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3. CAPÍTULO 3 – PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

3.2. Do contexto da pesquisa e dos sujeitos participantes

A coleta dos dados foi feita em uma escola pública estadual, pertencente ao Rio Grande do Norte, que é localizada na periferia da cidade de Natal, capital do Estado, no bairro das Quintas, zona oeste da cidade. O bairro é um dos mais tradicionais da periferia de Natal. Segundo o sítio virtual da prefeitura, seu crescimento aconteceu com maior velocidade a partir da segunda metade do século XX, quando numerosas famílias provenientes do interior do estado passaram a habitar a região. Define-se como um ponto estratégico na geografia da capital potiguar, pois liga as zonas leste e sul da cidade com a zona norte (Avenida Bernardo Vieira, principal avenida do bairro).

De acordo com informações do último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), de 2010, o bairro tem uma população de 27.375 habitantes, distribuída, no que se refere à faixa etária, de acordo com o gráfico a seguir:

Figura 3 – Faixa Etária dos moradores das Quintas

Fonte: http://populacao.net.br/populacao-quintas_natal_rn.html. Acesso em 30/03/2015

É possível depreender, ao observar o gráfico acima, que a população de jovens e adolescentes, em idade escolar, é significativa na região e possui o perfil dos nossos participantes da pesquisa.

O contexto social demonstra um cenário crítico na região. O tráfico de drogas impera em muitos setores do bairro, sobretudo naqueles mais desassistidos pelo poder público. A favela do Mosquito, localizada nas margens do Rio Potengi, é uma das mais carentes de Natal.

O entorno da escola é localizado perto do loteamento Novo Horizonte, também conhecido por Favela do Japão, que é uma das mais perigosas da cidade. Ela inicia-se nas margens da avenida Bernardo Vieira e avança em direção ao riacho das Quintas. Dois semáforos localizados na área são campeões em número de abordagens de marginais a motoristas. Também nessas imediações são frequentes os assaltos a ônibus, que são sempre noticiados em jornais locais.

São crianças e adolescentes dessa região que compõem a clientela da escola em que fizemos nossa intervenção pedagógica. Eles possuem baixo poder aquisitivo, uma vez que se observa que as maiorias das famílias são assistidas com os benefícios dos programas assistenciais do Governo Federal (Bolsa Família), fazendo do auxílio parte essencial da renda da família. Concomitantemente, percebemos que há indícios de desestrutura familiar da maioria dos lares dos alunos, refletindo nos desvios de comportamento e no processo de aprendizagem dos educandos. A escola atende alunos, em sua maioria, moradores do próprio bairro ou comunidades vizinhas

Com relação à estrutura do ambiente, é caracterizada como uma escola de pequeno porte, cujos alunos não se destacam em provas nacionais e possuem seus rendimentos ainda baixos, de acordo com o último estudo do Índice Nacional da Educação Básica (Ideb), em 2013, como mostrado no quadro a seguir:

Figura 4 – Ideb da Escola - Resultados e Metas

Fonte: ideb.inep.gov.br/resultado/ Acesso em 05/04/2015

Entendemos como benéfica a escolha de uma escola sem grande visibilidade ou destaque no âmbito educacional do Estado pois, com isso, são irrelevantes os possíveis estereótipos de que o trabalho obteve sucesso porque a clientela era bem desenvolvida ou porque a escola possui quadro de professores completos e competentes, ou ainda porque a escola tem boa estrutura e bons índices nas provas nacionais.

A instituição possui infraestrutura mediana. Salas em que a radiação solar se faz forte no período da manhã, o que causa um desconforto quanto ao calor. Para deixar o clima mais difícil, não possuem sistema de ventilação: nem ventiladores, tampouco ar condicionado. São pequenas e não atendem à realidade, muitas vezes os alunos precisam buscar cadeiras e mesas em outras salas, pois não têm o suficiente em cada uma delas

As instalações são limpas e conservadas. Contudo, temos o problema de que os intervalos variam entre as turmas por causa do espaço reduzido para o lazer dentro da escola, e então o barulho externo atrapalha demasiadamente o andamento das atividades dos outros grupos que permanecem em aula. Isso também ocorre nas aulas de Educação Física, que são ministradas no pátio da escola, e o barulho dos alunos ao praticar esportes dificulta ao extremo a concentração dos que estão dentro das salas.

As turmas variam em quantidade, algumas com 22 alunos, outras alcançam número de 37 estudantes. A gestão escolar é problemática, não há uma uniformidade entre as ações da diretoria com a da coordenação pedagógica. Há um clima de “rixa” entre elas, o que ocasiona uma dificuldade em implantar projetos e trabalhos em conjunto dentro do

ambiente escolar. Existem equipamentos eletrônicos para o professor, data show, computadores e lousa digital, mas não suficientes para atender a demanda das turmas. A escola conta com um laboratório de informática que não funciona, os computadores, que seriam utilizados pelos alunos, estão desconectados e, quando questionada, a gestão da escola afirma que nunca enviaram um técnico especialista para a instalação das máquinas.

Diante dessas circunstâncias, verifica-se facilmente o desestímulo por parte dos docentes, setores administrativos e pedagógico da escola, pois não há uma unidade em torno do sucesso dos processos de ensino e aprendizagem. Há sempre conflitos e falta de interesse quando algum professor ou coordenador deseja fazer algo afete o “cotidiano normal” da escola. E, com este trabalho, não foi diferente. Os processos de intervenção dentro de sala de aula eram feitos autonomamente, sem auxílio ou estímulo da gestão, pois, quando o trabalho foi apresentado, quase não houve efeito ou empenho em envolver toda a comunidade escolar. A professora conseguiu alguns momentos de interação com outras disciplinas conversando com outros docentes e algumas pessoas da coordenação, sem mediação da direção da escola.

A professora, pesquisadora e mediadora, é uma profissional com experiência de três anos de sala de aula (no início do projeto, tinha um ano de prática escolar). Formada em Letras – Língua Portuguesa, possui ainda especialização em Teorias e Estudos sobre a Linguagem e, por meio deste trabalho final de curso, almeja obter o título de Mestre.

Em classe, durante as aulas referentes à intervenção, os alunos foram dispostos em função das atividades a serem realizadas nos módulos desenvolvidos, variando assim a organização das carteiras: em fileiras, em duplas ou em grupos. Isso gerou um ambiente de muitos momentos de interação comunicacional, propício aos diferentes aprendizados que transcendiam à própria proposta pedagógica do momento.