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Diversidade e distribuição de sorotipos de L monocytogenes

5. RESULTADOS E DISCUSSÃO

5.3 Diversidade e distribuição de sorotipos de L monocytogenes

A caracterização antigênica dos 85 isolados identificados como L. monocytogenes revelou 4 sorotipos: 4b, 1/2b, 1/2c e 1/2a (Tabela 11). Os sorotipos 1/2c e 4b foram isolados dos laticínios B e C, com predomínio do 4b em ambos (Tabela 11), o que é de extrema importância, pois este é o mais frequentemente envolvido em surtos e casos de listeriose humana (GRAVES; SWAMINATHAM; HUNTER, 2007; SWAMINATHAN; GERNER-SMIDT, 2007).

Tabela 11 – Ocorrência de sorotipos de L. monocytogenes isolados dos laticínios B e C

Sorotipo Laticínio B Laticínio C Total

N (%) N (%) N (%) 4b 43 (78,18) 26 (86,66) 69 (81,17) 1/2b 8 (14,54) 0 (0,00) 8 (9,41) 1/2c 4 (7,27) 2 (6,66) 6 (7,06) 1/2a 0 (0,00) 2 (6,66) 2 (2,35) Total 55 (100) 30 (100) 85 (100)

Essa alta prevalência do sorotipo 4b nas instalações dos laticínios B e C, não ligados epidemiologicamente, não era esperada, uma vez que esse sorotipo não é dominante em alimentos (KATHARIOU, 2002). Os sorotipos 1/2a, 1/2b e 1/2c são os mais frequentemente isolados de alimentos e ambientes relacionados à produção de alimentos (SWAMINATHAN; GERNER-SMIDT, 2007). Além disso, no Brasil, o sorotipo 1/2a tem sido o mais freqüentemente isolado de produtos lácteos (HOFER; REIS; HOFER, 2006, BRITO et al., 2008; ABRAHÃO et al., 2008; DE NES et al., 2010). O predomínio do sorotipo 4b nos 2 laticínios desta pesquisa pode sugerir uma natureza endêmica desse sorotipo, associada a particularidades desses laticínios, que apresentam características similares como pequena escala de produção, deficiência nos processos de higienização e falta de treinamento dos

manipuladores de alimentos, constatadas pelas falhas observadas durante o processamento dos queijos, com relação ao emprego de BPF.

Higiene pessoal inadequada poderia explicar a maior prevalência do sorotipo 4b nessas indústrias, uma vez que este é o sorotipo mais prevalente entre isolados de humanos portadores assintomáticos da bactéria (HOFER; REIS; HOFER, 2006) e de amostras clínicas associadas à listeriose humana no Brasil (HOFER; PESSÔA; MELLES, 1984; HOFER; RIBEIRO, FEITOSA, 2000; LEMES-MARQUES; CRUZ; DESTRO, 2007).

A distribuição de sorotipos de L. monocytogenes nas respectivas fontes de isolamento nos laticínios B e C está descrita na Tabela 12. Observa-se, em alguns casos, isolamento simultâneo de mais de um sorotipo de L. monocytogenes em uma única amostra.

Tabela 12 – Distribuição de sorotipos de L. monocytogenes nos laticínios B e C

Ponto de Isolamento Sorotipos (número de isolados em cada ponto) 1ª coleta 2ª coleta 3ª coleta 4ª coleta

Laticínio B Nov/2008 Fev/2009 Mai/2009 Ago/2009

Piso (sala pasteurização) 4b(1) 1/2b(1) 4b(2) - 1/2c(4)

Ralo câmara fria A 4b(1) 4b(6) 4b(5) 4b(3) 1/2b(1)

Estrado câmara fria A - - 4b(2) 4b (2)-1/2b(1)

Piso câmara fria A - 4b(4) 4b(3) 1/2b(1) 4b(4)

Piso câmara fria B 4b(1) 4b(2) 1/2b(1) 1/2b(2) 4b(4)

Caixas plásticas - - - 4b(3)– 1/2b(1)

Laticínio C Dez/2008 Mar/2009 Jun/2009 Set/2009

Estrado da câmara fria - 4b(1) - 4b(1)

Piso da câmara fria 4b(2) - 4b(2) 1/2a(1) 4b(5)

Manipulador (luvas)* - 4b(3) - -

Caixas plásticas - - - 4b(3) 1/2a(1)

Salmoura - - 1/2c(2) 4b(3)

Queijo prato NC NC NC 4b(6)

* área de embalagem; - não isolada L. monocytogenes; NC=amostra não coletada

Pode-se observar na Tabela 12 que em ambos os laticínios as caixas plásticas abrigaram mais de um sorotipo de L. monocytogenes, o que mostra que são veículos importantes da bactéria no interior desses estabelecimentos. No laticínio B é interessante destacar a presença de mais de um sorotipo em todos os pontos positivos para a bactéria, indicando que esses locais são contaminados por mais de uma linhagem. Um dado

interessante é que o piso da área de recepção do leite cru, onde fica o pasteurizador desse laticínio, foi o local que apresentou a maior diversidade de sorotipos.

No laticínio C é importante destacar o isolamento de L. monocytogenes do sorotipo 4b em amostras de salmoura, queijo Prato e luvas de manipulador (Tabela 12). A presença do sorotipo 4b em produtos pode resultar em casos esporádicos ou surtos de listeriose, particularmente no caso de consumo por populações de risco para a doença (KATHARIOU, 2002).

A diversidade de sorotipos de L. monocytogenes isolados de indústrias de produtos lácteos foi pouco explorada em pesquisas no Brasil. Nos poucos estudos houve predomínio dos sorotipos 1/2a e 4b. Assim, Silva et al. (2003), a partir de dois isolados encontrados em laticínio na Bahia, constataram que um era do sorotipo 1/2a e o outro do 4b. Brito et al. (2008), de 344 isolados provenientes de um único laticínio em Minas Gerais, verificaram que todos pertenciam ao sorotipo 1/2a. Em contraste com as duas pesquisas citadas e muito semelhante aos resultados do presente trabalho, Figueiredo (2000) encontrou predomínio do sorotipo 4b (39,13%) além de 1/2b, 1/2a e 1/2c, em amostras provenientes de linha de processamento de leite pasteurizado tipo C, em Fortaleza.

Semelhante aos resultados do presente trabalho, pesquisas recentes em Portugal mostram predomínio do sorotipo 4b em amostras de laticínios e queijos daquele país: em uma pesquisa com Listeria spp. com queijos elaborados com cru leite de ovelha, dos 24 isolados de L. monocytogenes sorotipados a maioria era do sorotipo 4b (PINTADO et al., 2005). Chambel et al. (2007) encontraram predomínio do sorotipo 4b em ambiente de indústrias de laticínios em Portugal. Leite et al. (2006) pesquisaram L. monocytogenes em queijos de leite de ovelha produzidos em diferentes fazendas e ambientes relacionados à produção dos queijos e também verificaram maior prevalência do sorotipo 4b.

Na Áustria, de 181 indústrias de queijo de pequena escala analisadas, Wagner et al. (2006) encontraram L. monocytogenes em 50 delas, tendo isolado os mesmos sorotipos encontrados no presente trabalho (4b, 1/2b, 1/2a e 1/2c) com predomínio de 1/2b e alta prevalência de 4b, que foi atribuída à higiene pessoal inadequada dos manipuladores. Laticínios de pequena escala de produção podem não reconhecer contaminações por L. monocytogenes com a mesma eficiência de produtores de larga escala, além das práticas de higiene poderem ser aplicadas com menos rigor nas pequenas indústrias.

Pesquisas mais antigas de isolamento de L. monocytogenes de tanques de leite, silos de armazenamento, áreas de processamento de leite, mostram o sorotipo 4b geralmente detectado em baixos níveis ou não encontrado (JACQUET; ROCOURT; REYNAUD, 1993; WAAK; THAM; DANIELSSON-THAM, 2002).

Na França, uma indústria produtora de queijo foi amostrada e, das 344 amostras coletadas, foram obtidos 44 isolados de L. monocytogenes, de queijos e ambiente, tendo

sido isolados os sorotipos 1/2a, 1/2b, 1/2c e 3a (JAQUET; ROCOURT; REYNAUD, 1993). Na Suíça foi encontrado predomínio dos sorotipos 1/2a, 1/2b e 4b em amostras coletadas de laticínios, durante 10 anos (PAK et al., 2002). Na Itália, pesquisa em 22 indústrias produtoras de queijo gorgonzola (queijos e ambiente), dos 95 isolados confirmados como L. monocytogenes, 88% pertenciam ao sorotipo 1/2a, e apenas um era do sorotipo 4b (LOMONACO et al., 2009). Na Finlândia, em indústria processadora de sorvete, SJÖMAN (2010) encontrou os sorotipos 1/2b e 4b.

Embora o benefício epidemiológico da sorotipagem seja limitado pelo fato do método ser pouco discriminatório, é importante o conhecimento da ocorrência e distribuição de sorotipos, além dessa ser uma forma de rastreamento de contaminações. Além disso, o sorotipo é uma característica que deve ser considerada no desenvolvimento de modelos de análises de risco com L. monocytogenes (PAK et al., 2002).