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Capítulo II: A documentação Museológica : seus conceitos e a

3.1 Documento e informação: Algumas discussões teóricas no entorno

Para Chagas (1994), o documento é compreendido como "aquilo que ensina" (doccere) ou mais precisamente aquilo que pode ser utilizado para ensinar alguma coisa a alguém. Segundo o autor, o conhecimento, como se sabe, não está embutido no documento e da relação que com o documento/testemunho se pode manter.

Le Goff (2003, p.94), afirma que “o documento resulta de uma produção/montagem, consciente ou inconsciente da história por uma determinada época e sociedade que o produziu, mas também sobrevive a outras épocas que sucedem a de sua produção. Documento é uma coisa que fica. É monumento”.

Por outro lado, o documento é compreendido como "suporte de informações" que só podem ser preservadas e resgatadas através do questionamento (CHAGAS,1994).É importante ressaltar que o conceito de documento, que Chagas nos apresenta se constitui no momento em que lançamos o nosso olhar interrogativo em um documento, aqui se referindo a objetos como suporte para fazer relações sobre as conjunturas do contexto histórico de tal objeto, ou seja, o documento se desdobra em objetos, livros, papéis, coleção, patrimônio cultural e natural, assim, os documentos estão presentes tanto nos museus quanto nos arquivos e nas bibliotecas.

Meneses (1998, p.15) entende o objeto como suporte de informação, segundo o autor “no objeto encerram-se as informações intrínsecas, aquelas que referenciam aos atributos fisicoquímicos (forma geométrica, cor, peso, textura, dureza, etc), e as informações extrínsecas, as quais são inferidas, dando origem aos discursos sobre o artefato, que

podem ser falsos, enquanto sua integridade física corresponde à verdade objetiva”.

De acordo com Chagas (1994), o conceito de documento nos leva aos conceitos de patrimônio e memória, sendo que patrimônio é considerado pelo autor, um conjunto de bens culturais sobre o qual incide uma determinada carga valorativa. E o conceito de memória pensado por Chagas é “documento como aquilo que ensina" ou como suporte de informação", ou seja, não há aprendizagem e não há informação sem a presença da memória. Mesmo quando pensamos a informação como o novo, o inesperado, ou aquilo que não se podia prever (CHAGAS, 1994,p.5). A memória justifica o novo, a informação e a redundância.

O documento constitui-se, assim, um instrumento precioso que, [...] possibilita a geração de novas mensagens ou a recuperação de antigas. Por isso criamos documentos incessantemente constituindo um universo de novas possibilidades para decifrar os enigmas de nosso entorno, e eles são a memória viva do passado e do futuro, essência potencial e atualizável quando tratamos de interpretar ou de iluminar os acontecimentos cotidianos, fonte primitiva de informação para nova informação. (...) A vida se perpetua em documentos e nos traços que, sobre eles, deixaram as pessoas que nos precederam no tempo. Por outro lado, o documento também aprisiona o tempo e torna viável, por essa razão, a consciência histórica. (López Yepes, 1997, p.13-14, tradução nossa)

Ainda assim, “[...] qualquer documento como suporte pode conter determinado conhecimento e servir de meio de transmissão de conhecimento”(HERNÁNDEZ, 2006, p. 163).Considerando documento como suporte de informação, a autora Padilha (2014, p.12), menciona que “qualquer objeto produzido pela ação humana ou pela natureza, independentemente do formato ou suporte, possui registro de informação. O documento pode representar uma pessoa, um fato, uma cultura, um contexto”. Entretanto a autora supracitada também diz que “o documento é suporte que evidencia algo a alguém e que, ao passar por um processo técnico específico, manifesta seu potencial

informativo” (PADILHA, 2014, p.11). Por meio do documento a informação é apresentada e, assim, permite que o indivíduo produza conhecimentos diversos.

Para Loureiro (2013, p.174),

O documento é uma representação, um signo, isto é, uma abstração temporária e circunstancial do objeto natural ou acidental, constituído de essência (forma ou forma/conteúdo intelectual), selecionado do universo social para testemunhar uma ação cultural.

Portanto, documentar de acordo com Loureiro (2013, p.175), “é, sobretudo no âmbito museológico, integrar em conjuntos significativos as tradições, diferenças e dispersões que caracterizam as ciências, saberes e discursos contemporâneos com os grupos sociais".

Lund(2009) verifica que a noção de documento é composta de três aspectos complementares: o físico, o social e o mental, perspectivas bem difundidas na concepção de outro termo, informação.

Reig Cruañes (2005), mesmo considerando a perspectiva antropológica do documento, principalmente ao trazer a afirmação de Otlet (1934), que via o documento como memória materializada da humanidade, privilegia a perspectiva objetiva. Nela o autor destaca a funcionalidade do documento como “meio de transmitir informação”, ou seja, a fixação de informação sobre algum suporte material com intenção de comunicar uma mensagem.

Para isso a informação não possui apenas um conceito, ela pode ter segundo Capurro (2003), “três grandes formas de compreender a informação: como algo físico, como algo associado a uma dimensão cognitiva e, enfim, como fenômeno de natureza intersubjetiva, social”.

Podemos compreender que a informação está atrelada a um documento, que comporta um significado e que, ao entrar num processo comunicativo, emite uma mensagem.

A informação, para poder ser utilizada por mais pessoas sem limitações de tempo e espaço, supõe que a mesma tenha sido “documentada”, ou seja, registrada. O registro torna a informação menos volátil e mais portátil. A informação não registrada em algum tipo de suporte, tecnologia ou código, por mais importante que seja não é passível de uma socialização mais ampla, uma vez que seu acesso é condicionado pelas variáveis espaciais e temporais. (SMIT, 2012)

A informação, no contexto da Ciência da Informação, é registrada e institucionalizada. Para poder cumprir sua missão as configurações informacionais devem, além de selecionar, organizar e disponibilizar a

informação – atribuindo-lhe um selo de qualidade – que se dá por meio de sujeitos que utilizam a informação.

Os Museus produzem e processam informações extraídas dos itens de suas coleções- individualmente ou em conjunto- de modo a gerar novas informações. O museu desempenha papel ativo como produtor de informação, a qual ultrapassa a mera função de mediador, assim sendo, a instituição museológica emerge em um contexto de valorização da informação (ALVARES, 2015).

Para tratar de documento e informação, temos que levar em consideração, o que cada um destes elementos significam para as instituições culturais, que as manuseiam, tratam e disseminam, conforme suas diferentes técnicas arquivísticas, biblioteconômicas e museológicas.

3.2 Discussão, Técnicas, Processos e perspectivas das Instituições

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