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2. DA ESCRAVIDÃO AOS QUILOMBOLAS EM PALMAS, PR: FORMAÇÃO, DESENVOLVIMENTO, RESISTÊNCIA E TRABALHO.

2.2 DO DESENVOLVIMENTO DOS QUILOMBOLAS EM PALMAS.

O presente subtítulo fará uma incursão histórica da ocupação e povoamento da região sudoeste do Paraná e da localidade de Palmas para, então, buscar caracterizar o seu quilombo. Sobre o assunto inúmeros autores muito contribuíram com o estudo sistematizado do sudoeste paranaense, principalmente, Waschowicz (1987), Bernartt (2006), dentre outros.

Bernartt (2006) ressalta que o conflito é uma das características principais da região, dada sua formação, ocupação da propriedade e da posse da terra, uma vez que a região foi cenário de inúmeras disputas. Por exemplo, a Questão de Palmas, entre o Brasil e a Argentina, que em 1895 encontra um fim, pelo fato do sudoeste do Paraná integrar de uma vez por todas o território nacional do Brasil. E, também, da Guerra do Contestado de 1912 e de 1916 com a disputa entre Paraná e Santa Catarina pela região do Contestado, em que Santa Catarina vence o embate. No entanto, durante o governo de Getúlio Vargas há a garantia do domínio paranaense sobre as terras antes em conflito. (WACHOWICZ, 1987).

Especificamente sobre Palmas, em 1926 foi publicada uma revista pela Empresa Editora Brasil Roberto Capri em Curitiba com o título A cidade e o Município de Palmas em

1926. Segundo essa revista, em 1810 já havia notícias em Guarapuava da existência de uns

campos depois do sertão do rio Iguassu, atual rio Iguaçu, região conhecida como Palmas em razão da abundância de butiazeiros (coculus cineraceus). (CAPRI, 1926).

Oficialmente em 1836 havia notícias da existência de “selvagens” que segundo a revista lançavam mão de todos os meios para se manterem escondidos na região, como a traição, o roubo, o assassinato, etc. Apenas a partir de 1840 é que por meio de índios conhecedores da região de Palmas e então localizados em Guarapuava é que os exploradores conseguem iniciar o processo de fixação de residências e mais tarde oficializar a posse da terra. Sendo que em 04 de março de 1843, os “selvagens” são parcialmente derrotados. Mais tarde, há relato documental de que no dia 07 de fevereiro de 1855 houve novo ataque dos “selvagens” à localidade de Palmas, segundo documento do subdelegado de polícia da localidade de Palmas, direcionado para o delegado de polícia, documento do Arquivo Público do Estado do Paraná:

Informa o ataque dos índios “bravos” à fazenda do capitão Hermógenes Carneiro Lobo Ferreira e que, com eles, estava um escravo que havia oito meses fugira da fazenda do mesmo capitão. Durante o embate, morreram um escravo e um índio “manso”; solicita munição para a proteção da cidade de Palmas. (ARQUIVO PÚBLICO PARANÁ, 2005, p. 36).

Sobre o mesmo incidente corrobora o Juiz de Direito da localidade de Castro, que informa o Presidente da Província no dia 23 de fevereiro de 1855, da seguinte forma:

José Antônio Vaz de Carvalhaes, Juiz de Direito.Comunica o assalto dos índios à fazenda do capitão Hermógenes Carneiro Lobo Ferreira, resultando na morte de um escravo e de um índio. (ARQUIVO PÚBLICO PARANÁ, 2005, p.37).

São de extrema importância tais documentos, uma vez que trazem mais elementos comprobatórios de que junto aos índios, caracterizados primeiramente como apenas “selvagens” estavam associados alguns negros escravos fugidos.

José de Araújo Bauer, autor de Reminiscências Histórias de Palmas, de 2002, sobre os negros remanescentes de escravos declara que desde os tempos em que chegaram as bandeiras de José Ferreira dos Santos e Pedro Siqueira Cortes e que se estabeleceram na localidade a construção das sedes de fazendas foi realizada por escravos trazidos pelos bandeirantes, ao afirmar que: “a mão escrava foi a que mais contribuiu no desempenho das moradias, arrancando pedras dos morros e transportando-as até o local da obra, em carretão e zorras puxados por bois, ou mesmo pelo próprio punho do escravo”. (BAUER, 2002, p. 153)

Até os dias atuais é comum ainda na região a existência de grandes casas construídas com pedra bruta e vários quilômetros de taipas de pedra que servia como divisa ou para construir mangueiras nas sedes das fazendas.

Além disso, os trabalhadores escravos faziam roças para o custeio e serviços de campeiros e doma animal. Já as trabalhadoras escravas prestavam serviços domésticos, como cozinheiras, tiradeiras de leite, fazedoras de queijos e fabricação de farinha de milho de monjolo.

O autor, ainda, cita alguns nomes de remanescentes de escravos seus filhos, netos e descendentes que conheceu. E conclui com as seguintes palavras: “Portanto, é nosso dever relembrar e valorizar, enaltecer e agradecer ao antigo escravo que veio ajudar a desbravar esta imensa campanha de Palmas.” (BAUER, 2002, p. 154).

Interessante que o autor coloca de uma forma como que se o escravo fosse convidado a vir para a região para ajudar no trabalho, como se inexplicavelmente a escravidão havida na região tenha sido diferente. De fato, percebe-se a insistência em declarar que escravizados e escravizadores eram amigos e que conviviam em harmonia. Como já visto, houve ataques de índios e negros escravos fugidos contra latifundiários além de outros tantos incidentes.

Em suma, a escravidão em Palmas, como em outras localidades, foi opressora, cruel e exploradora. Inúmeras foram as atrocidades contra os negros escravizados, usadas para mantê-los sob o jugo do trabalho escravo. Relegam-se ao esquecimento os registros de inúmeros negros escravos que foram compulsoriamente trazidos para trabalhar na localidade,

ou que na região nasceram, agonizaram e morreram, seja pela precariedade do trabalho e das condições ambientais a que estavam sujeitos, seja pela mão cruel do escravizador.

Portanto, insuficientes são as informações sobre os escravos negros durante o império e seus descendentes após a abolição da escravatura na localidade.

No próximo subcapítulo buscar-se-á abranger o trabalho relacionado ao quilombo e ao quilombola.