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3 DIREITOS REPRODUTIVOS E ABORTO NO SISTEMA INTERNACIONAL DE

3.1 DIREITOS REPRODUTIVOS NO DIREITO INTERNACIONAL

3.1.2 Documentos Internacionais

Alguns documentos internacionais anteriores ao conceito e normatização dos direitos reprodutivos exerceram, também, importante influência no seu desenvolvimento. Mesmo antes de sua consolidação no direito internacional, diversos documentos internacionais já apresentavam direitos que servem de amparação para estes. Pode-se destacar: 1948 - Declaração Universal dos Direitos Humanos, art XII “ninguém será sujeito à interferência em sua vida

privada, em sua família, em seu lar ou em sua correspondência (...)”85, e art XVI “os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, nacionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma família (...)”86; 1965 - Convenção Internacional sobre a Eliminação de todas as Formas de Discriminação Racial, art 5, letra d, IV “direito de

casar-se e escolher o cônjuge (...)”87, e art 5, letra e, IV “direito à saúde pública (...)”88; 1966 - Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, art 3 “os Estados Partes no presente Pacto

comprometem-se a assegurar a homens e mulheres igualdade no gozo de todos os direitos civis e políticos enunciados no presente Pacto”89, art 6 “o direito à vida é inerente à pessoa humana (...)”90, art 17 “ninguém poderá ser objetivo de ingerências arbitrárias ou ilegais em sua vida

83 Ver: http://www.onumulheres.org.br/wp-content/uploads/2015/03/declaracao_pequim.pdf 84 Idem 85 Ver: http://www.dudh.org.br/wp-content/uploads/2014/12/dudh.pdf 86 Idem 87 Ver: http://legis.senado.gov.br/legislacao/ListaTextoIntegral.action?id=94836 88 Idem 89 Ver: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0592.htm 90 Idem

privada, em sua família, em seu domicílio ou em sua correspondência (...)”91, e art 23 “a família

é o elemento natural e fundamental da sociedade e terá o direito de ser protegida pela sociedade e pelo Estado”92; 1966 - Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, art 10, item 2 “deve-se conceder proteção especial às mães por um período de tempo razoável antes e

depois do parto”93, e art 12 “os Estados Partes do presente Pacto reconhecem o direito de toda pessoa de desfrutar o mais elevado nível possível de saúde física e mental”94.

Em 1979, a Convenção para a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a Mulher reconhece como direitos da mulher o acesso a serviços de saúde e de planejamento familiar. A Convenção representa o início da construção conceitual e normativa dos direitos reprodutivos como direitos que exigem prestações tanto negativas (Por exemplo, a não discriminação e a autodeterminação pessoal), quanto positivas (Por exemplo, a implementação de políticas públicas) por parte do Estado95. De acordo com Andrew Byrnes (1989), “inúmeras previsões da Convenção também incorporam uma preocupação de que os

direitos reprodutivos das mulheres devem estar sob o controle delas próprias, e que o Estado deve assegurar que as escolhas das mulheres não sejam feitas sob coerção e não sejam a elas prejudiciais”96

.

Em 1993, instaura-se, no âmbito da ONU, a Declaração sobre a Eliminação da Violência Contra as Mulheres97, como forma de dar andamento e melhor monitorar a implementação dos compromissos adotados no Programa de Ação de Viena, lançado mais cedo no mesmo ano. Possuindo como uma de suas bases este documento, foi adotada em 1994, no âmbito da OEA, a Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher (Convenção de Belém do Pará). A Convenção dispõe, em seu artigo 12º, que “os

Estados-partes adotarão todas as medidas apropriadas para eliminar a discriminação contra a mulher nas esfera dos cuidados médicos, a fim de assegurar, em condições de igualdade entre

91 Idem 92 Idem 93 Ver: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/decreto/1990-1994/d0591.htm 94 Idem 95

MACÊDO, Suzana Carolina Dutra. Aborto à luz dos direitos humanos. Revista Jus Navigandi, Teresina, ano 19, n. 3927, 2 abr. 2014.

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BYRNES, Andrew. The "other" human rights treaty body: the work of the Committee on the Elimination of Discrimination against Women. In: Yale Journal of International Law, v. 14, 1989, p. 1, citado por PIOVESAN, Flávia, Direitos Reprodutivos como Direitos Humanos

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homens e mulheres, o acesso a serviços médicos, inclusive referentes ao planejamento familiar”98

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O Programa do Cairo delineou pela primeira vez em um documento normativo internacional os principais aspectos relativos à saúde reprodutiva, recomendando que a esta fosse dada atenção em seu estado integral. Além disso, o documento legitima às mulheres o direito de decidir livremente sobre o exercício da maternidade, e de ter acesso a informações e serviços que as permitam exercer integralmente seus direitos reprodutivos. Apesar de não apresentar força legal, o Programa de Ação do Cairo fornce base normativa para a implementação de políticas e leis relativas aos direitos reprodutivos, tanto no plano internacional, como no ambiente interno. Segundo Berquó (1998), este documento repercute nitidamente a agenda de prioridades que as redes de movimentos de mulheres construíram durante os anos de preparação para a Conferência do Cairo, a qual coloca as questões reprodutivas na esfera dos direitos individuais99. A Plataforma de Pequim, adotada em 1995, reitera as afirmações do Programa de Ação do Cairo acerca da concepção de saúde reprodutiva, e do reconhecimento dos direitos reprodutivos, e reconhece “o direito de todas as mulheres de controlar todos os aspectos de sua saúde, em

particular sua própria fertilidade, é básico para seu fortalecimento”100.

Datado de 2013, o Consenso de Montevidéu sobre População e Desenvolvimento também constitui-se em um documento internacional importante na garantia dos direitos reprodutivos. O documento considera que os direitos sexuais e reprodutivos são parte integrante dos direitos humanos, e que seu exercício é essencial para o gozo de outros direitos fundamentais e, em matéria de legislação, prevê que os países signatários revejam suas legislações internas para que seja efetivamente garantido o acesso a informações e serviços de saúde sexual e reprodutiva101.

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