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A DC surge cada vez mais precocemente em crianças e adolescentes, revelando a literatura que até um quarto dos doentes com DII possuem início da sintomatologia e diagnóstico estabelecido antes dos 18 anos de idade. É necessária atenção pois a população pediátrica está mais susceptível ao comprometimento do desenvolvimento neuro-psicomotor, do estado nutricional e atraso no crescimento (24,26,45), principalmente quando o paciente se encontra na primeira infância. (45) Cerca de 44% das crianças com DC já possuem algum comprometimento do seu desenvolvimento aquando do diagnóstico (45), sendo que entre 23-88% apresentam atraso do crescimento. (24) É de notar que cerca de

30-40% das crianças mantêm um atraso de crescimento paralelo ao decurso da doença, sendo que a estatura final é afectada pelo início precoce dos sintomas.(24) Além disso cerca de 90% das crianças apresentam perda de peso aquando do diagnóstico. (24, 26) Contudo, estudos recentes demonstram que uma proporção significativa de crianças com DC possui excesso de peso, acompanhado por uma baixa percentagem de massa corporal magra. (24)

O tratamento farmacológico não proporciona uma cura definitiva, mas reduz os sintomas e melhora a qualidade de vida destes pacientes. No entanto, nomeadamente os corticóides, possuem efeitos colaterais conhecidos, onde se incluem a desmineralização óssea, o antagonismo com a hormona do crescimento e a alteração do estado nutricional, que agravam o desenvolvimento da criança já comprometido pela própria doença. (26,45)

A terapia com NE demonstra-se eficaz nesta faixa etária. A literatura revela que não existem diferenças significativas entre a terapia com NE e corticóides no tratamento de crianças com DC em fase aguda. Deste modo, tendo em conta a melhoria no estado nutricional e o desenvolvimento das crianças, estes factores fazem da NE a eleita na primeira linha de tratamento em crianças com DC activa.(2, 13, 24,26)

É de notar que o diagnóstico precoce e o tratamento correcto evidenciam um desafio para a equipa multidisciplinar, que luta para melhorar a qualidade de vida destes pacientes, sobretudo para evitar sequelas definitivas e irreversíveis nestas crianças/adolescentes. (45)

Análise Crítica e Considerações finais

A DC é uma DII crónica que se caracteriza por um processo inflamatório que cursa de maneira imprevisível, com períodos de actividade e remissão

variáveis. (3,12) Possui um carácter recidivante e apresenta-se como uma entidade que envolve com frequência manifestações extra-intestinais. (8)

A patologia tem tido uma incidência crescente nos últimos anos, sobretudo nos países desenvolvidos (8), permanecendo a sua etiologia desconhecida. (2) Deste modo considero que devem ser realizados estudos seriados, com elevada qualidade metodológica de forma a clarificá-la, podendo com esta descoberta ser melhorada a qualidade de vida dos pacientes com DC.

A DC é frequentemente associada a DN devido ao seu envolvimento com o TGI e seus efeitos sobre a ingestão alimentar. As DN no paciente com DC podem então variar desde alterações discretas dos níveis de oligoelementos até estados de desnutrição severa. (3,16) É de mencionar que as deficiências e suas possíveis consequências, diferem entre indivíduos, de acordo com o local de actividade da doença e da absorção de determinados nutrientes nesses locais. (22) Sendo assim, é necessária atenção para o tratamento individualizado, podendo a intervenção nutricional precoce, diminuir a severidade de todas estas complicações e de futuras co-morbilidades.

As deficiências de micronutrientes, Ferro, Magnésio, Zinco, Selénio, Ácido Fólico, Vitamina B12, Cálcio, Vitamina D, podem resultar de variadas causas, sendo necessário, com frequência, recorrer à sua suplementação de modo a evitar e prevenir as consequências que advêm da sua depleção, tentando que o paciente com DC possua um melhor estado nutricional.

A TN reveste-se da maior importância no doente de Crohn, no que se refere, entre outros factores, à indução da remissão da actividade da doença, diminuição das indicações para cirurgia e redução das complicações pós- cirúrgicas. É de notar que a avaliação do estado nutricional do paciente, a

gravidade da doença e a função do tracto digestivo, são factores relevantes para o uso apropriado da TN. (22)

Persistem algumas especificidades relativas à alimentação do paciente com DC que ainda não foram completamente esclarecidas, nomeadamente no que remete à fibra insolúvel e à lactose. O consumo de fibras é interdito aquando das recidivas da doença, onde ocorrem muitas vezes diarreias, no entanto, aquando da remissão os estudos não são suficientes para verificar o benefício desta prática. Os produtos lácteos devem ser retirados em caso de intolerância à lactose ou se a doença se encontrar em fase aguda, onde persistem diarreias e cólicas abdominais.

No tratamento da DC podem ser utilizados nutrientes imunomoduladores, que se vêm evidenciando como uma terapêutica interessante e promissora. Nesta classe incluem-se a glutamina, os AGCC, os AG n-3 e os pré e próbióticos. No entanto, ainda existe controvérsia relativamente à sua utilização, sendo necessários estudos controlados e minuciosos para cada nutriente, de modo a clarificar o seu efeito benéfico na DC.

A utilização de NE no paciente com DC tem-se demonstrado favorável relativamente ao uso de NP, reservando a utilização desta para casos específicos em que o paciente é intolerante à NE ou aos corticoesteróides, uma vez que a NP se encontra associada a um aumento do risco de eventos adversos, como por exemplo a sépsis. A NE não faculta um tratamento tão eficaz como os corticoesteróides aquando da DC activa, no entanto, devido à sua eficácia na preservação da mucosa intestinal e prevenção da translocação bacteriana, reveste-se da maior importância enquanto suporte terapêutico para manutenção do bom estado nutricional do doente.

A NE revela-se essencial nas crianças com DC activa, possuindo uma eficiência semelhante aos esteróides. Posto isto, a NE possui um papel fundamental pois evita efeitos deletérios proporcionados pelo tratamento com esteróides, como o atraso de crescimento e desenvolvimento. (2)

É de mencionar que a DC é uma doença inflamatória crónica que não é medicamente ou cirurgicamente “curável”, sendo que exige abordagens terapêuticas que induzam e mantenham o controlo sintomático, que aumentem a qualidade de vida do paciente e minimizem complicações a curto e longo prazo. (7)

Em suma, podemos verificar que a DC envolve uma multiplicidade de factores que devem ser estudados minuciosamente, visto serem temas que suscitam interesse, tanto do ponto de vista clínico como nutricional. Os aspectos nutricionais apresentam-se da maior relevância, sendo que, ainda geradores de controvérsia, devem ser objecto de estudo da ciência que se mostra cada vez mais abrangente, inovadora e eficaz. Revela-se de extrema importância a detecção e tratamento precoces da doença, prescrevendo-se um plano alimentar individualizado de acordo com o estado de saúde do indivíduo, podendo, deste modo, serem reduzidos os efeitos deletérios provocados pela doença. O acompanhamento do paciente com DC por uma equipa multidisciplinar de saúde mostra-se muito importante, para prevenir eventuais recidivas e manter um bom estado nutricional, melhorando desta forma a sua qualidade de vida. A DC engloba diversos temas actuais, no entanto um pouco amplos e que devem estudados. A investigação nesta área, pode proporcionar, num futuro, a curto ou a longo prazo, descobertas científicas que clarifiquem a etiologia da DC e inovem na terapêutica nutricional da patologia.

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