2 A ECONOMIA POLÍTICA GLOBAL E A CRISE SISTEMICA DO
2.1 De Bretton Woods à Crise de 2008: caminhos e descaminhos do
2.1.2 Do capitalismo monopolista clássico ao capitalismo monopolista-
mundial é o oligopólio global, com suas misturas específicas em diferentes setores e ramos de rivalidade, de colusão e de enorme poder de monopólio global coletivo. (CHESNAIS, 2016, p. 142).
A recusa da corrente neoclássica em reconhecer a preponderância dos
oligopólios na estrutura de mercado mundial enseja a necessidade de encontrar
paradigmas teóricos e metodológicos mais suscetíveis de apreender o real estado dessa
estrutura, a partir do rigoroso escrutínio de suas determinações sociais, políticas e
econômicas, bem como de desvelar seus desdobramentos e corolários, os quais
impactam as condições de vida nas contemporâneas formações sociais em todo o
planeta.
Nesse contexto, emerge o materialismo histórico dialético como uma das
poucas escolas de pensamento científico, senão a única, com a habilidade de satisfazer
os requisitos supradelineados, notadamente por sua capacidade de identificar as
contradições, as conexões e as raízes das formas fenomênicas por meio das quais se
apresenta o objeto de estudo em questão. Explicita-se, portanto, o referencial teorico-
metodológico a nortear a perspectiva epistemológica e política adotada na presente
pesquisa, a saber, a Crítica da Economia Política, iniciada por Marx e continuada por
estudiosos por ele inspirados que, incorporando suas descobertas, procuraram não
somente dar prosseguimento às pesquisas por ele conduzidas, mas igualmente aplicar
seu original e revolucionário método científico a configurações sociais, econômicas e
políticas surgidas após a morte daquele pensador, portando, não abordadas em sua vasta
obra.
Menções explícitas aos monopólios e aos oligopólios são, portanto, exíguas
em O Capital e nas demais obras do cientista prussiano, e não o poderiam deixar de ser,
tendo em vista que essas configurações somente viriam a ter relevo na estrutura de
mercado das maiores economias daquela época após a sua morte.
26Não obstante,
encontra-se em sua obra-prima, retromencionada, a mais importante e robusta
fundamentação teórica para a tendência intrínseca do modo de produção capitalista ao
predomínio dos oligopólios e mesmo dos monopólios, a qual se introduz com o trecho a
seguir, extraído de obra precedente deste pesquisador:
Na segunda seção do capítulo XXIII, Marx trata, dentre outros aspectos da acumulação de capital, de sua concentração e da centralização de pulverizados capitais individuais menores nas mãos de poucos gigantescos grupos capitalistas. Explica o autor que a concentração nada mais é do que o aprofundamento do processo de acumulação de um capital individual em termos de escala e magnitude de meios de produção, com seu crescente
26
Sobre o contexto no qual Marx explora a questão dos monopólios em sua obra, pontuam Baran e Sweezy (1966, p. 14-5, grifou-se): ―Não que Marx não tivesse consciência da existência do monopólio na economia britânica de sua época - o verdadeiro sistema histórico de onde destilou seu modelo teórico. Mas, como os economistas clássicos antes dele, tratou os monopólios não como elementos essenciais do capitalismo, e sim como remanescentes do passado feudal e mercantilista, que tinha de ser abstraído, para se obter a visão mais clara possível, da estrutura e tendências básicas do capitalismo. É certo que, ao contrário dos clássicos, Marx reconheceu plenamente a poderosa tendência para a concentração e centralização do capital, inerente a uma economia em regime de concorrência: sua visão do futuro do capitalismo incluiu certamente novas formas, puramente capitalistas, do monopólio . Mas ele jamais tentou investigar o que na época teria sido um sistema hipotético, caracterizado pelo predomínio da empresa e do monopólio em grande escala. Em parte, a explicação está, sem dúvida, no fato de que o material empírico sobre o qual essa investigação teria de basear-se era demasiado escasso para permitir uma generalização digna de fé. Mas talvez ainda mais importante tenha sido a previsão, feita por Marx, da derrubada do capitalismo, muito antes que este tivesse revelado todas as suas potencialidades, bem dentro da fase competitiva do sistema.‖.
incremento da composição orgânica27, tornando-se cada vez maior a sua parte constante em relação à variável.28 […] Já a centralização reflete a força de atração que os capitais maiores exercem sobre os menores, suprimindo a autonomia desses, consubstanciando o que Marx [(2011, p.729)] denomina de ‗[...] expropriação do capitalista pelo capitalista, transformação de muitos capitais pequenos em poucos capitais grandes.‘ (BASTOS, 2017, p. 36-7, grifou-se).
Entenda-se que tal aprofundamento do processo de acumulação por parte da
empresa individual, a qual é premida pelos constrangimentos da concorrência
intercapitalista a sempre buscar incrementos de produtividade cada vez maiores,
notadamente por meio do emprego do aparato tecnológico existente para diminuir o
gasto com trabalho vivo, eleva sobremaneira o porte do capital necessário para que
novos investidores ingressem em determinado segmento de mercado, conformando,
assim, uma ―barreira de entrada‖ em beneficio das firmas já estabelecidas. Na pena de
Netto e Brás (2011, p. 140, grifou-se):
Empreendimentos que envolvem uma elevada composição orgânica do capital tornam-se cada vez mais excludentes para o conjunto dos capitalistas: apenas aqueles que possuem grandes massas de capital podem implementá- los. Eis por que a tendência do capital, em seu movimento, é de concentrar-se: cada vez mais capital é necessário para produzir mais mais-valia. Essa tendência de concentração do capital faz com que os grandes capitalistas acumulem uma massa de capital cada vez maior.
Ademais de repelir novos ingressantes ao mercado, a concentração engendra
a eliminação das empresas de menor porte, que não conseguem concorrer com as
maiores, por não disporem de custos baixos a um nivel que lhes permitam praticar
preços competitivos, levando-as ou à absorção por parte daquelas, por meio de fusões e
aquisições, ou mesmo à falência, consubstanciando o processo de centralização.
Atente-se para o imbricamento dos dois mencionados processos que, agindo
em sintonia, originam os monopólios.
27
―A composição orgânica do capital é dada pela relação entre capital constante e capital variável [...]. Diz-se que é alta quando a proporção empregada do primeiro é maior em ralação à do segundo.‖ (BASTOS, 2017, p. 36)
28
Sobre os conceitos de capital constante e capital variável, esclarece Marx (2013, p. 466-7): ―Portanto, a parte do capital que se converte em meios de produção, isto é, em matérias-primas, matérias auxiliares e meios de trabalho, não altera sua grandeza de valor no processo de produção. Por essa razão, denomino-a parte constante do capital, ou, mais sucintamente: capital constante. Por outro lado, a parte do capital constituída de força de trabalho modifica seu valor no processo de produção. Ela não só reproduz o equivalente de seu próprio valor, como produz um excedente, um mais-valor, que pode variar, sendo maior ou menor de acordo com as circunstâncias. Essa parte do capital transforma-se continuamente de uma grandeza constante numa grandeza variável. Denomina-o, por isso, parte variável do capital ou, mais sucintamente: capital variável.‖
A transição do capitalismo concorrencial
29para o monopolista (ou
imperialista), no início do último quartel do século XIX
30, dá-se em um contexto no
qual a classe capitalista, que ao longo do estágio competitivo tinha uma configuração
razoavelmente homogênea e atomizada, foi, ao final dessa fase, diferenciando-se em
função do volume de capital nas mãos de cada integrante. De acordo com Netto e Brás
(2011, p. 187, grifou-se),
[a] concorrência entre eles [….] era desenfreada e, naturalmente, os grandes capitalistas tinham maiores chances de levar a melhor na luta que todos travavam entre si. Na segunda metade do século XIX, especialmente na seqüência imediata da grande crise de 1873, esse quadro será estruturalmente modificado: as tendências do capital que já conhecemos, à concentração e à centralização, confluíram na criação dos modernos monopólios.
Nos Estados Unidos, até metade do século XIX, a maioria dos
empreendimentos de negócios daquela nação eram operacionalizados na forma de
empresas de pequena escala com apenas um proprietário ou com alguns sócios.
Contudo, nos quarenta anos que transcorreram entre 1865 e 1905, várias dessas
empresas combinaram-se ou consolidaram-se em um único trust ou em uma única
holding
31, os quais constituem simplesmente mecanismos legais criados para eliminar a
concorrência do mercado. O quadro a seguir mostra os maiores desses trusts, a
quantidade de empresas que originou cada um desses, a porcentagem de seus
29
Fase histórica do capitalismo que se configura de forma mais nítida aproximadamente a partir de 1780, nos países da Europa Ocidental e se consolida a partir da primeira metade do século XIX nos Estados Unidos, na qual a quantidade de empresas, em sua esmagadora maioria de pequeno ou médio porte, operando no mercado, ainda é ―indefinidamente grande‖, impedindo, portanto, qualquer uma delas de exercer poder econômico para impor seus interesses de forma a afetar o equilíbrio do mercado. A caracterização como concorrencial deve-se às vastas oportunidades existentes para os empreendimentos de pequeno e médio porte de se estabelecerem no mercado, visto que o montante de capital necessário para competir e sobreviver naquele ainda não tinha tomado as proporções da magnitude que assumiria na fase monopolista.
30
Lenin (2011, p. 126-7, grifou-se) periodiza da seguinte forma essa transição: "1) Décadas de 1860 e 1870, período de grande desenvolvimento da livre concorrência. Os monopólios não constituem mais do que germes quase imperceptíveis. 2) Após a crise de 1873, longo período de desenvolvimento dos cartéis, no entanto eles ainda constituem apenas uma exceção. Carecem ainda de estabilidade, representando ainda um fenômeno transitório. 3) Expansão de fins do século XIX e crise de 1900 a 1903: os cartéis tornam-se uma das bases de toda a vida econômica. O capitalismo transformou-se em imperialismo.". 31
Munkirs (1985) esclarece que para criar um trust os acionistas de várias companhias individuais constituíam um único conselho de administradores (trustees), por intermédio do qual esses, por controlarem a maioria das ações com direito a voto de cada uma daquelas organizações, podiam eleger os diretores das companhias participantes do trust. Por sua vez, as companhias de tipo holding operavam de forma semelhante, distinguindo-se daquele apenas por possuírem a totalidade das ações das companhias que a constituíam. O autor ilustra ainda o conluio salientando que nos 32 anos transcorridos entre 1867 e 1899, John D. Rockefeller e seus sócios combinaram aproximadamente 400 empresas para formar a Standard Oil, a qual passou a controlar 84% do mercado petrolífero daquele país. No mesmo diapasão, Netto e Brás (2011) informam que nessa mesma nação, em 1904, apenas a minúscula fatia de 0,9% do total das empresas industriais controlavam 38% de toda a produção nacional naquele segmento econômico.
respectivos mercados que cada um controla e a oligarquia familiar que exerce o domínio
sobre cada uma dessas estruturas manipulatórias de mercado.
Quadro 1 - Principais trusts e holdings existentes na virada do século XIX para o XX nos
EUA.
Trust / holding
Participação na
produção total no
setor (%)
Nº aproximado de
empresas
participantes
Família
detentora
1. Petróleo
Standard Oil Alliance,1867
Standard Oil Trust, 1882
Standard Oil Company of
New Jersey, 1899
84
400
Rockefeller
2. Fundição
American Smelting & Refining,
1899 (New Jersey)
85
121
Guggenheim
Rockefeller
3. Açúcar
American Sugar Refining
Company, 1891 (New Jersey)
85
55
Havemeyer
4. Cobre
Amalgamated Copper Company,
1901 (New Jersey)
35
11
Rockefeller
Stillman
5. Tabaco
Consolidated Tobacco
Company,
1901 (New Jersey)
90
150
Ryan,
Duke,
Rockefeller
6. Aço
United States Corporation
1901 (New Jersey)
70
785
Morgan
Rockefeller
7. Navegação Atlântica
International Mercantile Marine
Company, 1902 (New Jersey)
40
6
Morgan
Fonte: Produzido por este autor, a partir de Moody (1968)
Na Europa Ocidental, a situação não era diversa: segundo Netto e Brás
(2011, p. 187), ―na Alemanha, o grupo Krupp empregava 16.000 pessoas em 1873,
24.000 por volta de 1890, 45.000 por volta de 1900 e quase 70.000 por volta de 1912;
50% da produção de carvão estavam, em 1893, nas mãos de um único grupo produtor
[...].‖. Na verdade, extravasando fronteiras nacionais, bem antes da I Guerra Mundial,
os monopólios já estendiam seu domínio sobre vastas regiões do globo terrestre,
passando a se constituir como a viga mestra do imperialismo, configuração esta que
assumiria o capitalismo naquela etapa de seu desenvolvimento histórico.
Cabe notar que tal processo de monopolização da produção industrial global
transcorreu simultaneamente à modificação no papel dos bancos, de intermediário de
pagamentos e meros supridores de crédito às empresas a investidores nessas
organizações. Aproveitando-se do acesso à contabilidade e a outras informações
estratégicas dos grandes conglomerados industriais aos quais fornecia capital monetário
(ou capital de financiamento), nada mais natural que essas instituições financeiras
passassem a cobiçar os negócios de elevada rentabilidade das mais lucrativas daquelas
corporações, o que de fato passa a ocorrer, com os bancos passando a adquirir
significativa quantidade de ações dessas companhias, transformando-se em acionistas
dessas, quase sempre com forte poder em sua administração, quando não o próprio
controle, ademais da nomeação de diretores dos bancos para os conselhos
administrativos daquelas corporações industriais (HILFERDING, 1985; LENIN, 2011).
Por outro lado, o inverso também ocorre, ou seja, os mais poderosos grupos
industriais passam a comprar ações de bancos, bem como a colocar seus diretores nos
conselhos administrativos desses, conformando um entrelaçamento de suas
participações acionarias que engendraria a nova forma de capital hegemônico naquele
estágio do modo de produção capitalista, a saber, o capital financeiro, ―[a] única forma
de capital que não foi teorizada por Marx, mas que se tornou uma categoria válida para
a teoria marxista do século XX.‖ (BOTTOMORE, 1988, p. 47), resultado da fusão do
capital monopolista bancário com o seu similar industrial (HILFERDING, 1985;
LENIN, 2011). Na precisa síntese de Bottomore (1988, p. 48, grifou-se):
A concentração e a centralização haviam criado as firmas monopolistas na indústria, enquanto a ascensão de um moderno sistema de crédito havia concentrado nas mãos dos bancos as poupanças de toda a comunidade; a fusão dos dois resultou do fato de não terem as empresas monopolistas para onde se voltar de modo a obter os vultosos financiamentos de que necessitavam para facilitar sua acumulação, ao passo que os bancos não tinham alternativa lucrativa senão investir na indústria seus grandes fluxos de fundos. Além disso, a fusão, na forma de capital financeiro, era em si mesma um impulso ao desenvolvimento de outros monopólios, na medida em que os blocos de capital bancário-industrial tentavam conseguir maior controle sobre a anarquia dos seus mercados. Nesse processo, a promoção de novas empresas industriais pelos bancos constituiu uma importante estratégia, que criou uma forma especial de lucro, o lucro dos promotores, através da própria promoção.
Dessa forma, a rivalidade encarniçada entre os portentosos gigantes
monopolistas, cada um procurando o controle da mais vasta extensão possível do
mercado mundial, engendrou a luta pela ―redivisão‖ do mundo entre as grandes
potencias imperialistas, tendo como uma de suas consequências as duas guerras
mundiais. O caráter imperialista do capital financeiro é ilustrado por Lenin em sua obra,
sintomaticamente intitulada ―Imperialismo, fase superior do capitalismo‖
32, na seguinte
passagem:
[....] O que é característico do imperialismo não é precisamente o capital industrial, mas o capital financeiro. Não é um fenômeno casual o fato de, em França, precisamente o desenvolvimento particularmente rápido, do capital financeiro, que coincidiu com um enfraquecimento do capital industrial, ter provocado, a partir da década de 1880, uma intensificação extre ma da política anexionista (colonial). O que é característico do imperialismo é precisamente a tendência para a anexação não só das regiões agrárias, mas também das mais industriais (apetites alemães a respeito da Bélgica, dos franceses quanto à Lorena), pois, em primeiro lugar, já estando concluída a divisão do globo, isso obriga, para fazer uma nova partilha, a estender a mão sobre todo o tipo de territórios; em segundo lugar, faz parte da própria essência do imperialismo a rivalidade de várias grandes potências nas suas aspirações à hegemonia, isto é, a apoderarem-se de territórios não tanto diretamente para si, como para enfraquecer o adversário e minar a sua hegemonia. [...]. (LENIN, 2011, p. 221)
O protagonismo dos grandes conglomerados empresariais monopolistas no
processo de reprodução e acumulação do capital global se desdobrou de tal forma que a
produção das pequenas e médias empresas deixou de, em conjunto, representar parcela
significativa do produto nacional na maioria dos países centrais; o que não significa que
se possa estudar tais estruturas de mercado abstraindo das empresas desse porte, até
porque as próprias megaempresas oligopolistas levam-nas em consideração em suas
estratégias de posicionamento de mercado
33. Tal tendência foi argutamente apreendida
por Baran e Sweezy (1966, p. 15-6), em obra clássica do pensamento econômico
marxista, que lançou as bases do que se convencionou chamar de ―Escola do Capital
Monopolista‖
34(doravante, ECM):
32
Na mesma obra, Lenin enumera o que considera, em sua concepção, os cinco traços fundamentais do imperialismo: ―1) a concentração da produção e do capital levada a um grau tão elevado de desenvolvimento que criou os monopólios, os quais desempenham um papel decisivo na vida econômica; 2) a fusão do capital bancário com o capital industrial e a criação, baseada nesse ―capital financeiro‖ da oligarquia financeira; 3) a exportação de capitais, diferentemente da exportação de mercadorias, adquire uma importância particularmente grande; 4) a formação de associações internacionais monopo listas de capitalistas, que partilham o mundo entre si, e 5) o termo da partilha territorial do mundo entre as potências capitalistas mais importantes.‖ (LENIN, 2011, p. 218)
33
Explicam Baran e Sweezy (1966, p. 60-1): ―A pequena empresa se localiza na extremidade receptora, reagindo às pressões das grandes empresas e em certa medida modelando-as e canalizando-as, mas sem o poder efetivo de contrabalançá-las e ainda menos de exercer uma iniciativa independente própria. Do ponto-de-vista de uma teoria do capitalismo monopolista, as empresas menores deveriam ser tratadas como parte do ambiente dentro do qual operam as grandes empresas, e não como um ator no palco.‖ 34
Sobre tal influente registro bibliográfico, assinala Bottomore (1988, p. 54): ―A idéia de que o s monopólios são característicos de uma nova fase do capitalismo que se teria iniciado no final do século
Hoje, a unidade econômica típica na sociedade capitalista não é a firma pequena que fabrica uma fração desprezível de uma produção homogênea, para um mercado anônimo, mas a empresa em grande escala, à qual cabe uma parcela significativa da produção de uma indústria, ou mesmo de várias indústrias, capaz de controlar seus preços, o volume de sua produção e os tipos e volumes dos seus investimentos. A unidade econômica típica, em outras palavras, tem os atributos que foram outrora considerados como exclusivos dos monopólios. É impossível, portanto, ignorar o mono pólio ao construirmos nosso modelo da economia, e continuar tratando a concorrência como o caso geral: numa tentativa de compreender o capitalismo em sua fase monopolista, não nos podemos abstrair do monopólio ou introduzi-lo como um simples fator modificante - devemos colocá-lo no centro mesmo do esforço analítico.
Nesse sentido, os autores argumentavam que não fazia mais sentido o
estudo das estruturas de mercado presentes no capitalismo do século XX à luz de uma
teoria ainda calcada no modelo de concorrência perfeita, utilizado por Marx, em meados
do século XIX, razão pela qual procuram desenvolver um paradigma teórico no qual as
empresas oligopolistas
35constituíssem a unidade básica de análise, pelo fato de
hegemonizarem aquelas estruturas de mercado. Privilegiando as transformações pelas
quais passou o processo de acumulação de capital na fase monopolista de seu modo de
produção, o foco do paradigma metodológico proposto pelos dois economistas é
centrado nessa mudança chave ocorrida na estrutura de mercado, salientando esses
estudiosos, não obstante, que as contradições básicas do capitalismo, as quais geram sua
lei da acumulação, permanecem as mesmas, mas que a forma das relações dentro das
quais elas existem modifica-se.
Tal inovação teórica, todavia, encontrou resistência por parte de algumas
correntes marxistas, adeptas da lei tendencial de queda da taxa de lucro
36(doravante,
LTQTL) como explicação suficiente para as crises capitalistas, que passaram a imputar
XIX foi introduzida no marxismo por Lenin e pelos teóricos do capital financeiro. Mas a expressão ―capitalismo monopolista‖ adquiriu um sentido diferente e novo destaque com o livro de Paul Baran e Paul Sweezy (1966), que teve um significativo papel na renovação do interesse pela teoria econômica marxista em meados da década de 1960. Nesse livro, Baran e Sweezy desenvolveram algumas idéias embrionárias que haviam apresentado em obras anteriores [Sweezy, 1976; Baran, 1984], e suas teses foram posteriormente defendidas por uma rica produção teórica composta sobretudo de textos publicados