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Distribuição espacial das chuvas no setor Norte do Nordeste brasileiro

5. CARACTERÍSTICAS FÍSICO-AMBIENTAIS E DINÂMICA CLIMÁTICA QUE

5.4. Distribuição espacial das chuvas no setor Norte do Nordeste brasileiro

Quanto à distribuição espacial das chuvas no Nordeste, o sertão nordestino apresenta valores médios anuais entre 1.200 mm e menos de 125 mm em algumas localidades (FIGURA 48), pois as massas de ar Equatorial Continental - MEC, Equatorial do Atlântico

Sul - MEAS, Tropical Atlântica - MTA e Polar Atlântica - MPA chegam com umidade insuficiente para produzir chuvas abundantes, dentre outros fatores (MENDONÇA; DANNI- OLIVEIRA, 2007).

Figura 48 - Pluviosidade média anual e sazonal do Brasil (1961-2001)

Fonte: Eduardo V. de Paula (base cartográfica: Agência Nacional de Energia Elétrica - ANELL; dados pluviométricos: INMET).

A escassez e a prolongada ausência de chuva no sertão nordestino durante o inverno está associada ao desempenho vertical da MEAS, que atua por meio dos ventos alísios de sudeste que são os responsáveis pelas chuvas de outono e inverno de até 500 mm da porção litorânea úmida da região (MENDONÇA; DANNI-OLIVEIRA, 2007).

As precipitações possuem caráter sazonal no território cearense. Geralmente ocorrem durante o período verão-outono, principalmente entre os meses de fevereiro-maio. Porém, mesmo neste período, denominado de quadra chuvosa, verifica-se uma variabilidade interanual, podendo ocorrer desvios positivos e negativos expressivos em relação aos valores médios (OLÍMPIO, 2013).

Nos demais meses do ano, geralmente no período inverno-primavera, as chuvas são mais isoladas. Neste período, o Estado é influenciado pelo Anticiclone Semifixo do Atlântico Sul, iniciando a estiagem (ZANELLA, 2007).

O fenômeno da estiagem é característico em grande parte do Estado do Ceará, nas áreas influenciadas pelo Clima semiárido, também denominado de Clima tropical-equatorial com sete a oito meses secos, caracterizado por apresentar, durante a maior parte do ano, redução dos totais pluviométricos mensais e elevadas temperaturas (MENDONÇA; DANNI- OLIVEIRA, 2007). A variação sazonal da temperatura não é tão expressiva e a maior parte da pluviosidade se concentra no quadrimestre fevereiro-maio.

O Nordeste brasileiro, denominado por Kayano e Andreoli (2009) como NEB, está sob influência dos Anticiclones Subtropicais do Atlântico Sul (ASAS) e do Atlântico Norte (ASAN), e do cavado equatorial, cujas variações sazonais de posicionamento, bem como de intensidade determinam o clima da região.

“O ASAS intensifica-se com certa regularidade e avança sobre o país de leste para

oeste, começando no final do verão do Hemisfério Sul (HS), atingindo sua máxima intensidade em julho e declinando até janeiro. Por outro lado, o ASAN [...] é forte em julho, enfraquece até novembro, reintensifica-se até fevereiro, decresce até abril e intensifica-se novamente até julho. Entre os dois [...] está o cavado equatorial, influenciado pelos dois anticiclones. Os ventos de baixos níveis associados aos sistemas de pressão são os alísios de sudeste, na borda norte do ASAS, e de nordeste, na borda sul do ASAN. No eixo do cavado equatorial há a Zona de Convergência Intertropical - ZCIT, cujas variações em posição e intensidade estão diretamente relacionadas às alterações do [...] ASAS e do ASAN” (KAYANO; ANDREOLI, 2009, p.214).

O maior volume de chuva nos setores mais ao norte do NEB, onde está localizado o Estado do Ceará são verificados no período de fevereiro até o mês de maio, com máxima precipitação nos meses de março e abril, principalmente devido à influência da ZCIT que

atinge sua máxima posição ao sul geralmente neste período. A ZCIT é o principal mecanismo dinâmico responsável pelas chuvas da estação chuvosa nesse setor do Nordeste e pode sofrer alterações na sua intensidade e posição devido à variação nos alísios (KAYANO; ANDREOLI, 2009).

Em anos chuvosos, a ZCIT inicia sua migração para porções mais ao norte no final de abril ou nos primeiros dias do mês de maio. Nestes anos, seu posicionamento diário pode atingir até 5° ou 6° de latitude sul. Já em anos de seca, a ZCIT inicia sua migração para norte em fins de fevereiro ou início de março (MELO; CAVALCANTI; SOUZA, 2009).

As estiagens no Ceará também podem estar relacionadas à ocorrência de fenômenos como o El Niño, que pode influenciar em déficit de chuvas para o Estado, enquanto que em anos de La Niña (fenômeno oposto ao El Niño), podem ocorrer chuvas abundantes no Estado do Ceará, principalmente no período que corresponde ao quadrimestre chuvoso.

Xavier (2001) destaca que a TSM na área NIÑO ¾ (FIGURA 49) exerce potencial influência na ocorrência/ausência de chuvas no Estado do Ceará, no período de fevereiro a maio.

Figura 49 - Região Niño ¾ no Oceano Pacífico equatorial

Fonte: Golden Gate Weathers Services

No outono, principalmente em abril, o evento de La Niña pode provocar um impacto significativo de chuvas no Nordeste brasileiro, enquanto que em anos de ocorrência de El Niño para o mesmo período, o impacto é mais fraco e pode acarretar em situações de seca para a região. No Sudeste e Sul do Brasil ocorre o oposto. No outono de El Niño, principalmente no mês de abril, há um aumento da precipitação no Sudeste/Sul do Brasil, enquanto que em anos de La Niña o efeito não é tão forte (GRIMM, 2009).

De acordo com Torres e Machado (2011), os fenômenos El Niño e La Niña geralmente se alternam a cada três a sete anos, podendo, em alguns momentos, apresentarem intervalos de um evento para outro de 1 ano ou, quem sabe, até 10 anos.

Mendonça e Danni-Oliveira (2007) destacam que o fenômeno El Niño não apresenta uma regularidade tão evidente. No século XX, por exemplo, foram registrados doze eventos: 1941-1942, 1951, 1953, 1957-1958, 1965, 1969, 1972-1973, 1976, 1982-1983, 1986, 1991 e 1997-1998. Em anos de El Niño são esperadas secas de diversas intensidades durante a estação chuvosa (quadrimestre fevereiro-maio) nas áreas centrais e no setor norte da região Nordeste do Brasil, onde o Estado do Ceará está inserido. De fato, alguns destes eventos coincidem com anos de seca no Nordeste, caso das secas de 1958, 1983 e 1998. Anos muito chuvosos também podem coincidir com eventos de La Niña, caso dos anos de 1974 e 1985.

No entanto, além dos fenômenos de El Niño e La Niña, outro componente importante que influencia no déficit de chuvas ou chuvas abundantes, como já foi dito, é a Temperatura da Superfície Marítima – TSM das áreas A e B do Oceano Atlântico intertropical. O fenômeno conhecido como dipolo do atlântico (dipolo negativo) pode ser favorável para uma maior ocorrência de chuvas para o Estado do Ceará, enquanto que o fenômeno contrário, conhecido como dipolo invertido (dipolo positivo) pode ser desfavorável, acarretando em um déficit de chuvas para o Estado (XAVIER, 2001).

Os anos em que não ocorrem os fenômenos El Níño e La Niña, ou seja, os anos neutros, também não devem ser desconsiderados. Afinal, há registros de ocorrência tanto de estiagens, como também de inundações no Ceará no quadrimestre fevereiro-maio (nos anos considerados neutros). O ano de 1986, considerado neutro, por exemplo, apresentou chuvas muito acima da normal, enquanto que os anos de 1980 e 1981, também considerados neutros (TABELA 6), apresentaram um déficit de chuvas para Estado do Ceará. Nesse caso, observar o Dipolo do Atlântico pode ser mais relevante, pois o ano de 1986 apresentou dipolo negativo (favorável à ocorrência de chuvas), enquanto que anos 1980 e 1981 apresentaram dipolo positivo (desfavorável à ocorrência de chuvas).

Tabela 6 - ENOS e Dipolo do Atlântico no quadrimestre fevereiro-maio. ANO ENOS NO QUADRIMESTRE FEVEREIRO-MAIO DIPOLO DO ATLÂNTICO

1980 Neutro Desfavorável (positivo)

1981 Neutro Desfavorável (positivo)

1982 Transição Neutro/ El niño

fraco Neutro

1983 El niño forte Desfavorável (positivo)

1984 Neutro Favorável (negativo)

1985 Transição La niña fraca Favorável (negativo)

1986 /Neutro Favorável (negativo)

1987 El niño moderado Neutro

1988 La niña fraca Favorável (negativo)

1989 La niña forte Favorável (negativo)

1990 Neutro Neutro

1991 Transição Neutro/El niño

fraco Favorável (negativo)

1992 El niño moderado Desfavorável (positivo)

1993 Neutro Neutro

1994 Neutro Favorável (negativo)

1995 Transição El niño

fraco/Neutro Favorável (negativo)

1996 Transição La niña

fraca/Neutro Favorável (negativo)

1997 Transição Neutro/El niño

fraco Desfavorável (positivo)

1998 El niño forte Neutro

1999 La niña moderada Favorável (negativo)

2000 La niña moderada Favorável (negativo)

2001 Transição La niña

fraca/Neutro Neutro

2002 Transição Neutro/El niño

fraco Favorável (negativo)

2003 Transição El niño

fraco/Neutro Favorável (negativo)

2004 Neutro Neutro

2005 Transição El niño

fraco/Neutro Desfavorável (positivo)

2006 Transição La niña

fraca/Neutro Neutro

2007 Transição El niño

fraco/Neutro Desfavorável (positivo)

2008 La niña moderada Favorável (negativo)

2009 La niña fraca Favorável (negativo)

2010 El niño forte Neutro

2011 La niña moderada Favorável (negativo)

2012 Transição La niña

fraca/Neutro Desfavorável (positivo)

2013 Neutro Desfavorável (positivo)

2014 Neutro Favorável (negativo)

Fonte: CPC e FUNCEME

Para ratificar ainda mais o importante papel do Atlântico em predizer o quão abundante serão as chuvas no setor Norte do Nordeste brasileiro, Terezinha Xavier e Airton Xavier (1997) consideram a componente meridional da “Pseudo-Tensão” do vento na área A do Atlântico (adjacente à costa do Nordeste), observando que os sinais negativos dos

coeficientes de correlação indicaram que o enfraquecimento da componente meridional do vento junto à costa do Nordeste favorece a ocorrência de chuvas nesta região, principalmente no setor norte do nordeste brasileiro, devido ao fato de se acompanhar da descida da ZCIT ao sul da linha do equador, principalmente de março a maio.

Além da ZCIT, da TSM no Atlântico Intertropical e outros mecanismos climáticos como o fenômeno ENOS, outros fatores podem influenciar na ocorrência de chuvas no Nordeste do Brasil. A localização geográfica é um desses fatores, uma vez que as áreas litorâneas possuem uma maior predisposição à ocorrência de chuvas, enquanto que as áreas mais interioranas, geralmente sob influência do clima semiárido, possuem volumes de chuva relativamente menores.

O relevo também apresenta sua influência sob as chuvas desta região. O relevo nordestino é composto, basicamente, por dois extensos planaltos, Borborema e a bacia do rio Parnaíba, e de algumas áreas altas que formam as chapadas, como Diamantina e Araripe (KAYANO; ANDREOLI, 2009). Entre essas regiões estão algumas depressões, nas quais se encontram os sertões, áreas com chuvas escassas e irregulares, com uma vegetação adaptada às condições de aridez, denominada caatinga. Inclusive, em algumas destas localidades semiáridas, ocorrem terrenos cristalinos, que dificultam a infiltração, armazenamento das águas e contribuem para uma maior evaporação, potencializando as estiagens.

6. ANÁLISE ESTATÍSTICA DAS REGIÕES PLUVIOMETRICAMENTE