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CAPÍTULO 1 – TRABALHO, CRISE DO CAPITAL E OS EFEITOS DELETÉRIOS PARA A

1.2. Do fordismo ao toyotismo: trabalho na conjuntura atual

No início do século XX, a necessidade crescente de acumulação do capital provocou a criação de um novo sistema produtivo, fundamentado numa racionalidade considerada inovadora para a época. O fordismo surge baseado na produção de mercadorias em massa, a partir de uma produção mais homogênea e vertical, cuja principal particularidade é a intensificação das formas de exploração da força de trabalho, que passa a ser organizado em uma escala rígida de produção, de maneira parcelar, com tarefas repetitivas e fragmentadas (ANTUNES, 2009). Nesse sentido, o fordismo consolida a real subsunção do trabalho pelo capital.

Com a racionalização do processo de trabalho, expressa pela combinação do fordismo com o taylorismo11, há uma intensificação da exploração da força de trabalho, a fim de extrair uma quantidade cada vez maior de mais-valia do processo de produção. No fordismo, a mais- valia é extraída de forma predominante, por meio do prolongamento da jornada de trabalho, isto é, em sua forma absoluta. Entretanto, há também a combinação com a mais-valia relativa, caracterizada pelo aumento do trabalho excedente e pela diminuição do trabalho necessário, por meio do incremento de máquinas e equipamentos (ANTUNES, 2009). Devido a estrutura do trabalho parcelado, realizado através da decomposição de tarefas, com um conjunto de ações repetitivas e fragmentadas, o trabalhador não se reconhece e não reconhece o produto de seu trabalho, o que acentua o processo de estranhamento e alienação.

No fordismo, também se destaca o compromisso firmado entre capital e trabalho, com mediação do Estado, denominado como pacto fordista, que se consubstancia com os acordos com trabalhadores em torno dos ganhos de produtividade do trabalho (BEHRING e BOSCHETTI, 2008). Segundo Antunes (2009), esse compromisso surge com a participação de sindicatos e partidos cooptados, com incremento da política keynesiana do Estado social, vigente nos países do capitalismo central. Todavia, esse modelo de produção não durou muito tempo. O fordismo entra em crise no final dos anos 60, motivado pela estagnação econômica e pela luta de classes. Os trabalhadores passam então a questionar o processo de trabalho fordista, marcado pela exploração intensiva, com técnicas de disciplinamento e coerção.

Como saída para o esgotamento do fordismo e da crise econômica vigente, o processo de acumulação capitalista precisa mais uma vez ser reinventado. O padrão de acumulação flexível surge como salvaguarda do capital, fundamentado na ideia da empresa “enxuta”, na produção com tecnologia avançada e com introdução de novas técnicas de gestão da força de trabalho. Passa então a prevalecer uma produção com característica mais flexível (ANTUNES, 2009), na qual ganha destaque o toyotismo, como modelo alternativo ao fordismo.

De acordo com Antunes (2011), o toyotismo é uma forma de organização do trabalho que surge no Japão, e possui como objetivo a produção diversificada, sendo a demanda que determina a quantidade do que será produzido, portanto, a produção é centrada no estoque mínimo. Através do chamado just in time, o toyotismo visa a ampliação e melhor aproveitamento da velocidade no ciclo produtivo, para que exista o aumento da produção de

11 De maneira sucinta, o taylorismo, criado pelo engenheiro norte-americano Frederick Taylor, pode ser

compreendido como uma forma da administração científica, cujo principal objetivo é o exercício do controle da força de trabalho, sob justificativa da eficiência e do destaque às tarefas no processo de produção.

valores de troca, combinado com a ideia falaciosa da qualidade total das mercadorias (ANTUNES, 2009).

As principais diferenças existentes entre o toyotismo e o fordismo podem ser resumidas da seguinte forma: a produção no toyotismo é variada e heterogênea, em contraposição a padronização do fordismo; o trabalho no toyotismo privilegia a participação coletiva ou em equipe, ao contrário do trabalho parcelado do fordismo; a produção no toyotismo é organizada a partir de um processo produtivo flexível, isto é, que o trabalhador pode operar diferentes máquinas; o toyotismo tem como princípio o melhor aproveitamento possível do tempo de produção, por meio do just in time; e por fim, o toyotismo tem estrutura horizontal, ao contrário da estrutura verticalizada do fordismo (ANTUNES, 2009).

O neoliberalismo propiciou a expansão do toyotismo em escala mundial, com adaptações de suas características originais, mas com manutenção de um denominador comum, a expansão da flexibilização da organização do trabalho, por meio da intensificação da exploração, combinando extração da mais-valia relativa e absoluta, e inserção de maquinário e tecnologias novas. Uma das principais consequências da lógica de produção toyotista são as transformações no mundo do trabalho, no que concerne a expansão da desregulamentação dos direitos do trabalho, precarização e terceirização da força humana, além da fragmentação da classe trabalhadora e da pulverização do sindicalismo (ANTUNES, 2009).

Dessa forma, sob a égide do capital financeiro, o trabalho na atualidade se apresenta cada vez mais de forma precária, flexibilizada e informal. Para Antunes (2005), há uma diminuição do trabalho fabril estável, em contraposição, ao aumento do proletariado terceirizado ou subcontratado. Existe ainda uma expansão da área de serviços, porém, com exclusão de significativa parcela da população do mercado de trabalho, isto é, jovens e idosos. Outra tendência é o aumento da força de trabalho feminino, contudo, com salário menores comparados aos dos homens e com uma jornada de trabalho ampliada, considerando a responsabilidade desigual pelos cuidados dos filhos e das tarefas domésticas.

Apesar das transformações ocorridas nas últimas décadas, é inegável que a categoria trabalho conserva sua centralidade. Essa ideia, contudo, não é universal entre todos os teóricos, dentre os quais destaca-se André Gorz, que em 1980, com o livro Adeus ao Proletariado, defendeu abertamente o fim da centralidade do trabalho, assim como Claus Offe e mais recentemente Habermas, com sua teoria pós-moderna da Teoria da Ação Comunicativa (ANTUNES, 2005). Ao contrário do que afirmam e longe de esgotar o assunto, dada o limite do escopo desta dissertação, é possível afirmar que o trabalho na atualidade, mais do que nunca,

em sua forma estranhada e alienada, permite a compreensão das relações sociais e da conjuntura atual, demonstrando que permanece uma categoria central.