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O Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) foi originalmente instituído pela Resolução nº 119/2006 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (CONANDA), e, posteriormente, pela Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012, segundo uma concepção de política pública com vistas a nortear a execução das medidas socioeducativas aplicadas a adolescentes autores de atos infracionais.

Conforme art. 1º, §1º da Lei nº 12.594, de 18 de janeiro de 2012, in verbis: “Entende-se por SINASE o conjunto ordenado de princípios, regras e critérios que envolvem a execução de medidas socioeducativas, incluindo-se nele, por adesão, os sistemas estaduais, distrital e municipais, bem como todos os planos, políticas e programas específicos de atendimento a adolescente em conflito com a lei”.

Figura 2 - Sistema de garantia de direitos.

Fonte: Publicação SINASE/Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República (2006, p. 23). SINASE SISTEMA NACIONAL DE ATENDIMENTO SOCIOEDUCATIVO SISTEMA EDUCACIONAL SUAS SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL SISTEMA DE JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE SAÚDE

Como mostra o gráfico precedente, é fundamental a correlação do SINASE com outros sistemas, como o Sistema Único de Saúde, sistema educacional, Sistema Único de Assistência Social e sistema de justiça e segurança pública, no sentido de garantir proteção integral a crianças e adolescentes. Cumpre-nos destacar que o SINASE foi fruto de uma construção coletiva, envolvendo vários atores do Sistema de Garantia de Direitos (SGDCA), e é formado pela articulação entre Estado (distintos níveis de governo), famílias e diversos segmentos da sociedade civil para garantir que as conquistas do ECA e da CF/1988 não sejam letra morta. Importante frisarmos que o SINASE destaca a natureza pedagógica das medidas socioeducativas.

Essas medidas socioeducativas são dotadas de aspectos coercitivos, visto que não cabe aos adolescentes aceitá-las ou não. É falacioso, inclusive, pensar que os adolescentes autores de atos infracionais não são responsabilizados pelos seus atos. No entanto comportam também aspectos socioeducativos, no sentido de que devem oportunizar o acesso à formação e à informação. A este respeito ensina Volpi (2011, p. 20): “Os regimes socioeducativos devem constituir-se em condição que garanta o acesso do adolescente às oportunidades de superação de sua condição de exclusão, bem como de acesso à formação de valores positivos de participação na vida social”.

À luz da Doutrina da Proteção Integral, conforme já mencionado, são considerados “sujeitos de direitos” e estão em processo de desenvolvimento, razão pela qual o Estatuto destaca a importância da educação, da profissionalização e de todas as atividades que colaborem para o desenvolvimento do jovem em conflito com a lei. No dizer de Pereira (2008, p. 1006), “os novos paradigmas que envolvem a delinquência juvenil devem considerar, destacadamente, a adequação das medidas, como proposta eminentemente pedagógica”.

Ressaltamos, aqui, que o SINASE trouxe algumas peculiaridades no que se refere à execução das medidas socioeducativas, destacando a importância de se priorizar as medidas socioeducativas em meio aberto, em detrimento das medidas privativas de liberdade. Conforme Projeto "É de Direito" (2013, p. 16):

O SINASE trouxe consigo modificações significativas no que se refere à aplicação e execução de medidas socioeducativas para adolescentes em conflito com a lei, estimulando o emprego da medida em meio aberto como alternativas à internação e o investimento em práticas restaurativas. O objetivo desta política pública é estabelecer diretrizes que garantam o cumprimento adequado das leis para a responsabilização e o

acompanhamento socioeducativo desses jovens, contemplando todos os aspectos envolvidos, desde a apuração do ato infracional até o financiamento do Sistema Socioeducativo.

Além disso, a referida lei ressalta diversos princípios que devem reger a execução das medidas socioeducativas, quais sejam: brevidade (é preciso respeitar o tempo máximo de execução de cada medida); proporcionalidade (em relação ao ato infracional cometido); legalidade (adolescente não pode receber tratamento mais cruel que o adulto); mínima intervenção (aplicar a lei em casos de real necessidade, e em particular, observar a aplicação da medida socioeducativa de internação que só deve ser aplicada em último recurso); fortalecimento dos vínculos familiares; individualização, através do qual se deve considerar a idade, as circunstâncias pessoais do adolescente na aplicação da medida; não discriminação do adolescente em razão de sua condição, credo, orientação sexual, religiosa, nacionalidade e assim por diante; prioridade das práticas restaurativas; excepcionalidade da intervenção judicial ─ todos eles elencados no art. 35, incisos I a IX da referida lei.

Como referido, o SINASE estabelece também as competências em relação à União, estados e municípios, ficando a cargo dos estados a manutenção de programas para a execução de medidas socioeducativas como semiliberdade e internação; e a cargo dos municípios a manutenção de medidas em meio aberto, conforme reza o art. 4º do SINASE:

Compete aos Estados: II- elaborar o Plano Estadual de Atendimento Socioeducativo em conformidade com o Plano Nacional; III- criar, desenvolver e manter programas para a execução das medidas socioeducativas de semiliberdade e internação; Art. 5º: Compete aos Municípios: II- elaborar o Plano Municipal de Atendimento Socioeducativo, em conformidade com o Plano Nacional e o respectivo Plano Estadual; III- criar e manter programas de atendimento para a execução das medidas socioeducativas em meio aberto [...].

Cumpre observarmos que muitas são as questões que envolvem os adolescentes em conflito com a lei, como tráfico e consumo de drogas, desajuste familiar, violência, influências de amigos da comunidade, má qualidade da educação, ausência de programas de formação profissional. E isso nos leva a inferir que o adolescente que chega até a Justiça não é resultado apenas de uma decisão pessoal, mas também de uma construção social, isto é, ao mesmo tempo em que a sociedade se torna vítima nas mãos desses adolescentes, estes são massacrados por essa sociedade violenta, desigual e injusta, numa flagrante violação de direitos.

3.2 DAS MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS PARA ADOLESCENTES EM

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