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Distribuição dos núcleos propostos pelo Plano de Saneamento da Amazônia

No documento RÔMULO DE PAULA ANDRADE (páginas 105-110)

EVANDRO CHAGAS E AS INSTITUIÇÕES CIENTÍFICAS DE SAÚDE E SANEAMENTO NA AMAZÔNIA (1934-1942)

Mapa 3 Distribuição dos núcleos propostos pelo Plano de Saneamento da Amazônia

Fonte: adaptado do mapa de Evolução política e administrativa das divisões regionais do Brasil, disponível no sítio do IBGE: http://www.ibge.gov.br/home/geociencias/cartogramas/evolucao.html , último acesso: 12/01/2007, 14:00 h.

Área abrangida

1 – Núcleo Belém (Belém, Capanema, Vigia, Salvaterra) 2 – Núcleo Manaus (Manaus, Maués e Parintins)

3 – Núcleo Santarém (Santarém, Óbidos e Alenquer) 4 – Núcleo Porto Velho (Porto Velho e Guarajá-Mirim)

Saneamento básico e rede de esgotos também foram detectados como carências estruturais da região. Posto à parte, Gustavo Capanema assinou em 19 de novembro de 1941, com os interventores do Pará e do Amazonas, respectivamente, José Carneiro da Gama Malcher e Álvaro Maia, os “convênios amazônicos” que previam os seguintes termos:

1) O plano de saneamento da Amazônia seria executado pelos respectivos departamentos estaduais de saúde, sob direção e fiscalização das DFS da 2ª e 3ª regiões; 2) Os Departamentos de saúde dos estados do Amazonas e Pará passariam a ter os postos de direção e chefia a critério do direto do DNS;

3) O pagamento do plano de convênio ficaria a cargo dos Departamentos estaduais de saúde, que a partir do plano nacional formulado pelo DNS, poderia reestruturar seus serviços de saúde;

4) os convênios amazônicos terão a duração mínima de dois anos.87

A segunda exposição da Comissão de Saneamento da Amazônia foi publicada em abril de 1942. Ao conhecer o plano que estava sendo desenvolvido, Getúlio Vargas fez críticas às propostas de saneamento para a região. Barros Barreto publicou as críticas feitas pelo presidente à comissão:

O plano de que dá conta este relatório, embora bem lançado, não obedeceu exatamente ao que pretendo fazer pelo Saneamento da Amazônia. Não convém criar larga aparelhagem federal para isso, com numeroso pessoal e as conseqüentes obrigações, quando findo o trabalho. Será melhor ordenar a matéria, partindo dos serviços estaduais de saúde, que temporariamente passavam a ser, nesse particular, dirigidos por especialistas dos quadros federais e pelo governo federal subvencionados. Naturalmente, esse plano deve ser estudado em conjunto com os governos amazônicos e estabelecido, em forma de convênios de cooperação. 88

87 Barreto, João de Barros. “O Saneamento da Amazônia”. Arquivos de higiene, v.12, nº1, 1942, p.56

Obs: Os “convênios amazônicos”, mesmo tendo sido assinados em novembro de 1941, foram publicados apenas posteriormente, no relatório de 1942. Mas este dado nos fornece subsídios para compreender o tempo de publicação dos artigos da Comissão de Saneamento da Amazônia. Se tomarmos a publicação dos “convênios amazônicos” (abril/1942) e subtrairmos a data da assinatura (19/11/1941) como base, teremos em média 4 meses entre a escrita do artigo e sua publicação.

A partir das observações do presidente, a comissão apressou em firmar os convênios com os interventores federais dos estados amazônicos, propiciando uma maior participação dos departamentos estaduais de saúde na execução do plano. As ações para seu prosseguimento foram efetuadas, convocando para a Amazônia 584 antigos guardas sanitários do Serviço de Malária do Nordeste (SMNE).89

Foi instituido em Belém um curso de malariologia e outro para visitadoras. O primeiro aprovou 31 dos 43 médicos matriculados e o segundo aprovou 32 das 57 candidatas a cargo de visitadoras. Ademais, promoveram-se expedições para avaliar as condições de saúde dos habitantes. Os esforços foram todos direcionados para a profilaxia da malária, não sendo citadas mais outras morbidades locais.90 Profissionais como Ayroza Galvão e Alberto Carreira da Silva, responsáveis por relatórios na região de Manaus e Belém, a pedido de João de Barros Barreto, conquistaram cargos de coordenação nos respectivos departamentos estaduais de saúde.91

Em abril de 1943, foi publicado mais um relatório da Comissão de Saneamento da Amazônia, dizendo, que desde o início de 1942, o plano sofreu um hiato, devido à falta de recursos que permitissem prosseguir o programa traçado. Se estipularmos uma média de quatro meses entre escrita e publicação dos relatórios, podemos delimitar a escrita desta exposição em dezembro de 1942.92 Ou seja, entre a segunda e terceira publicação da comissão transcorreu cerca de um ano, bastante diferente do intervalo entre o primeiro e o segundo (dezembro 1941/abril 1942). A escrita em dezembro de 1942 denota a preocupação em publicar as atividades de toda a Comissão de Saneamento no ano, pois a escassez de verbas praticamente paralisara suas ações. O contexto internacional onde o plano foi elaborado é de suma importância, pois este foi o ano que o Brasil declarou guerra e rompeu relações com os países do Eixo, fato que influenciou nos planos para a Amazônia, como veremos no capítulo seguinte. A falta de recursos afetou também trabalhos como o de Ayroza Galvão, do Instituto de Patologia

89Barreto, João de Barros. “O Saneamento da Amazônia”. Arquivos de Higiene, v.12, nº1, 1942, p.40 90 Barreto, João de Barros. “O Saneamento da Amazônia”. Arquivos de Higiene, v.12, nº1, 1942, p.41 91 Os relatórios são:

1) Silva, Alberto Careira da. Inspeção realizada em Borba, 1938. Disponível em “Biblioteca Virtual do Amazonas”, www.bv.am.gov.br , último acesso, 31/11/2006, 14:25

2) Galvão, A.L. Ayroza. “Relatório das pesquisas entomológicas realizadas na Amazônia, apresentado ao Ilmo. Sr. Prof. Dr. João de Barros Barreto, Diretor do Departamento Nacional de Saúde”. Arquivos de Higiene, v,12, nº12, 1942.

Experimental Evandro Chagas (IPEEC).93 O IPEEC, durante o ano de 1941, ainda não havia sido integrado diretamente no plano de saneamento, mas estava pronto para realizar os trabalhos. Com a assinatura do convênio entre a União e os governos do Pará, Amazonas e Acre, o prédio do IPEEC foi reformado a fim de atender as pesquisas entomológicas necessárias à captura dos anofelinos. Devido a dificuldades financeiras oriundas do atraso de verba do saneamento e denúncias ao convênio firmado entre o Governo Federal os Estados Amazônicos, o trabalho teve de ser interrompido em 1942.94

O Plano de Saneamento da Amazônia mobilizou diversos profissionais ligados aos departamentos estaduais de saúde da Amazônia e a institutos de pesquisas, porém, não foi adiante. A execução do saneamento da Amazônia foi entregue ao Serviço Especial de Saúde Pública, órgão criado a partir dos “Acordos de Washington” em 3 de março de 1942. Como Barreto afirmou, o “Plano de Saneamento da Amazônia” sofreu corte de verbas no início do mesmo ano.95 E este foi exatamente o período das negociações entre o embaixador brasileiro nos Estados Unidos, Sousa Costa e o sub- secretário de Estado norte-americano, Sumner Welles. Uma análise preliminar poderia concluir que houve simplesmente a entrega da execução de uma instituição nacional a outra bilateral. No próximo capítulo vamos aprofundar essa discussão, focalizando a Amazônia e as intenções norte americanas de acordo com o contexto de guerra que o mundo vivia à época e sua influência sobre as ações de saúde e saneamento na região.

93Antigo Instituto de Patologia Experimental do Norte, renomeado em homenagem ao fundador, e

atualmente, Instituto Evandro Chagas.

94Ayroza Galvão não especificou que denúncia foi essa, mas suas consequências foram graves: segundo

ele, o IPEEC foi desligado do Departamento Nacional de Saúde e ficou diretamente ligado ao governo do Pará. Assim, grande parte da verba oriunda do DNS destinada ao Instituto não pôde ser utilizada, interrompendo outras pesquisas. Galvão, A.L. Ayroza. “Relatório das pesquisas entomológicas realizadas na Amazônia, apresentado ao Ilmo. Sr. Prof. Dr. João de Barros Barreto, Diretor do Departamento Nacional de Saúde”. Arquivos de Higiene, v,12, nº12, 1942., p.236

Considerações finais

O capitulo teve o objetivo de estudar as ações de saúde e saneamento implementadas por instituições científicas que atuaram na região amazônica no curso os anos 30 e início dos anos 40, como o IPEN e o SEGE. Mais importante foi compreender como ocorreu o crescente interesse governamental pela Amazônia. No capítulo anterior, vimos idéias sociais da época a respeito da região e como, a partir do início dos anos 40, em especial com a viagem de Vargas, essa porção do território nacional tornou-se estratégica para o governo federal. As ações de saúde e saneamento relacionam-se totalmente com este período, basta vermos os incentivos do poder executivo para a elaboração do plano de saneamento. Personagens notórios da história da saúde pública da época envolveram-se nesta formulação que contou com momentos tensos e reviravoltas, como o falecimento de Evandro Chagas, em novembro de 1940. O fato lançou incertezas sobre o futuro do SEGE e dos inquéritos de reconhecimento de malária. Mas as pesquisas continuaram até a divulgação do Plano de Saneamento da Amazônia, em 1941. A partir de 1942, a Comissão de Saneamento sofreu cortes de verba em função de fatores externos, como as negociações Brasil-EUA para a assinatura dos Acordos de Washington. Interesses do governo brasileiro e pressões norte americanas levaram os dois países a assinarem o tratado bilateral, fatores decisivos para o fim do Plano de Saneamento da Amazônia, que iremos aprofundar no próximo capítulo.

CAPÍTULO III :

FRED L. SOPER, JOÃO DE BARROS BARRETO E O SERVIÇO

No documento RÔMULO DE PAULA ANDRADE (páginas 105-110)