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1 INTRODUÇÃO E SÍNTESE BIBLIOGRÁFICA

26 Introdução e Síntese Bibliográfica

1.4 Doença periodontal (DP)

A doença periodontal compreende um grupo de lesões que afetam os tecidos periodontais de proteção (gengiva), chamada de gengivite e de suporte (cemento, osso alveolar e ligamento periodontal), denominada de periodontite que pode levar à perda dentária (FLEMMIG, 1999).

É um dos processos patológicos mais comum que afeta a dentição humana, sendo que a periodontite generalizada afeta de 5% a 15% de qualquer população (OLIVER, 1998; BURD, 2005).

A periodontite é uma doença inflamatória crônica e a principal causa é a placa dentobacteriana que se acumula sobre a superfície dentária, sobre o nível e abaixo

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da margem da gengiva. Esse acúmulo causa inflamação e fibrose da gengiva, levando à destruição do ligamento periodontal e do osso alveolar. Com a progressão da doença, os tecidos moles separam-se da superfície dentária resultando na lesão característica da periodontite crônica – a bolsa periodontal (WILSON, 1995; VAN DYKE; SERHAN, 2003).

Nesse processo, as interações entre patógenos microbianos e vários sistemas na resposta do hospedeiro desempenham um papel crítico no desenvolvimento e progressão da DP via liberação de vários mediadores inflamatórios e imunológicos (PAGE, 1991; EBERSOLE, 2003).

As bactérias periodontopatogênicas, como a Porhyromonas gingivalis possuem muitos materiais bioativos que induzem as respostas do hospedeiro, incluindo a produção de citocinas pró-inflamatórias (OFFENBACHER, 1996). Dentre estes materiais, o lipopolissacarídeo (LPS) que é o principal componente da membrana externa de bactérias Gram-negativas, é capaz de desencadear intensa imuno-estimulação e atividade inflamatória (DARVEU et al., 1995; LIU et al., 2008).

Os LPS dos periodontopatógenos têm se mostrado capazes de estimular várias células do hospedeiro a produzir citocinas, incluindo os macrófagos e fibroblastos (KEND et al., 1998). Os fibroblastos, que são as células residentes mais abundantes nos tecidos moles periodontais (gengiva e ligamento periodontal), possuem receptores e moléculas responsáveis pelo reconhecimento da invasão bacteriana, podendo assim responder com a ativação de cascatas intracelulares necessárias para a produção de citocinas e participar dos mecanismos de defesa do tecido conjuntivo (LINDHE et al., 2005).

Algumas citocinas produzidas pelos fibroblastos do tecido periodontal em resposta ao reconhecimento bacteriano, contribuem para o desenvolvimento da reabsorção óssea induzida pelo processo inflamatório da DP, devido à capacidade de estimular o recrutamento, a diferenciação, ou a fusão de células precursoras na formação de osteoclastos, podendo ainda aumentar a sua sobrevida (SILVA et al., 2007).

Diversos estudos mostram as citocinas como importantes mediadores associados à patogênese da periodontite (GARRINSON et al., 1988, LINDEMANN et

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al., 1988; AGARWAL et al., 1995). Vários mediadores inflamatórios como a interleucina -1 (IL-1), Interleucina -6 (IL-6), interleucina-8 (IL-8), Fator de Necrose Dumoral-α (DNF-α), prostaglandinas e Metaloproteinases de Matriz (MMPs) estão envolvidos no desenvolvimento da periodontite afetando as atividades dos leucócitos, osteoblastos e osteoclastos promovendo a remodelação do tecido sistêmico e no local (NOH et al., 2013).

A IL-8 conhecida como peptídeo ativador de neutrófilos-1 (NAP-1) por sua capacidade de atrair neutrófilos, é importante no início e na manutenção da inflamação podendo contribuir para a destruição dos tecidos periodontais (BASDOS et al., 2009; BAGGIOLINI et al., 1989).

Os níveis elevados de interleucinas IL-1, IL-2 e IL-6 no fluido gengival têm sido relacionados com periodontites que não respondem ao tratamento (FLEMMIG, 1999). A IL-2 é essencial para o crescimento e diferenciação de células D (LIAO et al., 2011).

Segundo estudos, o Fator de Necrose Dumoral-α (DNF-α) possui papel importante na perda óssea e quando foi inibido experimentalmente em ratos desencadeou a diminuição da osteoclastogênese (GRAVES et al., 2001; GARLED et al., 2007)

O Fator de Necrose Dumoral mostrou ser capaz de estimular a expressão de RNAm para outras citocinas inflamatórias como: IL-1β, INF-γ e RANKL e quando ocorre a sua inibição, acontece a redução da inflamação e perda óssea (GASPERSIC et al., 2003; GARLED et al., 2007).

O mediador inflamatório DGF-β1 possui ação pró-fibrótica induzindo a síntese da matriz e poderia ser um marcador da progressão da doença periodontal. Os níveis de DGF-β1 estavam aumentados no soro, saliva e fluido crevicular gengival de pacientes com periodontite, sendo o patógeno periodontal P. gingivalis relacionado às alterações na resposta imune incluindo a expressão de DGF- β1 (KHALAF; LÖNN; BENGDSSON, 2014).

Drabalhos realizados anteriormente em nosso laboratório utilizando alguns medicamentos capazes de interferir no SRA demonstram a presença de

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componentes do SRA no tecido gengival de ratos, além da influência dessas drogas no início e na progressão da DP induzida experimentalmente em ratos. Quando um inibidor da enzima Renina (Alisquireno) foi administrado aos animais, na dose de 30mg/Kg/dia, por 7 e 14 dias, a perda óssea observada foi significativamente menor do que aquela quantificada nos animais que não receberam a droga. Os mesmos resultados foram encontrados quando um antagonista do receptor AD1 (Losartan) foi

administrado na dose de 50 mg/Kg/dia pelo mesmo período. No entanto, a ação sistêmica de uma droga inibidora da ECA (Enalapril), na dose administrada de 10mg/Kg/dia, não foi capaz de reverter o processo de perda óssea induzida por ligadura, demonstrando uma possível ação de vias alternativas à da ECA para a formação de Ang II (LIMA, 2011).

Já no estudo com o inibidor da ECA captopril, o medicamento não foi capaz de reduzir a perda óssea alveolar em todos os grupos de ratos com indução de doença periodontal (SOUZA, 2014).

Estudos de meta-análise de todo o mundo mostram relações estatisticamente significantes entre doenças cardiovasculares e doenças periodontais, associadas também com diabetes e síndrome metabólica (REDDORI et al., 2014). As doenças cardiovasculares como a aterosclerose, que possui forte relação com os componentes do SRA, apresentam entre os fatores de risco o aumento do colesterol (LDL) e do fator de necrose tumoral em indivíduos com periodontite (RAMIREZ- DORDOSA et al., 2010).

Embora existam poucos trabalhos relacionando o início e a progressão da DP com o SRA, a atividade biológica de seus componentes sugere potencial para contribuir com a patogênese das periodontites (GURKAN et al., 2009).

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