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Do deferimento do processamento da recuperação judicial

5.1 O Instituto da Recuperação Judicial de Acordo com a Lei nº. 11.101/05

5.1.1 Do deferimento do processamento da recuperação judicial

O artigo 489 da lei de recuperação e falência traz os requisitos a serem preenchidos, são eles:

9 Art. 48 - Poderá requerer recuperação judicial o devedor que, no momento do pedido, exerça regularmente suas atividades há mais de 2 (dois) anos e que atenda aos seguintes requisitos, cumulativamente:

I – Não ser falido e, se o foi, estejam declaradas extintas, por sentença transitada em julgado, as responsabilidades daí decorrentes;

II – Não ter, há menos de 5 (cinco) anos, obtido concessão de recuperação judicial;

O devedor deve exercer suas atividades por mais de dois anos, e ainda não ser falido ou se já foi ter havido a extinção das responsabilidades, não ter há menos de cinco anos obtido concessão de recuperação judicial, não ter há menos de oito anos obtido a concessão de recuperação judicial com base no plano de recuperação judicial para microempresas e empresas de pequeno porte, e por fim não ter sido condenado ou não ter como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta lei. Estes requisitos devem ser observados cumulativamente, e a falta deles implica no não deferimento do processamento recuperação judicial.

Ao ingressar com o pedido de recuperação judicial a petição inicial deve ser instruída com farta documentação para comprovar o direito ao deferimento do pedido de recuperação judicial. Os documentos necessários estão elencados no artigo 51 da Lei nº. 11.101/0510, são eles, a exposição das causas concretas da situação patrimonial e das razões que acarretaram a crise; as demonstrações contábeis dos três últimos exercícios sociais composta pelo balanço patrimonial, demonstração de resultados acumulados, demonstração do resultado desde o último

III – Não ter, há menos de 8 (oito) anos, obtido concessão de recuperação judicial com base no plano especial de que trata a Seção V deste Capítulo;

IV – Não ter sido condenado ou não ter, como administrador ou sócio controlador, pessoa condenada por qualquer dos crimes previstos nesta lei.

10 Art. 51 - A petição inicial de recuperação judicial deve ser instruída com:

I – A exposição das causas concretas da situação patrimonial do devedor e das razões da crise econômico-financeira;

II – As demonstrações contábeis relativas aos três últimos exercícios sociais e as levantadas especialmente para instruir o pedido, confeccionadas com estrita observância da legislação societária aplicável e composta obrigatoriamente de: a) balanço patrimonial; b) demonstração de resultados acumulados; c) demonstração do resultado desde o último exercício patrimonial; d) relatório gerencial de fluxo de caixa e sua projeção;

III – A relação nominal completa dos credores, inclusive aqueles por obrigação de fazer ou de dar, com a indicação do endereço de cada um, a natureza, a classificação e o valor atualizado do crédito, discriminando sua origem, o regime dos respectivos vencimentos e a indicação dos registros contábeis de cada transação pendente;

IV – A relação integral dos empregados em que constem as respectivas funções, salários, indenizações e outras parcelas a que têm direito, com o correspondente mês de competência, e a discriminação dos valores pendentes de pagamento;

V – Certidão de regularidade do devedor no Registro Público de Empresas, o ato constitutivo atualizado e as atas de nomeação dos atuais administradores;

VI – A relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do devedor;

VII – Os extratos atualizados das contas bancárias do devedor e de suas eventuais aplicações financeiras de qualquer modalidade, inclusive em fundos de investimentos ou em bolsa de valores, emitidos pelas respectivas instituições financeiras;

VIII – Certidões dos cartórios de protestos situados na comarca do domicílio ou sede do devedor e naquelas onde possui filial;

IX – A relação, subscrita pelo devedor, de todas as ações judiciais em que este figure como parte, inclusive as de natureza trabalhista, com estimativa de valores demandados.

exercício social e pelo relatório gerencial de fluxo de caixa; também é exigida a relação nominal completa dos credores; bem como a relação integral dos empregados; certidão de regularidade do devedor no registro público de empresas;

a relação dos bens particulares dos sócios controladores e dos administradores do devedor; os extrato bancários do devedor; entre outros documentos essenciais.

Estando em termos a documentação exigida pelo artigo 51, a lei em seu artigo 52 diz que o juiz deferirá o processamento da recuperação judicial, o que na verdade não deve ser bem assim, há entendimentos, controvertidos, de que o termo deferirá deve ser entendido como “o juiz poderá deferir”.

Vejamos abaixo o pronunciamento do Tribunal de Justiça onde o entendimento é que o juiz está obrigado a deferir o processamento da recuperação judicial à empresa, conforme voto do D. Desembargador Manoel de Queiroz Pereira Calças11:

Apresentada a petição inicial de recuperação judicial com todos os documentos exigidos pelo artigo 51 da LRF, compete ao juiz examinar a legitimidade e proceder ao exame formal dos documentos. Não compete ao juiz aferir a realidade das informações contábeis e financeiras constantes dos documentos que instruem a inicial. Deferido o processamento da recuperação, os credores, o Ministério Público, a Assembleia Geral, e o Administrador Judicial poderão aferir a realidade dos documentos que a devedora apresentou.

O entendimento acima exposto se justifica pelo fato de o deferimento da recuperação judicial após análise de documentos não se confunde com a concessão da recuperação judicial, uma vez que este somente se dá após a homologação do juiz do plano de recuperação apresentado aos credores e aprovado na assembleia Geral, enquanto aquele ocorre após o exame formal dos documentos pelo juiz. Insta salientar que a não aprovação do plano pelos credores em assembleia gera a falência da empresa.

No entanto, com todo respeito, este entendimento não merece prosperar, pois no ato do deferimento do processamento da recuperação judicial, a

11 BRASIL. Tribunal de Justiça de São Paulo. Recuperação Judicial.

Agravo de instrumento nº 994.09.282242-5. Relator: Desembargador Manoel de Queiroz Pereira Calças, São Paulo 6, de abril de 2010.

recuperanda ganha um grande fôlego, uma vez que serão suspensas todas as ações e execuções por 180 (cento e oitenta dias).

Desta forma o juiz deve proceder à análise dos documentos, não somente análise formal, mas deve checar a realidade das informações, bem como a análise de fluxo de caixa, a fim de saber se a empresa merece o deferimento da recuperação judicial, vez que o beneficio somente deve ser concedido para empresas viáveis, para que fraudes sejam evitadas ou minimizadas.

É este o entendimento do D. juiz do Tribunal de Justiça de São Paulo, Alexandre Alves Lazzarini apud Renata W. Lancellotti (2010, p. 122):

Explora-se o trabalhador, dando-lhe falsa esperança da manutenção do emprego, manipulando os seus sentimentos; frauda-se o mercado, produtivo e financeiro, consumindo o que este fornece, sem que exista a real possibilidade de pagamento; onera-se indevidamente, por via reflexa, a empresa saudável12.

Destarte, atendendo as exigências impostas pela Lei nº. 11.101/05, o empresário poderá se socorrer do instituto da recuperação judicial para tentar sanar a crise.

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