ser realizadas com cautela, pois não é possível contemplar todas as características naturais no cativeiro. Dessa forma, apesar do valor mensurado em cativeiro do total de guano seco produzido em média por um morcego da espécie A. planirostris (3,41 g) estar muito próximo do obtido para A. jamaicensis (3,34 g) (Morrison 1980), o tratamento dos dados brutos por meio do índice de correção é valido devido à influência do experimento.

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