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3. Três casos dos conflitos da UNASUL entre os países-Membros

3.3.6 Os documentos das FARC

O Instituto Internacional para Estudos Estratégicos (IISS) publicou um livro em 10 de maio de 2011, cujo título leva “Os Documentos Das FARC: Venezuela, Equador e o Arquivo Secreto de “Raúl Reyes” (The FARC Files: Venezuela, Ecuador and the Secret Archive of “Raúl Reyes”).

Esse livro trata-se no que diz respeito às FARC, revelando os seguintes:

O pensamento estratégico, operações e comportamento das FARC; as relações com uma ampla variedade de atores na região Andina; como as FARC estavam confinadas às áreas rurais no centro da Colômbia; como elas desenvolveram um plano ambicioso para chegar ao poder.

The FARC Files: Venezuela, Ecuador and the Secret Archive of “Raúl Reyes” se baseia nos e-mails e documentos encontrados no computador do comandante do alto escalão das FARC, Raúl Reyes, morto pelo governo colombiano durante uma incursão em um campo das FARC, dentro do território do Equador em 2008.

Os objetivos principais da estratégia internacional das FARC permaneceram constantes (Nigel Inkster, 2011). Eles eram:

1) Assegurar apoio financeiro e militar. Nesse ponto o grupo basicamente fracassou. Esforços constantes durante a reta final da Guerra Fria para integrar regimes supostamente compatíveis em termos de ideologia, como China, União Soviética e Coreia do Norte, para que proporcionassem patrocínio fracassaram e foram abandonados. As FARC vigorosamente perseguiram uma variedade de opções alternativas com o objetivo de adquirir sistemas de defesa aérea portáteis (MANPADS) para desafiar a supremacia aérea colombiana, mas não há evidência no arquivo ou em outras fontes que indique qualquer sucesso nesse plano;

2) Adquirir apoio e legitimação internacional. Aqui as FARC foram consideravelmente mais bem-sucedidas. No fim dos anos 90, o COMINTER realizava atividades políticas em 27 países latino-americanos e europeus, e começava a receber atenção de políticos e formadores de opinião que foram receptivos à narrativa das FARC sobre uma luta dos desfavorecidos contra

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uma oligarquia repressiva e irresponsável. Até quando o apoio não era obtido, o grupo foi capaz de avançar no igualmente importante objetivo de gerar oposição ao governo colombiano. Depois de as FARC terem sido definidas como organização terrorista no período seguinte ao 11 de Setembro, algumas das representações do grupo, que tinham assumido um caráter quase diplomático, tiveram que ser fechadas. Mas foram substituídas por organizações locais nativas, que se provaram muito eficientes em conseguir apoio para as FARC;

3) Prejudicar os esforços do governo colombiano em desenvolver segurança internacional e cooperação transfronteiriça. As FARC se empenharam para explorar as tensões entre a Colômbia e os países vizinhos e convencê-los a, no mínimo, adotar uma posição de neutralidade no conflito ou até a promover o objetivo das FARC de serem reconhecidas como grupo beligerante. Esses esforços nem sempre foram bem-sucedidos e às vezes se mostraram contraproducentes, mas ao longo do tempo a relação entre a Colômbia e os vizinhos na região Andina sofreu uma deterioração progressiva, graças, em parte, aos esforços das FARC;

4) Estabelecer e manter santuários em Estados vizinhos. Esses santuários serviram as clássicas funções militares de proporcionar abrigo, descanso e recreação, treinamento, reabastecimento e preparação para o combate, e se tornaram ainda mais importantes quando as forças se segurança da Colômbia desenvolveram maior mobilidade com o uso de poder aéreo, tornando mais difícil para as FARC manter posições fixas dentro da Colômbia. O arquivo também mostra como as FARC exploraram esses enclaves para se encontrarem com uma variedade de outros atores fora do alcance do governo colombiano. Esses incluíam simpatizantes políticos, traficantes de drogas, integrantes de grupos armados estrangeiros (como o ETA), que receberam treinamento das FARC, e comerciantes de armas – um dos quais alegou representar o Estado chinês.

Além disso, estes documentos tratam da estreita relação dos presidentes do Equador e Venezuela com as FARC e aliança armada entre as FARC e o governo da Venezuela em detalhe.

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Nesse sentido, os documentos das FARC mostram os seguintes (Nigel Inkster, 2011):

1) O governo venezuelano financiou o escritório das FARC em Caracas e ofereceu documentação e outras formas de assistência para integrantes das FARC;

2) Chávez ofereceu apoio material às FARC, a fim de mudar o equilíbrio militar na Colômbia;

3) Chávez se comprometeu a ajudar o grupo a conseguir legitimidade política, reafirmou formalmente o direito das FARC de usar o território venezuelano perto da fronteira colombiana e, especialmente importante, ofereceu US$ 300 milhões, sendo que US$ 50 milhões seriam disponibilizados imediatamente; 4) Quando Rafael Correa declarou a candidatura presidencial em 2006, as FARC

contribuíram com aproximadamente US$400 mil para a campanha dele (US$ 100 mil aparentemente vieram diretamente das FARC e US$ 300 mil adicionais vieram dos aliados do grupo) em uma etapa crítica.

O governo colombiano insiste na existência de vínculos entre o presidente do Equador, Rafael Correa, o presidente da Venezuela, Hugo Chávez e os guerrilheiros das FARC com prova dos documentos das FARC que foram encontrados nos discos dos três computadores capturados pelos serviços secretos militares colombianos do guerrilheiro abatido. Porém, eles negam a alegação do governo colombiano e criticam o presidente colombiano e rompem com as relações internacionais. Desta forma, permanece a crise entre a Colômbia, o Equador e a Venezuela em torno das FARC gerando conflitos e prejudicando entre si.

Em fim, os conflitos entre eles devem ser sérios obstáculos no sentido da segurança e da integração regional.

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