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Do declínio das Ligas camponesas à consolidação do Movimento Sindical dos

Capitulo II: Consolidação da organização politica dos Trabalhadores Rurais

2.4 Do declínio das Ligas camponesas à consolidação do Movimento Sindical dos

Seguindo as deliberações do congresso de BH, os movimentos sociais do campo lutaram por melhorias nas condições de vida dos camponeses, principalmente no que tange à ampliação de seus direitos, incluindo a extensão da liberdade sindical para os trabalhadores rurais, bem como de outros direitos trabalhistas. Essas movimentações marcam o principio do MSTTR como conhecemos e teve como protagonistas a ULTAB e a Igreja Católica e uma forte influência das Ligas Camponesas ligadas a Francisco Julião.

A liberdade sindical para os trabalhadores rurais foi promulgada pelo presidente João Goulart (Jango) em 16 de junho de 1963, através da portaria 364, que definia a organização sindical dos trabalhadores rurais; logo em seguida o então ministro Amaury Silva, que sucedeu Almino Afonso na pasta do ministério do trabalho, funda a Comissão Nacional de Sindicalização Rural (BASTOS, 1984, p.91).

[As] iniciativas das organizações rurais partiam sem a menor previsão do governo. No entanto, o Governo sentia a necessidade de estender também ao campo a tutela que exercia sobre o movimento dos trabalhadores urbanos. Assim, a arrancada impiedosa do sindicalismo rural era questão de mais ou menos dias. Com esse propósito, derrotado o regime parlamentarista do referendum de 4 de janeiro de 1963, o Partido Trabalhista Brasileiro, em frente unida com o Partido Comunista, tentou exercer grande pressão sobre o governo. No entanto, independente dessa pressão, o ministério do trabalho criou um instrumento de sindicalização rural. Assim começou a grande movimentação para fundar sindicatos de trabalhadores rurais (assalariados agrícolas) e trabalhadores autônomos do campo (camponeses) (MORAIS, 2002, p. 49).

Portanto, a intensa movimentação promovida pelas organizações dos trabalhadores rurais, mais a pressão exercida pela frente composta por PCB e PTB e ainda a vontade do governo de estender sua influência para os movimentos dos trabalhadores rurais, desencadearam uma corrida pela sindicalização desses trabalhadores rurais.

O interesse da Igreja Católica nos problemas dos camponeses vai culminar em uma ampla campanha da igreja para sindicalizar os trabalhadores rurais (MORAIS, 2002). Esse interesse, diga-se de passagem, originava- se na profunda desigualdade existente no campo e no temor em relação à atuação dos comunistas junto a esses trabalhadores explorados.

(...) o partido disputava com a igreja a fundação e, mais tarde, o reconhecimento pelo Estado dos sindicatos de trabalhadores rurais. O empenho do partido parece ter se localizado mais na organização de federações e da confederação sindical do que das bases sindicais propriamente ditas (MARTINS, 1981, p.87).

A igreja vai ser responsável pela abertura de vários Sindicatos dos Trabalhadores Rurais (STRs) em todo o Brasil, mas nesse momento o protagonismo é da ULTAB que já havia se estendido por todo território nacional e já havia fundado inúmeras Uniões de Lavradores nos Estados da Federação. As Ligas nesse momento viviam um embate interno que as afastaram desse processo.

[...] De tal maneira que, quando Dom Eugenio Sales, Arcebispo de Natal, e Luiz Maranhão Filho, do Comitê Central do Partido Comunista Brasileiro, convocaram uma reunião com a ULTAB, Ação Popular [movimento articulado pela igreja], PTB etc., num importante conclave para tratar da formação da Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (CONTAG), as Ligas, de antemão já estavam definitivamente excluídas dessa Central Única institucionalizada dos trabalhadores agrícola (MORAIS, 2002, p.50).

Em 1963 depois de uma intensa corrida para fundar os sindicatos dos trabalhadores rurais, nascia a CONTAG (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) com o objetivo de unificar o sindicalismo rural no Brasil. A CONTAG já nasceu grande e significou um marco para a organização dos trabalhadores rurais do Brasil, pois “em

poucos meses de funcionamento, reunia um milhão de trabalhadores rurais” filiados aos seus sindicatos (MORAIS, 2002, p. 51).

Ainda que o governo de João Goulart estivesse operando sob uma perspectiva desenvolvimentista e nacionalista, não podemos negar que havia nesse momento certo incentivo à participação da população através da introdução de valores “modernos” para diminuir as resistências das camadas populares (CARVALHO, 1998).

Desse modo, o Brasil vive um momento político favorável onde o proletariado urbano e trabalhadores rurais adquirem força reivindicatória pelos seus direitos e por mudanças macroestruturais que passam a ser vistas como requisitos para o desenvolvimento do país. Os setores populares reivindicavam maior participação na política do país, destaca-se a atuação das Ligas Camponesas e dos Sindicatos Rurais e Urbanos que realizavam greves constantes na luta econômica e salarial. Diante dessa conjuntura favorável e das intensas movimentações promovidas pelas Ligas Camponesas e pelo movimento sindical o governo de João Goulart reconheceu a necessidade de se promover uma ampla reforma agrária.

Em 1964 acontece o golpe militar que iria derrubar Jango e que daria fim às suas iniciativas políticas e econômicas, inclusive àquelas relativas a uma possível reforma agrária. Com o golpe “não se tocaria mais na estrutura fundiária brasileira” (FETAES, 2008, p. 8.). O golpe Militar representou uma reação das elites contra o intenso movimento promovido pelas forças populares que se fortaleceram na década de 1960.

A revolução camponesa não chegou a definir-se como um projeto naqueles primeiros tensos anos da década de 60. A rigor, não chegou a surgir nenhuma organização de amplitude nacional que o formulasse com contornos precisos. O máximo se concretizada, implicaria numa profunda transformação no regime de propriedade da terra. A revolução camponesa surgiu muito mais definida no temor dos seus opositores de direita e de esquerda daquela época. Como tal, como temor, como hipótese a ser combatida, chegou a aparecer com razoável clareza nas posições e nas ações da igreja, do PCB e do governo Goulart. Depois do golpe militar de março de 1964, a pressuposição da revolução camponesa apareceu claramente na justificativa da raivosa repressão que se desencadeou sobre os trabalhadores do campo, particularmente os das ligas camponesas, sobre as lideranças sindicais e até mesmo sobre os partidos e grupos políticos que, especificamente a respeito, tinham posição vacilante (MARTINS, 1981, p. 92).

A instauração do regime militar afeta profundamente os movimentos políticos emergentes no país durante esse período, pelo menos os que representavam alguma ameaça, sendo que esses se tornaram passíveis, inclusive, de repressão. Nesse momento, a diretoria e da CONTAG é estrategicamente desarticulada, sendo nomeada uma junta governativa que comandou a Confederação durante um ano. No ano seguinte foi nomeada uma diretoria provisória, que durou de 1965 a 1968, comandada pelo interventor José Rotta (CONTAG, 2007) e depois de intensa mobilização dos sindicatos e federações o grupo antes no poder retoma a direção da CONTAG em 1970, depois da realização de vários congressos em resistência ao regime militar (GOHN, 2003).

2.5 A intervenção militar no movimento sindical e os movimentos sociais surgidos