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Capítulo II – Alimentação infantil

2. Diversificação alimentar

A diversificação alimentar, também designada como alimentação complementar, consiste na transição de uma alimentação exclusivamente láctea – leite materno ou fórmulas infantis – para outra que inclui, além do leite, outros alimentos semi- sólidos, de textura progressivamente menos homogénea, e alimentos sólidos, introduzidos quando o lactente adquire a capacidade de mastigação (28, 82, 84). A diversificação alimentar durante o primeiro ano de vida é um passo de extrema relevância para o adequado aporte nutricional do lactente e para o seu desenvolvimento físico e psíquico (85). É, portanto, um período intermédio de adaptação entre o aleitamento e a integração na alimentação da família (28, 85).

A OMS, assim como outros organismos internacionais interessados em Nutrição Pediátrica, recomendam que a diversificação alimentar não se inicie antes dos 4-6 meses, nem após os 6-8 meses de idade (28). Em 2006, um estudo multicêntrico da OMS realizado em seis países, com crianças até aos dois anos de idade, demonstrou que a idade média de introdução da diversificação alimentar é de 5,4 meses (86).

Atualmente e apesar das várias recomendações feitas pela OMS, é muito comum, a ausência de aleitamento materno ou a sua interrupção precoce (83), assim como a introdução de outros alimentos na dieta do lactente antes dos seis, ou mesmo dos quatro meses de idade (83, 87).

2.1. Ordem de introdução de novos alimentos

A cronologia de introdução de novos alimentos não deve ser rígida e deve ter em consideração uma série de fatores de ordem social e cultural, tais como os costumes de cada região, questões socioeconómicas, disponibilidade e hábitos do agregado

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27 familiar, disponibilidade local de determinados alimentos, e particularidades do lactente (como alergias alimentares, patologias específicas, etc.) (28, 82, 88).

Habitualmente, os primeiros alimentos a serem introduzidos na alimentação dos lactentes são os cereais, sob a forma de farinha láctea ou não láctea. A estes seguem- se normalmente os produtos hortícolas, através de um caldo ou puré de legumes, a fruta, as carnes (com preferência por carnes magras e peixe), e finalmente, os ovos (26, 28, 32, 82, 88).

Os tipos de vegetais introduzidos na alimentação do lactente, assim como a ordem em que esta deve ser feita, é uma temática que se encontra atualmente em discussão, pela crescente sensibilização da comunidade para os potenciais riscos dessa prática, em contrapartida com todos os benefícios reconhecidos da ingestão desses alimentos. A sopa de legumes representa uma fonte de vitaminas, minerais e fibras, que facilitam a formação do bolo fecal e exercem uma ação favorável sobre o peristaltismo intestinal. Esta deve ser introduzida pouco a pouco, até substituir uma das refeições lácteas. Deve ser iniciada com uma base de cenoura, abóbora e batata, ou arroz (não esquecendo a cebola e o alho), introduzindo progressivamente outros vegetais, embora, um de cada vez. Devem introduzir-se primeiro, preferencialmente, os legumes de cor mais clara, por serem mais tenros, fáceis de digerir e menos alergénicos, como a alface, a couve branca e o alho-francês. As leguminosas devem ser introduzidas apenas após os 10-12 meses de idade (26, 32, 85).

Alguns autores defendem que vegetais como a batata, a cenoura, a curget e, os brócolos, a cebola, o alho, o alho-francês, a alface e a couve branca, são os mais indicados para comporem as primeiras sopas de legumes. Pelo seu conhecido elevado teor de nitratos e de fitatos, a introdução de legumes como os espinafres, o nabo, a nabiça, a beterraba e o aipo, é apenas aconselhada após os 12 meses de idade (82).

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A partir dos 8 meses, deve fazer-se a adaptação progressiva ao regime alimentar da família, e o bebé já poderá fazer uma refeição completa (sopa, prato e fruta) (26, 32).

Apesar do reconhecimento dos potenciais riscos, a importância dos vegetais na alimentação humana e, em especial, na alimentação de lactentes, enquanto um dos primeiros alimentos a serem introduzidos na diversificação alimentar, é já bastante reconhecida entre a comunidade pediátrica e órgãos internacionais competentes em matéria de nutrição infantil. Como tal, as suas características, relevância e efeitos benéficos para a saúde serão descritos na seção 3 deste capítulo.

2.2. Necessidades nutricionais do lactente

As necessidades nutricionais do lactente são elevadas e dependentes da existência ou não de aporte de leite materno na alimentação.

Segundo a OMS e a Pan American Health Organization (PAHO), as necessidades energéticas de crianças entre os 6-8 meses são de 600 Kcal/dia, entre os 9-11 meses são de 700 Kcal/dia, e entre os 12-23 meses são de 900 Kcal/dia. Assim, nos países industrializados, as crianças com um aporte médio de leite materno, necessitam de uma alimentação complementar que contribua com um valor energético de cerca de 130 kcal/dia dos 6 aos 8 meses, 310 kcal/dia dos 9 aos 11 meses e 580 kcal/dia dos 12 aos 23 meses de idade. Em países em desenvolvimento as estimativas diferem ligeiramente: 200, 300 e 550 kcal/dia para crianças com 6-8 meses, 9-11 meses e 12-23 meses, respetivamente (79, 80, 83).

A diversificação alimentar deve ser dividida num determinado número de refeições diárias, que permita uma distribuição correta e saudável dos novos alimentos introduzidos na dieta da criança. A uma criança de porte médio, saudável e em fase de amamentação, devem ser dadas 2 a 3 refeições por dia, dos 6 aos 8 meses e 3 a 4

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29 refeições por dia, dos 9 aos 24 meses de idade, com introdução, a partir dos 12 meses, de alimentos nutritivos adicionais (peça de fruta ou pão), uma a duas vezes por dia, como sobremesa (31, 79, 80).

Para uma criança de porte médio, saudável e que já não seja amamentada, devem ser dadas 4 a 5 refeições por dia, com a introdução dos referidos alimentos adicionais. Nestes casos, as refeições incluem, para além dos típicos alimentos que fazem parte da diversificação alimentar, alimentos à base de leite, e combinações entre estes (81).

2.3. Regime alimentar dos 5 aos 12 meses

As recomendações pediátricas referem, de uma forma geral, que a sopa representa a primeira refeição, substituindo inicialmente uma refeição à base de leite (que inclui a amamentação), por volta dos 5 meses de idade e, um mês depois, duas refeições à base de leite, passando a representar duas refeições diárias. Até aos 12 meses de idade vão sendo acrescentados outros alimentos q ue complementam a alimentação do lactente, tal como descrito na secção 2.1 do presente capítulo.

As mais reconhecidas marcas de alimentação infantil, como a Nestlé® (89), a Nutribén® (90), a Milupa® (91) e até a Chicco® (92), colocam ao dispor da população inúmeros conselhos e receitas a incluir na alimentação dos bebés no início da diversificação alimentar e até aos 24 meses. Do conjunto de receitas e sugestões, a sopa representa sempre o tema central, em consequência da grande importância que representa na alimentação dos lactentes, permitindo o seu normal crescimento e desenvolvimento.

Em consequência deste padrão, e tendo em conta todos os potenciais efeitos toxicológicos do consumo de nitratos descritos no capítulo anterior, foram confecionadas e analisadas um conjunto de dezasseis sopas diferentes, tendo em

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conta as recomendações e receitas referidas pelas marcas acima mencionadas, e o que sabemos ser a normal composição das sopas de crianças nesta faixa etária.

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