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DISTRIBUIÇÃO DOS FAXINAIS NO PARANÁ EM 2005

No documento PR REGIANE MANEIRA (páginas 59-63)

1 – Faxinais Remanescentes; 2 – Faxinais Desativados; 3 – Faxinais Extintos;4 – Escarpa da Serra Geral; 5 – Escarpa Devoniana; 6 – Campos; 7 – Mata de Araucária.

Fonte dos Dados Brutos: Marques (2005); Base Cartográfica: Cigolini, Mello, Lopes (2001). Concepção e Cartografia: Löwen Sahr e Berto. Disponível em:

http://www2.fct.unesp.br/grupos/nera/publicacoes/singa2005/Trabalhos/Artigos/Cicilian%20Luiza%20Lowen%20Sahr. pdf Acesso em 10/03/13.

Por meio desse mapa podemos perceber que havia um total de 152 faxinais no estado do Paraná em 2005. Destes, 44 são (ou pelo menos eram até 2005) considerados “Remanescentes” o que significa que ainda mantêm a organização social típica do sistema e as matas de araucária. Outros 56 estão “desativados”, o que indica que ainda apresentam áreas de matas com Araucárias e outros 52 estão extintos, ou seja, perderam totalmente as características que poderiam identificar um faxinal.107 Em um relatório de consultoria técnica publicado em 2005 pelo agrônomo Claudio Luiz

107

LÖWEN SAHR C. Povos tradicionais e territórios sociais: reflexões acerca dos povos e das terras de faxinal do bioma da mata com araucária. In: Anais do III Simpósio Nacional de Geografia Agrária - II Simpósio Internacional de Geografia Agrária Jornada Ariovaldo Umbelino de Oliveira – Presidente Prudente, 11 a 15 de novembro de 2005.

Guimarães Marques, intitulado “Levantamento preliminar sobre o sistema de faxinal no estado do Paraná” o número de faxinais remanescentes no Paraná que são considerados pelo autor corresponde a 44, sendo que 15 destes pertencem à microrregião de Irati, fazendo parte as cidades de Rebouças, Rio Azul, Mallet, Inácio Martins e a própria Irati.108

Nesse relatório dois faxinais foram identificados em Irati como desativados: Faxinal dos Neves/Água Mineral e Faxinal dos Antônios. Outros três ainda se encontravam organizados a partir do criadouro comunitário: Faxinal dos Mellos, Faxinal do Rio do Couro e Itapará109. Apenas os dois primeiros estavam cadastrados como Área de Uso Regulamentado – ARESUR110, passando assim a receber os benefícios do ICMS Ecológico111.

Em outro estudo publicado em 2009, tendo como título “Terras de Faxinais”, sob a organização de Alfredo Wagner Almeida e Roberto Martins Souza, considera-se que o número de faxinais existentes na microrregião de Irati era de 37, sendo que 14 destes localizavam-se na própria cidade de Irati.112

Nota-se uma diferença considerável do número de faxinais localizados na cidade de Irati se comparados aos dados apresentados por Marques. Essa diferença talvez possa estar relacionada à contagem de localidades enquanto faxinais, mesmo quando estes já haviam extinguido os criadouros. Ou seja, em certo período essas localidades eram faxinais, mas, no momento em que Almeida e Souza organizaram suas pesquisas não apresentavam mais nenhuma característica que

http://www2.fct.unesp.br/grupos/nera/publicacoes/singa2005/Trabalhos/Artigos/Cicilian%20Luiza%20Lowen%20Sahr. pdf. Acesso em: 09/04/13.

108

MARQUES, Cláudio. Levantamento preliminar sobre o sistema faxinal no estado do Paraná (Relatório Técnico) – Instituto Ambiental do Paraná. Guarapuava, 2004. p. 9.

109

Atualmente essas 3 localidades ainda mantém o criadouro comunitário. No Faxinal do Mellos e Faxinal do Rio do Couro circulam apenas “criações altas , que seriam animais de grande porte como equinos, bovinos e muares. Já no faxinal de Itapará, além das “criações altas” circulam “criações baixas”, principalmente suínos.

110

Os faxinais foram enquadrados como ARESUR a partir do decreto 3446 de 14 de agosto de 1997: “Art. 1º. Ficam criadas no Estado do Paraná, as Áreas Especiais de Uso Regulamentado - ARESUR, abrangendo porções territoriais do Estado caracterizadas pela existência do modo de produção denominado ‘Sistema Faxinal’, com o objetivo de criar condições para a melhoria da qualidade de vida das localidades residentes e a manutenção do seu patrimônio cultural, conciliando as atividades agrosilvopastoris com a conservação ambiental, incluindo a proteção da ‘araucaria angustifolia’ (pinheiro-do-paraná).” Cf. PARANÁ, Decreto nº 3446 de 14 de agosto de 1997.

111

O ICMS Ecológico refere-se ao Imposto de Circulação de Mercadorias e Serviços – Ecológico. Foi instituído pela Lei Estadual Complementar nº 59, de 1º de outubro de 1991, a qual “Dispõe sobre a repartição de 5% do ICMS, a que alude o art. 2º da Lei 9.491/90, aos municípios com mananciais de abastecimento e unidades de conservação ambiental, assim como adota outras providências.” Cf. ASSEMBLÉIA LEGISLATIVA DO ESTADO DO PARANÁ. Lei nº 59.

Curitiba, 1991. Disponível em:

http://www.iap.pr.gov.br/arquivos/File/Legislacao_ambiental/Legislacao_estadual/LEIS/LEI_COMPLEMENTAR_59_1 991.pdf. Acesso em 10/06/13.

112

ALMEIDA, W. B. Alfredo; SOUZA, Roberto M. de (Orgs.). Terras de Faxinais. Manaus: Edições da Universidade do Estado do Amazonas – UEA, 2009. p. 62.

poderiam identificá-las enquanto faxinais e mesmo assim foram consideradas pelos autores enquanto tais.

Atualmente existem apenas três faxinais em Irati que ainda permanecem com o criadouro comunitário. Trata-se da localidade de Itapará, Faxinal do Rio do Couro e Faxinal dos Mellos. Essas duas últimas, juntamente com o Rio do Couro compõem o recorte espacial de nossa pesquisa.

As localidades de Faxinal dos Mellos e Faxinal do Rio do Couro ainda se organizam a partir do criadouro comunitário, mantendo apenas “criações altas”, ou seja, equinos, bovinos e muares. Já a localidade de Rio do Couro não possui mais o criadouro comunitário desde o ano de 2003, período em que foi extinta as criações de grande porte, conforme consta na ata nº 35 da “Associação de Agricultores São Sebastião e São Francisco”.

Aos treze dias do mês de junho de 2003, 3-7-2003, se reuniram 12 sócios da associação no Pavilhão da igreja de Rio do Couro para combinarem sobre o criador, se continua o criador ou termina. Dialogando uns com os outros foi assinado concordando com a não permanência do criador. Todos assinaram, acharam por bem terminarem com o criador, assim foi decidido.113

Essas 12 pessoas que participaram da reunião, segundo o redator da ata, eram a favor do término do criadouro, conforme podemos perceber na seguinte frase: “Todos assinaram, acharam por bem terminarem com o criador, assim foi decidido.”114 Em nenhum momento é citado pessoas se opondo ao término do criadouro, tanto que todos assinaram pela sua desativação. Ao que parece o “diálogo” entre esses sócios que participaram da reunião era em torno de uma ideia comum: o término do criadouro.

Essas reuniões eram realizadas pela Associação de Agricultores. Existem atualmente nas localidades de Faxinal do Rio do Couro, Rio do Couro e Faxinal dos Mellos duas Associações de agricultores, uma formada apenas por Faxinal do Rio do Couro e outra pelas localidades de Rio do Couro e Faxinal dos Mellos. A primeira foi denominada como “Associação de Agricultores e Fruticultores”115 e a segunda “Associação de agricultores São Sebastião e São Francisco”116. Esses

113

ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTORES SÃO SEBASTIÃO E SÃO FRANCISCO DE RIO DO COURO. Ata nº 35, 2003.

114

Idem.

115

ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTORES E FRUTICULTORES DE FAXINAL DO RIO DO COURO. Ata nº 01, 1988.

116

ASSOCIAÇÃO DE AGRICULTORES SÃO SEBASTIÃO E SÃO FRANCISCO DE RIO DO COURO. Ata nº 01, 1988.

nomes foram escolhidos pelos moradores durante as reuniões em que foram formadas as associações.

A associação de agricultores “São Sebastião e São Francisco” do Rio do Couro e de Faxinal dos Mellos foi fundada no dia 16 de agosto de 1988 através de uma reunião realizada no Pavilhão da capela de São Sebastião, onde estavam presentes pessoas ligadas à Prefeitura Municipal de Irati, como a assistente social Aracy Pessoa Silva Morossini e o então prefeito da cidade Antonio Toti Colaço Vaz.117

Seis dias depois do registro de fundação da associação de Rio do Couro e Faxinal dos Mellos, ou seja, dia 22 de agosto, registrou-se outra reunião no livro ata da associação de agricultores da localidade de Faxinal do Rio do Couro. O local em que fora realizado a reunião teria sido a sede do grupo de jovens dessa mesma localidade. Instituía-se a formação de mais uma associação de agricultores formada apenas pela localidade de Faxinal do Rio do Couro118.

É interessante percebermos que, apesar das localidades do Rio do Couro, Faxinal dos Mellos e Faxinal do Rio do Couro possuírem duas associações de agricultores, uma formada por essas duas primeiras e a outra formada apenas pela localidade do Faxinal do Rio do Couro, essas localidades formavam um único criadouro comunitário, que permaneceu até 2003, ano em que Rio do Couro teve seu criadouro desativado. Mas mesmo após a desativação do criadouro do Rio do Couro, os moradores de Faxinal do Rio do Couro e Faxinal dos Mellos continuaram essa prática em suas localidades.

2.3 . A formação do “criador”

As localidades de Rio do Couro, Faxinal do Rio do Couro e Faxinal dos Mellos localizam- se na zona rural do município de Irati, aproximadamente 25 km do centro da cidade (Cf. Mapa 5) sendo a maioria de seus moradores descendentes de imigrantes italianos. A agricultura é a principal forma de subsistência, destacando-se o cultivo de fumo, feijão, milho e soja.

117

Idem.

118

No documento PR REGIANE MANEIRA (páginas 59-63)

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