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Capítulo III. A História

3.2 Do ensino de Epidemiologia

3.2.5 Do HU ao NESC

Com a implantação do HU, foi assinado um convênio entre a Secretaria Estadual de Saúde, Secretaria Municipal de Saúde, UFRJ, Ministério da Aeronáutica, INAMPS e FIOCRUZ para a implantação do programa de regionalização docente assistencial. Foi criado um grupo permanente de trabalho que realizou vários estudos, os quais foram apresentados no Seminário de Integração da XX Região Administrativa, em outubro de 1979. Apesar disto, persistiam as dificuldades de implantação do programa. Os problemas existiam tanto nas secretarias de saúde que tinham a rede de serviços incipiente e pouco receptiva à introdução do estudante, quanto na Universidade, cujos esforços se dirigiam para a conclusão da implantação do Hospital (Rosa, 1995).

Com relação a essas experiências, a Faculdade de Medicina da UFRJ:

... não conseguiu executar algumas propostas. O Departamento de Medicina Preventiva fazia diagnósticos de saúde na Ilha do Governador. Mas, nunca se tornou uma atividade orgânica. As propostas da saúde comunitária e de integração docente assistencial

nunca se refletiram em mudanças efetivas de atividades de ensino. Apesar de ter algum investimento, de terem sido feitos projetos de pesquisa, inquéritos e levantamentos. (Prof. Diana Maul de Carvalho – entrevista realizada em 5/11/2001)

Nos Programas do Curso Médico de 1981, na ementa da disciplina Medicina Preventiva I, constavam como conteúdos “Metodologia em Saúde, Conhecimentos

Básicos de Epidemiologia Geral e Demografia. Epidemiologia das Doenças Infecciosas, Não Infecciosas e Infortunística. Noções de Demografia. Cuidados Primários em Saúde” (Programa dos Cursos Médicos, Faculdade de Medicina, 1981

p.54). A disciplina era oferecida no 5º período, com 130 horas e 5 créditos. Os conteúdos de epidemiologia e estatística eram o ensino do método epidemiológico, métodos quantitativos em saúde, métodos em ciências sociais aplicados à saúde, o conceito epidemiológico de causa, história natural das doenças e vigilância epidemiológica (UFRJ, 1981).

A ementa da Medicina Preventiva II previa o ensino da “Saúde Ocupacional.

Saúde e meio ambiente: saneamento básico, poluição, radiações. Economia e Política de Saúde” (idem, p.60). A disciplina era oferecida no 6º período, com 130

horas e 5 créditos. Na disciplina de DIP, previa-se a aplicação dos conhecimentos epidemiológicos no diagnóstico e prevenção das doenças. Nas demais disciplinas clínicas, apenas a ementa de Psiquiatria e Saúde Mental fazia referência à epidemiologia psiquiátrica (UFRJ, 1981).

No ciclo básico, o Programa Curricular Interdepartamental de Mecanismos Básicos de Saúde e Doença, com a participação do Departamento de Medicina Preventiva, era oferecido no 4º período, com 9 créditos e 340 horas. Era composto por 5 unidades temáticas e apresentava, em sua unidade I, a discussão do binômio saúde-doença e os seus conceitos; e a visão psicossocial do adoecimento, incluindo os aspectos antropológicos. De acordo com a ementa estudava-se o “Conceito de

Saúde e Doença: visão psicossocial, fatores genéticos e imunológicos” (idem, p.45).

Portanto, segundo os documentos, o ensino de Medicina Preventiva apresentou aumento significativo em termos de carga horária, passando de 96 para 260 horas e de 6 para 10 créditos. O ensino de epidemiologia, apesar da sua incorporação pela Medicina Preventiva I, teve aumento de carga horária – de 48 para 65 horas (referentes à metade da disciplina de Medicina Preventiva I, considerando o ensino da estatística como parte do ensino de epidemiologia). Além disso, a introdução dos aspectos sociais e antropológicos do processo saúde e

doença no Programa Curricular Interdepartamental de Mecanismos Básicos de Saúde e Doença representaram um crescimento dos conteúdos de epidemiologia no curso de medicina.

Durante a década de 1980, o ensino de epidemiologia se misturou aos outros conteúdos de Medicina Preventiva. As aulas eram, em sua maioria, teóricas, para grandes turmas. Os conteúdos, em função do momento político do país e do desenvolvimento do Movimento Sanitário, adquiriram uma conotação política importante. Existiam poucas atividades práticas, que se resumiam a visitas a estações de tratamento de água e esgoto, realização de inquéritos em comunidades e atividades em um ambulatório da atenção primária próximo ao HU.

A Medicina Preventiva I incluía conteúdos de saneamento, vacina, prevenção e o controle das doenças e um pouco de metodologia, alguns conteúdos de estatística, como média, mediana e moda, percentis. Havia aulas de políticas de saúde, das propostas da Reforma Sanitária e das doenças da pobreza e da miséria. Os alunos tinham dificuldade para compreender, porque era um conteúdo bastante politizado. (Prof. Letícia Legay Vermelho – entrevista realizada em 29/11/2001)

O ensino da epidemiologia era uma parte da disciplina de Medicina Preventiva I. Era basicamente epidemiologia descritiva, os indicadores e a análise da situação de saúde. A questão mais atual, da metodologia, desenhos de estudo, não existia. A disciplina era voltada para as doenças infecciosas. Eu não me lembro de conteúdos sobre as doenças crônicas e degenerativas. (Prof. Roberto de Andrade Medronho – entrevista realizada em 29/11/2001)

Na disciplina de Medicina Preventiva I os conteúdos eram história natural das doenças, níveis de prevenção. Existia a epidemiologia descritiva, os indicadores de saúde. Mas, não se falava em método epidemiológico. Eu me lembro de visitas a estações de tratamento de água, de um enfoque sanitário. Mas não me lembro dos conteúdos mais voltados para o método. (Prof. Kátia Vergetti Bloch – entrevista realizada em 29/11/2001)

De acordo com as entrevistas, apesar da implantação do hospital ter proporcionado a abertura de novas vagas para professores, o número reduzido de docentes, a quantidade de alunos e a variedade de conteúdos determinavam, em parte, os métodos de ensino e a receptividade dos estudantes. A disciplina tinha uma estrutura modular; as turmas passaram a ser divididas em 6 grupos. Os professores ministravam todos os conteúdos e repetiam a mesma aula seis vezes para os diferentes grupos. As dificuldades de ensino e a baixa receptividade dos alunos podem ser percebidas nos depoimentos a seguir.

As aulas teóricas eram uma discussão que o aluno não conseguia encaixar nas outras disciplinas. Não tinha condição nenhuma, com 180 alunos e 1 professor. (Prof. Letícia Legay Vermelho – entrevista realizada em 29/11/2001)

No departamento, uma parte dos professores sequer era epidemiologista. Eram poucos docentes. Havia um posto comunitário que proporcionava uma experiência muito interessante. Podia-se ver a importância da saúde pública básica. (Prof. Maurício A Perez – entrevista realizada em 13/11/2001)

Na época, nós, alunos, não identificávamos os professores de epidemiologia; eram todos de Medicina Preventiva. Era uma aula de epidemiologia, outra de planejamento e etc. Nós tínhamos aulas teóricas e visitávamos comunidades na Ilha do Governador. A imensa maioria da minha turma não queria nem saber o que era Medicina Preventiva. Os alunos achavam que não tinha importância para a formação deles. (Prof. Roberto de Andrade Medronho – entrevista realizada em 29/11/2001)

A receptividade dos alunos era ruim. Não parecia ser algo que tivesse atrativo para o médico ou importância para a vida profissional do clínico, que era o que a maioria almejava. (Prof. Kátia Vergetti Bloch – entrevista realizada em 29/11/2001)

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