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Objetivo Geral

DIVERSIFICAÇÃO NAS FORMAS DE ACESSO E POLÍTICAS DE PERMANÊNCIA NA UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA

2.1 Diversificação na forma de acesso à Universidade de Brasília

Os tradicionais exames vestibulares, desde sua criação no início do século XX até a promulgação da LDB, mantiveram-se como forma única de acesso à educação superior brasileira. Tornaram-se alvo de críticas por ocorrerem em momento único, desconsiderando a trajetória acadêmica do indivíduo ao longo da escolarização, por não contribuírem no aperfeiçoamento do desempenho individual do aluno, na melhoria da qualidade do ensino médio, e por não auxiliarem na definição de políticas para a educação básica, reproduzindo nas universidades a estratificação social (SOBRAL e OLIVEIRA, 2006).

Em virtude dessa visão crítica em torno do vestibular, tido como mecanismo de perpetuação de privilégios da elite, o MEC promoveu em Brasília, no ano de 1985, o “Seminário Vestibular Hoje”, cujo tema teve continuidade em seminários regionais ocorridos em algumas capitais, a exemplo do “1º Seminário sobre o Vestibular da Universidade de Brasília”, onde foram discutidas alternativas de seleção para acesso ao ensino superior.

Não obstante as discussões em torno de mudanças nas formas de acesso à educação superior, somente após onze anos, com o advento da LDB-96, estabeleceu-se o fim da obrigatoriedade do exame como instrumento único de

seleção aos cursos de graduação. A partir daí, uma nova forma de seleção denominada Vestibular Seriado foi colocada em prática. Consiste na realização de provas em três etapas, no final de cada uma das séries do ensino médio, consecutivamente. O conteúdo de cada etapa corresponde respectivamente, aos conteúdos de cada ano do ensino médio. O desempenho em pontos obtidos em cada prova é acumulado e determina o desempenho final do candidato, compondo a nota sua classificação no curso pretendido, opção que é feita apenas no momento de sua inscrição na terceira etapa.

O primeiro Vestibular Seriado surgiu de forma experimental, por iniciativa da Universidade de Federal de Santa Maria (UFSM), em 1995, por meio do Programa Experimental de Ingresso ao Ensino Superior (Peies). Entretanto, a Universidade de Brasília foi pioneira na discussão e busca de estratégias de superação das deficiências dos exames vestibulares tradicionais. Buscava-se a adoção de um modelo que garantisse igualdade de oportunidades na seleção dos candidatos, Independentemente da renda ou da cor.

Para Morhy (1996), então Presidente da extinta Comissão Permanente de Concurso Vestibular da UnB (COPEVE), a universidade precisava contribuir para a elevação do nível dos candidatos ao ingresso na UnB, e uma das maneiras era interagir com o ensino médio. A proposta do PAS é “buscar uma avaliação de aprendizagem significativa, privilegiando a reflexão sobre a memorização, a qualidade sobre a quantidade de informações” (CESPE/UnB). Em 1986, após consolidação das discussões em torno da proposta, o projeto foi apresentado ao MEC.

A primeira prova do PAS, já sob a égide da LDB, foi realizada por alunos do primeiro ano do ensino médio, no ano de 1996, e o ingresso dos aprovados, no primeiro semestre de 1999. Com a possibilidade legal da utilização de formas alternativas de seleção para acesso, diversas instituições aderiram ao novo modelo, cada uma adotando nomenclatura específica. No ano de 2014, 30 instituições utilizaram este tipo de seleção.

Em estudo sobre o acesso à educação superior pública, Vasconcelos e Lima (2004) identificaram que os principais fatores que dificultam o ingresso de pessoas socioeconomicamente carentes às IFES, estão relacionados aos modelos dos processos seletivos das instituições, caracterizados como predominantemente

elitistas e limitantes das possibilidades de ingresso para a maioria dos estudantes advindos da escola pública.

Oliveira et al. (2008), ao estudarem a implantação dos vestibulares seriados, reconhecem a importância da diversificação nos modelos de seleção para ingresso às IFES. Entretanto, concluem que, mesmo após a implantação dos Programas Seriados de Avaliação, não houve alteração substancial no panorama de seletividade na educação superior. A pesquisa realizada por estes autores demonstrou que, à época do estudo, a maior parte do corpo discente das universidades públicas constituia-se de indivíduos pertencentes a classes abastadas.

Borges e Carnielli (2005) corroboram este pensamento, concluindo que as Avaliações Seriadas mantêm a estratificação social no acesso aos cursos universitários. Sua pesquisa confirma que nos cursos de maior prestígio social, os alunos ingressantes mediante PAS, em sua maioria, são oriundos de escolas privadas, cursaram ensino médio no turno diurno, possuem computador, frequentaram escolas de línguas e preparatórios para o processo seletivo. Assim, os Programas de Avaliação Seriada seriam uma nova via, quiçá um atalho, para que os candidatos oriundos de estratos socioeconômicos mais elevados ingressem de forma mais rápida na educação superior pública.

Bori e Durham (2000) estudaram os processos seletivos de acesso à educação superior e concluiram que instrumentos de seleção meritocráticos apresentam resultados relacionados à origem socioeconômica dos candidatos, perpetuando a elevada marginalização de indivíduos pertencentes a segmentos mais pobres da população, e contribuindo para que a educação seja o principal correlato da pobreza e da desigualdade social no Brasil A esse respeito, Schwartzman (2006) complementa que para a maioria da população, o ensino médio público é a única oportunidade de preparação para o ingresso na educação superior, e que se isto não ocorrer, cabe questionar os objetivos da formação neste nível de ensino.

A proposta de transformação do Enem em instrumento de seleção, expressa que seu novo formato traria um estreitamento da relação entre o ensino médio e o superior, conclamando as IFES a repensarem os conteúdos exigidos para ingresso neste nível de ensino, de forma que o seu acesso, sobretudo nas instituições

públicas, se torne um futuro possível para maior número de alunos advindos da escola pública.