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Do exílio aos últimos anos (1934-1961)

2.1 História de vida e percurso intelectual

2.1.3 Do exílio aos últimos anos (1934-1961)

Na Dinamarca Korsch residiu na cidade de Svendborg, vizinho à residência de Brecht, no entanto, rapidamente partiu para a Inglaterra em busca de trabalho considerando que conseguiria algum posto em função de seus contatos nesse país. Contudo, esbarrou na contumaz perseguição que sofreu por parte dos bolcheviques da Inglaterra que o denunciaram por mais de uma vez ao Home Office (Ministério do Interior) Inglês, sob o argumento de que Korsch não era judeu e, portanto, não tinha motivos para sair da Alemanha do modo como saiu, o que o tornava suspeito de ser um agente nazista.

De seu breve exílio anglo/danês o resultado de maior destaque possivelmente tenha sido a encomenda feita pela London School of Economics (Escola de Economia de Londres)

em que é preso e executado por fuzilamento. Para uma biografia completa de Miasnikov consultar: BOURRINET, 2002. Os escritos de Korsch sobre Miasnikov em 1929 foram: Material zur Frage der Auslieferung des politischen Flüchtlings Gabriel Mjasnikow (Material sobre a questão da extradição do refugiado político Gabriel Myasnikov); Mjasnikow; Was ist mit Mjasnikow? (Quem é Miasnikov?); Kampf um Leben und Freiheit des Arbeiterrevolutionärs Mjasnikow (Luta pela vida e liberdade do operário revolucionário Miasnikov); Zu “Neues über den Genossen Gabriel Mjasnikow“ (Novidades sobre o camarada Gabriel Myasnikov); Neue Gefahren für den verfolgten Arbeiterrevolutionär Gabriel Mjasnikow (Novos riscos para o operário revolucionário perseguido Gabriel Myasnikov). (cf. KORSCH, 1996, p. 114, 118, 133, 161,165 e 186).

32 Dramaturgo, poeta e encenador. Seus trabalhos artísticos e teóricos influenciaram profundamente o teatro

contemporâneo. Os laços de amizade pessoal e camaradagem política entre Brecht e Korsch começaram a se formar em 1928, quando, em Berlim, o segundo assistia as atividades artísticas do primeiro e Brecht frequentava as conferências proferidas por Korsch.

para que ele escrevesse um livro sobre Karl Marx. Publicado em inglês pela primeira vez em 1938, Karl Marx foi pensado por Korsch enquanto expressão de sua própria interpretação do pensamento de Marx, ao invés de um resultado de pesquisa acadêmica ou como fruto de uma ação militante.

Sobre a metodologia adotada por Korsch para elaborar esta obra, Langkau (1981), responsável pela introdução à publicação do original alemão de Karl Marx, presta alguns esclarecimentos complementares. No esboço original da obra constava a intenção de Korsch em escrever uma ampla exposição crítica do marxismo em seu desenvolvimento histórico, pelo procedimento de separar o “vivo” do “morto” conforme ele já havia realizado em suas conferências proferidas em Berlim em 1932-33. Caminho descartado em favor do método de interpretação por seleção, justificado por Korsch em duas cartas a Paul Mattick (a primeira escrita antes de começar e a segunda após concluir o trabalho),33 nas quais explicitou que sua pretensão era reunir livremente em parágrafos, e sem muita polêmica, o que considerava ser o mais valioso do Marxismo, evitando falar diretamente contra Marx, sua teoria e sua política. Korsch reconheceu ainda que essa escolha metodológica ocasionou certas dificuldades de exposição.

A vida conturbada não paralisou a produção de Korsch. Pelo contrário, entre os anos de 1932 a 1934, não se percebem entre seus escritos traços de suas agruras pessoais e sim são reveladores de sua maturidade histórico-política. Foi nesse período que produziu várias resenhas de livros para a Revista de Pesquisa Social editada por Max Horkheimer (1895-1973)

34, além de ter produzido textos como Zur Neuordnung der deustschen Arbeitsverfassung (A

reorganização das relações de trabalho alemãs – 1934) para publicações de setores do

33 Cf. KORSCH, 2001a, p. 584-586, 700-706.

34 Filósofo e professor. Em 1930 sucedeu o historiador austríaco Carl Grünberg na direção do Instituto para a

Pesquisa Social, fundado em Frankfurt em 1923 e instituição sede da chamada “Teoria Crítica”. Suas formulações, em especial sobre a “Razão Instrumental”, juntamente com as teorias de Theodor Adorno e Herbert Marcuse compõem o núcleo fundamental daquilo que se conhece por “Escola de Frankfurt”. Os escritos de Korsch para a revista em 1932 foram:Ernst H. Posse: Der Marxismus in Frankreich 1871-1905 (Ernst H. Posse: o marxismo na França 1871-1905); Carl Schmitt: Der Hüter der Verfassung (Carl Schmitt: O guardião da Constituição); W. I. Lenin: Über den historischen Materialismus (W. I. Lenin: sobre o materialismo histórico); Julius Schaxel: Das Weltbild der Gegenwart und seine gesellschaftlichen Grundlagen (Júlio Schaxel: A visão de mundo do presente e seus fundamentos sociais); Philipp Frank: Das Kausalgesetz und seine Grentzen (Philipp Frank: A lei causal e seus limites). Em 1933, Korsch escreveu: Michael Freund: Georges Sorel. Der revolutionäre Konservatismus (Michael Freund: Georges Sorel. O conservadorismo revolucionário), e no ano de 1934 foram: Ernest Wilhelm Eschmann: Vom Sinn der Revolution (William Ernest Eschmann: O Significado da Revolução); Juan Donoso Cortés: Der Staat Gottes (Juan Donoso Cortés: O Estado de Deus); F. O. H. Schulz: Untergang des Marxismus (F. O. H. Schulz: o fim do marxismo); Wilhelm Tempel: Aufbau der Staatsgewalt im faschistischen Italien (William Tempel: Estrutura do poder de Estado na Itália fascista); W. Milne-Bailey: Trade Unions and the State/Report on Collective Agreements between Employers and Workpeople in Great Britain and Northern Ireland (W. Milne- Bailey: Sindicatos e Estado / Relatório sobre acordos coletivos entre empregadores e trabalhadores na Grã- Bretanha e Irlanda do Norte); J. T. Murphy: Preparing for Power (J. T. Murphy: Preparação para o Poder).

movimento operário com os quais mantinha afinidades e se identicava politicamente, nessa mesma linha incluem-se artigos de crítica programática como On the new programm of the “American Workers Party” (Sobre o novo programa do “Partido dos Trabalhadores Estadunidenses” - 1935) e sobre as crises capitalistas como Remarks on the thesis Regarding the Next World Crisis, the Second World War and the world revolution (Observações sobre as teses relativas à próxima crise mundial, à Segunda Guerra Mundial e à Revolução Mundial), publicados originalmente nas revistas editadas por Paul Mattick (1904-1981). 35

Em 1935, como parte de um simpósio, Korsch publicou Why I am a Marxist (Por que sou marxista), escrito no qual expõe sua visão do marxismo. Seu enfoque concentrou-se nos aspectos operativos da teoria e da prática marxistas que pudessem ser isolados para servir de orientação para o pensamento e a ação naquele momento. Com tal critério, e tendo registrado que nenhum dos pontos que relacionou foi devidamente reconhecido ou aplicado pela maioria dos marxistas, enumerou os pontos essenciais do marxismo:

1. Todas as proposições do marxismo, incluindo as aparentemente gerais, são específicas. 2. O marxismo não é positivo, e sim crítico. 3. Seu objeto de estudo não é a sociedade capitalista existente em seu estado afirmativo, mas a sociedade capitalista decadente tal como se revela nas tendências operativas demonstráveis de sua bancarrota e destruição. 4. Seu propósito primordial não é o desfrute contemplativo do mundo existente, mas sua transformação ativa (praktische Umwaelzung). (KORSCH, 1979q, p. 84).36

O primeiro ponto se volta contra os que sustentavam que as contradições entre as forças produtivas materiais e as relações de produção eram um princípio “supra-histórico” que continuaria válido mesmo em uma sociedade sem classes. Isto significa que, na interpretação que Korsch faz de Marx, não há que se falar, por exemplo, de economia em si, política em si, arte e cultura em si mesmas ou direito em si, mas sim de uma “descrição detalhada das relações definidas que existem entre os fenômenos econômicos definidos em um nível histórico definido de desenvolvimento e fenômenos definidos que aparecem simultânea ou subsequentemente em qualquer outro campo do desenvolvimento político, jurídico e intelectual.” (KORSCH, 1979q, p. 89).

35 Operário metalúrgico. Revolucionário social e escritor marxista autodidata, autor de mais de 500 trabalhos, ao

longo de toda a sua vida foi um crítico, em profundidade e amplitude, de Lênin e do bolchevismo na perspectiva do comunismo de conselhos e da esquerda comunista. As revistas que editou foram: Internacional Council Correspondence (Correspondência Conselhista Internacional) de 1934 a 1937; Living Marxism (Marxismo Vivo) de 1938 a 1941, e New Essays (Novos Ensaios) de 1942 a 1943. (MENDONÇA, 2012).

36 1. Todas las proposiciones del marxismo, incluyendo aquellas aparentemente generales, son específicas. 2. El

marxismo no es positivo, sino crítico. 3. Su objeto de estudio no es la sociedad capitalista existente en su estadio afirmativo, sino la sociedad capitalista decadente tal como se revela en las tendencias operativas deomnstrables de su bancarrota y destrucción. 4. Su propósito primordial no es el disfrute contemplativo del mundo existente, sino su transformación activa (praktische Umwaelzung).

O segundo ponto volta-se contra os que concebem o marxismo puramente como um sistema científico, desvinculado de objetivos socialistas e sem implicações para a prática, uma “teoria das leis do devir social”. Nesse sentido Korsch é categórico: “A teoria marxiana não constitui uma filosofia materialista positiva nem uma ciência positiva. Do princípio ao fim, é uma crítica tanto teórica quanto prática da sociedade existente”. E precisa o seu conceito de “crítica” (Kritik):

A Kritik não deve ser entendida em sentido idealista mas como crítica materialista. Inclui, do ponto de vista do objeto, uma pesquisa empírica, “conduzida com a precisão da ciência natural”, de todas as suas relações e desenvolvimento, e do ponto de vista do sujeito, um registro de como os desejos impotentes, as intuições e as demandas dos sujeitos individuais se convertem em um poder de classe historicamente efetivo que conduz à “pratica revolucionaria” (práxis). (KORSCH, 1979q, p. 90, destaques de Korsch). 37

O terceiro ponto esclarece que o marxismo, por não perder a perspectiva de seus objetivos práticos, não tem a pretensão de erigir um sistema de conhecimento unificado. Isso significa que, enquanto teoria, o marxismo não está interessado em tudo e, mesmo por aqueles objetos pelos quais se interessa, o faz de modo desigual. Korsch especifica que o marxismo se interessa fundamentalmente pelos fenômenos e inter-relações da vida histórica e social. Esta superioridade sociológica não deve ser estendida ao campo das ciências naturais. Mesmo no âmbito sociológico a interpretação korschiana do marxismo destaca que tem primazia “as discrepâncias, falhas, carências e desajustes de sua estrutura” e o estudo das crises enquanto elemento normal do funcionamento capitalista, assim como no âmbito superestrutural interessam mais ao marxismo os pontos de fragilidade, as fissuras e fendas que possam ser observados de modo a revelar ao proletariado os pontos em que sua ação prática pode incidir para provocar a ruptura na estrutura social.

O quarto e último ponto sustenta que o adepto do marxismo deve subordinar o conhecimento teórico aos fins da ação revolucionária, e que a teoria elaborada por Marx era revolucionária tanto em conteúdo quanto em método. Desse modo, a tarefa atual dos marxistas consistiria em dar à teoria de Marx “sua forma e expressão correspondente e, assim, estender e atualizar a luta revolucionária do proletariado.” (KORSCH, 1979q, p. 99).

Em dezembro de 1936, Korsch emigrou para os EUA inaugurando uma nova fase em sua trajetória. Inicialmente procurou dialogar e compreender a evolução do capitalismo e

37 La Kritik debe ser entendido no en un sentido simplemente idealista sino como una crítica materialista. Incluye,

desde el punto de vista del objeto, una investigación empírica, “conducida con la precisión de la ciencia natural”, de todas sus relaciones y desarrollo, y desde el punto de vista del sujeto, un registro de cómo deseos impotentes, las intuiciones y las demandas de los sujetos individuales se convierten en un poder de clase históricamente efectivo que conduce a la "práctica revolucionaria" (praxis).

da luta de classes em terras estadunidenses, embora rapidamente tenha percebido a força dos capitalistas e a debilidade do movimento operário nos Estado Unidos.

Korsch descartou qualquer previsão do rumo que os processos de transformação social assumiriam nos EUA, talvez por isso sua principal atividade desde então foi a de escritor, não se envolvendo em grandes atividades políticas. Contudo, manteve-se solícito para com os pequenos grupos políticos que o procuravam e, durante os anos da II Guerra Mundial, proferiu palestras em escolas militares.

Sem abrir mão de suas concepções marxistas, Korsch interessou-se pelos anarquistas. Não pelos anarquistas individualistas ou de estilo de vida,38 mas pelos trabalhadores e camponeses pobres anarquistas na Espanha republicana, pois no dizer de Paul Mattick:

Onde se puder encontrar ações independentes da classe proletária o marxismo revolucionário não estava morto. E o ponto crucial para o reaparecimento de um movimento revolucionário não é determinado pela adesão ideológica à doutrina marxista, mas pela ação autônoma da classe trabalhadora. Até certo ponto, esse tipo de ação ainda era praticada pelo movimento anarco-sindicalista. [...] Os anarquistas defendiam a liberdade e a espontaneidade, a auto-determinação e, portanto, a descentralização, colocavam a ação na frente da ideologia, e a solidariedade aos interesses econômicos. Precisamente estas eram as qualidades necessárias para um movimento socialista que aspirava influência política e poder em nações em que apenas o capital se desenvolvia. Para Korsch importava pouco se esta interpretação do marxismo revolucionário, rotulada de anarquismo, era fiel a Marx ou não. O importante, nas condições do capital no século XX, era se apoiar nestas atitudes anarquistas para ressuscitar o movimento operário. (MATTICK, 1973, p. 15-16).39

Sua atitude frente ao movimento revolucionário mundial, aos rumos da URSS mesmo após a morte de Stálin, foi de pessimismo. Embora mantivesse vivo interesse pelos acontecimentos na China, não viveu o suficiente para formar uma opinião fundamentada sobre a Revolução Chinesa e seus desdobramentos. Manteve o entendimento segundo o qual a Europa perderia cada vez mais influência no mundo e que, em sentido inverso, os jovens países, ex- colônias, se tornariam cada vez mais importantes no cenário internacional.

Realizou viagens à Europa e, na última delas, esteve na Iugoslávia, de onde teve uma impressão favorável, embora constatando um elevado grau de primitivismo no país que

38 Para conhecer esta polêmica interna ao campo do anarquismo, consultar: BOOKCHIN, 2010.

39 Allí donde podían encontrarse tales acciones independientes de la clase obrera, el marxismo revolucionario no

había muerto. Y el punto crucial de la reaparición de un movimiento revolucionario no se determina por la adhesión ideológica a la doctrina marxista, sino por la acción autónoma de la clase obrera. Hasta cierto punto, este tipo de acción aún era practicado por el movimiento anarcosindicalista. […] Los anarquistas defendían la libertad y la espontaneidad, la autodeterminación y por consiguiente la descentralización; anteponían la acción a la ideología, y la solidaridad a los intereses económicos. Precisamente éstas eran las cualidades que hacían falta a un movimiento socialista que aspiraba a la influencia política y al poder en naciones en las cuales sólo se estaba desarrollando el capital. A Korsch le importaba poco saber si esta interpretación del marxismo revolucionario tachada de anarquismo era fiel a Marx o no. Lo importante, bajo las condiciones del capital en el siglo XX, era apoyarse en estas actitudes anarquistas para resucitar el movimiento obrero.

fez com que Korsch duvidasse da durabilidade do processo da anunciada autogestão pelo qual a então Iugoslávia atravessava. 40

Em 1950, durante uma de suas viagens à Europa, Korsch elaborou um roteiro para uma palestra proferida em Zurique na Suíça intitulado Zehn Thesen über Marxismus heute (10 teses sobre o marxismo hoje). Não foram escritas para serem publicadas e sua divulgação deu origem a uma interpretação segundo a qual Korsch teria renegado o marxismo e que tais teses seriam a expressão definitiva do itinerário de seu pensamento.41 Na verdade as teses expressaram - com toda a radicalidade crítica e autocrítica - um esforço para adaptar o marxismo aos novos tempos, ampliando-o frente aos avanços das áreas científicas com profundas cargas de problematicidade e riqueza.

Sem dúvida que, ao iniciar a crítica das ortodoxias da II e III Internacionais (respectivamente social-democracia e bolchevismo), Korsch iniciou também uma crítica ao próprio marxismo que assume para ele um caráter de autocrítica. Contudo, para Korsch o marxismo continuava superior a qualquer outra teoria social, mesmo se considerado o seu fracasso como movimento social. Mas isso o conduziu

Não a abandonar o marxismo, mas a uma crítica marxista do marxismo, isto é, a uma maior proletarização do conceito de revolução social. E Korsch nunca duvidou que o período contrarrevolucionário seria historicamente limitado como qualquer outro, e que as novas forças produtivas da sociedade, incorporando-se em uma revolução socialista, acabariam por se reafirmar e elaborar a teoria revolucionária adequada às suas tarefas práticas. (MATTICK, 1973, p. 25).42

Foi também no exílio estadunidense que os temas do fascismo e da contrarrevolução mantiveram um espaço constante nas preocupações Korschianas. Seja no sentido de proceder a uma reconsideração dos fenômenos históricos que antecederam o advento do Nacional-Socialismo e na análise de sua estrutura (como nos textos Prelude to Hitler. The internal politics of Germany: 1918-1933 – Prelúdio a Hitler. A política interna da Alemanha: 1918-1933 de 1940, Notes on history. The ambiguities of totalitarian ideologies – Notas sobre a história. As ambiguidades das ideologias totalitárias, e The structure and practice of totalitarism. Estrutura e prática do totalitarismo, ambos de 1942); seja no sentido de pesquisar a contrarrevolução enquanto um fenômeno global que articula o fascismo com o capitalismo de

40 Para uma noção histórica da autogestão iugoslava consultar: QUEIROZ, 1982.

41 A autorização para a publicação das “10 Teses...” partiu de sua mulher Hedda (H. KORSCH, 1973, p. 128).

Assim elas apareceram pela primeira vez em francês no ano de 1959, e o original alemão em 1965 (cf. KORSCH, 1982b, p. 455 e 493).

42 No al rechazo del marxismo, sino a una crítica marxista del marxismo, es decir, a una mayor proletarización del concepto de revolución social. Y Korsch nunca dudó de que el periodo contrarrevolucionario seria limitado históricamente como cualquier otro, y que las nuevas fuerzas productivas de la sociedad, incorporándose en una revolución socialista, acabarían por reafirmarse y elaborar la teoría revolucionaria adecuada a sus tareas prácticas.

Estado da URSS (como nos textos “Revolução para quê?” de 1941 e Restoration or Totalization? – Restauração ou totalização? de 1946).

Tanto a crítica das ortodoxias marxistas quanto a questão do fascismo e da contrarrevolução serão abordadas com especificidade nos capítulos seguintes.

Em 1957, Korsch foi acometido por uma esclerose que o obrigou a passar seus últimos anos em um hospital psiquiátrico até sua morte em 21 de outubro de 1961 na cidade de Belmont, estado de Massachusetts, EUA. Desde então, cessou a produção de um cérebro e de uma vida que desde muito jovem sempre manteve o marxismo no centro de seus interesses. Exemplo disso nos forneceu sua mulher Hedda, ao mencionar que Korsch deixou incompleto um texto intitulado Manuscript of Abolitions (Manuscrito das Abolições), o qual foi uma tentativa de desenvolver uma teoria marxista da evolução histórica no sentido de eliminar as cisões que marcam a sociedade atual: entre classes sociais, entre o urbano e o rural e entre trabalho muscular e trabalho intelectual.

A obra e o pensamento de Korsch foram avaliados de distintas – e contraditórias - maneiras.

Kellner (1981, p. 100), referindo-se ao crescimento do interesse por seus escritos décadas depois de sua morte, admitiu que, em certo sentido, Korsch estava adiante de seu tempo e que o conjunto dos trabalhos que produziu “continuam desafiando e estimulando nosso próprio pensamento crítico.”

Buckmiller (1973, p. 107 e 124), considerou que no conjunto da obra de Korsch se produziu de modo singular “uma unidade entre teoria e práxis que, postfestum, aparece como o reflexo interno da tragédia histórica do movimento operário revolucionário, como manifestação da história concreta e suas alternativas, e não como um postulado meramente teórico.” E alerta que, em Korsch, existem “ambiguidades e debilidades epistemológicas”, se consideradas a partir do atual nível de desenvolvimento da teoria marxista, “que devem ser levadas em conta no momento de julgar o conjunto de sua obra.”

Por sua vez, Ferrero (2008), após registrar que lidar com o pensamento korschiano exige considerar sua “singularidade irredutível” e que, talvez, a maior importância de Korsch seja seu próprio exemplo de sempre adotar critérios próprios, seja nas polêmicas, seja como militante, aduziu que a principal importância de sua obra hoje reside mais nas linhas de desenvolvimento abertas por ele e na proposta que fez de uma nova teoria revolucionária do que por seu caráter crítico. “(...) seu pensamento global deve ser compreendido mais em seu sentido prático do que em suas manifestações particulares. Deste modo, há de ser considerada

como mais uma dentre as grandes contribuições à cosmovisão revolucionária, cuja elaboração é tarefa das gerações atuais.”

Gerlach (2008), preliminarmente ressaltou a importância de Korsch para as novas gerações de marxistas que pretendem refutar o marxismo dogmático e desenvolver uma “teoria adequada à situação moderna” (p.439), e destacou duas contribuições:

o discernimento de que a ‘autoatividade’ da classe operária é a precondição inevitável de sua emancipação, não importa quão grandes sejam as “contradições” do