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Distúrbios Intrínsecos do sono

No documento Qualidade do sono nos idosos (páginas 35-38)

3 O SONO NO IDOSO

1) Distúrbios Intrínsecos do sono

- Insónia

Para Sousa e Reimão (2004), a insónia está associada tanto com o comprometimento do sono nocturno como da vigília, resultando em prejuízo na eficiência do sono, ou seja, existe um prejuízo tanto na quantidade como na qualidade do sono. Estas alterações nos idosos conduzem, à falta de energia, doenças mentais e físicas, propensão para quedas, institucionalização, aumento potencial para a morbilidade e mortalidade dos idosos e diminuição da qualidade de vida.

A insónia é um problema comum em todos os estágios de vida, mas é particularmente importante após os 65 anos de idade. Estima-se que os transtornos do sono afectam 50% dos idosos e que, entre esses transtornos, a insónia tem prevalência de 20 a 40%, (Oliveira, Motta e Sá, 2007).

Os factores que desencadeiam a insónia podem ser diferentes daqueles que mantêm o processo. Na maioria dos casos, o início é repentino, coincidindo com uma situação de stress psicológico (tristeza, afastamento de um familiar), social (perda de emprego, dificuldade económica) ou médico (iminência de uma intervenção cirúrgica), factores estes muito presentes nos idosos.

A insónia pode ser secundária a causas situacionais, como processos de institucionalização, internamento hospitalar, viagens ou locais estranhos, onde o idoso, nessas situações, pode ter grande dificuldade de adaptação inicial, por se tratar de um ambiente estranho, às vezes o barulhento, com outros horários e rotina, (Coll, 2004).

Como consequência da insónia, podemos citar a queda na qualidade de vida, a maior frequência de problemas de atenção, concentração e memória, menor satisfação com relacionamentos pessoais, prejuízo no desempenho diário e maior susceptibilidade à ocorrência de acidentes, que ocorrem devido á sonolência diurna. Indivíduos com insónia também utilizam mais o sistema de saúde, apresentam um aumento da mortalidade e da morbilidade geral, incluindo transtornos mentas (como depressão e ansiedade) e uso/abuso de substâncias (álcool e drogas) e aumento no uso de medicamentos sem prescrição médica, (Caballo, Navarro, Sierra, 2002).

Um estudo realizado por Oliveira, Rossini e Reimão (2009), cujo objectivo era determinar a prevalência de insónia em idosos institucionalizados e não institucionalizados,

mostrou que a ocorrência de insónia nos idosos institucionalizados foi bastante alta: 77,8% apresentou insónia inicial, 47,2% insónia intermédia e 19,5 insónia final sendo que, em todos os tipos, a maioria dos idosos apresentou-as numa frequência de três vezes por semana. No grupo de idosos não institucionalizados, a ocorrência de insónia foi menor: 25,8% apresentou insónia inicial, 42,8% apresentou insónia intermédia e 18% apresentou insónia final.

- Síndrome da Apneia Obstrutiva do Sono

O SAOS é uma condição clínica, individualizada em 1976 por Guilleminault et al., caracterizada por hipersonolência diurna, perturbações cardiorespiratórias e neurocognitivas, secundárias a episódios recorrentes de obstrução temporária da via aérea superior (VAS), durante o sono, (Barbara e Pinto, 2005).

A apneia do sono no idoso é definida como a cessação do fluxo do ar pela boca ou nariz por dez segundos, pelo menos, que ocorre durante o ciclo de sono em pessoas com mais de 65 anos de idade, cinco ou mais vezes por hora de sono. A interrupção da respiração é acompanhada por ronco intenso e contínuo, mais acentuada na posição de supinação, melhorando com a lateralização, (Geit, et, al, 2003). De referir que, na posição de decúbito dorsal e em sono REM (movimentos rápidos dos olhos) a colapsabilidade da faringe aumenta, observando-se, normalmente, eventos respiratórios em maior número e duração, assim como dessaturações mais acentuadas, (Teixeira, 2006).

A prevalência da Síndrome da apneia obstrutiva do sono aumenta com a idade tanto por se tratar de uma condição progressiva como porque alguns factores do próprio envelhecimento contribuem para a sua instalação. Sabe-se que 42% dos indivíduos de ambos os sexos com idade superior aos 65 anos apresentam um índice de apnéia-hiponéia maior que 5, sendo que os eventos obstrutivos são muito mais frequentes que os centrais, (Bárbara, 2003).

O risco da SAOS aumenta, em ambos os sexos, com o avançar da idade até aos 60/70 anos. Relativamente à influência da idade, sabe-se que a resistência faríngea aumenta com a idade e que, o número de apneias vai aumentando de forma fisiológica, (Teixeira, 2006).

A sintomatologia do SAOS pode ser dividida em diurna e nocturna (quadro 2). Os sintomas diurnos são normalmente referidos pelo paciente, enquanto os nocturnos são, habitualmente apontados pelo (a) companheiro (a), (Barbara, Pinto, 2005).

Quadro 2- Sintomatologia da SAOS

Sintomas Diurnos Sintomas Nocturnos

- Hipersonolência diurna - Cansaço ao despertar - Cefaleias matinais - Secura da boca

-Alterações da personalidade e/ou humor (ansiedade, depressão, irritabilidade)

-Perturbações da memória/concentração/desempenho - Disfunção sexual/diminuição da libido

- Roncopatia intensa habitual -Paragens respiratórias - Salivação excessiva

- Sono agitado com despertares frequentes -Nictúria/Enurese

- Hipersudorese

-Sensação de asfixia/engasgamento - Refluxo gastro-esofágico

Existem factores dependentes da idade que poderiam explicar o aumento da prevalência da Síndrome de apneia do sono progressivo no idoso. Entre eles, o mais conhecido e importante é uma maior tendência de colapso das vias aéreas superiores, por um enfraquecimento da musculatura faringoesofageana. Isto explica o próprio ronco, e a partir de certo grau, apneia. Além disso, outros factores são a diminuição da capacidade vital respiratória, fazendo com que os seus eventos de apneia obstrutiva sejam mais graves, a diminuição da função tiroideana, o aumento de peso e a redução do controle respiratório, (Bárbara, 2003).

Segundo Flemons (2002) o tratamento da SAHOS traz benefícios tanto à qualidade de vida como a redução da mortalidade. Para que se institua o tratamento, deve-se levantar a hipótese e conduzir a uma investigação, incluindo uma abordagem ao diagnóstico diferencial.

-Movimentos Periódicos das pernas

Os movimentos periódicos das pernas (MPP) são um importante distúrbio primário de sono do idoso, caracterizado por chutes repetidos das pernas, com a duração de 0.5 a 5 segundos e periodicidade de 20 a 40 segundos, que aparece especialmente nos estágios 1 e 2 do sono. Os movimentos são repetitivos, estereotiopados, podendo ocorrer de forma súbita em uma ou nas duas pernas, (Geib et al., 2003).

Para Oliveira BHD et al., (2007) os movimentos periódicos das pernas, consistem em episódios de contracturas súbitas dos membros, de espasmos breves e de baixa amplitude dos membros, nas extremidades inferiores, principalmente nas pernas, durante o sono e algumas vezes enquanto acordado. Os indivíduos tipicamente não têm consciência dos movimentos, mas podem queixar-se de insónia, despertares frequentes ou sonolência diurna se o número de movimentos é muito grande.

Para Sousa e Reimão (2004) existe um aumento dos MPP com a idade, verificando-se 5% na faixa etária dos trinta aos cinquenta anos e 44% nas pessoas acima dos 65 anos. Harbison (2002), corrobora tal dado, apontando uma prevalência de 45% deste distúrbio entre idosos.

Vitiello (2000), sugere que a síndrome das pernas inquietas se caracteriza por um formigueiro, coceira, impulso, sensação desconfortável nas pernas com a ânsia intensa de as mover. Estas sensações podem atrasar o inicio ou despertar do sono do idoso. Em geral, resulta de um não relaxamento, impedimento do sono e descanso.

Estes distúrbios, associados ao envelhecimento, pode representar maior risco para a saúde e vida quotidiana do indivíduo, uma vez, que nesta etapa do desenvolvimento, alguns estudos apontam para uma diminuição da quantidade de horas dormidas durante a noite.

No documento Qualidade do sono nos idosos (páginas 35-38)