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2 CARACTERÍSTICAS E TENDÊNCIAS RECENTES DA REGIÃO

2.3 A Diversidade do Semiárido Nordestino

Conforme mostrado nas sessões anteriores, o semiárido é uma região com muitas características em comum, mas também, com muitas particularidades e contradições. Observam-se características distintas nas formas de relevo, na formação do solo, nos microclimas, na precipitação e na cobertura vegetal. Da mesma maneira, tem-se uma estrutura agrária formada pelo dualismo latifúndio/minifúndio, áreas com maior ou menor dinamismo econômico, dentre outros aspectos. Assim, este tópico tenta evidenciar, ainda mais, a diversidade existente na região semiárida a partir do trabalho inédito de Bitoun et al. (2015),

"tipologia regionalizada dos espaços rurais brasileiros". Nesse trabalho os autores

trazem uma representação da diversidade do território no país, a partir do mundo rural, pensam o rural como o território de vida de uma parte significativa da população e acreditam que uma tipologia vai subsidiar as políticas públicas para levarem em conta a diversidade existente em cada território.

A tipologia foi realizada a partir dos biomas brasileiros e no caso do bioma Caatinga foram identificados quatro tipos regionalizados: Caatinga, Agrestes de Natal a Feira de Santana; Caatinga, Sertões Sul e Oeste; Caatinga, Sertões Norte, Áreas Úmidas de Altitude, Áreas Irrigadas e Cocais do Piauí; e Caatinga, Sertões Norte Orientais com Maior Aridez (RN/PB/PE) (Figura 5).

De acordo com os autores, o tipo regionalizado como "Agrestes de Natal a

Feira de Santana" (Tipo 20 no mapa) abrange os municípios do Agreste da faixa

oriental do Nordeste. Dos quatro tipos do Bioma Caatinga este é que apresenta a maior relação cidade/campo, pois existem muitas cidades pequenas e médias que não se distanciam muito da população rural. Essa proximidade campo/cidade

resultou na combinação de atividades agrícolas com atividades não agrícolas, no âmbito da agricultura familiar agrestina. Além disso, é o tipo de Caatinga que apresenta as mais altas densidades de população (29,62 hab./km2) e de estabelecimentos rurais (7,30 estabelecimentos/km2). Outra característica importante nessas áreas é a presença de várias bacias leiteiras e laticínios.

Figura 5 - Tipologia Regionalizada da Caatinga

Fonte: Bitoun et al. (2015).

O tipo 21 "Caatinga, Sertões Sul e Oeste" apresenta um contraste com os "Agrestes de Natal a Feira de Santana ", pois são áreas de baixa densidade populacional (4,51hab./km2) e de estabelecimentos agropecuários (1,55 estabelecimentos/km2). Tal densidade dos estabelecimentos agropecuários pode ser explicada pela presença das grandes propriedades de pecuária extensiva. O dualismo Latifúndio/minifúndio é muito forte nessas áreas, pois os estabelecimentos agropecuários familiares (mais de 90% do número total) ocupam, somente, 56% da área total dos estabelecimentos.

Bitoun et al. (2015), apontam a dispersão da população da "Caatinga, Sertões

Além dos sitiantes, existem famílias rurais em assentamentos de reforma agrária e muitas outras que mantêm os modos de vida tradicionais de acesso aos recursos naturais, tais como “fundos de pastos” e comunidades quilombolas. São pontos turísticos importantes desse tipo de Caatinga a Chapada Diamantina (BA) e o Parque da Serra da Capivara (PI) onde ocorrem o desenvolvimento de atividades não agrícolas e muitas iniciativas locais de aproveitamento dos recursos naturais da caatinga como o do umbú e a apicultura.

No tipo regionalizado 22 "Caatinga, Sertões Norte, Áreas Úmidas de

Altitude, Áreas Irrigadas e Cocais do Piauí" as densidades de população e de

estabelecimentos rurais são, respectivamente, de 12,55 hab./km2 e 2,93 estabelecimentos/km2. A rede urbana é mais estruturada que nos "Sertões Sul e

Oeste" com destaque para capitais regionais (Mossoró, Sobral, Juazeiro do

Norte/Crato, Petrolina/Juazeiro, Feira de Santana) e uma rede de centros menores (Picos, Limoeiro do Norte, Pau dos Ferros, Serra Talhada, dentre outros)

Bitoun et al. (2015) afirmam que esse território corresponde a diversas configurações socioespaciais e dentro do cenário de semiárido é o tipo que pode apresentar diversificadas formas de saídas da crise provocada pela queda do tripé econômico gado/algodão/lavouras alimentares. São visíveis as contradições entre a agricultura moderna de irrigação (vales do Médio São Francisco, do Açu, do Baixo Jaguaribe) e a agricultura familiar. A diversidade do território reflete na diversidade da própria agricultura familiar. É possível encontrar agricultores familiares de vazante, de sequeiro, com micro irrigação, de brejos de altitude, de arranjos produtivos locais (sisal, grãos, caprinocultura, apicultura, cocais etc.), mas os estabelecimentos da agricultura familiar (90% do total) são muito pequenos e ocupam apenas 53% da área total dos estabelecimentos.

O tipo regionalizado 23 "Caatinga, Sertões Norte Orientais" é aquele com maior intensidade das características de semiaridez e uma malha municipal muito densa com predominância de pequenas cidades centros locais. Dentre os tipos de Caatinga é o que apresenta a menor proporção de população residindo no meio rural (aproximadamente, 30%). Embora, limitada pelas características acentuadas de semiaridez, a densidade da população rural atinge 8,38 hab./Km2.

Até os anos 1980, predominava, na área em causa, o tripé econômico gado/algodão/lavouras alimentares. Com a crise do tripé, a economia local e as relações campo/cidade articuladas pelo beneficiamento e pela circulação do algodão

sofreram mudanças. Atualmente, a participação da agropecuária é muito baixa na economia local, o que está associado às secas. Com a fragilidade da produção, os serviços públicos, aposentadorias e programas sociais são de suma importância para a população rural desse tipo de Caatinga "economicamente esvaziado, mas socialmente vivo".

O Município de Brejinho/PE, objeto desta pesquisa, está dentro da tipologia "Caatinga Sertões Norte, Áreas Úmidas de Altitude, Áreas irrigadas e Cocais do Piauí". É um município constituído basicamente por minifúndios, pertencentes a agricultores familiares, como mostra o terceiro capítulo.