• Nenhum resultado encontrado

3.2 OS PLANOS DE GOVERNO E SEUS ORGANISMOS

3.2.1 Do SERFHAU à SUDESUL

Para estudar a influência dos organismos institucionais de planejamento na criação ou no desenvolvimento de AM em Santa Catarina, analisa-se, primeiramente a atuação do SERFHAU na seqüência cronológica dos fatos. Criado em 1964, como anteriormente mencionado, o SERFHAU é regulamentado pelo Decreto nº 59.917, de 1966, que também cria o Fundo de Financiamento de Planos de Desenvolvimento Local Integrado (FIPLAN).

61 Iniciado em 1976, vigorou por aproximadamente 10 anos e visava fortalecer as cidades de

porte médio por meio do financiamento da ampliação da infra-estrutura social e produtiva (ANDRADE; SERRA, 2001, p. vi). Maiores detalhes em Steinberger; Bruna (2001).

112

Convém salientar que, no parágrafo único do artigo 1º do referido decreto, era determinado o tipo de planejamento que o Fundo financiaria: "por planejamento local integrado entende-se o que compreende, em nível regional e municipal, os aspectos econômico, social, físico e institucional" (BRASIL, 1º trim. 1967). Com essa regulamentação o SERFHAU "adquire competência para coordenar e elaborar a política nacional de planejamento local integrado, formulada segundo linhas de desenvolvimento regional" (BIZELLI, 2001, p. 7).

Em 1967, simultaneamente ao lançamento do Plano Estratégico de Desenvolvimento aqui mencionado, é apresentado à nação o Decreto-Lei nº 200, de 25 de fevereiro de 1967, que redefinia as atividades da Administração Federal, "institucionalizando o planejamento como instrumento obrigatoriamente orientador da ação governamental" (MELO, 1971, p. 9).

Três dias após, o Decreto-lei nº 301 criava a Superintendência de Desenvolvimento da Região Sul (SUDESUL)62, autarquia com funções de

planejamento e coordenação, incumbida de promover e acelerar o desenvolvimento regional. Para cumprir suas atribuições, a Superintendência empenhava-se em "entrosar as três esferas governamentais entre si, articulando sua ação com a particular, sempre numa perspectiva de desenvolvimento regional harmonizado com o modelo brasileiro” (SERFHAU, 1971). Para tanto, a SUDESUL contava com um Centro de Informações para o Desenvolvimento Urbano e Local (CIDUL), que dentre outras funções

62 Agrupando os estados de Mato Grosso, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul,

chamou-se inicialmente Superintendência do Desenvolvimento da Fronteira Sudoeste, nome originado de sua predecessora, a Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Região da Fronteira Sudoeste do País (criada pela Lei nº 2.976, de 28 de novembro de 1956). A SUDESUL foi extinta pelo Decreto 99.240/90.

identificava os fundos de financiamento e investimento utilizáveis na execução de programas e projetos municipais indicados por termos de referência desenvolvidos para as regiões das AM em Santa Catarina e no Rio Grande do Sul (SERFHAU, 1973), às quais cabia coordenar e apoiar as ações municipais referenciadas. Dentre esses havia o Fundo de Financiamento de Planos de Desenvolvimento Local Integrado (FIPLAN), já mencionado.

Nos estados do Rio Grande do Sul e Santa Catarina as promoções do SERFHAU contavam com significativo apoio da SUDESUL e dos governos estaduais (SERFHAU, 1973). Lago (1978) ressalta três promoções havidas em Santa Catarina, em diferentes escalas. A primeira, que abrangia todo o Estado, era um estudo "referente às características das cidades catarinenses e da organização espacial" (LAGO, 1978, p. 300). Considerado pelo autor como "o mais completo e mais amplo enfoque sobre o assunto" (p. 300), esse estudo foi desenvolvido pela SUDESUL/ SERFHAU/Governo do Estado e executado por professores da UFSC, no início da década de 70 e ultimado em 1974. O segundo tipo de promoção realizado pela SUDESUL no mesmo período afetava a escala local, e, conforme Lago (1978), visava ao estabelecimento de planos diretores urbanos, dentre os quais foram aprovados "os referentes a Blumenau, Joinville, Florianópolis, Itajaí, Tubarão" (p. 300). Em terceiro lugar, Lago (1978) ressalta os estudos denominados "termos de referência" realizados "enquanto se esboçavam as associações de municípios" (grifos do autor) (p. 300) e "com apoio e incentivo de setores especializados da SUDESUL, junto aos municípios associados" (p.300).

114

Vale salientar que essas realizações eram financiadas pelo FIPLAN até junho de 1974, quando a gerência desse fundo foi transferida do SERFHAU para o BNH, fato que resultou na desativação do SERFHAU (IBAM, 1978). Extinto em agosto de 1975 (IBAM, 1978), mais tarde o SERFHAU foi sucedido pelo Conselho Nacional de Política Urbana (CNPU) e, depois, pela Comissão Nacional de Desenvolvimento Urbano (CNDU). Em Santa Catarina parte de suas funções foram transferidas para a SUDESUL. Outro organismo que herdou parte das atribuições do SERFHAU foi a Secretaria de Articulação com os Estados e Municípios (SAREM), que em Santa Catarina era representada pela Supervisão do Sistema de Planejamento e Orçamento do Estado de Santa Catarina (SSPO).

Órgão da Secretaria de Planejamento da Presidência da República, a SAREM foi criada em junho de 197263 com o objetivo de prestar assistência técnica e financeira aos municípios, estimulando o associativismo municipal (ULYSSÉA, 1984). Apoiou financeiramente várias AM para a realização de projetos de interesse dos associados. Em Santa Catarina, a Supervisão do Sistema de Planejamento e Orçamento (SSPO) era a unidade administrativa integrante do governo estadual que prestava apoio técnico às municipalidades, pois a SAREM só atendia diretamente as capitais (ULYSSÉA, 1984). Portanto, a SSPO intermediava as relações entre a SAREM e os municípios no Estado, repassando verbas federais para ações de planejamento microrregional via associação de municípios e para a estruturação das AM (MELO, 1978).

Segundo Ulysséa (1984), a política de estímulo às associações de municípios desenvolvida pela SAREM se voltava para dar-lhes o caráter de

entidades com força de reivindicação nos contextos estadual e federal, de planejamento, geradoras de debate de assuntos de ordem regional ou de problemas comuns aos municípios associados e de assessoramento técnico aos governos municipais. Portanto, as atribuições das AM na visão da SAREM eram: reivindicar, planejar, debater os problemas municipais e prestar serviços (MELLO, 1997). Esses objetivos revelam-se deveras semelhantes àqueles anotados nos Estatutos das AM em Santa Catarina, conforme constatou a pesquisa efetuada para este trabalho.

Por outro lado, cabe enfatizar que as atas das assembléias de criação de muitas das AM64 revelam que a tarefa de elaborar o Levantamento Socioeconômico Regional e os Planos de Desenvolvimento Local Integrado, ambos financiados pelo SERFHAU (e implementados primeiramente pelo SERFHAU e, posteriormente, pela SUDESUL), representou fator determinante para a constituição dessas associações. Essas tarefas são consideradas como os primeiros trabalhos técnicos realizados pelas AM, demonstrando a importância do tema planejamento urbano e microrregional para motivar a criação das AM. Já do ponto de vista do governo central, as AM representavam importante peça no jogo das relações intergovernamentais.

No âmbito dos objetivos do Programa Nacional Cidades de Porte Médio, em Santa Catarina entre os anos de 1975 e 1980 houve "treinamento de novos recursos humanos e de pessoal ligado à administração municipal,

64 As 13 primeiras AM criadas em SC participaram dos trabalhos requeridos pela SUDESUL,

como o Plano de Desenvolvimento Local Integrado. Na pesquisa foram compulsadas as seguintes atas de assembléias que mencionam essa participação: FIDESC (atual AMUNESC), ata de 15/8/1968; AMMOC (22/1/1965); AMURES (27/7/1968); AMOSC (16/8/1969); GRANFPOLIS (24/8/1970). Algumas não são de assembléias de criação.

116

principalmente ao planejamento urbano e regional, este para atender integrantes das associações de municípios" (LAGO, 2000a, p. 553). Ministrados por técnicos da SUDESUL e de setores do governo estadual e por professores da UFSC, esses treinamentos eram realizados mediante convênios entre essas entidades, muitas vezes utilizando-se da estrutura das AM. Conforme depoimentos colhidos de alguns secretários executivos65, esses treinamentos foram significativos para fortalecer e desenvolver as AM, porque neles emergiam oportunidades, até então inéditas, para discussão e entendimento dos problemas comuns aos municípios da região.

3.2.2 Do Plano de Obras e Equipamentos ao Projeto Catarinense de