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Do discurso da loucura para as condições de um discurso da inclusão

PARTICIPANTES DA PESQUISA:

2 INCLUSÃO: RESPEITO À DIVERSIDADE OU RECONHECIMENTO ÀS DIFERENÇAS?

2.1 Do discurso da loucura para as condições de um discurso da inclusão

A evolução do processo de inclusão das pessoas com deficiência está vinculada, por um lado, ao processo de interesses do contexto político e econômico e, por outro, às conquistas dos movimentos sociais. Cada época, se forem tomadas como objeto de análise as fases do processo

de inclusão desde a exclusão total, ao processo de segregação, integração e, enfim, ao processo de inclusão propriamente dito nos tempos atuais, busca sustentação em seu discurso próprio.

Diante dessa constatação, realiza-se, neste estudo, um exercício de analogia desse discurso da inclusão das pessoas com deficiência com o da loucura, apontado por Foucault (1978, 1996) em seus estudos, com o entendimento de que cada época tem sua forma de verdade e considera aquilo que lhe é adequado e próprio ao seu contexto. Para esse filósofo, essas verdades são produzidas historicamente, pois a divisão por contextos históricos

[...] deu sem dúvida sua forma geral à nossa vontade de saber. Mas não cessou, contudo, de se deslocar: as grandes mutações científicas podem talvez ser lidas, às vezes, como consequências de uma descoberta, mas podem também ser lidas como a aparição de novas formas na vontade de verdade. Há, sem dúvida, uma vontade de verdade no século XIX que não coincide nem pelas formas que põe em jogo, nem pelos domínios de objeto aos quais se dirige, nem pelas técnicas sobre as quais se apoia, com a vontade de saber que caracteriza a cultura clássica (FOUCAULT, 1996, p. 16).

O que Foucault (1996) apresenta nesse texto desperta para se refletir o quanto há nesse deslocamento da verdade de um período da história para outro. A busca para se afirmar o que é “verdade” para um certo momento da história, descontinuamente, pode não considerar os mesmos indicadores para outro momento. E esse fato foi que o levou a estudar o discurso da loucura.

Foucault (1978) faz reflexões sobre o discurso na condição da loucura diante das condutas humanas de cada momento histórico e apresenta na obra “História da Loucura na Idade Clássica” que a loucura não é uma condição biológica, mas cultural, resultante da progressiva medicalização da condição da pessoa denominada louca. Durante os vários períodos da história da humanidade, o discurso da loucura foi se transformando socialmente. Na idade média, por exemplo, era um discurso visionário, profético. O louco era quem fazia as profecias. Já no período do Renascimento, a verdade abarcava tudo que estivesse dentro da razão, tomada como única verdade, e o que fosse outra “verdade” era considerado loucura.

Entre os séculos XVI e XVII, a partir de Descartes, o louco foi considerado quem estava fora da razão. Mudou-se totalmente o discurso, saindo do domínio de quem antes era dotado de razão para uma situação que o colocava alheio à realidade. O discurso do louco passou a ser silenciado, ignorado socialmente. Como suas ações não eram condizentes com as regras estabelecidas socialmente, ou seja, com as normas, o louco passou a ser o criminoso, e, por isso, confinado em territórios que o segregava da sociedade: em hospícios e hospitais. “A partir da metade do século XVII, a loucura esteve ligada a essa terra de internamentos, e ao gesto que

lhe designava essa terra como seu local natural” (FOUCAULT, 1978, p.55). Todos que não se adequavam aos padrões da normalidade eram considerados loucos.

A partir do século XVIII, o louco passa a ser tratado como doente, não sendo só silenciado no seu discurso, mas, também, medicado51, porque foge aos padrões do que é dito

como verdade. O louco não é mais um criminoso, mas um doente, distante da normalidade social. Sendo assim, os médicos passam a representar o poder da razão sobre a loucura. É na psiquiatria que o discurso médico passou a agir sobre o discurso da loucura. O louco não é mais visto como um sujeito, mas apenas um doente.

É nessa relação entre os vários enunciados decorrentes do discurso da loucura que analisamos, neste texto, o discurso da inclusão das pessoas com deficiência. Assim, nas diferentes fases dos discursos de inclusão, verifica-se que as pessoas com deficiência também se enquadraram aos moldes dos contextos de produção dessas verdades, nos quais são os saberes que as definem. Nesse processo, entretanto, não é possível ignorar que esses saberes estão relacionados às relações de poder, que, por sua vez, constituem os sujeitos como eles devem ser, ou no que de fato são, de acordo com os discursos que os constituem. Esses discursos são tomados como verdades e, no contexto da história, ocorrem de forma descontínua, mas se materializam,

[...] de sorte que o tênue deslocamento que se propõe praticar na história das ideias e que consiste em tratar, não das representações que pode haver por trás dos discursos, mas dos discursos como séries regulares e distintas de acontecimentos, este tênue deslocamento, temo reconhecer nele como que uma pequena (e talvez odiosa) engrenagem que permite introduzir na raiz mesma do pensamento o acaso, o descontínuo e a materialidade. (FOUCAULT, 1996, p.59).

A inclusão educacional, neste caso, conforme apresentado no primeiro capítulo deste trabalho, representa uma fase do discurso do processo de inclusão que se ancorou nos moldes do sistema capitalista e que, nesta relação do poder sobre os sujeitos e o trabalho, condicionou o público da Educação Especial a ser incluído nos sistemas de ensino para terem acesso ao saber

51 Foucault (1978) utiliza a palavra medicação no sentido da cura. Mas na abordagem crítica estudiosos da

Medicina utilizam a palavra medicalização, que tem como princípio corrigir o desvio, o que sai da normalidade. Assim, se cura e vence o desvio, o que era anormal, trazendo o sujeito novamente para dentro de um conjunto de valores e conhecimentos reconhecidos como verdade para o grupo de poder de cada época. Mesmo não tendo utilizado o conceito de medicalização diretamente, Foucault abordou que a medicina é uma estratégia de poder/saber, um dispositivo social e tecnológico que a partir do século XVIII tem a medicalização como emergente, um dispositivo controlador para a manutenção do equilíbrio social e correção do que fosse considerado desvio para a ordem do capitalismo (CARVALHO et al., 2015).

escolarizado. Contudo, os discursos da igualdade de acesso ao saber, do respeito às diversidades dos sujeitos e das diferenças são aqueles que marcam as condições de existência de cada sujeito. Para Foucault (2005, p. 250), quanto mais se busca um saber, mais fácil é exercer a dominação por meio de um discurso, pois “não se trata simplesmente de discurso e de verdade, mas igualmente de poder, de status, de interesses econômicos”. Assim é que o discurso da loucura foi sendo transformado ao longo da história. Então, o discurso da inclusão das pessoas com deficiência, de acordo com os interesses das classes dominantes, dos detentores do capital, também foi sofrendo suas transformações, passando por suas fases. Do mesmo modo, a contextualização das pessoas com deficiência expandiu-se da fase da segregação para a integração e disseminou-se na fase do discurso da inclusão, materializado no contexto contemporâneo.

O deficiente, o aleijado, o surdo-mudo, o cego, o débil mental, o portador de deficiência, enfim, diferentes denominações foram usadas historicamente para se referirem às pessoas com suas dificuldades e especificidades. Pessoas com direitos, pessoas que se constituem como sujeitos na sociedade, mas que, segundo Foucault (2005, p.12), estão condicionadas no paradoxo dos “saberes sujeitados”, que articulam, de um lado, os saberes que são as verdades, com aqueles que são excluídos da verdade, tomados como aqueles que não necessitam ser impostos aos sujeitos.

Nesse paralelo entre o discurso da loucura e o discurso das pessoas com deficiência no aparato da inclusão, reforça-se que é a singularidade da diferença que marca esses sujeitos. São as diferenças deles em si que são relevantes, e não aquelas demarcadas pela comparação entre os sujeitos, como foram balizadas pelo paradigma da normalidade. Logo, foi a percepção de suas diferenças relacionadas ao distanciamento dos parâmetros do normal que referenciaram esses sujeitos a denominações excludentes dos contextos de vida social, tomando-os como doentes (os loucos) e diferentes (aqueles com deficiência).

O discurso da educação inclusiva tornou-se um discurso de verdade nos tempos atuais, e o processo de escolarização é “pautado na ciência, enquanto uma verdade constituída historicamente” (SILVA, 2012, p. 15). Surgem, então, os sujeitos que se submetem a esse discurso, aqueles que são incluídos no processo de escolarização e os que devem se incluir. Devem tornar-se submissos a essa verdade, agora constituída como tal, para não serem ditos como loucos, contrários ao que é apresentado pelo discurso social, político e econômico definido como parâmetro neste momento histórico.

Como apresentado antes, não se pretende, aqui, afiliar-se a um posicionamento de ser contra ou a favor ao movimento da inclusão educacional. O foco é a preocupação de demonstrar

que é possível problematizar o processo de materialização desse discurso e os porquês de ter ou não que incluir a todos no espaço escolar regular, constituído como legítimo na sociedade contemporânea.

O fato é que o paradigma de uma cultura da normalidade está imposto, assim como no discurso da loucura, também no discurso da inclusão educacional das pessoas com deficiência. Até que ponto incluir os loucos e/ou as pessoas com deficiência numa sociedade fundada no paradigma da normalidade é natural para esses sujeitos? Ou até que ponto tal processo não lhes é violento? Com essas questões, busca-se refletir sob o paradoxo do discurso da diversidade que trata a todos como iguais, e o discurso da diferença, que, na inclusão, como se encontra colocado, associa-se à deficiência; não na diferença por si mesma, mas resultante de um processo de comparação a uma referência.

Nessa mesma direção, na reflexão de Neves (2013), considera-se, neste estudo, o que a inclusão exige dos sujeitos que são incluídos em instituições sociais como as escolas e/ou em outros ambientes sociais. Essa realidade promove inquietações provocadas por termos utilizados no contexto educacional de forma generalizada e pouco dimensionados aos seus sentidos e significados; ali, o que é tomado como o diferente, o que é estranho ao ambiente escolar é denominado de público da inclusão. O que significa para um estudante ser tomado como um estranho, indesejado, inadequado ao que se espera na escola?

Neves (2013, p. 82) prossegue com sua provocação:

[...] nesta perspectiva, o embate entre o velho conhecido lema da boa ação, do ato politicamente correto e da causa nobre é enunciado por sujeitos e instituições que, também frágeis e inseguros diante da assombrosa demanda por inclusão cambaleiam. Incluir o que? Quem? Como? A questão ainda mais perturbadora é incluir onde. E a resposta ousada aqui é: parece fundamental incluir o outro, o diferente, antes de tudo, dentro de nós!

Depreende-se, então, que a inclusão das pessoas público da Educação Especial no contexto escolar é um desafio posto pelo discurso social da atualidade. O envolvimento dos sujeitos nessa conjuntura impetra, nos dizeres de Foucault (1996), sobre os controles do discurso, pois há interdições que controlam o que pode e o que não pode ser dito.

E os sujeitos incluídos, aqueles tomados como os “diferentes” diante de um padrão que normaliza comportamentos, condutas sociais, linguagens e outras condições que denominam um grupo, são colocados diante dos que possuem as atribuições de incluí-los, no caso, os professores e as demais pessoas consideradas normais no discurso da normalidade, do padronizado, e, desse modo, promoverem o processo da inclusão.

Assim como os loucos foram para os hospícios, as pessoas com deficiência foram para as escolas. Os loucos foram tratados segundo o que a ciência medicinal determinou ser o correto, disciplinando o seu corpo de forma a tomá-los como dóceis52. As pessoas com

deficiência foram para as escolas, como público da Educação Especial para serem disciplinadas e tomadas, nesse disciplinamento, como dóceis, igualadas em suas diferenças, por meio do discurso de não serem discriminadas por elas. Porém, essas diferenças são associadas à sua condição de deficiência.

A inclusão educacional já está posta, e com ela,

[...] diante das multiplicidades e de tudo que elas podem oferecer à experimentação do aprender, grudou-se a ideia de diferença à de diversidade e a ideia de inclusão à de deficiência. A deficiência sendo atada à diversidade, criou-se a ponte entre inclusão e diferença... São conceitos criados em redes, com sentidos e práticas governados, movimentando práticas de governamento na escola e em torno dela (ROOS, 2011, p. 13)53.

Nessa situação, ao se negar esse discurso de inclusão no contexto escolar, ou se é tido como louco, e tem seu discurso ignorado, ou se assume o sujeito público da Educação Especial na escola, cujo discurso também fica interditado, pois não se pode dizer o que se pensa sobre as circunstâncias de como essa inclusão ocorre. Nesse movimento, tanto os incluídos quanto os que incluem são, consequentemente, enquadrados nos propósitos dos discursos inclusivos. Nesse processo, o sujeito submete-se ao discurso hegemônico da inclusão, que não é seu, mas parte do movimento que o torna “assujeitado”54 nas condições que são postas como adequadas

para o momento econômico e político do contexto no qual se encontra imerso.

Quando Foucault (1978, 1984, 1996, 2005), em seus diversos estudos, apresenta reflexões sobre a conduta humana na condição da loucura, expressivamente ela é destacada no âmbito de que louco é aquele que foge da normalidade. Eis que o filósofo focaliza na anormalidade para argumentar os discursos que sustentam esse tipo de verdade.

A normalidade está centrada no que está dentro de um padrão estabelecido, no que é ideal, no que é aceito dentro das expectativas de um discurso hegemônico de comportamento.

52 Foucault (2014), ao estudar as formas de tratamento dos ditos criminosos nas prisões, trata no contexto da

disciplina do corpo que este é exercido de um poder que o controla de forma a torná-lo dócil, obediente aos comandos de quem exerce esse poder.

53 Grifos da autora.

54 O sujeito se constitui na condição de ser subjugado às influências dos discursos de um contexto social e histórico.

Na concepção de Fischer (1999, p. 47), os estudos de Foucault sobre os conceitos de sujeito, sujeição, assujeitamento e subjetivação estão ligados ao contexto da exclusão e do “do enclausuramento, do poder sobre os corpos, da interminável vontade de saber do homem ocidental”.

Então, Foucault, ao contrário, prima pelo discurso da anormalidade para justamente contrapor a questão da diferença vista por detrás da cultura da normalidade.

As pessoas com deficiências, no decorrer dos séculos, foram mortas e extintas por fugirem de um certo padrão de sociedade, de uma crença religiosa específica. Depois, foram vistas e pensadas, a partir de discursos que poderiam ter relações com o esoterismo, com saberes cósmicos, como foi o discurso adotado no século XVI. Entretanto, com o avançar do século XVII, essas pessoas passaram a ser consideradas loucas, foram institucionalizadas em ambientes que não tinham como objetivos curá-las, mas as segregar perpetuamente do convívio social. Tem surgimento, aí, a figura de um hospital psiquiátrico ou um hospício, criado para tirar do convívio social aqueles que têm discursos que precisam ser silenciados e/ou ignorados: “[...] uma instituição de assistência aos pobres. Instituição de assistência e, como também de separação e de exclusão” (FOUCAULT, 1984, p. 101).

Essa é uma razão evocada no discurso da inclusão, que busca reverter a visão da segregação de forma a colocar no convívio social aqueles que antes eram expulsos por causar um certo ar de estranheza num ambiente composto de diversos comportamentos, diversos discursos, no entanto, aceitos e valorizados socialmente. Cabe, assim, nesse novo discurso hegemônico da inclusão, a aceitação do “diferente” sem olhar para suas diferenças. Tal conjuntura contribui para que se construa uma realidade nos padrões que almejam os autores desse discurso.

Mas a campanha da inclusão escolar das pessoas com deficiência depara-se com suas incoerências. O espaço escolar passou a ser o local de enclausuramento dos estudantes com deficiência. Antes, estavam em escolas especiais, pensadas prioritariamente para sua condição de “deficiente”. Agora, estão nas escolas de ensino regular, que não foram pensadas para todos os sujeitos, mas foram pensadas na referência de um sujeito que se encaixe nos parâmetros da normalidade.

Escolas especiais foram fechadas, famílias, estudantes e profissionais da educação, contrários a essa norma, tiveram que se submeter à norma vigente de incluir a todos, tratando as suas diferenças como iguais. Houve uma ruptura violenta da cultura de convivência dos estudantes das escolas especiais para a inclusão nos espaços das escolas regulares. Professores, demais estudantes e profissionais da escola tiveram de se adequarem às condições de receber esse público na escola assim como os estudantes com deficiência tiveram que se adaptarem para serem recebidos nestes espaços sem o mínimo de adequação para atendê-los. Um currículo que fora pensado na cultura da normalidade teve de ser costurado por demandas anexadas a partir da necessidade dessa inclusão. Uma escola que invés de se adequar para receber estes

estudantes, ao contrário, nas práticas discursivas apresentou-se na necessidade de adequação por parte dos estudantes com deficiência ao seu meio.

As pessoas com deficiência foram se adequando ao meio, enquanto, ao contrário, ele teria que se adequar a elas. Mas até que ponto essa adequação lhes é propícia? Alguns estudantes desse público recebem o mérito de sua capacidade de superação. Outros, não conseguindo tal capacidade, são assim aglutinados ao fracasso escolar porque a meritocracia não lhes foi concedida em virtude de a escola não buscar meios em prol desta concessão.

Nesse sentido, a inclusão educacional, quando relacionada ao público da Educação Especial, coloca-o em um cenário no qual passa a ser sujeitado, nos dizeres de Foucault (2005), pelas e para relações de poder que, a partir de então, serão envolvidas no processo de incluir.

Sob controle, a loucura mantém todas as aparências de seu império. Doravante, ela faz parte das medidas da razão e do trabalho da verdade. Ela representa, superfície das coisas e à luz do dia, todos os jogos da aparência, o equívoco do real e da ilusão, toda essa trama indefinida, sempre retomada, sempre rompida, que une e separa ao mesmo tempo a verdade e o parecer. Ela oculta e manifesta, diz a verdade e a mentira, é luz e sombra (FOUCAULT, 1978, p. 49).

Dizer que o discurso da inclusão se encaixa nos moldes do discurso da loucura, como evidenciado nas palavras de Foucault na citação anterior, possibilita enxergar que os saberes são formas de disciplinar, de controlar e de dominar as relações de poder. Por assim dizer, incluir os estudantes com deficiência nas condições de uma escola brasileira de ensino regular é uma realidade vinculada à crença de que esses estudantes não estão segregados em outros ambientes. Porém, é condição, também, de/para manter a aparência de que todos estejam envolvidos num mesmo espaço, submetidos a um mesmo processo de ensino e de aprendizagem, negadas ali as condições de suas diferenças para serem incluídos no processo de escolarização.

Nesse movimento, o que une e separa é a verdade construída para se efetivar a inclusão. O que interessa é tê-los ali na sala, colocados no ambiente que supostamente promove a sua inclusão, para disfarçar sua exclusão nas atitudes de quem não os enxerga, não os incorpora no contexto do todo, ficando sempre imersos em uma esmagadora convivência escolar, submetidos numa condição à parte da rotina escolar.

Incluir é uma ação de controle, de governamento. Os estudantes estão todos na escola, capturados no espaço da sala de aula, e as relações de poder são expressas entre eles e os professores, sendo os docentes os detentores do poder hegemônico. Mas esse poder age em

redes, e os docentes também são capturados pelo poder que dita as regras do que ensinar, a quem ensinar e como ensinar. O currículo coloca-se como um dispositivo que facilita as ações de governamento. Então, todo esse conjunto de ações de governamento constitui-se no que Foucault chama de governamentalidade (VEIGA-NETO; LOPES, 2007).

Por conseguinte, pode-se afirmar que o processo da inclusão educacional é parte do discurso da globalização, do mercado, do capitalismo, que precisa desse perfil de consumidores para o processo contínuo da manifestação do/e poder para seu controle enquanto cidadão do