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3. Resultados e Discussão

3.3 Diversidade morfológica e sua distribuição geográfica

A descrição dos grãos realizada pelos agricultores apontou que 30% das variedades produzidas possuem grãos do tipo curto- arredondado, 31% são do tipo longo e 21% do tipo longo-fino (18% não sabem qual tipo do grão produzido). Foram descritas nove cores de grão integral, sendo elas: Amarelo (55% das indicações), Amarelo-escuro (8%), Branco (8%), Vermelho (6%), Marrom (4%), Preto (3%), Amarelo-claro (4%), Creme (2%) e Cinza (1%) (9% sem informação).

Com base no teste qui-quadrado não foi verificada associação entre o formato e a cor dos grãos (G.L. 14, p > 0,05). Desta forma, grãos curto-arredondados, longos ou longo-finos podem apresentar todas as cores descritas pelos agricultores.

Foram identificados nove grupos morfológicos (GMs) de acordo com as diferentes combinações existentes entre a cor e o formato dos grãos (Tabela 4). Os GMs mais representativos foram o LAM (longo amarelo), descrito para 27 variedades e o CAM (curto-arredondado amarelo), descrito para 26 variedades, enquanto que os GMs menos representativos foram o CBR (curto-arredondado branco), descrito para duas variedades, e o LFB (longo-fino branco), para três variedades. Não foram descritos os grupos morfológicos para 20 variedades, uma vez que os agricultores conservadores destas variedades não souberam informar o formato ou a cor de grão.

A caracterização dos agricultores indicou a existência equilibrada dos diferentes formatos de grão. Dentre as cores, os diferentes tons de amarelo (escuro, médio e claro) e as cores creme e cinza não são reconhecidos nos descritores mínimos da cultura do arroz (Brasil 1997, Bioversity International et al. 2011). Estas tonalidades podem corresponder às tonalidades de pericarpo pardas e pardo-claras sugeridas pelos descritores da literatura científica.

A análise da diversidade fenotípica de variedades conservadas em outros municípios do Oeste catarinense demonstrou variações em relação à cor do apículo, à pubescência e à coloração de glumelas (Fonseca & Vieira 2001). A avaliação de 18 variedades conservadas em Anchieta, Guaraciaba e Paraíso apontou a predominância de cariopses de cor branca, formato de grão alongado, glumelas amarelo-palha e glumas estéreis palha. As 18 variedades avaliadas apresentaram variação qualitativa em relação aos caracteres morfológicos de grão e variação quantitativa, em relação a caracteres fenológicos e agronômicos, que podem ser exploradas em programas de melhoramento genético (Gonçalves et al. 2013).

de grão integral de variedades locais do EOSC, 2013 – 2015.

GM Sigla Formato Cor N

1 CBR

Curto- arredondado

Branco 2

2 CAM Tons amarelos 26

3 CES Tons escuros 6

4 LBR

Longo

Branco 4

5 LAM Tons amarelos 27

6 LES Tons escuros 4

7 LFB

Longo-fino

Branco 3

8 LFA Tons amarelos 17

9 LFE Tons escuros 3

Total - - - 92

CBR curto-arredondado branco; CAM curto-arredondado amarelo; CES curto- arredondado escuro; LBR longo branco; LAM longo amarelo; LES longo escuro; LFB longo-fino branco; LFA longo-fino amarelo; LFE longo-fino escuro.

O índice de Shannon apontou valores de 1,442 para cor e 1,082 para formato de grão. A distribuição espacial da diversidade desses caracteres apontou 18 regiões com elevada diversidade (vermelho e laranja) (Figura 1). Em Anchieta, apenas uma região, correspondente à comunidade Prateleira, foi identificada como detentora de elevada diversidade (H’= 0,855 a 2,000), com registro de 11 variedades. Em Guaraciaba, foram identificadas seis regiões com elevada diversidade, localizadas nos entornos das comunidades Ouro Verde e São Vicente; Sede Flores, Tigre e São Roque e; Olímpio e São Luiz.

Figura 1. Distribuição geográfica da diversidade de variedades de arroz de sequeiro, segundo a morfologia de grão no EOSC, 2013-2015.

Os valores do índice de Shannon para as características de grão possibilitam a comparação da diversidade existente no EOSC com a diversidade de outras regiões. Bajracharya et al. (2006) publicaram valores de índice de Shannon para diversas características qualitativas de variedades locais cultivadas em regiões de elevadas altitudes no Nepal, sendo a média dos índices 0,23. Tal valor foi considerado baixo pelos autores, que atribuem à forte pressão de seleção em ambientes extremos como o fator responsável pela baixa diversidade. Para a cor de grão, as variedades nepalesas apresentaram o índice igual a 0,80, enquanto as variedades do presente estudo apresentaram o valor de 1,442, quase duas vezes maior do que o encontrado no Nepal. Dikshit et al. (2013) avaliaram a diversidade de 105 variedades da região de Santhal Parganas, na Índia, e o índice de Shannon publicado pelos autores para a cor de grão foi 0,87, valor também inferior ao encontrado pelo presente estudo.

A explicação para que o índice de diversidade da cor de grão encontrado no presente trabalho fosse maior do que os índices estabelecidos para variedades locais de regiões consideradas centros de origem e diversidade da espécie O. sativa pode residir no fato do cálculo do índice ter sido presentemente realizado com base nas descrições dos agricultores, que apontaram cinco tonalidades de pericarpo, além das descritas pela literatura científica. Todavia, aspectos ecológicos e culturais específicos da região podem estar envolvidos nessa maior diversidade de cores indicadas.

As regiões (comunidades) indicadas como detentoras de elevados índices de diversidade no EOSC podem ser consideradas localidades pioneiras para instauração de estratégias integradas de conservação in situ e ex situ e para o desenvolvimento de programas de melhoramento genético participativo. A elevada diversidade em determinadas comunidades reflete a presença de agricultores nodais. Tais agricultores estão constantemente trabalhando em atividades de experimentação e seleção de variedades mais adaptadas a sua propriedade, ao seu modo de cultivo e ao gosto de consumo de sua família (De Boef 1998), são detentores de uma diversidade maior que a da comunidade, são doadores ativos de sementes e estão sempre em busca de conhecer e produzir novas variedades (Sthapit et al. 2004). Essas particularidades foram observadas na comunidade Prateleira (Anchieta), onde um único agricultor era responsável pela manutenção de seis variedades de arroz.

Também há de se considerar a necessidade de acompanhar as localidades com os menores índices de diversidade, uma vez que nestes locais Sthapit et al. (2004) destaca que podem existir variedades

exclusivas ou raras, também importantes para conservação da diversidade.

Osório (2015) discute que agricultores do EOSC que conservam variedades de arroz de sequeiro também são aqueles que conservam uma maior diversidade de cultivos. Além do arroz, estas famílias frequentemente conservam variedades de feijão, fava, inhame, tremoço, trigo, porongo, milho doce, batata salsa, lentilha, berinjela, quiabo, cará do ar, cará da terra, agrião, alface, dente de burro, melancia de porco, grão de bico, soja, nabo e sorgo, espécies utilizadas principalmente para o autoconsumo. Tal constatação levantada pelo autor corrobora com os resultados do presente trabalho, de que agricultores conservadores de arroz são considerados tradicionais, cultivam diferentes variedades, sobretudo para a alimentação da família, prezando pela segurança e pela qualidade dos alimentos consumidos.